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Vamo quebrar tudo

  • Criador do tópico Criador do tópico Texugo
  • Data de início Data de início

Texugo

2023
Membro da Staff
Cultivador confiável
02/05/2019
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Hoje vou ter trip de cogumelo, espero quebrar o ego, tenho um objetivo claro, meu uso é consciente e espiritual, não estou apenas usando uma substância.

É isso que imagino quando alguém fala sobre a quebra de ego com cubensis ou qualquer psicoativo ou mesmo sem.

Parece uma ideia que alguém vendeu, ela espalha assim como muito adolescente passa pela fase do "a 4 dimensão existe, mas a gente não consegue ver" e fica vendo vídeo no YouTube por horas e horas com hiperfoco. Eu já passei pelas duas situações. Sei que muita gente continua acreditando nos dois e eu não estou criticando ou falando que é errado, mas opinião é só para dar outra perspectiva, não para virar o norte da bússola de todo mundo.
O intuito maior é desprender quem ainda está começando com trips, que ainda procura um fórum na internet quando é mais fácil achar no Instagram. E é exatamente isso, acho que buscando informações fica tão internalizado na pessoa essa ideia, que isso direciona a trip consciente e inconscientemente.

Mas depois de refletir, a única coisa que realmente faz alguém ser alguém, são as memórias, algo impossível de evitar desde antes de aprender a falar, repetir o que observa. Depois que você observa 1 vez se quer, é quase impossível esquecer.

Vou dar um exemplo mais palpável, se assistir um filme de terror, pelo menos pra mim, é certeza que vou lembrar dele na trip, mesmo sem lembrar ativamente, cada detalhe do filme está disponível para ser trazido durante o efeito de alucinógenos.
E essa é a parte mais danosa que eu vejo na crença do ego, porque toda trip vai ficar bloqueada, quando começar a avança, pah, "quebrou o ego" parou de pensar, só passa a sentir e sentir a felicidade de algo que esperava se realizando.

Nas minhas experiências, quanto mais vezes você passa por isso, menos impactante fica, o que é óbvio. "ah, é algo difícil, você nunca teve a experiência de verdade, só sabe quem realmente teve, foi ilusão sua".

Aí que tá, quando você racionaliza isso, ou o filme de terror, percebe que não faz sentido além do show que eles são. Quando acaba, percebe que não mudou uma coisa se quer, se não, o seu próprio ego de "consegui, sou foda, sou especial", o que leva a ideia de "os cogumelos perdem a magia ou a força quando usa com frequência" .

Mas e se esse é exatamente o ponto?

azer a magia acabar, se tornar comum pra conseguir superar a própria barreira que criou porque escutou alguém popular que ditou que esse era o auge, a evolução, a transcendência, ou como já li por aí "atingiu o nirvana".

É igual ilusionismo, se você não sabe como o mágico fez, é impressionante, mas quanto mais você assiste, mais você nota como é feito.

Se eu posso falar como experiência pessoal, a impressão é de que quando você não consegue mais entender, vem a sensação pra te fazer não perceber sua própria limitação. Como se alguém se recusasse a fazer uma prova, porque sabe que não estudou, mas em vez disso falta e diz pra si mesmo "eu iria conseguir se eu tivesse ido".

Como falei, é pessoal e isso não é uma regra, é o oposto disso, é dizer que não deve ficar preso no que um "livro de opinião" escrito por outra pessoa tem que ditar o que esperar. É útil na ciência, quando se tem uma resposta, é uma distração quando é algo intrapessoal. Se quisesse apenas usar cogumelo porque o efeito é gostoso, seria mais proveitoso ter isso como objetivo, se a ideia é evoluir a capacidade de pensar, também é útil se for o que procura. Se a ideia é fugir dos problemas da vida, também pode ajudar dentro do possível.
Não precisa de uma desculpa, de um porto ou terminal pra chegar, afinal, a viagem só começa quando chega no destino, pode se divertir no trajeto, mas ninguém vai pra Cancún por causa da viagem no avião em si, vai pelo local.
E aí quando chega no destino, considera que o auge já foi. É precoce. Eu sinto a trip exatamente assim, os efeitos de alucinações, de espasmos musculares (pessoal meu), de sentimentos fluindo apena como o trajeto, o efeito que espero é após tudo isso, entre o pico e o comedown, quando nada está tirando sua atenção, então consegue ver o que realmente precisa, o que queria.

