Depois de vários meses pesquisando a respeito, lendo relatos, ouvindo podcasts e conversando com a minha esposa, finalmente tive meu primeiro contato com esses maravilhosos cogumelos! A minha experiência foi tão linda que eu tenho medo de não fazer jus a ela, nessa tentativa de descrever como tudo aconteceu.
Os preparativos: aproveitei minhas férias para fazer esta primeira viagem. Fiquei sozinho em casa e deixei preparada uma playlist para me acompanhar na viagem, bastante água, um cobertor macio e também usei uma luminária giratória do meu filho, que projeta estrelas coloridas que giram no teto e nas paredes do quarto. Deixei um incenso de Palo Santo aceso, porque gosto muito do perfume dele.
Antes de começar a viagem, tomei um bom banho, coloquei roupas confortáveis, limpas e macias. Com tudo em ordem, me sentei na cama e falei para os cogumelos “meus amigos, me ajudem a mergulhar em mim”. Comi todos os cogumelos sem dificuldade. Como estava em jejum, confesso que foi até gostoso tê-los ingerido.
Deitei na cama e deixei a playlist rolando com imagens da natureza na TV. Luminária acesa com estrelas sendo projetadas no teto do quarto. Fiquei relaxando por 20 a 30 minutos e comecei a me perguntar se eles estariam fazendo efeito. E, sim, estavam.
Tudo começou com uma sensação de leveza muito gostosa. Eu me sentia relaxado e feliz. Quando olhei para minha esquerda, a luz das estrelas estava mais viva e quando elas giravam até a borda da parede, parecia que a luminosidade delas saltava para o ar. Fiquei admirando aquele visual por algum tempo. Definitivamente as cores não eram as mesmas que eu enxergava antes dos cogumelos. Olhei para as minhas mãos na penumbra e tive a impressão de que eu podia ver meu esqueleto brilhando levemente debaixo da pele.
Resolvi experimentar fechar os olhos e foi aí que tudo ficou ainda mais bonito. Comecei a ver uma espécie de malha de fractais se expandindo do centro da minha visão para as bordas, como se estivesse se desenrolando em formas orgânicas muito delicadas. Tinha uma simetria muito linda em tudo aquilo. A trilha sonora estava fazendo tudo se transformar numa dança de cores muito delicada.
De repente, de olhos fechados, eu me vi num jardim à beira de um lago, mas as flores eram olhos com cílios que tinham outros olhos nas pontas.
Resolvi abrir meus olhos. As cores da luminária estavam ainda mais intensas. Fiquei observando o teto do quarto, tranquilo. Até que percebi que o quarto estava respirando comigo. Não sei quanto tempo já tinha passado, mas decidi me mexer. Fui até a porta do meu quarto, abri e vi o corredor muito claro, mas ele estava muito longo e as paredes pareciam estar tortas… como se o corredor tivesse ficado itálico. Kkkk
Andei o senti o chão estranho debaixo dos meus pés. Fui até a cozinha, bebi água e voltei para o quarto. Deitei novamente e achei que seria melhor continuar a ver o que eu estava vendo de olhos fechados. Acho que foi nesse momento que a viagem iniciou uma aceleração intensa até chegar no pico.
Eu juro que eu não conseguiria descrever as formas e as cores que eu vi. Só sei que eu chorei. Chorei demais. Chorei de emoção e me senti mais feliz do que jamais estive por estar vivo e poder ver tamanha beleza. Vejam bem, eu me entendo como um ateu agnóstico, mas naquele momento eu me senti como se eu estivesse vendo Deus cara a cara. E não, não tinha nada a ver com o Deus que me foi apresentado na catequese não. Naquela hora eu me esqueci de mim e teve um momento em que eu vi vários, vários pontos e eu sabia que aqueles pontos eram as consciências do universo, distraídas com seus próprios pensamentos e sentimentos, mas cada ponto estava ligado a outros pontos por fios de luz muito delicados. Nessa hora eu senti uma onda de amor GIGANTE percorrendo todo o meu corpo.
