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Tudo é vivo! – Primeira experiência

Shine

Hifa
Cadastrado
11/04/2015
15
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28
Oi, gostaria de compartilhar minha primeira experiência com vocês.

Como eu disse acima, nunca tinha tomado/comido cogumelos antes, somente lido e conversado sobre o assunto. Foi a uns dois anos atrás meu primeiro contato com a palavra cogumelos, até então eu não sabia do que se tratava. De lá pra cá vi alguns relatos e me informei sobre com quem já tinha experiência com o assunto. Fui adquirindo um pouco da minha também.

Na madrugada de segunda para terça, comi o que se pareceu ter 3g-4g dele seco (acho que foi isso, pois não cheguei a pesar) andressacogu.jpg coguandressa2.jpg
misturei com um mel e mandei para dentro de colherada. Quase não senti o gosto, mas estavam croque-croque. Estava rolando uns incensos no quarto na qual o deixavam perfumado, cheiro muito agradável. Deitei na cama e esperei um pouco ansiosa a vinda. A passagem foi meio agonizante, me senti um pouco estranha, sentia que já estava chegando quando de repente vejo as listras do meu guarda-roupa começarem a se mover e a formarem fractais, logo em seguida tudo que estava em cima do guarda-roupa inspirava e respirava como meu pulmão o fazia. As listras do guarda-roupa dançavam, escorriam e se movimentavam sem parar, o guarda roupa aumentava e diminuía de tamanho, algo sem igual. Daí, já percebi que estava “lá”. Foi muito intenso pra mim ver como nada é realmente como aparenta ser, foi muito gratificante ver tudo se mexendo, se movendo, respirando, ver como tudo tem vida.

Nessa hora eu ainda estava conseguindo me manter de olhos abertos, mas após um tempo meus olhos pareciam ter vida própria, pois eu não conseguia os manter abertos. Era como se eu estivesse com muito sono e eles fossem se fechando sem minha própria vontade. De repente eu estava de olhos fechados, enrolada e deitada de lado na cama, no som o mantra tocava, e eu sentia meu corpo mergulhar na cama. Essa para mim foi uma parte da trip muito intensa, com direito a ser cama, a não saber mais se eu estava deitada, flutuando... nesse momento eu não sabia como se encontrava mais o meu corpo, comecei a esquecer os conceitos que tenho (tinha) da vida, sobre as coisas, comecei a esquecer as pessoas que eu conheço a até a mim mesma. Eu estava esquecendo quem eu era, esquecendo tudo aquilo que me “humaniza”. Ali, de olhos fechados, eu sendo cama e a cama sendo eu, já não estava sabendo mais quem eu era. De olhos fechados eu via fractais em formas de espirais, e o esquecimento... ahhh! Foi aí que eu abri os olhos e comecei a sentir medo. Medo de esquecer tudo e a todos, medo de me esquecer (eu estava me esquecendo, como é possível?), na minha cabeça só o que vinha naquele momento era a sensação de esquecimento. Foi aí que tudo começou a ficar confuso, meus braços não respondiam aos meus comandos, sobre minhas pernas eu não tinha mais controle, eu não controlava minha respiração, eu sentia a saliva descendo sem eu “forçar”, minha garganta eu já não sabia onde estava, eu tentava levantar uma das minhas mãos e passar em minha testa, e lá eu encontrava meu nariz. Meus sentidos estavam em uma verdadeira confusão, estava tudo embaralhado. Foi realmente muito forte perceber que não temos o controle de nada, e depois, após refletir, percebi como estamos sempre querendo controlar tudo. Mesmo após ter lido várias experiências e saber que devemos apenas observar, sem querer explicar nada, na hora o “barato” é outro kkk. Nessa onda de querer controlar, de querer explicar, eu fui sentindo uma grande sensação de morte tomar conta de mim, e parecia tão real na hora, mas tão real, que as palavras até fogem de mim. Eu sentia como se estivesse morrendo por não estar entendendo mais nada do que se passava comigo e com o meu corpo. Dessa grande sensação de morte, eu realmente o sentia, eu sentia a morte, eu vivia a morte como se realmente eu fosse morrer... parecia muito real. Mas quando os efeitos já estavam passando, a sensação de morte foi a primeira a ir embora, os visuais ainda continuavam. O PC crescia e diminuía, sua tela era uma constante espiral, ainda via o guarda-roupa respirar, ainda via fractais nas paredes e cores, vermelhas, verdes... Fui tomar um banho, e quando a água caia em mim eu sentia minha pele dissolver, olhava pro meu braço e via as veias crescendo e passando por ele. Via minha pele em constante movimento, e nela via fractais. Sensação muito incrível para mim. Terminei meu banho, me sequei e sentei na cama, com isso os visuais após um tempo já estavam indo embora. Depois de um tempo senti uma vasta onda de leveza tomar conta de mim, e até hoje não consigo pensar em muita coisa direito, estou sem aquele “bolo” de pensamentos que somos acostumados a ter. Até hoje me encontro em estado leve, sentindo que devo tratar as pessoas melhor, sentindo que devo valorizar mais as pessoas ao meu redor, que eu amo e que me amam. Sentindo a necessidade de valorizar os momentos que tenho com essas pessoas... Enfim, minha primeira experiência com os mágicos, para mim, foi muito intenso... muito intenso e lindo, pois foi muito gratificante ver como tudo tem vida, como tudo é uma coisa só, foi muito intenso ver uma realidade totalmente diferente da que vivo. Foi realmente um tapa. Um tapa bem dado, um tapa merecido. E após minha experiência, vi que quanto mais eu tentava manter o controle, quanto mais eu tentava explicar e entender o que acontecia comigo e com o meu corpo, mais eu sentia medo. Vi como eu abri a porta do medo e o deixei tomar conta de mim. Graças a Deus meu “babá” soube lidar bem com a situação. Percebi quão é importante você aceitar, o porque de só aceitar e relaxar, o porque de deixar fluir sem buscar entender e explicar nada. Cada experiência é única e sempre que voltamos, vamos nos transformando em outro ser. Em um ser melhor... Dessa trip só levo o aprendizado, o aprendizado para toda uma vida e para a próxima experiência.

