- 10/07/2023
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Olá pessoal, bom dia.
Primeiramente, gostaria de agradecer pela criação deste fórum e de todos os envolvidos que o idealizaram, que o alimentam, organizam e fazem parte disso. É muitíssimo gratificante ver tantos relatos, compartilhamento de experiências, informações e orientações de maneiras tão ricas e respeitosas.
A minha experiência com os psicodélicos aconteceu há uns 12 anos atrás, quando comecei a frequentar festas rave. Sempre fui muito atraído pela música eletrônica e instrumental, pelo fato de, na maior parte das vezes, não necessitar de palavras para conseguir transmitir um sentimento. Escuto música eletrônica desde os 10 anos de idade. Comecei o uso com o que tínhamos contato na época: bala, papel e erva. Aos poucos fui estudando os efeitos de cada substância e me aprofundando nas experiências. Sempre ia para as festas com o intuito de aprender algo, refletir sobre a vida enquanto dançava livremente. Então, em 2013, eu fui para uma pvt em uma chácara aqui perto e tive uma palestra sobre Ayahuasca, que era um chá que eu estava pesquisando e tinha muito interesse. Foi o suficiente para que eu me preparasse durante 1 mês para enfim tomar uma primeira vez.
Eu e minha esposa fomos, tomamos e mudamos a nossa vida após isso. Não vou entrar em detalhes nos relatos desta primeira experiência ou das que viemos a ter nos próximos anos, mas resumindo: Largamos a nossa faculdade, mudamos de cidade para participar de um grupo de estudos que trabalhava com a Ayahuasca e passamos por muita dificuldade, rs.
Tomamos ayahuasca em contextos religiosos até o final de 2016, com uma frequência bastante grande, no mínimo 2x por mês, podendo ter retiros em que tomávamos durante 3 dias seguidos. Durante todo este período, não utilizávamos outras plantas, pois tudo o que não era ayahuasca era considerado droga, com exceção do tabaco. No final de 2016, nos mudamos de cidade devido a uma oportunidade de emprego e acabamos nos afastando de tudo o que estava ocorrendo com o nosso grupo de estudos.
Com este afastamento, eu e minha esposa tivemos a oportunidade de sair do grupo e estudar as coisas por conta. Tivemos a oportunidade também de enxergar as coisas por fora, o que levantou diversos questionamentos que hoje são muito úteis na nossa caminhada. Vimos muitos amigos e tomamos muitas decisões fanáticas após termos "consagrado" Ayahuasca. Muita gente saiu por aí achando que era encarnação de xamã, que foi casado com uma pessoa em vida passada (tendo até caso de traição no grupo), que precisava realizar uma construção em um terreno, que enxergava "obsessor" em todo lugar, enfim, uma loucura e que decidimos nos afastar um pouco.
Agora, em 2023, voltei a estudar e desconstrui um monte de dogmatismos impostos sobre os psicodélicos. Comecei a questionar se os problemas geralmente não estão nos grupos e não nas plantas em si. Afinal, há tantos estudos científicos comprovando a eficácia, segurança (em doses seguras) que resolvemos dar uma oportunidade ao cubensis no mês passado. Percebi a riqueza deste fórum, orientando as pessoas sem finalidades religiosas, sem dogmatismos impostos e muita gente tentando ajudar o outro a ter calma e ir investigando as suas experiências.
Em um podcast em que o Sidarta Ribeiro comenta sobre o DMT, ele explica que a substância atua no cérebro semelhante ao sonho lúcido e que temos a habilidade de podermos "enxergar a forma" dos nossos pensamentos. Este tipo de informação tem aberto um leque de possibilidades que até então eu não considerava mas que faz um sentido gigantesco.
Enfim, eu e a minha esposa estamos estudando novamente os psicodélicos. Estamos pesquisando, conversando com amigos, lendo as informações fantásticas aqui do fórum e experimentando de uma maneira um pouco mais pragmática, cuidando muito com doses e entendendo as limitações do nosso próprio corpo, mente e emoções.
Para finalizar, gostaria de trazer algumas reflexões que fizemos ao longo dos anos, pesquisando e experimentando o uso dos psicodélicos em nós mesmos e em amigos.
- Percebemos que o que muita gente chama de "peia", pode ser apenas uma bad trip e que a "limpeza", pode ser apenas o seu corpo expurgando uma dose que você não estava preparado ainda. Sim, eu já tive muita experiência de que quando fui fazer uma limpeza, havia um "significado" do que estava acontecendo, mas será que esta necessidade de um significado não foi colocado pelo grupo em que eu participava? Afinal, pude ter a oportunidade de participar de várias práticas com Ayahuasca em doses mais baixas, procurando a meditação e tive experiências muito significativas sem a necessidade de limpeza ou mal estar algum.
