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Vibrando com o Todo

Rikbaktsa

Primórdia
Cadastrado
22/04/2014
4
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47
Um Salve amigos do fórum!

Venho relatar aqui minha última experiência com P. Cubensis. Micólogo apaixonado, já consumi e cultivei os cubensis diversas vezes, com inúmeras experiências intensas, enriquecedoras e transformadoras. Os cogumelos já mostraram muito a mim, mas na minha última experiência, o cogumelo me mostrou algo muito além de mim, uma experiência extremamente profunda, imensa, que eu jamais havia experienciado.

Um pouco de background, o que agora considero mais importante para ter experienciado o que experienciei do que a ingestão ou a quantidade.

Quando era adolescente, fiquei fascinado por fungos, e as relações que eles estabelciam com uma variedade imensurável de seres vivos diferentes. Mais tarde, já interessado na Enteogenia, comecei a estudar os Psilocybe. Sempre fui e sou muito responsável com qualquer coisa que ingiro, e antes de consumir qualquer novo enteógeno, existe sempre um extenso período de estudo sobre a planta ou fungo que eu vou ingerir. Minha primeira experiência veio depois do meu primeiro cultivo, após ganhar um carimbo de esporos de um amigo. Comecei com pequenas doses antes de tentar doses maiores, e com o tempo fui tendo experiências mais intensas, e conseguindo prestar atenção em coisas cada vez mais sutis. Porém, na grande maioria das vezes eu tomei acompanhado, o que várias vezes não me permitiu o aprofundamento do que eu estava sentindo.

O tempo passa, e no começo desse ano, tive a oportunidade de ter uma experiência com outra substância fungal, proveniente do Claviceps spp. Ingeri ela num show, e após a música acabar, fiquei bem desorientado e desconfortável, e voltei pra minha casa. Após tomar um banho para relaxar, fumo um pouco de cannabis e coloco um som para tentar me acalmar. Esse exato momento foi a primeira vez que, sob efeito de enteógenos, eu me deitei, sozinho, sem nenhum estímulo externo a não ser o som. Eu me deitei após fumar, fechei meus olhos, e quando menos esperava, estava vendo paisagens, formas e cores que jamais havia visto, tudo em sincronia perfeita com o som. Foi a minha primeira experiência sinestésica profunda e prolongada, pois eu passei pelo menos 2:30hrs nesse estado. Me senti profundamente transformado após essa experiência, e me ajudou em vários quesitos, principalmente com a fobia social, desilusão e ansiedade que eu estava sofrendo.

Após essa experiência, fiquei fascinado com a experiência sinestésica, e os estados de reflexão profundas que o afloramento dos sentidos nos traz. Comecei a fazer mais experiências solos, com foco no som, com resultados muito positivos, que não havia tido com experiências anteriores. O Som passou a ser o foco e o pilar das minhas experiências.

Antes de ontem, 18 de Julho, porém, decidi ingerir o Cubensis de forma mais casual com 2 amigos que não são tão aprofundados no estudo de enteógenos. Mas parece que foi justamente na hora que eu estava descontraído e despreocupado, que pude ver com nitidez e foi nessa hora que o cogumelo mostrou para nós 3 o que só posso tentar definir (muito pobremente) como as engrenagens do Todo.

Segue o relato:


20:10 - Ingeri aproxidamente 3 gramas de cogumelos secos embebidos em suco de limão (lemon tek). Estou acompanhado de dois amigos, G e R, na qual G ingeriu 2 gramas. e R ingeriu aproxidamente 1,5g. Após a ingestão, fumamos um pouco de cannabis enquanto ouvimos uns reggaes para esperar o cogumelo ser absorvido.

20:22 - Tenho a impressão de o tempo estar passando mais lentamente, e a música começa a entrar mais fundo no meu corpo, uma música de poucos minutos da a impressão de ser muito mais longa, e os sons ficam cada vez mais nítidos e distintos. Nesse momento estávamos ouvindo um som afro-cubano mais psicodélico.