Abraços.
 
Última edição:
Parabéns pela morte! Com um pouquinho mais de calma acho que você teria experimentado também a morte completa do ego, se tivesse permanecido de olhos fechados, e se deixado esquecer.

Suas preocupações e o medo da morte são onde começa uma bad trip, mas parece que você conseguiu lidar de certa forma bem com isso, pois finalmente entendeu porquê dizemos para não tentar controlar a experiência. Para uma primeira, foi ótima!

Paz e luz.
 
Gostei da experiencia... consegui sentir daqui tudo oque você passou.
Nunca estamos preparados de fato para o que estar por vir depois de ingeri-los, é um mundo diferente.
A primeira vez é normal achar tudo estranho e novo.
Como o @Salaam`aleik disse, tente da próxima vez não entender e nem explicar nada. Querer racionalizar esse momento estraga o próprio momento, deixe isso pra depois. A mente nunca vai entender oque esta alem dela.
Parabéns pela coragem!
 
Última edição:
Obrigado pela força e pelas palavras, @Salaam`aleik e @Paranoid. Foi bem forte e intensa, teve um belo impacto em mim. Me sinto agradecida.
Abraços.
 
Obrigado por compartilhar essa bela experiência! É sempre interessante ler um relato bem escrito e sentir um pouco da experiência. Aproveito a oportunidade para parafrasear o mestre Dogen: "Estudar o caminho da iluminação é estudar a si mesmo, estudar a si mesmo é esquecer de si mesmo, e esquecer de si mesmo ser iluminado por todas as coisas do universo" :idea:
 
Muito bem relatado!
Como se sente ou o que acredita que a experiencia tenha contribuído para você e suas relações, agora, quase um mês após a publicação do relato?
 
Depois de um tempo senti uma vasta onda de leveza tomar conta de mim, e até hoje não consigo pensar em muita coisa direito, estou sem aquele “bolo” de pensamentos que somos acostumados a ter. Até hoje me encontro em estado leve, sentindo que devo tratar as pessoas melhor, sentindo que devo valorizar mais as pessoas ao meu redor, que eu amo e que me amam.
Sensação boa essa, não? Mente limpa, alma leve e amor pelo próximo.
 
Muito bem relatado!
Como se sente ou o que acredita que a experiencia tenha contribuído para você e suas relações, agora, quase um mês após a publicação do relato?

Ótima pergunta, figurinha... me fez refletir bastante para poder te responder (e me responder), mas mesmo assim só sei te dizer que foi uma experiência bastante significativa e diferente de tudo que já pude experienciar nesta minha vida. Intensa, inexplicável, imensurável... sinceramente, não há palavras para explicar, apenas posso dizer que foi A experiência. Eu me sinto bem em relação à substância, creio que por mais "tensa" que seja a situação na hora H, a psilocibina sempre vale à pena. Vale justamente por te dar novas perspectivas em relação ao mundo e ao outro, pela onda de paz, relaxamento e leveza, pelas reflexões, por você aumentar o leque de possibilidades e começar a enxergar como tudo é possível, ela quebra conceitos e vai remodelando aos poucos, e pelas infinitas coisas positivas que acontecem com você...
Mas é como um amigo já me disse uma certa vez "tem gente que é bebedor de chá"... não basta só beber/tomar/comer, não é? tem que trazer os ensinamentos para a sua vida, colocar em prática (digo do amor, da sensação de não pensar em nada, da leveza de tudo....) é o que estou tentando... algo que temos que buscar diariamente.
Muito obrigado pelo questionamento (e os que virão após esse; dentro de mim)
Abraços, muita paz.
 
