- 14/04/2015
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Tendo em vista a união temática entre as duas experiências resolvi postar neste tópico também a experiência seguinte, de número 30.
Inicialmente postei como uma mensagem em separado, mas pra fins de organização incorporei aqui na postagem inicial.
Inicialmente postei como uma mensagem em separado, mas pra fins de organização incorporei aqui na postagem inicial.
29ª Experiência - 20/06/2016Estou chegando ao fim da 5ª hora desde que tomei o chá hoje. Resolvi classificar como uma experiência perceptiva/interativa devido a novas tentativas que fiz em ouvir outras músicas, em especial brasileiras, já no fim do pico ou no começo da desaceleração - conforme gosto de classificar as etapas da viagem. Além disso, já na quarta hora de viagem minha esposa chegou e eu pude interagir com ela, o que ocorreu de um modo que tornou ainda mais ressaltado como adequado classificar como uma experiência de interação.
Quanto à dosagem, foi com o mesmo chá da experiência anterior (Chá Vitaminado), do qual havia sobrado 100 ml. Ele ficou na geladeira em um recipiente que não é opaco, mas também não é totalmente transparente. Esteve então submetido desde que o fiz à luz da geladeira quando aberta, além das variações de temperatura em duas faltas de energia. Não sei também até que ponto a geladeira conserva a psilocibina por si mesma, mas vou atribuir a sensível perda de potência do esperado mais às variações do que à eventual inadequação de manter na geladeira por muito tempo. Tomei a metade, cuja dosagem estimada foi de cerca de 1,75 gramas secas de cogumelo.
Bem, o fundo musical inicial foi Pink Floyd, com Medlle começando assim que tomei o chá, como sempre - tinha até procurado umas músicas eletrônicas pra ver se encontrava algo novo pra enteogenia, mas preferi ir no certo desta vez. Normalmente, o final de Echoes coincide com a chegada ao ápice, mas desta vez foi diferente. No fim da passagem "tenebrosa" de Echoes toda a fase de aceleração terminou, com suas perturbações, etc., e comecei a desenhar vários movimentos com as mãos suaves para todos os lados como se fosse um tipo de Tai chi chuan que emanava limpeza pra todos os lados. Também notei que não tinha conseguido sentir as trevas da esfera espiritual cristã da Terra mais (o vulgo Inferno), o que é um adendo ao narrado na experiência anterior, sobre o espírito conhecido como Diabo ter sido enviado pra reencarnar. Aquilo foi somente uma parte das ocorrências - há outros detalhes que provavelmente não devo contar nunca por aqui, por questões de contexto mesmo.
De volta à trip, em algum momento antes disso o cogumelo me disse que todas as minhas experiências de nível psicodélico alto passariam a ser religiosas, mais que enteogênicas, dali pra frente - ao que adiciono "em regra", pois num setting específico isso pode mudar. Bem, dito isto, não irei aprofundar os eventos espirituais dessa experiência, que não teve mais grandes novidades. Terminado o álbum The Wall, finalizada a última música, momento em que desde o Jardim de Infância do Inferno espíritos dentro do meu ritual são reenviados de volta para reencarnarem, levantei da cama, deixei Dark Side tocar até antes de começar Time e fui experimentar novas sonoridades, pois já tinha terminado o ritual por hoje visto como os efeitos vieram e se estabilizaram rápido, e da mesma forma parecia que iriam embora.
Esperava que nessa altura eu estivesse sob muito mais efeito, mas desde o fim de Meddle eu sentia que talvez fosse ter minha primeira trip rápida de cogumelo - de no máximo 3 horas até o fim dos efeitos. Bem, estava errado, mas nada demais.
As músicas que dei chance pra ouvir foram Avohâi de Zé Ramalho, e daí escutei algumas outras. Foi interessante, mas nada de especial em termos de se ouvir sob psicodelia. Talvez eu deva procurar na próxima uma versão mais calma daquela primeira.