20:40 - Começamos a ouvir Trance. Músicas longas (+10 min) com vários sons, texturas e melodias distintas. Começo a ser muito influenciado pelo som, com sentimentos corporais em resposta à música, gargalhadas (achava alguns sons engracados por algum motivo) e me sentia estupefato pela complexidade da música. Nesse momento começam também os visuais, no começo mais sutis, mas que foram se intensificando. Ouvimos 2 músicas, aproximadamente 25 minutos. Sinto uma necessidade grande de deitar tbm, e repouso no chão mesmo.

~21:15 - Começamos a ouvir Psychedelic Trance, um som com uma dinâmica similar ao Trance, mas com menos mudanças melódicas e viradas, com uma batida repetitiva, percussiva, e uma ambientação extrema de síntese de sons eletrônicos, com várias texturas e melodias abstratas. Nesse momento já estamos os 3 deitados, rindo bastante e já não conversávamos tanto. Acho difícil manter uma linha de raciocínio nesse ponto, os visuais já estavam bastante intensos, com uma sinestesia muito forte acontecendo, fractais e mares de formas estranhas são formados quando fecho meus olhos, com respostas visuais pra qualquer estímulo sonoro. De olhos abertos, muitas variações de cores na iluminação do quarto, padrões coloridos, os objetos não tem mais bordas e tudo parece se misturar, mas sem derreter. De olhos abertos e fechados consigo ver formas geométricas complexas, de olhos abertos certas coisas se organizavam em formas geométricas, como a luz passando por entre as folhas das árvores do meu jardim. R e eu estamos totalmente relaxados deitados e calados apreciando as visões, G começa a se sentir um pouco desconfortável com a intensidade dos sentidos, e deixa o quarto por alguns minutos.

~22:00 - R e eu vamos verificar se G está bem, tudo certo com ele. Nesse momento avisto uma centopeia no chão, e quando me aproximei para olhar ela de perto, tive sensação de estar dando um "zoom" no azulejo por onde ela andava, texturas geométricas surgiam e eu tinha a sensação de mergulhar naquilo, isso foi um curto momento. Retornamos os 3 para o quarto onde estava o som, e conseguimos tranquilizar G sobre a intensidade do que ele estava sentindo. Fumamos mais um pouco de cannabis. Me sinto bastante embriagado nesse ponto, com dificuldade de andar em linha reta e me equilibrar em pé.

~22:30 até 00:15 - Aqui as coisas começaram a ficar muito intensas, de olho fechado as visões tem uma claridade de detalhes e nitidez muito maior do que a nossa visão geralmente consegue captar. A música e a sinestesia agora desintegram completamente qualquer pensamento ou linha de raciocínio, e uma sensação de desfragmentação começa a surgir, mas que nunca é ruim. Começo também a sentir no que naquele momento eu achava que era frio.

Começo a tremer muito com aquele "frio" que estava sentindo, e tenho dificuldade em controlar a tremedeira. Depois de um tempo percebo que a tremedeira não tem nada a ver com frio, pois estávamos numa noite quente, cerca de 26°. Começo a notar que não estou tremendo, eu estou VIBRANDO, e não é uma resposta do meu corpo a temperatura, é uma resposta sinestésica aos estímulos do SOM! Quando percebi isso parei de tentar controlar a tremedeira, e eu comecei a vibrar muito, de um jeito que não tem como explicar, mas que tenho certeza que outras pessoas já sentiram. Era como se viessem "ondas" dessa vibração, e eu tinha a sensação de vibrar como o chocalho de uma cascavel. Essa vibração rápida e intensa que parecia envolver todas as minhas células, começa a provocar uma sensação de desfragmentação ainda mais forte, como se eu fosse "esfarelar", como se cada célula minha quisesse se desprender e ir para uma direção. Ao mesmo tempo tenho visuais extremamente intensos, com paisagens absurdas e lindas, me sinto embaixo d'água, boiando num oceano desconhecido. Nesse momento, tenho uma visão de uma enorme massa, imensurável, maior do que qualquer coisa, que mudava a todo instante, das mais variadas formas, cores, texturas, cheiros, sons, sabores. Novamente tenho a impressão de dar um "zoom" naquela visão, e parece que infinitamente, independente do meu ponto de vista, aquela massa era formada da mesma coisa que tudo o que existe no Universo. Começo a ter um sentimento muito profundo, inexplicavelmente intenso, como se estivesse sendo me passada uma informação extremamente valiosa, mas que sempre esteve na minha frente. Foi um breve momento, mas pareceu todo o tempo do mundo, e tenho a sensação de que naquela enorme massa incessantemente mutável, eu poderia ver tudo o que existiu, existe e vai existir no Universo.