Última edição:
@Shine , para que tenha um sentido, para que o universo venha a entender o que ele mesmo é, acredito que a experiência psicodélica em si pode ser muito importante, por ser um momento de intimidade consigo mesmo, tão intimo que por vezes nos deparamos com informações das quais não imaginávamos fazer parte. Uma intimidade que amplia para todas as direções nossas possibilidades. As vezes é tão amplo que não sabemos nem o que fazer ou mesmo como utilizar isto na vida.
Ainda seremos humanos e a experiência de vida será da mesma dureza, mas temos como nos readaptar de maneiras mais rápidas ao que nos é apresentado dia a dia.

Hoje sinto uma paz muito grande, como se em todos locais que em que entrei e as pessoas que conheci, sempre tem um sorriso para compartilhar, e isto é só um espelho da beleza que somos e podemos nos tornar para o mundo. Sobre as divergências, senta, e calmamente converse, coloque na mesa suas cartas, não tentando derrotar um oponente, mas tentando esclarecer suas dúvidas e convicções. Assim, assumindo que é humano e que suas convicções também podem estar erradas, toda divergência se torna um papo de grande ensino-aprendizado para todas as partes.

Amor Maduro respira e acalma. Tudo em seu tempo e todos com seu jeito, a sapiência anda de mãos dadas à paciência.
 
Ótima pergunta, figurinha... me fez refletir bastante para poder te responder (e me responder), mas mesmo assim só sei te dizer que foi uma experiência bastante significativa e diferente de tudo que já pude experienciar nesta minha vida. Intensa, inexplicável, imensurável... sinceramente, não há palavras para explicar, apenas posso dizer que foi A experiência.

Essa sensação de incapacidade de explicar uma trip com palavras sempre me fascina... Acredito que o cogumelo nos dá acesso a um conhecimento superior para o qual a linguagem humana é totalmente inadequada. Sinto que a maior parte do que experimentamos com o cogumelo permanece adormecido em algum canto nosso e só será compreendido no seu devido tempo e se fizermos um bom trabalho espiritual. Paz e luz...
 
Essa sensação de incapacidade de explicar uma trip com palavras sempre me fascina... Acredito que o cogumelo nos dá acesso a um conhecimento superior para o qual a linguagem humana é totalmente inadequada. Sinto que a maior parte do que experimentamos com o cogumelo permanece adormecido em algum canto nosso e só será compreendido no seu devido tempo e se fizermos um bom trabalho espiritual. Paz e luz...

Vou utilizar para os cogumelos o que foi dito para Hoasca por um mestre em uma sessão da UDV:
"A hoasca é como uma lanterna, ou uma outra fonte de luz, e nossa mente é uma casa toda escura, uma casa que apesar de ser nossa, nem sempre cuidamos muito bem, deixamos uma bagunça aqui e ali, e mantemos coisas desnecessárias jogadas em cantos que normalmente não vemos cotidianamente. A luz da Hoasca é o que nos permite enxergar as coisas mais belas que possuímos nesta casa (mente), mas também as coisas que escondemos de nós mesmos e não estão esclarecidas, sejam medos, sentimentos de culpa, arrependimentos e assim por diante".

Neste dia repeti a dose na tentativa de aumentar a luz e o que encontrei foi o medo de morrer, o banheiro em que eu vomitava se tornou uma profunda floresta escurecida e eu virei qualquer coisa dessa floresta, mas não um humano, mas meus medos ali na floresta eram muito óbvios, e a interpretação da natureza também foi engrandecedora diante do meu pequeno significado nela, e eu me sentia fragilizado por me ver apenas como um desconhecido ser, em uma floresta desconhecida e escurecida.

Apesar da linguagem não humana alcançada em dosagens mais elevadas, acredito que mesmo a complexidade de se tornar o todo ou mesmo perceber-se um grão de areia, tenha uma forte utilidade na interpretação no nosso dia a dia.

Também não encontro palavras ou forma de linguagem para descrever tudo que uma experiência proporciona, pois vai muito além do que um dia já criamos como linguagem. Mas certamente a experiência se torna válida, quando entendemos a essência do que todos somos e com o tempo entendemos como as experiências favoreceram nosso desenvolvimento como humanos.

Com trabalhos espirituais ou não, e mesmo com as dificuldades de interpretar as experiências precisamos torna-las úteis em nossa grande experiência humana. Se não, de que valeria estas experiências enquanto somos humanos não é mesmo?
 
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