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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Uma linda experiência com 4g de cubensis.

Experimentalist

Um vivedor de experiências
Contribuidor
14/04/2022
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Parangaricutirimicuaro
Depois de vários meses pesquisando a respeito, lendo relatos, ouvindo podcasts e conversando com a minha esposa, finalmente tive meu primeiro contato com esses maravilhosos cogumelos! A minha experiência foi tão linda que eu tenho medo de não fazer jus a ela, nessa tentativa de descrever como tudo aconteceu.

Os preparativos: aproveitei minhas férias para fazer esta primeira viagem. Fiquei sozinho em casa e deixei preparada uma playlist para me acompanhar na viagem, bastante água, um cobertor macio e também usei uma luminária giratória do meu filho, que projeta estrelas coloridas que giram no teto e nas paredes do quarto. Deixei um incenso de Palo Santo aceso, porque gosto muito do perfume dele.

Antes de começar a viagem, tomei um bom banho, coloquei roupas confortáveis, limpas e macias. Com tudo em ordem, me sentei na cama e falei para os cogumelos “meus amigos, me ajudem a mergulhar em mim”. Comi todos os cogumelos sem dificuldade. Como estava em jejum, confesso que foi até gostoso tê-los ingerido.

Deitei na cama e deixei a playlist rolando com imagens da natureza na TV. Luminária acesa com estrelas sendo projetadas no teto do quarto. Fiquei relaxando por 20 a 30 minutos e comecei a me perguntar se eles estariam fazendo efeito. E, sim, estavam.

Tudo começou com uma sensação de leveza muito gostosa. Eu me sentia relaxado e feliz. Quando olhei para minha esquerda, a luz das estrelas estava mais viva e quando elas giravam até a borda da parede, parecia que a luminosidade delas saltava para o ar. Fiquei admirando aquele visual por algum tempo. Definitivamente as cores não eram as mesmas que eu enxergava antes dos cogumelos. Olhei para as minhas mãos na penumbra e tive a impressão de que eu podia ver meu esqueleto brilhando levemente debaixo da pele.

Resolvi experimentar fechar os olhos e foi aí que tudo ficou ainda mais bonito. Comecei a ver uma espécie de malha de fractais se expandindo do centro da minha visão para as bordas, como se estivesse se desenrolando em formas orgânicas muito delicadas. Tinha uma simetria muito linda em tudo aquilo. A trilha sonora estava fazendo tudo se transformar numa dança de cores muito delicada.

De repente, de olhos fechados, eu me vi num jardim à beira de um lago, mas as flores eram olhos com cílios que tinham outros olhos nas pontas.

Resolvi abrir meus olhos. As cores da luminária estavam ainda mais intensas. Fiquei observando o teto do quarto, tranquilo. Até que percebi que o quarto estava respirando comigo. Não sei quanto tempo já tinha passado, mas decidi me mexer. Fui até a porta do meu quarto, abri e vi o corredor muito claro, mas ele estava muito longo e as paredes pareciam estar tortas… como se o corredor tivesse ficado itálico. Kkkk

Andei o senti o chão estranho debaixo dos meus pés. Fui até a cozinha, bebi água e voltei para o quarto. Deitei novamente e achei que seria melhor continuar a ver o que eu estava vendo de olhos fechados. Acho que foi nesse momento que a viagem iniciou uma aceleração intensa até chegar no pico.

Eu juro que eu não conseguiria descrever as formas e as cores que eu vi. Só sei que eu chorei. Chorei demais. Chorei de emoção e me senti mais feliz do que jamais estive por estar vivo e poder ver tamanha beleza. Vejam bem, eu me entendo como um ateu agnóstico, mas naquele momento eu me senti como se eu estivesse vendo Deus cara a cara. E não, não tinha nada a ver com o Deus que me foi apresentado na catequese não. Naquela hora eu me esqueci de mim e teve um momento em que eu vi vários, vários pontos e eu sabia que aqueles pontos eram as consciências do universo, distraídas com seus próprios pensamentos e sentimentos, mas cada ponto estava ligado a outros pontos por fios de luz muito delicados. Nessa hora eu senti uma onda de amor GIGANTE percorrendo todo o meu corpo.

