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Todos os homens serão livres ...

Ecuador

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SEXTA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2013

De passaportes e de leis


"Todos os homens serão livres para professar e, por meio de argumentos, defender suas opiniões em questões de religião, e essas opiniões de modo algum irão diminuir, aumentar ou afetar suas capacidades civis".

A frase acima não é de nenhum neoateu radical, mas faz parte do Ato de Estabelecimento da Liberdade Religiosa da Virginia (EUA), proposto por Thomas Jefferson em 1779, mas aprovado apenas em 1786. A redação avança, em alguns pontos importantes, para além de outra peça histórica de legislação sobre liberdade religiosa, o Édito de Torda, assinado pelo rei João Sigismundo da Transilvânia em 1568:

"Nenhum dos superintendentes ou outros abusarão dos pregadores, nem ninguém será desprezado por sua religião por ninguém, de acordo com os estatutos, e não se permite que ninguém ameace quem quer que seja, com a prisão ou perda de cargo, por causa de seus ensinamentos".

O Édito de Torda veda a perseguição religiosa, e o faz de forma limitada: a íntegra do decreto deixa claro que a liberdade garantida ali é limitada aos pregadores do cristianismo; já o texto de Jefferson fala de "opiniões religiosas", o que inclui do paganismo ao ateísmo e à adoração de deuses astronautas ou de LOL Cats, e veda também o privilégio religioso: ele proíbe não só que o Estado prejudique uma pessoa por conta de sua fé (ou ausência de), mas também que a privilegie: "Essas opiniões de modo algum irão diminuir, aumentar ou afetar suas capacidades civis".

O que a concessão desbragada de passaportes diplomáticos pelo Itamaraty a líderes religiosos, sejam prelados católicos ou empresários do televangelismo, mostra, portanto, é que em termos de evolução da liberdade religiosa nós, brasileiros, estamos perdidos em algum ponto do caminho entre os séculos XVI e XVIII.

Não que o caminho seja fácil: a lei de Jefferson levou quase dez anos para ser aprovada, e antes que ela passasse outro grande líder histórico da luta pela separação entre Estado e religião, James Madison, teve de se bater contra uma peça legislativa que buscava criar, na Virgina, um imposto para garantir o sustento dos disseminadores da religião cristã (levando-se em conta que o passaporte diplomático sai do dinheiro dos contribuintes... Bom, deixa pra lá).

Na luta contra a lei do imposto cristão, Madison redigiu seu épico Memorial e Advertência contra Taxações Religiosas, texto que, temo, em breve terá de ser traduzido, adaptado para a realidade local e lido em voz alta nas casas legislativas do Brasil, supondo-se que seja possível encontrar algum político com tutano para fazê-lo. Escrito do ponto de vista de um cristão e dirigido a outros cristãos, ele constrói um caso meticuloso contra a subvenção pública da atividade religiosa.

"Um governo justo (...) será melhor sustentado ao proteger cada Cidadão no desfrute de sua religião com a mesma mão igualitária com que protege sua pessoa ou sua propriedade; ao nem violar os direitos iguais de uma seita, e nem permitir que uma seita viole os de outra".
Numa passagem mais inflamada, Madison compara a subvenção pública da religião a uma forma de perseguição: "[O imposto] degrada, da igualdade entre os cidadãos, todos aqueles cujas opiniões a respeito de religião não se dobram às da autoridade legislativa. Distante como possa ser, em sua forma atual, da Inquisição, difere dela apenas em grau."


Alguém poderia se sentir tentado a reduzir a questão a um simples problema de democratização do privilégio. Essa é uma solução bem brasileira -- nas palavras de Millôr Fernandes, "ou se instaura a moralidade, ou nos locupletemos todos".

Em resumo: se rolar um passaportezinho de primeira classe para todos os pastores, todos os bispos, pais-de-santo e monges budistas, para as lideranças GLBT, para os presidentes das LiHS e da ATEA e (por que não?) para este blogueiro e sua senhora, não ficaríamos todos numa boa?

Não, não ficaríamos. A função do passaporte diplomático é facilitar o trânsito internacional de pessoas que representam oficialmente o país, não comprar a boa vontade dos líderes de grupos de pressão organizados. Devia ser óbvio. Pena que, pelo jeito, não é.

http://carlosorsi.blogspot.com.br/2013/01/de-passaportes-e-de-leis.html
 
Se doeu o Carlos Orsi...

po fui editar mas deu um erro, reason is mandatory. escrevi uma pa de coisas e perdi tudo. assim é chato. melhor ficar off mesmo.

pra resumir. tenho pena dos fiéis desse matuto ignorante da igreja numero 12314878b, como também tenho pena dos neo ateus, ateus, catolicos, evangelicos, budistas, cientistas, e viva os malucos que pelo menos tem um vislumbre da Verdade, mesmo que esta se desfaça como névoa...Ho!

só não tenho pena dos políticos que apoiam toda a escoria de ruralistas a traficantes a corruptos etc. Deviam é explodir aquela *erda lá.
 