As vezes o que você queria era exatamente essa sensação "mística" de ter na cabeça que tudo faz sentido, que existe algo maior, ou seja, você não precisa se preocupar. Quando se escreve um texto, precisa pensar no seu público alvo, aqui eu não preciso, porque eu sou o próprio alvo.

Quem está lendo é como ouvir um cochicho que não foi pra você, mas que não foi escondido, porque pode ser útil para alguém que quer avançar mas encontra uma barreira, que pode ou não ser a mesma.

Mas o que seria avançar? Principalmente com uma "droga"? Tem sido a ideia que eu tive, já que sempre volto para o "mesmo local" em toda trip, independente do tempo que passa fora, sempre parece retornar ao mesmo durante.

Avançar seria a possibilidade de escolher o local, poder explorar em vez de ficar preso no mesmo instante. Um segundo eterno, separado pela infinitude experimentada na vida real. Avançar seria então não ficar mais preso pela realidade, mas assumir ela como... Realmente real.

De uma forma abstrata, seria como realmente encostar em alguém e não ser átomos repelindo um ao outro para nunca se encostarem, mas que gera a sensação de tato.

Por isso o ego seria uma das coisas mais importantes, a sua identificação mais pura, saber que o real te formou e você não negou ele, entendeu como suas memórias te fizeram existir e como usar elas como base, não como uma parede de vidro que você precisa quebrar.
Em vez de tentar fugir do teu reflexo, tirar ele do espelho, entender a si mesmo.

Porque o ego já nasce morto, é o estado natural, se não tem a capacidade de avaliar se você existe, se pensa e se o outro existe. Só pode imaginar. Seria como acreditar que matou um amigo imaginário, pra fugir da realização que você é fruto exclusivamente dele.
 
Foi tanta informação que meu cérebro não conseguiu processar, consegui entender grande parte do q vc falou, mas, poderia me explicar melhor o porque você usa os cogus?

Vc desmistificou os diversos motivos do porque as pessoas usam os cogumelos, seja por autoconhecimento, "morte do ego" e afins.
Mas, ao mesmo tempo disse que é algo que varia de pessoa pra pessoa; pra falar a verdade, ler tudo oq vc falou me deixou um pouco confuso sobre o porquê eu uso eles, como você disse, não existe um "motivo certo" de usar, mas, poderia me dar uma base pra mim desenvolver a minha relação com eles?

Mas o que seria avançar? Principalmente com uma "droga"? Tem sido a ideia que eu tive, já que sempre volto para o "mesmo local" em toda trip, independente do tempo que passa fora, sempre parece retornar ao mesmo durante.
Eu vejo isso como uma maneira de romper certas barreiras que temos, nossa maneira de pensar fica muito diferente quando estamos numa trip, pensar de maneira diferente é um jeito de "avançar", podemos pensar da seguinte forma, caso vc quisesse achar algo em um quarto lotado de coisas, oq seria mais fácil, procurar em cada gaveta ou simplesmente pegar tudo jogar no chão e procurar? a psilocibina na minha visão seria para isso, jogar tudo oq vc não via na sua frente e o resto é com você; no entanto, sobre a questão de avançar não sei dizer exatamente para onde estariamos avançando, falar que "para evoluirmos como pessoa" não parece certo pra mim.


