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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Soco no estômago, aviso doloroso 👊😫

Reishi

Hifa
Membro Ativo
22/03/2017
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Olá, pessoal!
Eu estava revirando meus relatos enteogênicos e encontrei um datando 30/12/2020. Li ele com curiosidade e foi divertido relembrar o evento. Por isso, decidi compartilhar aqui com vocês.

Soco no estômago, aviso doloroso.

Nos últimos anos, tenho realizado jornadas cubensisdélicas em dezembro para agradecer as vivências ocorridas no ano consumido e, é claro, intencionar um afortunado ano novo. Ser otimista. Saudar esses períodos comemorativos com intenção e intensidade, de verdade.

Há uma semana atrás, havia realizado minha primeira consagração de final de ano; foi sacra e necessária, senti gratidão duradoura. Passados 6 dias dessa jornada, minha companheira decidiu empreender sua própria cerimônia e me pediu para ser o seu trip sitter; concordei, feliz com a solicitação espontânea. Seria minha primeira vez como sitter e nada melhor do que ela como voyager. Montamos um set acolhedor. Ela fez questão de espalhar suas pinturas pela casa, já que estava tendo dificuldades criativas e considerou que a ocasião era uma a oportunidade para contemplar seu trabalho profundamente e, talvez, encontrar alguma inspiração.

O set ficou impecável, sugeri nunca mais desmonta-lo, poderia ser nosso cantinho mágico do dia-a-dia. Ela discordou, afirmando que era preciso manter sobriedade no espaço compartilhado com amigos; consenti. Após a preparação do espaço, ela estava se sentindo cansada e decidiu dormir um pouco. Eu ainda me sentia disposto e fui ler o livro: Guia do explorador psicodélico, de James Fadiman. Fiz anotações pessoais - um guia para ter em mãos-, e preparei uma sequência de mudanças sutis para ajustar alguns detalhes estimulantes ao longo da trip; nada demais, iria controlar fatores como a música, introduzir aromas, preparar estímulos práticos envolvendo pintura, dentre outras coisas. Estava preparado para atender qualquer necessidade emergente dela. Nada disso seria arbitrário, apenas recursos disponíveis.

Eram 21:00 quando ela acordou, parecia tensa e distraída; sinais de ansiedade. Eu continuei calmo. Percebi sua agitação e ofereci uma massagem, queria observa-la melhor. Ela acatou e assim sucedeu. Após a massagem, consciente da situação, notando resquícios de tensão, expressei meus sentimentos de inquietação e pedi a ela que fosse transparente com relação aos seus, naquele momento, a sinceridade era de extrema importância. Manifestou que estava nervosa e continuava cansada, e por isso achava melhor adiar a trip para outro dia, mas estava com receio de afirmar isso, pois queria evitar qualquer aborrecimento da minha parte.

Como seria minha 1° vez como sitter e havia dedicado muito tempo na preparação da experiência, inicialmente, fiquei um pouco desolado e frustrado com a desistência, fiz esforços para compreender e considerar as necessidades dela e às minhas, não era tarefa difícil, porém, apesar de saber da importância que é a preparação do setting do voyager antes da viagem, enquanto ela expunha seus motivos, as armadilhas incisivas do meu ego protestavam em pensamento: “Qualé, está tudo pronto! Eu vou tá do seu lado, confia em mim, vai ser maravilhoso! Vamos lá, todo esse trabalho que tivemos! Tô com você, isso vai ajudar com o processo criativo... coragem!”. Essa projeção descabida e cega não durou muito tempo, rapidamente um alerta soou no meu íntimo: “Cuidado!”. Percebi, imediatamente, meu egoísmo e o perigo que ele representava ali, consegui reconhecer, então, a situação e as consequências desastrosas se eu ousasse insistir no prosseguimento da trip. Definitivamente, ela não estava disposta. Insistir seria violar sua intuição, jogá-la no fogo, dar de cara no chão e rachar o crânio. Engoli um veneno amargo. Envolto de constrangimento e compaixão, abracei-a longamente, dizendo que compreendia sua decisão. Fiquei aliviado, de verdade, com a decisão dela. No entanto, chateado com minha obsessão irresponsável e insensível.

Em nosso abraço, pensei, conclusivamente: “Vou eu usufruir desse ambiente extraordinário e navegar mais longe na psicodelia”. Manifestei essa ideia pra ela, que já estava prevendo e apenas concordou. Pareceu tranquila, me desejou o melhor e foi dormir. Fiquei entusiasmado em assumir a direção da experiência.