- Uma dose muita alta pode trazer tanta informação que, no final, não conseguiremos aproveitar a experiência.
- O que vemos sobre o efeito dos psicodélicos pode ser, em muitos casos, simplesmente a manifestação da forma dos nossos pensamentos. Ex.: Um pensamento de amor, compreensão pode ser claro e leve como a imagem de um anjo. Enquanto pensamentos de dor e sofrimento podem ser confusas e obscuras como qualquer forma desfigurada que pode estar na mente de cada pessoa. Isso não significa que um anjo ou demônio veio falar conosco. Ou ainda, será que anjos e demônios seriam a manifestação da forma de alguns pensamentos nossos?
- As experiências psicodélicas são um campo de investigação que temos pouco conhecimento e é muitíssimo individual. Não temos respostas prontas e, em alguns casos, o contexto religioso acaba dando significados que me parecem equivocados e acabam fazendo muita gente sofrer.
- Os psicodélicos estão sendo pesquisados e tem sido utilizado com fins terapêuticos durante anos. Porém, conforme relatado no link ao final da página, enaltecer a alegria, o amor, a dança, o bem estar, tem algo mais terapêutico que isso? Compreender e superar traumas é maravilhoso para os que necessitam, contudo, precisamos nos aprofundar nos sentimentos bons também. Necessitamos compreender a pergunta: "o que te faz bem?" No meu caso, a constante dos últimos anos e que eu não estava fazendo, tem sido dançar.
Após 12 anos sem dançar as músicas que gosto, tomei 1g de cubensis de umas cápsulas de um amigo que está fazendo microdosagem, coloquei as músicas aqui em casa e dancei por quase 3 horas. Como aquilo estava preso dentro de mim através de várias travas que me foram colocadas. Chorei de alegria e tive compreensões tão profundas, ou até melhores, do que se estivesse parado em meditação. Vou compartilhar melhor esta experiência no outro tópico de primeira experiência.
Estou muito feliz de ter encontrado este fórum. Espero poder contribuir com o que puder e poder cultivar em breve.
O que o Santo Daime e a cultura “rave” têm em comum? A resposta pode balançar você. - Chacruna Latinoamérica <- Link sobre uma postagem de uma pesquisadora que informa sobre a relação da dança com os psicodélicos.
Primeiramente, gostaria de agradecer pela criação deste fórum e de todos os envolvidos que o idealizaram, que o alimentam, organizam e fazem parte disso. É muitíssimo gratificante ver tantos relatos, compartilhamento de experiências, informações e orientações de maneiras tão ricas e respeitosas.
A minha experiência com os psicodélicos aconteceu há uns 12 anos atrás, quando comecei a frequentar festas rave. Sempre fui muito atraído pela música eletrônica e instrumental, pelo fato de, na maior parte das vezes, não necessitar de palavras para conseguir transmitir um sentimento. Escuto música eletrônica desde os 10 anos de idade. Comecei o uso com o que tínhamos contato na época: bala, papel e erva. Aos poucos fui estudando os efeitos de cada substância e me aprofundando nas experiências. Sempre ia para as festas com o intuito de aprender algo, refletir sobre a vida enquanto dançava livremente. Então, em 2013, eu fui para uma pvt em uma chácara aqui perto e tive uma palestra sobre Ayahuasca, que era um chá que eu estava pesquisando e tinha muito interesse. Foi o suficiente para que eu me preparasse durante 1 mês para enfim tomar uma primeira vez.
Eu e minha esposa fomos, tomamos e mudamos a nossa vida após isso. Não vou entrar em detalhes nos relatos desta primeira experiência ou das que viemos a ter nos próximos anos, mas resumindo: Largamos a nossa faculdade, mudamos de cidade para participar de um grupo de estudos que trabalhava com a Ayahuasca e passamos por muita dificuldade, rs.
Tomamos ayahuasca em contextos religiosos até o final de 2016, com uma frequência bastante grande, no mínimo 2x por mês, podendo ter retiros em que tomávamos durante 3 dias seguidos. Durante todo este período, não utilizávamos outras plantas, pois tudo o que não era ayahuasca era considerado droga, com exceção do tabaco. No final de 2016, nos mudamos de cidade devido a uma oportunidade de emprego e acabamos nos afastando de tudo o que estava ocorrendo com o nosso grupo de estudos.