Foi então que resolvi escutar Ventania pela primeira vez sob psicodelia, nesta ordem, claro: O Diabo é Careta, Cogumelos Azuis, Só para Loucos. No começo juro que não conseguia entender como que podem gostar de ouvir sob cogumelos porque ele canta naquele estilo "gritado", ao mesmo tempo em que confirmava que o som dele era lisérgico com aquele violão de aço. Mas, logo, logo me acostumei e comecei a me amarrar. É um som de doido mesmo. :fumar: Só não tem nada de enteogênico... O que aliás ninguém nunca disse que teria... Mas matei a curiosidade de ouvir este ícone da cultura doidona brasileira sob efeito.
Por fim, a parte em que mais gostei das novidades foi escutar Vinícius de Morais com Canto de Ossanha, Samba da Bênção, Canto de Xangô e Meu Pai Oxalá. A fluidez do violão de Toquinho em especial...
Daí, foi retomar Pink Floyd e finalizar Dark Side.
De resto, minha esposa chegou na quarta hora. Neste âmbito apenas resumo que estava sereno e perceptivo em relação a ela, o que foi bom.
E pra finalizar, adorei ver meus cogumelos in vitro ainda sob efeito. Deu pra notar claramente o crescimento deles desde que tomei o chá até agora!
Edit: eu quis ainda tentar escutar algumas músicas religiosas, católicas ou evangélicas, que acho bonitas, mas na hora achei que seria "pesado demais", ou "intenso demais", não sei exatamente. Acabei que não fiz.
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30ª Experiência - 27/06/2016
Novamente digito ainda no fim dos efeitos dos sagrados. Desta vez já está quase para se completarem as 6 horas tradicionais até o fim dos efeitos - apesar de que hoje me sinto especialmente enevoado, talvez pela forma como andaram elevadas as experimentações sonoras de hoje.
A dosagem foi a mesma de antes, pois tomei a outra metade daquele chá. Foi também um teste sobre a perda da potência em uma semana de geladeira - e acho que houve, pois apesar de efeitos bem intensos e espirituais senti menos pressão na aceleração. Tomei às 06:21 h de ontem (passou a meia-noite tem 6 minutos... ).
Bem, antes de consagrar o chá ainda frio já tinha colocado Meddle pra abrir o caminho. Terminei o banho no meio do álbum, tomei o chá feito junto com mel e gengibre e fui deitar. Até o começo de Echoes, foi bem divertido, me senti bem animado, até que a sonoridade desta música deu início aos tons espirituais.
A ordem das músicas pra primeira metade do pico foram os álbuns Animals e Dark Side of The Moon. Como não botei The Wall fiquei me indagando como seria feita a parte espiritual do trabalho, de reenvio de espíritos à reencarnação. No fim, isto foi feito com a música Brain Damage, com espíritos que não estavam sãos. Foi realmente uma hora muito bonita de se ver com energias subindo da cama em direção ao teto, mas ao mesmo tempo eu lhes dizia: "isso não faz sentido, era pra vocês voltarem a ser lúcidos após a morte, mas tá bom..."
Também pude ouvir atentamente algumas coisas que o cogumelo me levou a notar sobre o chá do Daime, que começo a frequentar. Achei incrível que o cogumelo seja tão mas tão integrado ao corpo humano que até mesmo em relação ao Ayahuasca eu notei uma tendência a "querer voltar pra completar o trabalho" que os cogumelos nunca me trouxeram - eles vêm e fazem tudo que precisam fazer de uma vez só, não sinto nada "por fazer" apesar de tornar a tomar o chá para continuar progredindo; mas não tenho nenhuma vontade de tomar, eu tomo porque quero ser alguém melhor depois que passam os efeitos. Atribuí a isso o fato de que o DMT não era pra ser psicoativo oralmente, e isso é forçado pelo IMAOi, enquanto o cogumelo basta a si para ter tais efeitos; então nossos antepassados pré-homo sapiens lidaram com ele muito mais e por isso o organismo consegue reagir com cogumelos até melhor do que reage com DMT. Neste âmbito, fique aqui claro que ambas são substâncias sagradas, e o Ayahuasca consegue elaborar as coisas de um jeito diferente e profundo - são dois caminhos diferentes para a luz. Mas sinto que a sensação de limpeza posterior com o cogumelo é total, sem deixar nada "por fazer" em relação aos sentimentos e pensamentos que ocorram sob seus efeitos. É como me sinto neste momento sobre o tema e espero não ofender a nenhum membro daquela religião, pois que ela me ajuda bastante; a questão aqui é apenas relativa e diz respeito a algo específico, conquanto são dois sacramentos que trazem luz e profunda reformulação de vida.
