Dirigido por David Fincher. Com: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Jared Leto, Meat Loaf.
É bem provável que nos próximos anos alguns malucos responsabilizem Clube da Luta por suas atitudes criminosas, assim como o que aconteceu com Assassinos por Natureza, de Oliver Stone*. Não que este filme incite ao vandalismo ou à violência, mas é assim que as mentes mais precipitadas - ou com tendência à destruição - podem encará-lo.
Porém, não restam dúvidas de que filmes como o de David Fincher são perigosos. Excepcionalmente perigosos. Ou talvez apenas excepcionais. Eles nos levam a tantas reflexões e são tão repletos de idéias e argumentos que, ao final da projeção, a cabeça do espectador está fervilhando de pensamentos. E suas retinas, de imagens alucinantes. E é justamente aí que estes filmes tornam-se perigosos: uma análise superficial tende a apresentá-los como revolucionários (pejorativamente falando), como verdadeiras apologias à total insurreição social. Mas só na superfície.
Na verdade, a grande virtude de Clube da Luta e Assassinos por Natureza é a capacidade que ambos têm de traçar um painel crítico dos vícios de nossa sociedade, questionando a corrupção de nossos valores e expondo nossas futilidades - não com um objetivo destrutivo (erro de julgamento cometido pelos malucos de plantão), mas sim com o intuito de tentar promover válidas discussões sobre nossos ideais. Em outras palavras: analisar nosso mundo como Kafka fez em obras como A Metamorfose e O Processo (pensando nisso, consigo ver claramente Edward Norton como Gregor Samsa e Brad Pitt como o sr. Joseph K - este ao menos tentou questionar o sistema).
Tomemos Assassinos por Natureza novamente como exemplo: o libelo de Oliver Stone contra a massificação e superexposição da violência na mídia foi tomado, paradoxalmente, como sendo a glorificação das mesmas. Da mesma forma, é perigoso que Clube da Luta venha a ser tomado como um verdadeiro chamado da Geração X às armas sob os gritos de `Abaixo o sistema financeiro!` ou algo que o valha.
Mas não é bem assim. O filme, inspirado no livro de Chuck Palahniuk, é um retrato perturbador da inquietação do homem moderno, que, a cada novo dia, percebe estar aquém das metas e dos ideais de realização estabelecidos por ele mesmo e pela sociedade em que vive. É o perfil do jovem adulto que finalmente se dá conta de que não ganhará a corrida cujas regras definiu. Em resumo: é o medo e sentimento de insatisfação que abatem-se sobre aqueles que percebem (e que se importam com o fato de) que não serão milionários, famosos, e que jamais se casarão com a Tiazinha (ou com qualquer outro padrão de beleza vigente na época).
É, talvez, um painel do pânico que surge quando o jovem (que `tudo pode`) descobre estar tornando-se seu pai (a realidade, o limite), constatando que seu nome não estará nos livros de História. É o inconformismo, a angústia, o anseio, a inquietação, o medo. Clube da Luta é, sim, um protesto contra a desistência, contra o `ir com a maré`. E - o que é mais interessante - ao mesmo tempo ele está dizendo: `Ei, está tudo bem... Você não está sozinho. Sua vida tem valor. A (auto) rebelião também é perigosa`.
Há, sem dúvida, um incrível senso de liberdade nos golpes desferidos pelos membros do Clube da Luta - e não se trata apenas de uma questão de `descarregar a tensão`. É mais do que isso: as cicatrizes são, também, um brado de desafio e, ao mesmo tempo, a auto-imposição de uma punição pela passividade.
Ou, talvez, Clube da Luta seja apenas um filme soberbamente dirigido a partir de um roteiro instigante e que conta, ainda, com maravilhosas atuações de Brad Pitt (que deveria trabalhar somente com David Fincher) e Edward Norton (o maior talento que surgiu nos EUA, nos últimos anos).
Seja como for, o fato é que este é um daqueles filmes que merecem ser amplamente debatidos em todos os lugares: listas-de-discussão na Internet, mesas de bar, rodas de cinéfilos, salas-de-aula, e por aí afora. Restará decidir apenas qual dos inúmeros tópicos abordados pelo filme deverá ser discutido.
Quando o Cinema pensa (Hollywood, em especial), é sempre uma grande - e grata - surpresa.