Eu fiquei extasiado por não sei quanto tempo. Chorando, de olhos fechados, vendo todas aquelas imagens lindas. Quando senti que era demais para mim, resolvi que era melhor abrir os olhos e me concentrei no teto. Vi que as cores do meu ventilador estavam invertidas, como num filme negativo e também que o ventilador estava torto.

Me levantei da cama, bebi água e fiquei olhando para as luzes do quarto. A música acabou mudando para um ritmo étnico. Parecia uma coisa meio xamânica. Não me contive e comecei a dançar e rodopiar pelo quarto. Eu ainda estava muito feliz. Fiquei nessa viagem por muito, muito tempo. Até cansar. Me deitei novamente e os visuais continuaram. Fiquei encantado com a textura do meu cobertor.

Acho que passei cerca de três horas até aí e então eu cansei. Resolvi que era hora de sair daquela situação. Desliguei as luzes e a trilha sonora. Uma frase me veio à mente: “Se eu pensei, eu vivi”. Então, de olhos fechados, vi mais uma rede de pontos luminosos, mas desta vez eram meus pensamentos, vontades, sonhos e intenções. Eu conseguia escolher meus pensamentos e viajar pra dentro deles. Se eu pensava na rua da minha casa, eu me enxergava lá. Se eu pensava na minha infância, eu me via na casa onde eu cresci. Nessa hora eu tive o que talvez alguns podem chamar de bad trip. Comecei a ficar confuso porque “se eu pensei, eu vivi”, o que exatamente era o que eu vivi e o que eu pensei? Fazia diferença? Se eu vivi o que eu pensei, então todos os meus pensamentos ruins me fizeram viver coisas ruins também. Mas os meus pensamentos mais bonitos também teriam sido verdadeiros. Fiquei pensando nisso por um tempão. Até cansar.

Saí do quarto. Encontrei com o meu gato e ele estava com uma cara que parecia de réptil. Eu dei risada. Achei que seria uma boa ideia tomar um iogurte. Peguei o iogurte e me sentei na sacada. Quando coloquei a colher no pote, a colher entortou e parecia que ela tinha entrado na minha mão. Eu puxei a colher e ela estava normal. Olhei para a minha poltrona arranhada pelos gatos e os fiapos de tecido pareciam se mexer como pequenos tentáculos em brasa.

A pior parte foi quando eu tentei comer o resto do strogonoff que tinha na geladeira e a comida da panela começou a se mexer. Eu olhei para aquilo e disse “CARA, VOCÊ TÁ MORTO, PARA DE MEXER!!” Bom, não estou com vontade de comer carne deste ontem, quando vi aquilo acontecer. Kkkk.

Aos poucos percebi que estava começando a voltar para realidade. Na verdade, eu estava começando a ficar ansioso para voltar. O que acontecia é que toda vez que eu pensava em alguma coisa, eu ia para esse pensamento como se eu estivesse vivendo ele e quando parava de pensar, eu via que estava sentado no sofá da sala.

Na última hora da viagem decidi ligar para uma amiga de grande confiança que estava por perto e pedi para que ela viesse apenas me acompanhar enquanto eu voltava da viagem. Eu senti que precisava de algum tipo de âncora para ficar mais tranquilo. Ela veio, subiu até o apartamento e quando ela chegou, a viagem terminou. Pouco a pouco minhas sensações físicas voltaram ao normal e eu parei de entrar nos meus pensamentos como eu estava fazendo.

Conclusão da experiência? Foi um dos dias mais intensos da minha vida. Acho que perde apenas para o dia do meu casamento e o nascimento do meu filho. Nunca vivi nem vi nada parecido. Quero mais, mas não tão cedo. Talvez dentro de um ou dois meses e possivelmente com cogumelos de cultivo próprio.

Sei que eu abusei tomando uma dose relativamente alta para uma primeira viagem. E também sei que abusei em não ter uma babá de viagem o tempo todo, mas ao mesmo tempo sinto que fui feliz na minha decisão. Eu queria, de fato, ter uma experiência mística com este primeiro contato e sinto que tive.

É isso aí. Esta foi a primeira viagem com cogumelos mágicos. E espero que outras venham no momento certo. Um abraço a todos!
 