Nesse momento, tenho um pensamento que envolve G e R, e quando abro meus olhos, estes abrem ao mesmo, tempo, nos olhamos e começamos a gargalhar muito, como se nós 3 soubéssemos o que o outro estava pensando, por falta de palavra melhor, considerei esse momento um lance telepático. Inexplicável a sensação, mas nós 3 sentimos ao mesmo tempo. Depois disso comecei a falar o que estava sentindo, e percebemos que todos nós sentimos e vimos a mesma coisa, R começa a falar que viu tudo como "cópias" feitas da mesma coisa, e conta que tem um sentimento de totalidade (eu senti na minha visão que tudo era feito da mesma coisa, apesar de serem infinitas coisas infinitamente distintas). G tem mais dificuldade em colocar em palavras, mas descreve a mesma sensação de "zoom", como se estivesse mergulhando em imagens que nunca deixavam de se tornar complexas. Nesse ponto percebemos que aquela experiência não foi uma mera trip como outras que já tivemos com cogumelos.

00:30 - Começamos a debater sobre a visão compartilhada que havíamos tido. Discutimos sobre vibração, como o que define a forma física da matéria é a frequência com que ela vibra, e que tudo nesse Universo vibra, assim como nós estávamos vibrando, que achávamos que era frio. Falamos sobre átomos, e como se pudéssemos dar um "zoom" no átomo veríamos que ele é feito de partículas cada vez mais pequenas, infinitamente. Poderia haver um universo dentro de um único átomo. Discutimos as diferentes perspectivas e pontos de vista que se pode ter, tanto em tamanho, quanto em relação ao tempo, como o tempo é uma convenção do nosso cérebro para lidarmos melhor com o ambiente à nossa volta, e que quando estávamos com os sentidos aflorados e mixados como naquele momento, nossa percepção de tempo era completamente alterada.

No momento que tivemos a visão da totalidade, foi um curto período, mas que pareceu uma eternidade. Como disse, G estava inquieto, e só depois de acalmá-lo é que por alguns minutos deitamos os 3 e experienciamos a mesma sinestesia pelo som, nesses minutos nós vibramos na mesma frequência, literalmente, pois nossos corpos vibravam em respota sinestésica ao som. Era impossível para nós dizer com precisão a quanto tempo havíamos tomado os cogumelos, a quanto tempo estávamos conversando e quanto tempo durou o pico, quando estávamos todos literalmente vibrando na mesma frequência. Um sentimento de revelação de uma grande informação tomou conta de nós rapidamente, como se nos tivesse sido exposto o mecanismo de funcionamento do Universo, com partículas se organizando e mutando nas mais variadas formas, átomos, moléculas, minerais, plantas, animais, rochas, tudo parecia que era feito da mesma coisa que nós, e realmente era! Esse sentimento de unidade e totalidade foi totalmente inexplicável, tenho certeza que mais pessoas já sentiram isso. Choramos emocionados com a grande quantidade de informação que nos havia sido passada, uma euforia enorme tomou conta de nós, e curiosamente também um sentimento muito forte de alívio, como se uma grande dúvida tivesse sido dizimada num piscar de olhos.