Eu fiquei extasiado por não sei quanto tempo. Chorando, de olhos fechados, vendo todas aquelas imagens lindas. Quando senti que era demais para mim, resolvi que era melhor abrir os olhos e me concentrei no teto. Vi que as cores do meu ventilador estavam invertidas, como num filme negativo e também que o ventilador estava torto.
Me levantei da cama, bebi água e fiquei olhando para as luzes do quarto. A música acabou mudando para um ritmo étnico. Parecia uma coisa meio xamânica. Não me contive e comecei a dançar e rodopiar pelo quarto. Eu ainda estava muito feliz. Fiquei nessa viagem por muito, muito tempo. Até cansar. Me deitei novamente e os visuais continuaram. Fiquei encantado com a textura do meu cobertor.
Acho que passei cerca de três horas até aí e então eu cansei. Resolvi que era hora de sair daquela situação. Desliguei as luzes e a trilha sonora. Uma frase me veio à mente: “Se eu pensei, eu vivi”. Então, de olhos fechados, vi mais uma rede de pontos luminosos, mas desta vez eram meus pensamentos, vontades, sonhos e intenções. Eu conseguia escolher meus pensamentos e viajar pra dentro deles. Se eu pensava na rua da minha casa, eu me enxergava lá. Se eu pensava na minha infância, eu me via na casa onde eu cresci. Nessa hora eu tive o que talvez alguns podem chamar de bad trip. Comecei a ficar confuso porque “se eu pensei, eu vivi”, o que exatamente era o que eu vivi e o que eu pensei? Fazia diferença? Se eu vivi o que eu pensei, então todos os meus pensamentos ruins me fizeram viver coisas ruins também. Mas os meus pensamentos mais bonitos também teriam sido verdadeiros. Fiquei pensando nisso por um tempão. Até cansar.
Saí do quarto. Encontrei com o meu gato e ele estava com uma cara que parecia de réptil. Eu dei risada. Achei que seria uma boa ideia tomar um iogurte. Peguei o iogurte e me sentei na sacada. Quando coloquei a colher no pote, a colher entortou e parecia que ela tinha entrado na minha mão. Eu puxei a colher e ela estava normal. Olhei para a minha poltrona arranhada pelos gatos e os fiapos de tecido pareciam se mexer como pequenos tentáculos em brasa.
A pior parte foi quando eu tentei comer o resto do strogonoff que tinha na geladeira e a comida da panela começou a se mexer. Eu olhei para aquilo e disse “CARA, VOCÊ TÁ MORTO, PARA DE MEXER!!” Bom, não estou com vontade de comer carne deste ontem, quando vi aquilo acontecer. Kkkk.
Aos poucos percebi que estava começando a voltar para realidade. Na verdade, eu estava começando a ficar ansioso para voltar. O que acontecia é que toda vez que eu pensava em alguma coisa, eu ia para esse pensamento como se eu estivesse vivendo ele e quando parava de pensar, eu via que estava sentado no sofá da sala.
Na última hora da viagem decidi ligar para uma amiga de grande confiança que estava por perto e pedi para que ela viesse apenas me acompanhar enquanto eu voltava da viagem. Eu senti que precisava de algum tipo de âncora para ficar mais tranquilo. Ela veio, subiu até o apartamento e quando ela chegou, a viagem terminou. Pouco a pouco minhas sensações físicas voltaram ao normal e eu parei de entrar nos meus pensamentos como eu estava fazendo.
Conclusão da experiência? Foi um dos dias mais intensos da minha vida. Acho que perde apenas para o dia do meu casamento e o nascimento do meu filho. Nunca vivi nem vi nada parecido. Quero mais, mas não tão cedo. Talvez dentro de um ou dois meses e possivelmente com cogumelos de cultivo próprio.
Sei que eu abusei tomando uma dose relativamente alta para uma primeira viagem. E também sei que abusei em não ter uma babá de viagem o tempo todo, mas ao mesmo tempo sinto que fui feliz na minha decisão. Eu queria, de fato, ter uma experiência mística com este primeiro contato e sinto que tive.