Preparei uma dose possante, totalizando 6 gramas, das quais 3 gramas eram cogumelos recentemente desidratados e a outra metade era proveniente de cápsulas com mais de 1 ano de preparo. Estava concernente a respeito da qualidade das cápsulas. Fiz a moagem dos cogumelos, adicionei 50ml de suco de limão + 100ml de água e despejei o pó das cápsulas na solução, no total foram 9 cápsulas n°0. Deixei descansar por 15 minutos e, respirando fundo, ingeri de uma vez. Fui sentar no set, ascendi um incenso, apertei o play na caixa de som e arriba! Estava pronto para decolar.

(Alerta: cuidado ao acender velas na sua trip, podem causar acidentes se não estiverem em lugar seguro. Já aconteceu comigo, por sorte, sem prejuízos)

(Alerta! Agora vem o conteúdo subjetivo e figurado dos fenômenos observados, fruto de interpretações influenciadas por um livro de aprendizagem e neurociência que eu estava lendo na época. Não considere a descrição literalmente.)

Deitado na diagonal, em meu assento de psiconauta, havia passado 30 minutos, foi quando a primeira onda chegou, estrondosa, com uma força arrebatadora, fez meu corpo trepidar de espasmos. Senti-me ofegante; devagar, um enlevo elétrico e sensível se pronunciava, culminando em sensações extracorpóreas intensas. Estava em processo de propulsão, meus sentidos se fusionavam, os cheiros resultavam em cores, os sons em tato, os quais se liquidificavam e se espalhavam num mar sensitivo. Não era possível fazer distinção clara entre meu corpo e o ambiente, os dois formavam uma única substância viva, pulsante. Meus pensamentos fervilhavam em ebulição, minha consciência se elevava para fora do corpo, acima da cabeça, olho de Sauron, vigilante. Uma linda e incrível dimensão fractal surgiu, ilustrando as dimensões da psiquê. Eu estava navegando num vórtex de formas estonteantes e vívidas, que compunham uma coreografia dinâmica, coerente e mutável; as cores azul, branca e vermelha predominavam, eram como trovões numa tempestade; explosões de tonalidades diferentes. A música era composta de tambores frenéticos e sons siderais. Os estímulos sonoros aceleravam a trip, um turbilhão conforme o ritmo ascendente do tamborilar. Cheguei ao ponto de não ter pensamentos; estava imerso em êxtase.

Lentamente, fui habituando ao novo panorama psicodélico e em determinado momento, tive a sensação de “ver” expostos, nitidamente, os elementos “fundamentais” que compunham a consciência: o mix emaranhado da memória + percepção + atenção + interpretação + outros processos. Estavam todos associados e eu tinha a capacidade de ampliar, dar um “zoom” em cada um deles, isoladamente, fazer engenharia reversa. Assim, comecei a compreender as relações e consubstanciações cognitivas. Pareceu claro, naquele instante, conforme desmantelava a consciência, que ela era o resultado dessas operações interdependentes, e a construção do meu ego advinha dali. A neurociência já avançou muito nesse entendimento, mas eu estava “experimentando”, em meio à turbulência, montar esse quebra-cabeça. Isso, de modo algum, significou que eu estava sofrendo de confusão mental, psicótico, que estava desprovido de discernimento e por isso fantasiando minhas observações, pelo contrário, sentia lucidez, estava alerta. Contudo, como disse, notei que essas interpretações tinham um referencial fresquinho, meu estudo sobre aprendizagem. Os cogumelos amplificaram essas informações. Meu inconsciente estava a dar uma força.

No entanto, a intensidade da intoxicação fisiológica excedeu minha capacidade de tolerar o desconforto estomacal/intestinal - difícil saber -, na verdade, suponho que estava sofrendo de intoxicação moderada, devido ao consumo de cogumelos com mais de 1 ano de armazenamento. Não sei ao certo, é apenas uma hipótese, não conheço a bioquímica exata da coisa, se já estavam “vencidos”, mas estava com muita dor, aguda, como nenhuma outra, e isso afetou a qualidade da experiência a partir daí.

Com isso, uma cascata de má sorte desaguou em mim, provocando novos desconfortos. Foi difícil mudar a atenção para além da dor. Visões perturbadoras e medo predominaram. Desejei estar acompanhado de alguém que pudesse cuidar da situação e de mim, porém, não optei por essa possibilidade. Minha companheira estava dormindo e eu não queria assustá-la. Respirei fundo e quieto passei as próximas duas horas contraído em dor e confusão, resistindo ao vômito, porque o estômago estava em reboliço e parecia rasgar com a tentativa de qualquer movimento, era insuportável.