Um adendo... Acredito que, das triptaminas mais potentes psicoativamente, somente a mescalina, por ser encontrada em cactos, possa ter a mesma beneficência orgânica direta que os cogumelos. O fundamento é o mesmo que o dos cogumelos: os pré-homo sapiens só precisavam estender a mão e morder o cacto (talvez tirar os espinhos? ), sem qualquer preparo prévio, e daí a interação ao longo de milhões de anos de mutações, etc.
Bem, mas teve também uma influência positiva nessa viagem o fato de eu ter ido a um culto cristão, apesar de ter sido de outro sacramento, na hora em que terminaram as músicas do Pink Floyd e eu fui experimentar novas sonoridades. Bem, finalmente parei pra escutar músicas religiosas católicas e evangélicas. Qual foi o resultado? Não consegui mais parar de ouvir por uma hora e meia! Chorei muito nas primeiras e depois passei a tocar gaita junto com o coração aberto para aquelas melodias e letras tão bonitas, e às vezes entrava em reflexões profundas. Pra citar algumas que escutei: "Noites Traiçoeiras", "Eu Navegarei", "Tudo é do Pai", "Quão grande é o meu Deus", "Vem, Espírito Santo" e outras que eu tinha selecionado ao longo da última semana que possuíssem letras voltadas para um enfoque positivo (por exemplo, falar em "amor" ao invés de "pecado") e com instrumentais bonitos.
Para quem é cristão, como eu, foi um mar de energias e vibrações maravilhosas.
Conclusão? Resolvi adotar essas músicas agora também no meu rito litúrgico com os cogumelos, após Pink Floyd que regerá o começo dos efeitos. Só pretendo passar a colocar essas músicas no começo após fazer o que fui orientado pelo cogumelo: aprender mais delas, aumentar minha lista das que se encaixam na filosofia religiosa que me tem sido trazida e na sonoridade que enleve o pensamento e o sentimento, e aprender a cantar todas que pretendo colocar no rito.
Bem, pra finalizar ouvi um "Nossa Senhora" do Robertão e assim fechei, após 4 horas e meia da ingestão, a fase sacramental de hoje com as orações Pai Nosso e Ave Maria.
Fui finalmente seguir a sugestão do @joao_ow, que eu tinha lido coisa de 15 minutos antes de tomar o chá. Achei que não era coincidência e fui ouvir... Já eram agora quase 22 horas quando coloquei esta maravilha inacreditável da música brasileira chamada Paêbirú! A sonoridade de começo logo me bateu forte com entidades porque eu senti a religiosidade do som imediatamente, quando tinha acabado de fechar os trabalhos do dia, mas tudo bem. Danei a prosseguir ouvindo este som que me lembrou um misto da genialidade tanto de The Piper at the Gates of the Dawn (primeiro álbum e mais psicodélico do Pink Floyd) em recursos sonoros quanto de The Dark Side of the Moon em sua conceitualidade (profundidade temática), com o diferencial de ser um som brasileiro e bem mais profundo que estes dois álbuns do Pink Floyd. Além de trazer elementos religiosos e misteriosos de uma forma mais carregada, próprio da incrível história que envolveu o nascimento e a distribuição deste álbum, o que o torna ainda mais inacreditável - o Agreste Psicodélico:
No dia 29 de dezembro de 1598, os soldados liderados pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, encalçavam índios potiguares quando, em meio à caatinga, nas fraldas da Serra da Copaoba (Planalto de Borborema), um imponente registro de ancestralidade pré-histórica se impôs à tropa. Às margens do leito seco do rio Araçoajipe, um enorme monólito revelava, aos estupefatos recrutas, estranhos desenhos esculpidos na rocha cristalina.
O painel rupestre se encontrava nas paredes internas de uma furna (formada pela sobreposição de três rochas), e exibia, em baixo-relevo, caracteres deixados por uma cultura há muito extinta. Os sinais agrupavam-se às representações de espirais, cruzes e círculos talhados, também, na plataforma inferior do abrigo rochoso.