Com este afastamento, eu e minha esposa tivemos a oportunidade de sair do grupo e estudar as coisas por conta. Tivemos a oportunidade também de enxergar as coisas por fora, o que levantou diversos questionamentos que hoje são muito úteis na nossa caminhada. Vimos muitos amigos e tomamos muitas decisões fanáticas após termos "consagrado" Ayahuasca. Muita gente saiu por aí achando que era encarnação de xamã, que foi casado com uma pessoa em vida passada (tendo até caso de traição no grupo), que precisava realizar uma construção em um terreno, que enxergava "obsessor" em todo lugar, enfim, uma loucura e que decidimos nos afastar um pouco.
Agora, em 2023, voltei a estudar e desconstrui um monte de dogmatismos impostos sobre os psicodélicos. Comecei a questionar se os problemas geralmente não estão nos grupos e não nas plantas em si. Afinal, há tantos estudos científicos comprovando a eficácia, segurança (em doses seguras) que resolvemos dar uma oportunidade ao cubensis no mês passado. Percebi a riqueza deste fórum, orientando as pessoas sem finalidades religiosas, sem dogmatismos impostos e muita gente tentando ajudar o outro a ter calma e ir investigando as suas experiências.
Em um podcast em que o Sidarta Ribeiro comenta sobre o DMT, ele explica que a substância atua no cérebro semelhante ao sonho lúcido e que temos a habilidade de podermos "enxergar a forma" dos nossos pensamentos. Este tipo de informação tem aberto um leque de possibilidades que até então eu não considerava mas que faz um sentido gigantesco.
Enfim, eu e a minha esposa estamos estudando novamente os psicodélicos. Estamos pesquisando, conversando com amigos, lendo as informações fantásticas aqui do fórum e experimentando de uma maneira um pouco mais pragmática, cuidando muito com doses e entendendo as limitações do nosso próprio corpo, mente e emoções.
Para finalizar, gostaria de trazer algumas reflexões que fizemos ao longo dos anos, pesquisando e experimentando o uso dos psicodélicos em nós mesmos e em amigos.
- Percebemos que o que muita gente chama de "peia", pode ser apenas uma bad trip e que a "limpeza", pode ser apenas o seu corpo expurgando uma dose que você não estava preparado ainda. Sim, eu já tive muita experiência de que quando fui fazer uma limpeza, havia um "significado" do que estava acontecendo, mas será que esta necessidade de um significado não foi colocado pelo grupo em que eu participava? Afinal, pude ter a oportunidade de participar de várias práticas com Ayahuasca em doses mais baixas, procurando a meditação e tive experiências muito significativas sem a necessidade de limpeza ou mal estar algum.
- Uma dose muita alta pode trazer tanta informação que, no final, não conseguiremos aproveitar a experiência.
- O que vemos sobre o efeito dos psicodélicos pode ser, em muitos casos, simplesmente a manifestação da forma dos nossos pensamentos. Ex.: Um pensamento de amor, compreensão pode ser claro e leve como a imagem de um anjo. Enquanto pensamentos de dor e sofrimento podem ser confusas e obscuras como qualquer forma desfigurada que pode estar na mente de cada pessoa. Isso não significa que um anjo ou demônio veio falar conosco. Ou ainda, será que anjos e demônios seriam a manifestação da forma de alguns pensamentos nossos?
- As experiências psicodélicas são um campo de investigação que temos pouco conhecimento e é muitíssimo individual. Não temos respostas prontas e, em alguns casos, o contexto religioso acaba dando significados que me parecem equivocados e acabam fazendo muita gente sofrer.
- Os psicodélicos estão sendo pesquisados e tem sido utilizado com fins terapêuticos durante anos. Porém, conforme relatado no link ao final da página, enaltecer a alegria, o amor, a dança, o bem estar, tem algo mais terapêutico que isso? Compreender e superar traumas é maravilhoso para os que necessitam, contudo, precisamos nos aprofundar nos sentimentos bons também. Necessitamos compreender a pergunta: "o que te faz bem?" No meu caso, a constante dos últimos anos e que eu não estava fazendo, tem sido dançar.
Após 12 anos sem dançar as músicas que gosto, tomei 1g de cubensis de umas cápsulas de um amigo que está fazendo microdosagem, coloquei as músicas aqui em casa e dancei por quase 3 horas. Como aquilo estava preso dentro de mim através de várias travas que me foram colocadas. Chorei de alegria e tive compreensões tão profundas, ou até melhores, do que se estivesse parado em meditação. Vou compartilhar melhor esta experiência no outro tópico de primeira experiência.
Estou muito feliz de ter encontrado este fórum. Espero poder contribuir com o que puder e poder cultivar em breve.
O que o Santo Daime e a cultura “rave” têm em comum? A resposta pode balançar você. - Chacruna Latinoamérica <- Link sobre uma postagem de uma pesquisadora que informa sobre a relação da dança com os psicodélicos.