A colher entortando foi demais, já sabemos de onde vieram as ideias do filme Matrix kkkk

Me identifiquei muito quando você inicia dizendo não saber se vai fazer jus a experiência na hora de narrar.
Quando saímos da trip é que notamos o quanto nossa linguagem é limitada e quão ineficaz ela é pra descrever os fenômenos que fogem a mediocridade do mundo sensível.

De qualquer forma deu pra entender bem como deve ter sido mágica, fico muito feliz por você irmão.
Recomendo demais o cultivo. Quando desenvolvemos esse tipo de relação com os cogumelos a experiência fica ainda mais rica.

Um grande abraço!
 
Então @Experimentalist que experiência profunda heim hehe
Várias coisas achei interessante comentar :)

De repente, de olhos fechados, eu me vi num jardim à beira de um lago, mas as flores eram olhos com cílios que tinham outros olhos nas pontas.
Esses ambientes surreais e psicodélicos é uma coisa que aprecio bastante! Certa vez eu vi como se no meu quintal estivesse crescendo uma selva e as paredes fossem de antigas pirâmides com várias coisas escritas nelas com símbolos que não soube identificar xD

Chorei de emoção e me senti mais feliz do que jamais estive por estar vivo e poder ver tamanha beleza.
Isso é uma das coisas que mais me puxam pra experiência psicodélica... mas junto do belo eu também aprecio ver o horrível e assustador kkkkk
Dois lados da mesma moeda

Naquela hora eu me esqueci de mim e teve um momento em que eu vi vários, vários pontos e eu sabia que aqueles pontos eram as consciências do universo, distraídas com seus próprios pensamentos e sentimentos, mas cada ponto estava ligado a outros pontos por fios de luz muito delicados.
Esse ponto do teu relato é bem curioso pois tu descreveu quase que exatamente o que seria a teia de Indra do hinduísmo ( e também de forma adaptada em certas correntes do budismo) onde o encontro das linhas representaria as consciências em algumas interpretações. É uma viagem e vale a pena dar uma lida se te deixou curioso :)

“Se eu pensei, eu vivi”
Isso me lembra muito uma ideia base da minha abordagem na psicologia, a psicologia analítica, que fala que "a realidade psíquica é real" ensinando justamente a ter mais respeito pelas experiências com a psique e que elas são tão grandes e reais quando a experiência com o material.

Comecei a ficar confuso porque “se eu pensei, eu vivi”, o que exatamente era o que eu vivi e o que eu pensei? Fazia diferença? Se eu vivi o que eu pensei, então todos os meus pensamentos ruins me fizeram viver coisas ruins também. Mas os meus pensamentos mais bonitos também teriam sido verdadeiros. Fiquei pensando nisso por um tempão. Até cansar.
Acho que em certo momento tu pode tirar um grande aprendizado daqui :)

Saí do quarto. Encontrei com o meu gato e ele estava com uma cara que parecia de réptil. Eu dei risada.
Na próxima tenta conversar com ele kkkkkkkk
Certa vez a minha gata falou comigo e foi um papo massa viu :p

Bom, parabéns pela experiência e fico no aguardo desses futuros cultivos! Não esquece de postar o diário por aqui :sorrisão:

Forte abraço! 🍄
 
Todo mundo falou coisas lindas acima, só ficou uma dúvida para trás:
- Cara, você comeu cogumelo ou maconha ? que larica meu kkkkk

um abraço!
 
Falae, @Experimentalist! Adoro relatos tão fluidos em relatar sensações tão profundas e novas.

Confesso que rolou até "eu também quero" (ou, inveja, pros francos kkk) que eu quando comecei com a psicodelia era pra ter essa experiência:

Então, de olhos fechados, vi mais uma rede de pontos luminosos, mas desta vez eram meus pensamentos, vontades, sonhos e intenções. Eu conseguia escolher meus pensamentos e viajar pra dentro deles. Se eu pensava na rua da minha casa, eu me enxergava lá. Se eu pensava na minha infância, eu me via

Um lado mais "psicológico" da psicodelia, podendo ser enteogênico ou não. Mas por fim, eu me amarrei em ver alguém vivenciando uma experiência que eu buscava, e talvez um dia tenha. Nesses anos todos, menos de 5 pessoas tiveram esse tipo de entrada na mente, como uma variação de corredor em que você abre suas memórias e entra nelas.

