Tá aí minha contribuição, na base ctrl+c ctrl+v mesmo, sinta-se livre pra reescrever qualquer parte ou detalhe no formato que achar melhor. Mete ai Vitor G.B. pro nome e já era
Tudo começou há uns meses atrás quando eu vi num documentário na netflix, entendendo a mente ep 5, um pouco de informação sobre os psicodélicos, de um ponto de vista científico e não proibicionista. A parte do potencial da psilocibina de curar ansiedade, mudanças permanentes na personalidade, e novas conexões e caminhos neurais, me chamou a atenção. Lembro de um amigo há uns anos atrás em Ubatuba que comprava desidratados pelo mercado livre, procuro lá e não acho, mas encontro em outros sites. Estou em São Paulo, casa da minha vó, careta, que não aprovaria o uso de tal. Cerca de um mês e meio depois, 18 de maio, um brother de Ubatuba me manda mensagem falando que virá no dia seguinte pra cá e voltar no mesmo dia e me oferece carona. Pergunto pra minha mãe se ela me aceita em casa, sim. Aceito a carona e só falo pra minha vó que tô saindo 5 minutos antes sair. Ainda no carro, no decorrer da viagem, já mato a abstinência de cannabis. Chego. Por algumas semanas, apenas reaprendo a viver fora da prisão psicológica que foi conviver com a minha vó. Depois de reaprender, retomo as sessões com a minha psicóloga. Fico mais algumas semanas nisso, buscando e encontrando um pouco de autoconhecimento. Certa sessão, falo pra ela que quero e porquê quero usar cogumelos. Ela acha em certo nível interessante, saio dali decidido a comprar. Sacada a parcela do auxílio, 7 gramas. 29 de julho correio me entrega os "cogumelos mágicos", conforme a declaração de conteúdo anexada à caixa de papelão. Tento me planejar, esperar o momento certo, de preferência sem ninguém em casa, o que não deu certo porque quarentena. Conto pra minha mãe que comprei e porque comprei, reação neutra pra positiva.
Domingo, 2 de agosto, 11:30 da manhã, jejum de mais ou menos 14 horas, 2 cigarros fumados até então, meu padrasto e o filho dele de 9 anos acordados, minha mãe dormindo. Pego o pacote de cogumelos, a balança de precisão emprestada pelo meu padrasto, e peso 3,2 gramas entre caules e chapéus. Trituro com a mão de maneira preguiçosa e jogo tudo num copo de requeijão vazio. Pego duas laranjas pera e com ajuda do espremedor encho o copo onde descansam os cogumelos mal triturados. Resultado pode ser visto na foto em anexo.
Chernobyl. Tudo boiando na espuma da laranja. Tomo aquilo quase gorfando, ainda tem cogumelo pra caraleo no fundo, e eu espremo mais duas laranjas. Pronto, bebi.
Os tambores que estavam rufando desde que eu coloquei na cabeça que a psilocibina seria minha salvação, fizeram uma pausa dramática. Bolei um cigarro e fui no quintal meditar no porquê de eu ter tomado aquilo. Só queria acabar com a minha ansiedade e insegurança pra conseguir ir atrás do que eu quero. No momento, eu tava achando que o cogumelo que faria todo o trabalho, igual Novalgina pra diminuir dor. Mal sabia eu que ele é só a ferramenta, mas só fui descobrir isso no pós uso.
Depois do cigarro e de refletir um pouco, fiquei na sala trocando idéia no celular com um amigo de sp (que a propósito teve a primeira experiência hoje, 15 de agosto) sobre eu ter tomado, e tocando minha guitarra.
Meia hora depois de tomar, já comecei a me perceber num estado mental diferente, os estímulos todos tavam diferentes de algum jeito, e em alguns minutos, a visão começou a ficar claramente estranha, tava tudo macio, aveludado, minha guitarra e a tela do meu celular mais bonitos do que nunca, e eu tentando não rir. Padrasto e filho sairam pra passear com a cachorra durante essa fase, e minha mãe acordou. Sem saber que eu tinha usado há poucos minutos, ela pergunta enquanto come o café da manhã tardio dela se eu já tinha tomado os cogumelos, falei que sim, e que tava começando agora a viagem (depois ela comtou que perguntou porque meu padrasto falou pra ela antes de sair que eu tava tentando não rir de alguma coisa). Pronto, alguém sabe que eu tomei, me sinto mais seguro.
Eu ainda na sala depois de alguns minutos, começou o enjôo. Fui pro meu quarto, porta aberta pro corredor, parte de cima da beliche. Levei meu celular e meu fone de ouvido.
