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Paêbirú
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Voui O Nascimento do Dragão
Que povos mais felizes cantem o nascimento de Jesus e seus mistérios de Amor Universal. Quanto a nós, cantamos o nascimento de uma nova estirpe de sobreviventes, erguendo-se sobre os escombros, a cabeça coberta de cinzas. Em nossos olhos a imagem de um mundo em chamas reflete os sonhos de uma luz nova. Não esperamos salvação, não precisamos de nada além de coerência. Somos os homens-dragão: não somos deste mundo. A nossa fé é variável, a nossa crença é imprecisa, mas de palavras incertas encontramos o caminho para um destino diferente. Não há resposta tão valiosa quanto uma boa pergunta, gema preciosa da dúvida, espelho infalível de nossa infinita incompreensão. Como seres mutantes, nos adaptamos à pressão, à violência, ao sofrimento constante. Não precisamos de alegria para sermos felizes, não precisamos segurança. O medo é nosso professor e velho conhecido, como parte de nós mesmos. É o nascimento dessa criança assustada e envelhecida que vive em nós que nos enche de alegria: essa é nossa esperança. Não seguimos ninguém, não pediremos nada. Queremos partilhar essa consciência nova, essa paixão imprevista pela Vida. Estamos apaixonados por essa aparência ilusória do Tempo que nos escorre pelos dedos em forma de imagens sucessivas e evanescentes, correndo pelos dedos na forma irrecuperável de minutos, horas, dias, semanas, décadas. Temos pouco, muito pouco tempo. Agarrados a cada instante que passa como feras famintas, exigimos o segredo de existir. Não há imperativo maior, não há alternativa: ou nos deciframos ou não seremos ninguém, clones de clones, reflexos fugazes em um espelho quebrado. O mundo exige isso de nós, a Vida nos esmaga como o peso das perguntas sem resposta, com a profundidade dos anseios esquecidos, dos sonhos mutilados. Mas não estamos sozinhos, não estamos mortos, não estamos perdidos. Estamos em casa. Uma casa em chamas, mas uma casa, nosso lar e "habitat" natural. Não respondemos pelos erros alheios, mas tampouco ocultaremos os nossos, como lições que damos uns aos outros. Em nosso rosto está o reflexo do futuro e em nossas mãos está fazê-lo o mais humano possível. Por isso somos criaturas de outro mundo: porque exigimos ser felizes. Que venha o futuro e que venha agora! Em um berço de pedras ardentes repousa a esperança de um novo mundo. Os filhos de um tempo de trevas, os guardiões da última chama: os homens-dragão, os guerreiros do futuro. (AAFF)