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=301http://www.imdb.com/title/tt0137523/?ref_=nv_sr_1
É bem provável que nos próximos anos alguns malucos responsabilizem Clube da Luta por suas atitudes criminosas, assim como o que aconteceu com Assassinos por Natureza, de Oliver Stone*. Não que este filme incite ao vandalismo ou à violência, mas é assim que as mentes mais precipitadas - ou com tendência à destruição - podem encará-lo.
Porém, não restam dúvidas de que filmes como o de David Fincher são perigosos. Excepcionalmente perigosos. Ou talvez apenas excepcionais. Eles nos levam a tantas reflexões e são tão repletos de idéias e argumentos que, ao final da projeção, a cabeça do espectador está fervilhando de pensamentos. E suas retinas, de imagens alucinantes. E é justamente aí que estes filmes tornam-se perigosos: uma análise superficial tende a apresentá-los como revolucionários (pejorativamente falando), como verdadeiras apologias à total insurreição social. Mas só na superfície.
Na verdade, a grande virtude de Clube da Luta e Assassinos por Natureza é a capacidade que ambos têm de traçar um painel crítico dos vícios de nossa sociedade, questionando a corrupção de nossos valores e expondo nossas futilidades - não com um objetivo destrutivo (erro de julgamento cometido pelos malucos de plantão), mas sim com o intuito de tentar promover válidas discussões sobre nossos ideais. Em outras palavras: analisar nosso mundo como Kafka fez em obras como A Metamorfose e O Processo (pensando nisso, consigo ver claramente Edward Norton como Gregor Samsa e Brad Pitt como o sr. Joseph K - este ao menos tentou questionar o sistema).
Tomemos Assassinos por Natureza novamente como exemplo: o libelo de Oliver Stone contra a massificação e superexposição da violência na mídia foi tomado, paradoxalmente, como sendo a glorificação das mesmas. Da mesma forma, é perigoso que Clube da Luta venha a ser tomado como um verdadeiro chamado da Geração X às armas sob os gritos de `Abaixo o sistema financeiro!` ou algo que o valha.
Mas não é bem assim. O filme, inspirado no livro de Chuck Palahniuk, é um retrato perturbador da inquietação do homem moderno, que, a cada novo dia, percebe estar aquém das metas e dos ideais de realização estabelecidos por ele mesmo e pela sociedade em que vive. É o perfil do jovem adulto que finalmente se dá conta de que não ganhará a corrida cujas regras definiu. Em resumo: é o medo e sentimento de insatisfação que abatem-se sobre aqueles que percebem (e que se importam com o fato de) que não serão milionários, famosos, e que jamais se casarão com a Tiazinha (ou com qualquer outro padrão de beleza vigente na época).
É, talvez, um painel do pânico que surge quando o jovem (que `tudo pode`) descobre estar tornando-se seu pai (a realidade, o limite), constatando que seu nome não estará nos livros de História. É o inconformismo, a angústia, o anseio, a inquietação, o medo. Clube da Luta é, sim, um protesto contra a desistência, contra o `ir com a maré`. E - o que é mais interessante - ao mesmo tempo ele está dizendo: `Ei, está tudo bem... Você não está sozinho. Sua vida tem valor. A (auto) rebelião também é perigosa`.
Há, sem dúvida, um incrível senso de liberdade nos golpes desferidos pelos membros do Clube da Luta - e não se trata apenas de uma questão de `descarregar a tensão`. É mais do que isso: as cicatrizes são, também, um brado de desafio e, ao mesmo tempo, a auto-imposição de uma punição pela passividade.
Ou, talvez, Clube da Luta seja apenas um filme soberbamente dirigido a partir de um roteiro instigante e que conta, ainda, com maravilhosas atuações de Brad Pitt (que deveria trabalhar somente com David Fincher) e Edward Norton (o maior talento que surgiu nos EUA, nos últimos anos).
Seja como for, o fato é que este é um daqueles filmes que merecem ser amplamente debatidos em todos os lugares: listas-de-discussão na Internet, mesas de bar, rodas de cinéfilos, salas-de-aula, e por aí afora. Restará decidir apenas qual dos inúmeros tópicos abordados pelo filme deverá ser discutido.
Quando o Cinema pensa (Hollywood, em especial), é sempre uma grande - e grata - surpresa.
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=301http://www.imdb.com/title/tt0137523/?ref_=nv_sr_1