Prosseguimos durante horas tentando colocar em palavras o que havíamos sentido, sem muito sucesso. Mas ao mesmo tempo, sabíamos totalmente do que o outro estava falando, visto que havíamos todos sentido o mesmo sentimento. O foco foi o som, vibração e a matéria, desde o micro até o macro, infinitamente, isso nos pareceu as grandes forças motrizes de TUDO, algo para além da Vida até.

2:30 - Após várias horas debatendo nossa experiência, fomos dormir. Dormimos sem dificuldade.

8:00 em diante - Acordamos bem humorados e com um sentimento de renovação. Um pouco pensativos devido a enorme quantidade de informação que nos foi recebida e que agora teríamos que processar e absorver de alguma forma. A emoção ainda era muito forte e eu chorei bastante ainda depois que acordei. O sentimento de euforia era bastante latente também, mas o que mais chamou minha atenção foi o sentimento de alívio. Tomo Cubensis há aproximadamente 6 anos, e essa foi minha primeira experiência que teve um lado profundamente espiritual.

ADENDO

Já tomei doses muito maiores do que essa experiência que relatei. Doses de até 5 gramas, que foram experiências extremamente intensas e gratificantes, mas dessa vez, com 3 gramas, o cogumelo mostrou um lado que ainda não havia experienciado. A nitidez e claridade das visões foi o que me permitiu enxergar com clareza o que estava sendo mostrado, e associo essa claridade à pré experiência, lado que estou levando cada vez mais em conta. Um preparo físico e mental antes da ingestão é essencial, e eu falo de dias ou semanas, a depender da experiência. Nesse caso, eu associei a dieta que eu tive na semana anterior à nitidez da experiência, comi pouca comida e sem comidas pesadas, no caso eu estava bastante imerso no feitio de pão com fermento natural (leveduras e fungos que também sou apaixonado) e acabei me alimentado somente de pão nos 4 dias que antecederam a trip. Atenção, não estou recomendando que só se coma pão antes de uma trip kkkkkkk isso foi o que rolou comigo, não foi proposital, mas acabou sendo essencial.

O Jejum no dia também foi/é bastante importante, e era algo que já estava fazendo em todas as minha experiências. Inclusive, na minha primeira experiência sinestésica profunda que eu relatei no começo do post, eu também estava acidentalmente de jejum, e tbm havia tomar casualmente, sem perseguir uma experiência profunda. Nessa última foram quase 12 horas de jejum, só tomei café da manhã, e bem leve. Em breve farei mais uma experiência prestando bem atenção a minha alimentação dias antes da ingerir os cogumelos, mas desconfio que não será a mesma coisa, tenho o sentimento de que não cabe a nós dizer a hora que teremos visões reveladoras, cabe ao cogumelo, e independente de nosso preparo e tentativas, ele irá nos mostrar na hora que tiver que mostrar, no local e situação corretos!

Viva aos fungos de poder!
 
Nesse momento, tenho um pensamento que envolve G e R, e quando abro meus olhos, estes abrem ao mesmo, tempo, nos olhamos e começamos a gargalhar muito, como se nós 3 soubéssemos o que o outro estava pensando, por falta de palavra melhor, considerei esse momento um lance telepático. Inexplicável a sensação, mas nós 3 sentimos ao mesmo tempo. Depois disso comecei a falar o que estava sentindo, e percebemos que todos nós sentimos e vimos a mesma coisa, R começa a falar que viu tudo como "cópias" feitas da mesma coisa, e conta que tem um sentimento de totalidade (eu senti na minha visão que tudo era feito da mesma coisa, apesar de serem infinitas coisas infinitamente distintas). G tem mais dificuldade em colocar em palavras, mas descreve a mesma sensação de "zoom", como se estivesse mergulhando em imagens que nunca deixavam de se tornar complexas. Nesse ponto percebemos que aquela experiência não foi uma mera trip como outras que já tivemos com cogumelos.