O mais perto que cheguei de realmente ter um "motivo pra usar" foi quando tive uma experiência envolvendo a bíblia e a criação, nela foi muito passado a frase "alfa e ômega" "o começo e o fim" (por sinal, se tiver algo a agregar sobre essa frase, eu agradeço); eu sempre fui ateu, mas dps desse dia, não tive como ser, não sei dizer em qual Deus eu acredito, mas eu acredito em um (provavelmente ele nem existe em uma religião, sou muito mais virado pra dizer que sou deista). Dps disso comecei a querer usar a psilocibina como uma ferramenta pra tentar me comunicar com esse Deus novamente, no entanto, eu ainda n consigo acreditar que uma substância consiga fazer eu me comunicar com Deus, ainda mais levando em conta que ela provavelmente me mostraria oq eu quero ver (podendo ser real ou não, odeio a idéia de viver uma mentira).
Sobre a bíblia, eu não consigo acreditar nela, mesmo q realmente aquilo fosse a palavra de Deus, ela com certeza foi muito alterada, e oque antes era a palavra de Deus, agora é a palavra de diversos humanos que a modificaram à sua maneira.


Enfim, se puderem me ajudar com algumas visões, opiniões e crenças de vcs sobre isso, me ajudaria muito.

Desde já agradeço.
 
Mas depois de refletir, a única coisa que realmente faz alguém ser alguém, são as memórias


Mas, e se alguém perder todas as memórias, deixa de ser alguém?
 
Mas, e se alguém perder todas as memórias, deixa de ser alguém?
Se alguém perdesse a memória ela seria uma pessoa diferente de quem ela era antes.

Nossas memórias influenciam em nossas decisões, ações e ideologias, caso vc tire as memórias, perderá também tudo oque te faz ser quem você é.
 
Mas ela seria oque então? uma casca vazia?


Quando nascemos, aparentemente sem memória, somos uma casca vazia?

É uma pergunta séria, pois considero o assunto de "o que somos e o que define o que somos" muito importante.
 
Quando nascemos, aparentemente sem memória, somos uma casca vazia?

É uma pergunta séria, pois considero o assunto de "o que somos e o que define o que somos" muito importante.
Ao meu ver sim, não vejo diferença entre bebês.
Caso tivesse 8 bebês recém-nascidos em minha frente, eu poderia facilmente dizer que todos são iguais (sem contar a parte física).

No entanto, meu argumento entra em conflito pelo fato de que cada bebê age diferente, ou seja, não são iguais.
Daria para desenvolver uma explicação que dê mais força a minha teoria, mas não sei se seria interessante.
 
Quando nascemos, aparentemente sem memória, somos uma casca vazia?
Não somos casca vazia. Nascemos imersos em um “campo psíquico” maior, que transcende o indivíduo.
Um bebê possui reflexos inatos e predisposições que sugerem a chegada ao mundo com estruturas psicológicas pré-formadas.

Penso nessa ideia dialogada com a proposição de Jung sobre o inconsciente coletivo — uma camada mais profunda da psique, compartilhada por toda a humanidade.
''Dentro desse inconsciente coletivo, estariam os arquétipos, que são padrões universais de comportamento, imagens e símbolos herdados da experiência ancestral da espécie humana. Por exemplo: O Herói, o Sábio, a Grande Mãe, a Sombra''

Do ponto de vista biológico, somos uma tradução do código genético formado por uma sequência de 4 bases nitrogenadas (ATCG). Porém isso é tudo? Não. A epigenética já demonstra como a conformação espacial, e enovelamento do DNA, possui capacidade de diferenciar indivíduos. O que mais ainda não sabemos? Melhor. Quão pouco sabemos?