Muito legal ver um relato disso por aqui! :D

E outros comentários...

Tudo começou com uma sensação de leveza muito gostosa. Eu me sentia relaxado e feliz.

Isso prenuncia uma certa facilidade que você demonstrou. Que bom ver que sua aceleração é tranquila.

Olhei para as minhas mãos na penumbra e tive a impressão de que eu podia ver meu esqueleto brilhando levemente debaixo da pele.

Aha! Massa. Me lembrou "O Estranho Mundo de Jack".

Resolvi experimentar fechar os olhos e foi aí que tudo ficou ainda mais bonito. Comecei a ver uma espécie de malha de fractais se expandindo do centro da minha visão para as bordas, como se estivesse se desenrolando em formas orgânicas muito delicadas. Tinha uma simetria muito linda em tudo aquilo. A trilha sonora estava fazendo tudo se transformar numa dança de cores muito delicada.

Visuais de olhos fechados com cogumelo são intensos. Ver fractais deve ser lindo sem palavras.

Até que percebi que o quarto estava respirando comigo.

Sabe que eu tenho uma teoria que essa sensação que as coisas respiram é porque nós mesmos estamos respirando e transmitimos esse movimento do pulmão pros objetos ao redor?

Eu juro que eu não conseguiria descrever as formas e as cores que eu vi. Só sei que eu chorei. Chorei demais. Chorei de emoção e me senti mais feliz do que jamais estive por estar vivo e poder ver tamanha beleza

Que foda.

eu me entendo como um ateu agnóstico, mas naquele momento eu me senti como se eu estivesse vendo Deus cara a cara. E não, não tinha nada a ver com o Deus que me foi apresentado na catequese não. Naquela hora eu me esqueci de mim e teve um momento em que eu vi vários, vários pontos e eu sabia que aqueles pontos eram as consciências do universo, distraídas com seus próprios pensamentos e sentimentos, mas cada ponto estava ligado a outros pontos por fios de luz muito delicados. Nessa hora eu senti uma onda de amor GIGANTE percorrendo todo o meu corpo.

Pois é. A enteogenia parece te chamar forte de dentro pra fora com os cogumelos, desde a primeira experiência. Que bom que começa a ver a face de Deus, conforme você o entendeu. Afinal, egoísmo que só quem escreveu a Bíblia tenha visto, depois proibido geral de comer o "fruto proibido" pra ver Deus também. Palavras não descrevem. A Bíblia ou qualquer doutrina é, no fim, palavra. O cogumelo, é a experiência direta.

Não me contive e comecei a dançar e rodopiar pelo quarto. Eu ainda estava muito feliz. Fiquei nessa viagem por muito, muito tempo. Até cansar

Cara... eu me amarro muito quando tem isso nas minhas experiências. Normalmente, uma Cigana que encosta no rodopio.

Fiquei encantado com a textura do meu cobertor.

Hehe, adoro também viajar muitas vezes no meu amado cobertorzinho. :giggle:

Encontrei com o meu gato e ele estava com uma cara que parecia de réptil

Chamo isso de sapomorfização. Acho que ela ocorre com mais forte nas primeiras experiências (.

Espere pra ver outro ser Humano "sapomorfizado", pode ser impactante, ou eventualmente broxante kkkk.

comida da panela começou a se mexer. Eu olhei para aquilo e disse “CARA, VOCÊ TÁ MORTO, PARA DE MEXER!!” Bom, não estou com vontade de comer carne deste ontem, quando vi aquilo acontecer. Kkkk.

Isso. Coloca o strogonoff no lugar dele!!!

Sei que eu abusei tomando uma dose relativamente alta para uma primeira viagem.

Hmmm... foi bem. Você não disse se já tinha experiência prévia com psicodélicos, no entanto.

também sei que abusei em não ter uma babá de viagem o tempo todo

Ajuda, mas entre as recomendações de segurança, é uma dispensável. O mais importante é o preparo de um setting seguro e o preparo do set como você fez, pra saber navegar e entender o que o esperava.

fui feliz na minha decisão. Eu queria, de fato, ter uma experiência mística com este primeiro contato e sinto que tive

Parabéns, mesmo.
 
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