SEXTA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2013

De passaportes e de leis


"Todos os homens serão livres para professar e, por meio de argumentos, defender suas opiniões em questões de religião, e essas opiniões de modo algum irão diminuir, aumentar ou afetar suas capacidades civis".

A frase acima não é de nenhum neoateu radical, mas faz parte do Ato de Estabelecimento da Liberdade Religiosa da Virginia (EUA), proposto por Thomas Jefferson em 1779, mas aprovado apenas em 1786. A redação avança, em alguns pontos importantes, para além de outra peça histórica de legislação sobre liberdade religiosa, o Édito de Torda, assinado pelo rei João Sigismundo da Transilvânia em 1568:

"Nenhum dos superintendentes ou outros abusarão dos pregadores, nem ninguém será desprezado por sua religião por ninguém, de acordo com os estatutos, e não se permite que ninguém ameace quem quer que seja, com a prisão ou perda de cargo, por causa de seus ensinamentos".

O Édito de Torda veda a perseguição religiosa, e o faz de forma limitada: a íntegra do decreto deixa claro que a liberdade garantida ali é limitada aos pregadores do cristianismo; já o texto de Jefferson fala de "opiniões religiosas", o que inclui do paganismo ao ateísmo e à adoração de deuses astronautas ou de LOL Cats, e veda também o privilégio religioso: ele proíbe não só que o Estado prejudique uma pessoa por conta de sua fé (ou ausência de), mas também que a privilegie: "Essas opiniões de modo algum irão diminuir, aumentar ou afetar suas capacidades civis".


O que a concessão desbragada de passaportes diplomáticos pelo Itamaraty a líderes religiosos, sejam prelados católicos ou empresários do televangelismo, mostra, portanto, é que em termos de evolução da liberdade religiosa nós, brasileiros, estamos perdidos em algum ponto do caminho entre os séculos XVI e XVIII.

Não que o caminho seja fácil: a lei de Jefferson levou quase dez anos para ser aprovada, e antes que ela passasse outro grande líder histórico da luta pela separação entre Estado e religião, James Madison, teve de se bater contra uma peça legislativa que buscava criar, na Virgina, um imposto para garantir o sustento dos disseminadores da religião cristã (levando-se em conta que o passaporte diplomático sai do dinheiro dos contribuintes... Bom, deixa pra lá).

Na luta contra a lei do imposto cristão, Madison redigiu seu épico Memorial e Advertência contra Taxações Religiosas, texto que, temo, em breve terá de ser traduzido, adaptado para a realidade local e lido em voz alta nas casas legislativas do Brasil, supondo-se que seja possível encontrar algum político com tutano para fazê-lo. Escrito do ponto de vista de um cristão e dirigido a outros cristãos, ele constrói um caso meticuloso contra a subvenção pública da atividade religiosa.

"Um governo justo (...) será melhor sustentado ao proteger cada Cidadão no desfrute de sua religião com a mesma mão igualitária com que protege sua pessoa ou sua propriedade; ao nem violar os direitos iguais de uma seita, e nem permitir que uma seita viole os de outra".
Numa passagem mais inflamada, Madison compara a subvenção pública da religião a uma forma de perseguição: "[O imposto] degrada, da igualdade entre os cidadãos, todos aqueles cujas opiniões a respeito de religião não se dobram às da autoridade legislativa. Distante como possa ser, em sua forma atual, da Inquisição, difere dela apenas em grau."

Alguém poderia se sentir tentado a reduzir a questão a um simples problema de democratização do privilégio. Essa é uma solução bem brasileira -- nas palavras de Millôr Fernandes, "ou se instaura a moralidade, ou nos locupletemos todos".

Em resumo: se rolar um passaportezinho de primeira classe para todos os pastores, todos os bispos, pais-de-santo e monges budistas, para as lideranças GLBT, para os presidentes das LiHS e da ATEA e (por que não?) para este blogueiro e sua senhora, não ficaríamos todos numa boa?


Não, não ficaríamos. A função do passaporte diplomático é facilitar o trânsito internacional de pessoas que representam oficialmente o país, não comprar a boa vontade dos líderes de grupos de pressão organizados. Devia ser óbvio. Pena que, pelo jeito, não é.

De passaportes e de leis
de acordo com Rousseau todos os homens são livres desde nascença e a sociedade que os corrompe, mas tudo bem, kkk, as pessoas podem sim nascer como uma página em branco e desenvolver seu intelecto com base na sociedade para se tornarem o que for viável de acordo com o meio kkk, mas esse é um assunto que eu entendo muito bem para entrar no mérito, kkk, enfim
 
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