Eu tive isso com um amigo sob efeito da cannabis (não estava pura, descobrimos depois que botaram algo a mais), parece mágico esse momento em que não precisamos dizer o que pensamos ou vimos porque o outro viu e sentiu exatamente a mesma coisa!
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tenho o sentimento de que não cabe a nós dizer a hora que teremos visões reveladoras, cabe ao cogumelo, e independente de nosso preparo e tentativas, ele irá nos mostrar na hora que tiver que mostrar, no local e situação corretos!

Exatamente, o jejum e a alimentação leve também é uma forma ritualística de usar o cogumelo, acho que quanto mais a gente se aproxima do significado ritual e espiritual do cogu, mais ele nos dará respostas
 
Sincero, rico e bem descrito relato amigo, parabéns pela postura diante da situação, e pela experiência recebida 🍄
 
Um Salve amigos do fórum!

Venho relatar aqui minha última experiência com P. Cubensis. Micólogo apaixonado, já consumi e cultivei os cubensis diversas vezes, com inúmeras experiências intensas, enriquecedoras e transformadoras. Os cogumelos já mostraram muito a mim, mas na minha última experiência, o cogumelo me mostrou algo muito além de mim, uma experiência extremamente profunda, imensa, que eu jamais havia experienciado.

Um pouco de background, o que agora considero mais importante para ter experienciado o que experienciei do que a ingestão ou a quantidade.

Quando era adolescente, fiquei fascinado por fungos, e as relações que eles estabelciam com uma variedade imensurável de seres vivos diferentes. Mais tarde, já interessado na Enteogenia, comecei a estudar os Psilocybe. Sempre fui e sou muito responsável com qualquer coisa que ingiro, e antes de consumir qualquer novo enteógeno, existe sempre um extenso período de estudo sobre a planta ou fungo que eu vou ingerir. Minha primeira experiência veio depois do meu primeiro cultivo, após ganhar um carimbo de esporos de um amigo. Comecei com pequenas doses antes de tentar doses maiores, e com o tempo fui tendo experiências mais intensas, e conseguindo prestar atenção em coisas cada vez mais sutis. Porém, na grande maioria das vezes eu tomei acompanhado, o que várias vezes não me permitiu o aprofundamento do que eu estava sentindo.

O tempo passa, e no começo desse ano, tive a oportunidade de ter uma experiência com outra substância fungal, proveniente do Claviceps spp. Ingeri ela num show, e após a música acabar, fiquei bem desorientado e desconfortável, e voltei pra minha casa. Após tomar um banho para relaxar, fumo um pouco de cannabis e coloco um som para tentar me acalmar. Esse exato momento foi a primeira vez que, sob efeito de enteógenos, eu me deitei, sozinho, sem nenhum estímulo externo a não ser o som. Eu me deitei após fumar, fechei meus olhos, e quando menos esperava, estava vendo paisagens, formas e cores que jamais havia visto, tudo em sincronia perfeita com o som. Foi a minha primeira experiência sinestésica profunda e prolongada, pois eu passei pelo menos 2:30hrs nesse estado. Me senti profundamente transformado após essa experiência, e me ajudou em vários quesitos, principalmente com a fobia social, desilusão e ansiedade que eu estava sofrendo.

Após essa experiência, fiquei fascinado com a experiência sinestésica, e os estados de reflexão profundas que o afloramento dos sentidos nos traz. Comecei a fazer mais experiências solos, com foco no som, com resultados muito positivos, que não havia tido com experiências anteriores. O Som passou a ser o foco e o pilar das minhas experiências.

Antes de ontem, 18 de Julho, porém, decidi ingerir o Cubensis de forma mais casual com 2 amigos que não são tão aprofundados no estudo de enteógenos. Mas parece que foi justamente na hora que eu estava descontraído e despreocupado, que pude ver com nitidez e foi nessa hora que o cogumelo mostrou para nós 3 o que só posso tentar definir (muito pobremente) como as engrenagens do Todo.