Quando eu deitei, em mais alguns minutos, começou de fato a viagem.
1ª fase
Os conceitos que eu tinha de basicamente tudo, começaram a parar de fazer sentido. Tempo era simplesmente incompreensível, o presente durava pra sempre, sensação de que tudo que eu tinha capacidade e potencial pra fazer, eu podia fazer naquela hora. Eu peguei o celular, e fui conversar com esse amigo de sp, tentando explicar o que tava acontecendo na minha mente. Todas as palavras tavam rimando com elas mesmas, eu já não tava conseguindo achar o sentido da vida na "matrix", trabalhar, dinheiro e tudo mais, e comecei de leve a me sentir um com tudo. Também tava com a sensação que todo mundo que teve algum tipo de presença nesse dia, tava sentindo as mesmas coisas que eu, e simplesmente não conseguia sair dessa pira inofensiva, como se caso eu começasse a conversar com alguém aleatório sobre a brisa enquanto ela acontecia, a pessoa em questão entenderia perfeitamente cada aspecto. No meu lado racional eu sabia que não fazia sentido e não era verdade, mas meu lado emocional tava nessa.
Parecia que tudo tava encaixando onde tinha que encaixar num sentido bem abstrato. Fiquei pouco mais de uma hora assim, revezando minutos de olhos fechados e minutos tentando explicar pro amigo no celular. Foi chegando perto das 2 da tarde, falei pro mesmo não se assustar caso eu desaparecesse depois das 2 (?).
Deu 2. Inventei de ir fumar um cigarro. Meu ego já lutando pra não morrer, e eu nem tinha me dado conta da luta, pra mim aquela sensação de confusão e tentativas inacabaveis de racionalizar era coisa normal da viagem, infelizmente só fui descobrir esse fórum depois do primeiro uso, e só fui parar pra LER, que é a parte importante (800qi) depois da segunda viagem. Bolei o cigarro mais difícil da minha vida, fazendo o maior esforço pra ignorar a presença dos 3 presentes e sem fazer contato vizual com ninguém e fui pro quintal fumar. Sensação de bem estar pleno intercalando com uma sensação de morte certa. Já tava muito forte, o cigarro tava com gosto de cloro ou cândida, apaguei na metade, com a cabeça parecendo uma tempestade, e fui pro banheiro. Bebi água direto da torneira pra ter certeza que a morte não seria de desidratação e porque não tava conseguindo raciocinar. Me olhei no espelho e só vi um absoluto homem louco e selvagem, fiquei uns segundos ou talvez minutos viajando e sorrindo pra mim mesmo, que no momento eu não sentia tanto assim como sendo "eu", só um pedaço de carne muito louco. Voltei pro quarto, desliguei o celular, e começou a parte intensa
2ª fase
Só depois de deitar essa segunda vez na cama, e sem nenhuma distração, comecei a entrar de verdade na viagem. Mesmo sem me dar conta que aquela loucura interna acontecendo era provavelmente a luta do ego, teve momentos que eu me entregava mais e curtia mais, e momentos de medo. "Puta merda que que eu fiz, nunca mais tomo essa merda" e só me imaginava jogando o resto fora. Tava maravilhoso, um conflito pacífico acontecendo dentro de mim, ao mesmo tempo que tava desesperador e eu queria voltar pro normal, eu também queria viver e de alguma forma entender aquilo que tava acontecendo.
O quarto todo de madeira, meio escuro, eu em cima do beliche pertinho do teto. Tava me sentindo num ritual, e o vizinho tocando bateria contribuiu com isso. Durante essa segunda fase inteira, eu fiquei debaixo do meu cobertor. Li aí em outro relato que é uma ótima ferramenta anti bad trip, e realmente, em momentos eu tava rodeado de medo, mas tava ali debaixo do cobertor, então ia sobreviver. Eu tava num útero, e tava me preparando pra renascer. Tava vendo tudo que eu conhecia e acreditava de um ponto de vista diferente, incompreensível à primeiro contato, e sem nenhum tipo de filtro. Senso de localização ali no espaço também não fazia sentido. Eu simplesmente estava em todos os lugares, porque todos os lugares eram o mesmo, uma coisa só. Com os olhos fechados, eu via raízes/ramos de plantas se enrolando e desenrolando ao mesmo tempo. As partes do meu corpo não estavam onde minha consciência achava que elas tavam. Todos estímulos externos eram informação bruta, eu não interpretava nem julgava, apenas sentia. Conforme foi chegando perto da 3ª fase, o medo foi diminuindo e eu me entreguei mais, simplesmente aceitei em partes que aquilo era incompreensível e além de qualquer interpretação racional.