Inquietado com a descoberta, Feliciano ordenou minuciosa medição, mandando copiar todos os caracteres. A ocorrência está descrita em Diálogos das Grandezas do Brasil, obra editada em 1618. O autor, Ambrósio Fernandes Brandão (para quem Feliciano Coelho confiou seu relato), interpretou os símbolos como "figurativos de coisas vindouras". Não se enganara. O padre francês Teodoro de Lucé descobriu, em 1678, no território paraibano, um segundo monólito, ao se dirigir em missão jesuítica para o arraial de Carnoió. Seus relatos foram registrados em Relação de uma Missão do rio São Francisco, escrito pelo frei Martinho de Nantes, em 1706.
Em 1974, quase 400 anos depois da descoberta do capitão-mor da Paraíba, os tais "símbolos de coisas vindouras" regressariam. Dessa vez, no formato e silhueta arredondada de um disco de vinil. A mais ambiciosa e fantástica incursão psicodélica da música brasileira - o LP Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, gravado de outubro a dezembro daquele ano por Lula Côrtes e Zé Ramalho, nos estúdios da gravadora recifense Rozemblit.
Contar a história do álbum, longe da amálgama das pessoas, vertentes sonoras e, especialmente, da chamada Pedra do Ingá que o inspirou, é impossível. Irônico é que o LP original de Paêbirú também tenha se convertido em "achado arqueológico", assim como a pedra, 33 anos depois de seu lançamento. As histórias sobre a produção do disco, como naufragou na enchente que submergiu Recife, em 1975 e, por fim, se salvara, são fascinantes.
A prensagem de Paêbirú foi única: 1.300 cópias. Mil delas, literalmente, foram por água abaixo. A calamidade levou junto a fita master do disco para que a tragédia ficasse quase completa. Milagrosamente a salvos ficaram somente 300 exemplares. Bem conservado, o vinil original de Paêbirú (o selo inglês Mr Bongo o relançou em vinil este ano) está atualmente avaliado em mais de R$ 4 mil. É o álbum mais caro da música brasileira. Desbanca, em parâmetros monetários (e sonoros: é discutível), o "inatingível" Roberto Carlos. O Rei amarga segundo lugar com Louco por Você, primeiro de sua carreira, avaliado na metade do preço do "excêntrico" Paêbirú.
=====> Texto completo no link http://rollingstone.uol.com.br/edicao/24/agreste-psicodelico
Simplesmente sem palavras.
Pouco além da metade deste álbum, chega minha amada esposa em casa. Termino de ouvir o álbum e ainda escuto mais algumas músicas do bom Zé Ramalho.
Algo que gostaria também de destacar desta experiência como expansão dos sentidos foi que toquei bastante gaita, instrumento em que estou me iniciando. Comecei nas músicas religiosas tradicionais (apesar de que no ritual Pink Floyd é pra mim religioso mesmo) com um som bem sentido, e depois nas músicas que eu conhecia do Zé Ramalho também: Terceira Lâmina, Chão de Giz e Avohâi. A gaita sempre foi muito instintiva pra mim em sua sonoridade, e especialmente ouvindo músicas tão bonitas sob efeito foi bem tocante soprá-la.
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Ah, pra não deixar de dizer isso... Pouco antes de tomar o chá eu estava lidando com veneno pra cupim o fim da tarde toda e tinha deixado espirrar muito, mas relativamente muito, no meu corpo: braços, barriga, cabeça... Eu tomei banho antes de tomar o chá, mas no meio dos efeitos os resquícios do veneno no meu corpo começaram a se destacar, com o aumento da sensibilidade tátil e olfativa. Praticamente ficou insuportável e ardente, o que me levou a tomar outro banho, dessa vez me esfoliando pra ver se saía tudo mesmo da pele. Deu certo. Mas enfim, já que o veneno no caso é absorvido pela pele, então isso daria pano pra manga pra uma bad trip pra algumas pessoas, então... Recomendo banho esfoliante se mexer com veneno pouco antes de tomar o chá pra não sentir os "efeitos" (psicodélicos e quem sabe até reais) do veneno.
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