Segue o relato:


20:10 - Ingeri aproxidamente 3 gramas de cogumelos secos embebidos em suco de limão (lemon tek). Estou acompanhado de dois amigos, G e R, na qual G ingeriu 2 gramas. e R ingeriu aproxidamente 1,5g. Após a ingestão, fumamos um pouco de cannabis enquanto ouvimos uns reggaes para esperar o cogumelo ser absorvido.

20:22 - Tenho a impressão de o tempo estar passando mais lentamente, e a música começa a entrar mais fundo no meu corpo, uma música de poucos minutos da a impressão de ser muito mais longa, e os sons ficam cada vez mais nítidos e distintos. Nesse momento estávamos ouvindo um som afro-cubano mais psicodélico.

20:40 - Começamos a ouvir Trance. Músicas longas (+10 min) com vários sons, texturas e melodias distintas. Começo a ser muito influenciado pelo som, com sentimentos corporais em resposta à música, gargalhadas (achava alguns sons engracados por algum motivo) e me sentia estupefato pela complexidade da música. Nesse momento começam também os visuais, no começo mais sutis, mas que foram se intensificando. Ouvimos 2 músicas, aproximadamente 25 minutos. Sinto uma necessidade grande de deitar tbm, e repouso no chão mesmo.

~21:15 - Começamos a ouvir Psychedelic Trance, um som com uma dinâmica similar ao Trance, mas com menos mudanças melódicas e viradas, com uma batida repetitiva, percussiva, e uma ambientação extrema de síntese de sons eletrônicos, com várias texturas e melodias abstratas. Nesse momento já estamos os 3 deitados, rindo bastante e já não conversávamos tanto. Acho difícil manter uma linha de raciocínio nesse ponto, os visuais já estavam bastante intensos, com uma sinestesia muito forte acontecendo, fractais e mares de formas estranhas são formados quando fecho meus olhos, com respostas visuais pra qualquer estímulo sonoro. De olhos abertos, muitas variações de cores na iluminação do quarto, padrões coloridos, os objetos não tem mais bordas e tudo parece se misturar, mas sem derreter. De olhos abertos e fechados consigo ver formas geométricas complexas, de olhos abertos certas coisas se organizavam em formas geométricas, como a luz passando por entre as folhas das árvores do meu jardim. R e eu estamos totalmente relaxados deitados e calados apreciando as visões, G começa a se sentir um pouco desconfortável com a intensidade dos sentidos, e deixa o quarto por alguns minutos.

~22:00 - R e eu vamos verificar se G está bem, tudo certo com ele. Nesse momento avisto uma centopeia no chão, e quando me aproximei para olhar ela de perto, tive sensação de estar dando um "zoom" no azulejo por onde ela andava, texturas geométricas surgiam e eu tinha a sensação de mergulhar naquilo, isso foi um curto momento. Retornamos os 3 para o quarto onde estava o som, e conseguimos tranquilizar G sobre a intensidade do que ele estava sentindo. Fumamos mais um pouco de cannabis. Me sinto bastante embriagado nesse ponto, com dificuldade de andar em linha reta e me equilibrar em pé.

~22:30 até 00:15 - Aqui as coisas começaram a ficar muito intensas, de olho fechado as visões tem uma claridade de detalhes e nitidez muito maior do que a nossa visão geralmente consegue captar. A música e a sinestesia agora desintegram completamente qualquer pensamento ou linha de raciocínio, e uma sensação de desfragmentação começa a surgir, mas que nunca é ruim. Começo também a sentir no que naquele momento eu achava que era frio.