3ª fase
A tempestade passou, e meu ego tá arregaçado de exausto, não tá mais lutando porque a psilocibina já parou de rebocar ele na porrada, tá quietinho lá se recompondo pra me dar o troco. Tempo e outros conceitos voltando a fazer sentido. Nessa parte, eu me senti melhor do que nunca. Presença total no agora, sem preocupação nenhuma, sem vícios, compaixão com tudo e todos, motivação pra fazer qualquer coisa que precisa ser feita. Tava reaprendendo tudo, como interpetar cada coisa, externa e interna, minha personalidade ainda não tava remontada. E durante essa fase, embora tudo tivesse perfeito, eu tava com a sensação que eu tava deixando alguma coisa passar. Como se aquele estado que eu tava tivesse se preparando pra ir embora, e existisse algum jeito de fazer aquilo ficar, mas que eu não descobri e acabei voltando pra matrix.
Ai veio uma bad. Meu ego se recompôs, e parece que voltou dando chilique igual criancinha quando mamãe não compra ursinho de gelatina. O que era conexão e união com tudo, virou o mais absoluto isolamento. Eu só conseguia pensar em como eu era sozinho e sempre vou ser, não no sentido social ou físico, mas no psicológico. Ninguém nunca vai me entender, entender o que eu penso e da forma que eu penso. E acho que isso é uma das coisas que eu mais quero na vida. Enquanto na fase boa eu via meus planos, e sabia exatamente qual passo dar a seguir, sabendo que aquilo só vai acontecer se eu fizer, na bad, eu só conseguia enxergar o resultado final de tudo, e não via a menor graça ou motivo pra chegar nesse resultado. Sabia que aquilo provavelmente era só desequilíbrio de algum ou alguns neurotransmissores, mas racionalizar não tava funcionando. Fui tomar um banho quente e tentar meditar. Melhor coisa que eu fiz.
Voltei do banho não tão bem quanto eu estava na 3ª fase, mas bem melhor do que o meu padrão pré uso.
Sobrevivi. Hora de refletir, assimilar, interpretar e etc. tudo isso que aconteceu. Passei a semana seguinte inteira fazendo isso. A primeira coisa que me dei conta é que o cogumelo não é mágico por si só. Afinal, tudo é a mente. Todas minhas experiências, todos os significados, pessoas, lugares, músicas, é tudo a forma que minha mente percebe, cada minúsculo aspecto da vida, é e precisa ser percebido de alguma forma que encaixe nas limitações da minha mente.
Mesmo após me dar conta que o cogumelo é só a ferramenta, ainda não ficou claro pra mim como mudar, mas ficou claro que tem como mudar.
Na terça feira, tomei uma dose de 300mg pra ver no que dava, não senti nada e decidi não tentar mais microdosagem pra poder guardar o resto pra viagens mais fortes.
Depois de uns dias, não lembro se sábado domingo ou segunda, tomei metade no olhometro dos 3,5g que tinham sobrado, na maior espontaneedade achando que não seria uma viagem forte. Foi basicamente um replay da primeira, um pouco mais fraco e menos duradouro.
Daí eu comecei a ler os relatos e incontáveis outros tópicos aqui do fórum. Simplesmente incrível. Tudo que eu queria depois das duas viagens eram pessoas experientes ou no mesmo nível que eu com quem trocar idéia sobre. Nesse pouco tempo, aqui no fórum, já deu pra entender e aprender muita coisa que eu não sabia nos primeiros usos.
O filho do meu padrasto dorme no mesmo quarto que eu, então não posso tomar conta do lugar, me fechar, colocar música, fumar, acender incenso e tudo mais. E a própria presença dele na casa acaba cortando um pouco a liberdade, não quero traumatizar e confundir a inocente e aberta à sugestão mente consciente e subconsciente de uma criança através de comportamentos e diálogos não habituais e filosóficos.
Maaaas, ele tá aqui só tirando férias e volta pra São Paulo em alguns dias, vou me preparar bem e tomar o resto, mantendo em mente o que eu li aqui e o que minha psicóloga me falou depois do segundo uso sobre as coisas enterradas no meu subconsciente. Nunca tive experiência ruim na minha vida com cannabis, aliás, consegue me tirar de qualquer bad existencial, provavelmente vou fumar durante a viagem também pra ver qual que é. Logo mais tô postando aqui denovo, provavelmente. Valeu. E finja que os erros de digitação não existem, mó preguiça de consertar no celular.