Ainda aqui, minha intuição, com tom amável conversava comigo:

“Companheiro, você aqui!! Só se passaram 6 dias e decidiu se intoxicar outra vez?! – Ela disse.

Retruquei:

- Sim, porra. Fui impulsivo. Queria sentir as profundezas da coisa de novo.

Irônica, ela respondeu:

- Parece que está sentindo as profundezas, não é?

- Sim, caralho! Estou ferrado, intoxicado. – Respondi, choramingando.

A voz se tornou angelical:

- Querido, preste atenção, não se culpe agora, não vai ajudar, mantenha a calma, relaxe, apoie sua cabeça no encosto. Respire calmamente.

- Tá certo. Que coisa! – risos de angústia.

Fiz o que minha intuição recomendou, e então pensei:

“Ah! Eu conheço essa sensação. Eles já me alertaram: “Não entre em contato comigo com frequência, num curto espaço de tempo...”. Sim, eu já sei disso. Não é a primeira vez que sofro com isso.

Uma analogia surgiu, mais ou menos assim:

“Sou como a descarga, você me aciona para levar sua merda embora, assim faço, agora é preciso esperar o reservatório encher. Não foi o que você fez, não é? Cagou, tentou a descarga e nada. Agora sua merda contínua aí, atormentando seu espírito.”

Concordei consternado e disse, em pensamento:

“É, mais ou menos isso. Não sei. Sabia que não era necessário voltar aqui tão cedo. Mas porra, foram as cápsulas, tenho certeza.”

Ela continuou:

“Não se trata apenas disso. É importante poupar seu corpo da intoxicação recorrente, sim. Mas principalmente, precisa ter cautela ao abrir as portas do inconsciente, se o perturbar demais, estará forçando a barra, plasticidade neural, etc...lembra? Isso pode causar prejuízos sérios e duradouros. Lembre-se disso. Eu não vou te abençoar se for compulsivo comigo...”

A conversa seguiu, e eu reconhecia meu equívoco e despreparo. O cogumelo, ou eu mesmo, lançava avisos de sabedoria, eu estava aprendendo, intuitivamente, a usa-los, através de um puxão de orelha compassivo. Reconheci que a trip não era minha. Eu havia me preparado para ser o sitter, e a dose da noite era de 3 gramas, as cápsulas não estavam no plano, foi um erro ter adicionado elas de última hora, para ir “mais longe”. Estava corrigindo minhas concepções sobre os cogumelos; haviam muitos erros.

Lentamente, o desconforto físico e o sentimento de angústia atenuavam. O alvorecer se aproximava e eu era capaz de levantar e andar. Fui até o banheiro, estava com uma aparência abatida, mas um sorriso de sobrevivente no rosto. Voltei a sala, bebi meio litro de água e escolhi uma música tranquila. Peguei um pedaço de papel e fiz algumas anotações. Satisfeito, fui até o pátio observar a vida lá fora, era um dia nublado, húmido e refrescante, senti muita paz. Fiquei sentado na terra, observando as plantas e os insetos, seres incompreensíveis! Nisso residia sua beleza. A vida era tão...tão...inexplicável! Entrei em casa, comi uma banana com pasta de amendoim e um pedaço de mamão. Fui para o banho. Depois da ducha, meio zonzo, entrei no quarto e sentei ao lado da minha companheira, que acordava.

Ela perguntou, esfregando os olhos:

- E aí, como foi?

Exausto, resignado, feliz e com um sorriso besta, eu respondi:

- Importante, quer saber, um soco no estômago- risos mútuos.

Comentei um pouco mais sobre as dificuldades que enfrentei e algumas lições aprendidas, por fim, disse que a amava pra caralho. Ela saiu da cama toda meiga e eu deitei exausto, ela acordava de sonhos e eu... para uma nova “realidade”.

Dormi.
 
Eu não consegui entender de onde as vozes vem.

Trips leves nunca tive, mas com 8g ouvia como se a pessoa estivesse ali (minha avó falecida).
Eu sei que não era a voz dela porque é bem específica e com sotaque, mas na hora foi um reencontro de alguém morto fazia 2 anos.
Tinha certeza que estava conversando com ela.

Não consigo determinar se esse vozes são minhas (ou no caso as suas).
Não faço nem ideia de como se manifestam.
Como parecem pensar por conta própria.

Ao mesmo tempo que isso me dá um nervoso, por não saber.
Me dá uma sensação de mundo misterioso e vontade de continuar descobrindo e tentando entender.

Sou muito cético, do primeiro impulso saber que são pensamentos meus.
Mas seria mais uma forma de "mito" do que eu realmente não entendo e tento achar uma explicação
 
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