Começo a tremer muito com aquele "frio" que estava sentindo, e tenho dificuldade em controlar a tremedeira. Depois de um tempo percebo que a tremedeira não tem nada a ver com frio, pois estávamos numa noite quente, cerca de 26°. Começo a notar que não estou tremendo, eu estou VIBRANDO, e não é uma resposta do meu corpo a temperatura, é uma resposta sinestésica aos estímulos do SOM! Quando percebi isso parei de tentar controlar a tremedeira, e eu comecei a vibrar muito, de um jeito que não tem como explicar, mas que tenho certeza que outras pessoas já sentiram. Era como se viessem "ondas" dessa vibração, e eu tinha a sensação de vibrar como o chocalho de uma cascavel. Essa vibração rápida e intensa que parecia envolver todas as minhas células, começa a provocar uma sensação de desfragmentação ainda mais forte, como se eu fosse "esfarelar", como se cada célula minha quisesse se desprender e ir para uma direção. Ao mesmo tempo tenho visuais extremamente intensos, com paisagens absurdas e lindas, me sinto embaixo d'água, boiando num oceano desconhecido. Nesse momento, tenho uma visão de uma enorme massa, imensurável, maior do que qualquer coisa, que mudava a todo instante, das mais variadas formas, cores, texturas, cheiros, sons, sabores. Novamente tenho a impressão de dar um "zoom" naquela visão, e parece que infinitamente, independente do meu ponto de vista, aquela massa era formada da mesma coisa que tudo o que existe no Universo. Começo a ter um sentimento muito profundo, inexplicavelmente intenso, como se estivesse sendo me passada uma informação extremamente valiosa, mas que sempre esteve na minha frente. Foi um breve momento, mas pareceu todo o tempo do mundo, e tenho a sensação de que naquela enorme massa incessantemente mutável, eu poderia ver tudo o que existiu, existe e vai existir no Universo.

Nesse momento, tenho um pensamento que envolve G e R, e quando abro meus olhos, estes abrem ao mesmo, tempo, nos olhamos e começamos a gargalhar muito, como se nós 3 soubéssemos o que o outro estava pensando, por falta de palavra melhor, considerei esse momento um lance telepático. Inexplicável a sensação, mas nós 3 sentimos ao mesmo tempo. Depois disso comecei a falar o que estava sentindo, e percebemos que todos nós sentimos e vimos a mesma coisa, R começa a falar que viu tudo como "cópias" feitas da mesma coisa, e conta que tem um sentimento de totalidade (eu senti na minha visão que tudo era feito da mesma coisa, apesar de serem infinitas coisas infinitamente distintas). G tem mais dificuldade em colocar em palavras, mas descreve a mesma sensação de "zoom", como se estivesse mergulhando em imagens que nunca deixavam de se tornar complexas. Nesse ponto percebemos que aquela experiência não foi uma mera trip como outras que já tivemos com cogumelos.

00:30 - Começamos a debater sobre a visão compartilhada que havíamos tido. Discutimos sobre vibração, como o que define a forma física da matéria é a frequência com que ela vibra, e que tudo nesse Universo vibra, assim como nós estávamos vibrando, que achávamos que era frio. Falamos sobre átomos, e como se pudéssemos dar um "zoom" no átomo veríamos que ele é feito de partículas cada vez mais pequenas, infinitamente. Poderia haver um universo dentro de um único átomo. Discutimos as diferentes perspectivas e pontos de vista que se pode ter, tanto em tamanho, quanto em relação ao tempo, como o tempo é uma convenção do nosso cérebro para lidarmos melhor com o ambiente à nossa volta, e que quando estávamos com os sentidos aflorados e mixados como naquele momento, nossa percepção de tempo era completamente alterada.

No momento que tivemos a visão da totalidade, foi um curto período, mas que pareceu uma eternidade. Como disse, G estava inquieto, e só depois de acalmá-lo é que por alguns minutos deitamos os 3 e experienciamos a mesma sinestesia pelo som, nesses minutos nós vibramos na mesma frequência, literalmente, pois nossos corpos vibravam em respota sinestésica ao som. Era impossível para nós dizer com precisão a quanto tempo havíamos tomado os cogumelos, a quanto tempo estávamos conversando e quanto tempo durou o pico, quando estávamos todos literalmente vibrando na mesma frequência. Um sentimento de revelação de uma grande informação tomou conta de nós rapidamente, como se nos tivesse sido exposto o mecanismo de funcionamento do Universo, com partículas se organizando e mutando nas mais variadas formas, átomos, moléculas, minerais, plantas, animais, rochas, tudo parecia que era feito da mesma coisa que nós, e realmente era! Esse sentimento de unidade e totalidade foi totalmente inexplicável, tenho certeza que mais pessoas já sentiram isso. Choramos emocionados com a grande quantidade de informação que nos havia sido passada, uma euforia enorme tomou conta de nós, e curiosamente também um sentimento muito forte de alívio, como se uma grande dúvida tivesse sido dizimada num piscar de olhos.