É isso aí. Esta foi a primeira viagem com cogumelos mágicos. E espero que outras venham no momento certo. Um abraço a todos!
Os preparativos: aproveitei minhas férias para fazer esta primeira viagem. Fiquei sozinho em casa e deixei preparada uma playlist para me acompanhar na viagem, bastante água, um cobertor macio e também usei uma luminária giratória do meu filho, que projeta estrelas coloridas que giram no teto e nas paredes do quarto. Deixei um incenso de Palo Santo aceso, porque gosto muito do perfume dele.
Antes de começar a viagem, tomei um bom banho, coloquei roupas confortáveis, limpas e macias. Com tudo em ordem, me sentei na cama e falei para os cogumelos “meus amigos, me ajudem a mergulhar em mim”. Comi todos os cogumelos sem dificuldade. Como estava em jejum, confesso que foi até gostoso tê-los ingerido.
Deitei na cama e deixei a playlist rolando com imagens da natureza na TV. Luminária acesa com estrelas sendo projetadas no teto do quarto. Fiquei relaxando por 20 a 30 minutos e comecei a me perguntar se eles estariam fazendo efeito. E, sim, estavam.
Tudo começou com uma sensação de leveza muito gostosa. Eu me sentia relaxado e feliz. Quando olhei para minha esquerda, a luz das estrelas estava mais viva e quando elas giravam até a borda da parede, parecia que a luminosidade delas saltava para o ar. Fiquei admirando aquele visual por algum tempo. Definitivamente as cores não eram as mesmas que eu enxergava antes dos cogumelos. Olhei para as minhas mãos na penumbra e tive a impressão de que eu podia ver meu esqueleto brilhando levemente debaixo da pele.
Resolvi experimentar fechar os olhos e foi aí que tudo ficou ainda mais bonito. Comecei a ver uma espécie de malha de fractais se expandindo do centro da minha visão para as bordas, como se estivesse se desenrolando em formas orgânicas muito delicadas. Tinha uma simetria muito linda em tudo aquilo. A trilha sonora estava fazendo tudo se transformar numa dança de cores muito delicada.
De repente, de olhos fechados, eu me vi num jardim à beira de um lago, mas as flores eram olhos com cílios que tinham outros olhos nas pontas.
Resolvi abrir meus olhos. As cores da luminária estavam ainda mais intensas. Fiquei observando o teto do quarto, tranquilo. Até que percebi que o quarto estava respirando comigo. Não sei quanto tempo já tinha passado, mas decidi me mexer. Fui até a porta do meu quarto, abri e vi o corredor muito claro, mas ele estava muito longo e as paredes pareciam estar tortas… como se o corredor tivesse ficado itálico. Kkkk
Andei o senti o chão estranho debaixo dos meus pés. Fui até a cozinha, bebi água e voltei para o quarto. Deitei novamente e achei que seria melhor continuar a ver o que eu estava vendo de olhos fechados. Acho que foi nesse momento que a viagem iniciou uma aceleração intensa até chegar no pico.
Eu juro que eu não conseguiria descrever as formas e as cores que eu vi. Só sei que eu chorei. Chorei demais. Chorei de emoção e me senti mais feliz do que jamais estive por estar vivo e poder ver tamanha beleza. Vejam bem, eu me entendo como um ateu agnóstico, mas naquele momento eu me senti como se eu estivesse vendo Deus cara a cara. E não, não tinha nada a ver com o Deus que me foi apresentado na catequese não. Naquela hora eu me esqueci de mim e teve um momento em que eu vi vários, vários pontos e eu sabia que aqueles pontos eram as consciências do universo, distraídas com seus próprios pensamentos e sentimentos, mas cada ponto estava ligado a outros pontos por fios de luz muito delicados. Nessa hora eu senti uma onda de amor GIGANTE percorrendo todo o meu corpo.
Eu fiquei extasiado por não sei quanto tempo. Chorando, de olhos fechados, vendo todas aquelas imagens lindas. Quando senti que era demais para mim, resolvi que era melhor abrir os olhos e me concentrei no teto. Vi que as cores do meu ventilador estavam invertidas, como num filme negativo e também que o ventilador estava torto.