Em uma viagem de albinos, já me deparei com a crença de que todos somos conectados, uma manifestação individual de um ''ser maior'', mas que possui um ponto de origem comum que comunica todos.
Se nosso universo for uma simulação, o sistema que a desenvolve processa todos nossos dados ao mesmo tempo. O sistema é o ponto comum que todos nos comunica.
Soa familiar com algumas crenças religiosas... Vale a penar lembrar do grande Raul Seixas, que compôs Gita inspirado no Bhagavad Gita:

Eu sou o início, o fim e o meio
Nascemos, vivemos e morremos dentro do mesmo ciclo cósmico.
O sujeito e o universo não estão separados — somos parte do todo.
A linha entre começo, meio e fim é ilusória; tudo está interligado.
 
Mas, e se alguém perder todas as memórias, deixa de ser alguém?
Sim, deixa de ser alguém para ser outro.
Nem que seja uma versão antiga como no alzheimer.

Essa é basicamente a minha crítica. Você tentar quebrar algo que nunca existiu, porque é baseado apenas em memórias, não tem nada "seu", apenas moldado pelo ambiente.

Só que baseado nas memórias seria realmente possível criar um "ego". Não vou tentar falar como, é apenas minha própria lógica, se não, eu não estaria tentando kkk

Você não come um animal e vira carne por isso, mas usa os aminoácidos para formar o seu próprio.

Mas você também pode comer carne e só "jogar fora", tá mal da barriga, intestino irritável, sei lá, joga tudo pra fora, comeu, mas não absorveu. Ou comeu e tentou absorver até o que não prestava.
Teu rim quis tanto sal que fez pedra só pra te atrapalhar.

É que na minha concepção, uma vez que você realmente se torna alguém independente do ambiente, mesmo sendo fruto dele, nem a morte te faria esquecer ou a falta de um corpo material.
Agora se isso é bom ou ruim pode ficar mais complexo kkkk

EU vejo funcionabilidade em reprodução dessa forma, tentar descobrir qual caminho de memórias leva a formação do ego antes que aconteça extinção. Já que tem bilhões de caminhos em bilhões de situações possíveis.

Pode ser só viés do sobrevivente na evolução, ou a sobrevivência seria o objetivo.

Resumindo, pra mim a evolução em si, a realidade é apenas um livro infantil, que tenta ensinar o básico para poder pensar por si mesmo que caminho percorrer.

Considerando que eu não tive nenhum "sucesso" nisso pode ser que esteja tudo errado minha ideia louca kkkkkk

Agora pra concluir mesmo.
Basicamente se resume: a gente existe em um universo teórico, que aconteceu, mas não aconteceu e está acontecendo. A própria existência dele sugeriria que há inevitavelmente a criação de um "ego", já que estamos conscientes.
Tipo um limiar de impulso nervoso, ele não acontece, até acontecer.

Ou as cargas no raio, o ambiente começa a ficar eletrificado antes do raio cair. Mas é o raio cair que provoca a eletrificação.

Como você é budista, diria algo pra tentar ficar mais na sua, é como se o "estado" de buda estivesse lá esperando uma base pra "cair do céu".

Podia explicar melhor, mas é segunda, to acabado.
 
É que na minha concepção, uma vez que você realmente se torna alguém independente do ambiente, mesmo sendo fruto dele, nem a morte te faria esquecer ou a falta de um corpo material.
Agora se isso é bom ou ruim pode ficar mais complexo kkkk

Talvez seja bom. Já pensou nas nossas mentes limitadas tendo que lidar com todos os pensamentos que já tivemos, com tudo que já vivemos e sentimos, ao mesmo tempo, agora?

Sem falar na possibilidade de vidas passadas, que alguns vão aceitar e outros negar.




Basicamente se resume: a gente existe em um universo teórico, que aconteceu, mas não aconteceu e está acontecendo. A própria existência dele sugeriria que há inevitavelmente a criação de um "ego", já que estamos conscientes.

Essa história de ego em si não existe propriamente no budismo. É um conceito, da psicanálise, talvez recente, embora sempre haja precursores aqui e ali.

Mas há delusões, como o auto apego, que tem tudo a ver com pensamentos egóicos.
 
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