Prosseguimos durante horas tentando colocar em palavras o que havíamos sentido, sem muito sucesso. Mas ao mesmo tempo, sabíamos totalmente do que o outro estava falando, visto que havíamos todos sentido o mesmo sentimento. O foco foi o som, vibração e a matéria, desde o micro até o macro, infinitamente, isso nos pareceu as grandes forças motrizes de TUDO, algo para além da Vida até.

2:30 - Após várias horas debatendo nossa experiência, fomos dormir. Dormimos sem dificuldade.

8:00 em diante - Acordamos bem humorados e com um sentimento de renovação. Um pouco pensativos devido a enorme quantidade de informação que nos foi recebida e que agora teríamos que processar e absorver de alguma forma. A emoção ainda era muito forte e eu chorei bastante ainda depois que acordei. O sentimento de euforia era bastante latente também, mas o que mais chamou minha atenção foi o sentimento de alívio. Tomo Cubensis há aproximadamente 6 anos, e essa foi minha primeira experiência que teve um lado profundamente espiritual.

ADENDO

Já tomei doses muito maiores do que essa experiência que relatei. Doses de até 5 gramas, que foram experiências extremamente intensas e gratificantes, mas dessa vez, com 3 gramas, o cogumelo mostrou um lado que ainda não havia experienciado. A nitidez e claridade das visões foi o que me permitiu enxergar com clareza o que estava sendo mostrado, e associo essa claridade à pré experiência, lado que estou levando cada vez mais em conta. Um preparo físico e mental antes da ingestão é essencial, e eu falo de dias ou semanas, a depender da experiência. Nesse caso, eu associei a dieta que eu tive na semana anterior à nitidez da experiência, comi pouca comida e sem comidas pesadas, no caso eu estava bastante imerso no feitio de pão com fermento natural (leveduras e fungos que também sou apaixonado) e acabei me alimentado somente de pão nos 4 dias que antecederam a trip. Atenção, não estou recomendando que só se coma pão antes de uma trip kkkkkkk isso foi o que rolou comigo, não foi proposital, mas acabou sendo essencial.

O Jejum no dia também foi/é bastante importante, e era algo que já estava fazendo em todas as minha experiências. Inclusive, na minha primeira experiência sinestésica profunda que eu relatei no começo do post, eu também estava acidentalmente de jejum, e tbm havia tomar casualmente, sem perseguir uma experiência profunda. Nessa última foram quase 12 horas de jejum, só tomei café da manhã, e bem leve. Em breve farei mais uma experiência prestando bem atenção a minha alimentação dias antes da ingerir os cogumelos, mas desconfio que não será a mesma coisa, tenho o sentimento de que não cabe a nós dizer a hora que teremos visões reveladoras, cabe ao cogumelo, e independente de nosso preparo e tentativas, ele irá nos mostrar na hora que tiver que mostrar, no local e situação corretos!

Viva aos fungos de poder!
Tive uma experiência que foi parecida comigo, em grupo de 3, em que as coisas que pensavamos e faziamos se completavam. Não sei se eu e meus amigos conseguimos manter uma conversa de 5 palavras durante do pico, mas entendiamos tudo o que o outro dizia/fazia, mesmo de olho fechado. Eu senti dançar junto com o cosmos, de olho fechado. Também sentimos um grande alivio, como se algo tivesse nos sido revelado. Conversamos por horas a fio sobre o que experenciamos juntos e que aquilo nos manteria unidos por laços além da amizade.
 
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