Me levantei da cama, bebi água e fiquei olhando para as luzes do quarto. A música acabou mudando para um ritmo étnico. Parecia uma coisa meio xamânica. Não me contive e comecei a dançar e rodopiar pelo quarto. Eu ainda estava muito feliz. Fiquei nessa viagem por muito, muito tempo. Até cansar. Me deitei novamente e os visuais continuaram. Fiquei encantado com a textura do meu cobertor.
Acho que passei cerca de três horas até aí e então eu cansei. Resolvi que era hora de sair daquela situação. Desliguei as luzes e a trilha sonora. Uma frase me veio à mente: “Se eu pensei, eu vivi”. Então, de olhos fechados, vi mais uma rede de pontos luminosos, mas desta vez eram meus pensamentos, vontades, sonhos e intenções. Eu conseguia escolher meus pensamentos e viajar pra dentro deles. Se eu pensava na rua da minha casa, eu me enxergava lá. Se eu pensava na minha infância, eu me via na casa onde eu cresci. Nessa hora eu tive o que talvez alguns podem chamar de bad trip. Comecei a ficar confuso porque “se eu pensei, eu vivi”, o que exatamente era o que eu vivi e o que eu pensei? Fazia diferença? Se eu vivi o que eu pensei, então todos os meus pensamentos ruins me fizeram viver coisas ruins também. Mas os meus pensamentos mais bonitos também teriam sido verdadeiros. Fiquei pensando nisso por um tempão. Até cansar.
Saí do quarto. Encontrei com o meu gato e ele estava com uma cara que parecia de réptil. Eu dei risada. Achei que seria uma boa ideia tomar um iogurte. Peguei o iogurte e me sentei na sacada. Quando coloquei a colher no pote, a colher entortou e parecia que ela tinha entrado na minha mão. Eu puxei a colher e ela estava normal. Olhei para a minha poltrona arranhada pelos gatos e os fiapos de tecido pareciam se mexer como pequenos tentáculos em brasa.
A pior parte foi quando eu tentei comer o resto do strogonoff que tinha na geladeira e a comida da panela começou a se mexer. Eu olhei para aquilo e disse “CARA, VOCÊ TÁ MORTO, PARA DE MEXER!!” Bom, não estou com vontade de comer carne deste ontem, quando vi aquilo acontecer. Kkkk.
Aos poucos percebi que estava começando a voltar para realidade. Na verdade, eu estava começando a ficar ansioso para voltar. O que acontecia é que toda vez que eu pensava em alguma coisa, eu ia para esse pensamento como se eu estivesse vivendo ele e quando parava de pensar, eu via que estava sentado no sofá da sala.
Na última hora da viagem decidi ligar para uma amiga de grande confiança que estava por perto e pedi para que ela viesse apenas me acompanhar enquanto eu voltava da viagem. Eu senti que precisava de algum tipo de âncora para ficar mais tranquilo. Ela veio, subiu até o apartamento e quando ela chegou, a viagem terminou. Pouco a pouco minhas sensações físicas voltaram ao normal e eu parei de entrar nos meus pensamentos como eu estava fazendo.
Conclusão da experiência? Foi um dos dias mais intensos da minha vida. Acho que perde apenas para o dia do meu casamento e o nascimento do meu filho. Nunca vivi nem vi nada parecido. Quero mais, mas não tão cedo. Talvez dentro de um ou dois meses e possivelmente com cogumelos de cultivo próprio.
Sei que eu abusei tomando uma dose relativamente alta para uma primeira viagem. E também sei que abusei em não ter uma babá de viagem o tempo todo, mas ao mesmo tempo sinto que fui feliz na minha decisão. Eu queria, de fato, ter uma experiência mística com este primeiro contato e sinto que tive.
É isso aí. Esta foi a primeira viagem com cogumelos mágicos. E espero que outras venham no momento certo. Um abraço a todos!