- 22/12/2007
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Infelizmente sem link, pois veio da edição em papel.
E não é exatamente novidade, mas é interessante para ver como o assunto está de novo em discussão.
Scientific American Brasil – Novembro 2009 – número 90
A volta da criança problema
LSD ressurge como possível tratamento clínico – por Gary Stix
Albert Hofmann, descobridor do LSD, criticou o movimento contracultural por marginalizar uma substância que ele assegura ter potencial benéfico como coadjuvante da psicoterapia e práticas espirituais como meditação. “A alegria de ter sido o descobridor do LSD perdeu o encanto quando, depois de mais de dez anos de pesquisa cientifica e uso medicinal da substância, o ácido foi arrastado pela gigantesca onda de loucura inebriante que começou a se espalhar pelo mundo ocidental, principalmente nos Estados Unidos, ao fim dos anos 50”, queixou-se nas suas memórias, de 1979, LSD: minha criança problema.
Por isso Hofmann ficou muito feliz antes de morrer, aos 102 anos, no ano passado(2008), ao saber que a primeira pesquisa científica com LSD em décadas estava começando na Suíça, sua terra natal. Segundo Peter Gasser, médico que chefia o teste clínico, Hofmann estava feliz porque a substância iria voltar para as mãos dos médicos, e chegou a afirmar: “Um antigo desejo meu finalmente se realiza”.
O estudo preliminar, retomado do ponto onde os investigadores pararam décadas atrás, explora possíveis efeitos terapêuticos da droga experimentada por pacientes acometidos por doenças fatais, como o câncer. Centenas de estudos realizados de 1940 até 1970 com a dietilamida do ácido lisérgico (muitos de má qualidade, segundo os padrões atuais) investigaram relatos pessoais do uso da droga, que permitiam aos pacientes se reconciliar com a própria mortalidade. Nos últimos anos, alguns pesquisadores estudaram a psicilocibina – componente ativo nos cogumelos alucinógenos e a MDMA (metilenodioximetanfetamina, mais conhecida por ecstasy), entre outras drogas, como possíveis tratamentos para a “angustia existencial”, mas não o LSD.
Gasser, chefe da Sociedade Médica Suíça para a Terapia Psicolítica, da qual se tornou membro depois de ter experimentado o LSD administrado por um terapeuta, só recentemente começou a discutir as pesquisas, revelando desafios dos estudos com psicotrópicos. O estudo, a um custo de US$ 190mil, aprovado pelas autoridades médicas suíças, foi quase todo financiado pela Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, organização americana sem fins lucrativos que patrocina pesquisas com a finalidade de legalizar a prescrição médica de drogas psicoativas e da maconha. O estudo teve início em 2008 e pretende tratar 12 pacientes – 8 receberão LSD e 4 um placebo. Selecionar os candidatos não foi tarefa fácil. Após 18 meses, apenas cinco pacientes haviam sido recrutados e somente quatro submetidos à rotina do experimento de duas sessões, de oito horas casa uma. “Por ser incomum, os oncologistas não indicam o tratamento com LSD para seus pacientes”, lamenta Gasser.
Os Pacientes que receberam a droga afirmaram que a experiência os ajudou emocionalmente, e nenhum apresentou reações se pânico ou outros sintomas desagradáveis. Um deles, Udo Schulz, relatou a Der Spiegel que a terapia com LSD o ajudou a superar a angústia após receber o diagnóstico de câncer no estômago e facilitou seu retorno ao trabalho.
Os experimentos sugerem um protocolo rígido –“todas as sessões de tratamento com LSD começam às 11 horas da manhã”-, e os pesquisadores são cautelosos para evitar excessos registrados em experimentos psicodélicos anteriores, quando pacientes foram deixados sozinhos durante uma sessão com a droga. Gasser e sua assistente estão sempre presentes durante as oito horas de cada sessão, realizada em salas sossegadas e na penumbra, com equipamento médico à mão. Antes de receberem o LSD a pessoas passam por testes psicológicos e sessões prévias de psicoterapia.
A Fundação Beckley, inglesa, também interessada na pesquisa com LSD, financia e colabora com um estudo-piloto com 12 pessoas na University of Califórnia, em Berkeley. O estudo examina como a droga estimula a criatividade e como alterações na atividade neural se relacionam com mudanças na experiência consciente induzida pela substância. Se o LSD será um dia a droga preferida para psicoterapia psicodélica ainda é uma incógnita, já que pode haver outras soluções. “Escolhemos a psilocibina porque é mais suave e geralmente menos eficaz que o LSD”, explica Charles S. Grob, professor de psiquiatria da University of Califórnia, em Los Angeles, que realizou um experimento para testar os efeitos sobre a angústia de pacientes terminais, vítimas de câncer. Além disso, “ela produz menos reações de pânico e menos surtos de paranóia e, acima de tudo, nos últimos 50 anos a psilocibina teve menos publicidade negativa e menor carga cultural que o LSD”.
Outros pesquisadores insistem na importância da farmacologia comparativa por causa do longo período de pesquisas autorizadas. Qual diferença entre LSD e psilocibina? O fato de existirem muitos tipos de antidepressivos ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) “não quer dizer que sejam todos idênticos”, observa Roland Griffiths, pesquisador da Johns Hopkins University, que realiza experimentos com psilocibina. De qualquer modo, no quadragésimo aniversário de Woodstock, as substâncias psicoativas – que representaram a apoteose da contracultura – não são mais apenas uma moda de hippie.
E não é exatamente novidade, mas é interessante para ver como o assunto está de novo em discussão.
Scientific American Brasil – Novembro 2009 – número 90
A volta da criança problema
LSD ressurge como possível tratamento clínico – por Gary Stix
Albert Hofmann, descobridor do LSD, criticou o movimento contracultural por marginalizar uma substância que ele assegura ter potencial benéfico como coadjuvante da psicoterapia e práticas espirituais como meditação. “A alegria de ter sido o descobridor do LSD perdeu o encanto quando, depois de mais de dez anos de pesquisa cientifica e uso medicinal da substância, o ácido foi arrastado pela gigantesca onda de loucura inebriante que começou a se espalhar pelo mundo ocidental, principalmente nos Estados Unidos, ao fim dos anos 50”, queixou-se nas suas memórias, de 1979, LSD: minha criança problema.
Por isso Hofmann ficou muito feliz antes de morrer, aos 102 anos, no ano passado(2008), ao saber que a primeira pesquisa científica com LSD em décadas estava começando na Suíça, sua terra natal. Segundo Peter Gasser, médico que chefia o teste clínico, Hofmann estava feliz porque a substância iria voltar para as mãos dos médicos, e chegou a afirmar: “Um antigo desejo meu finalmente se realiza”.
O estudo preliminar, retomado do ponto onde os investigadores pararam décadas atrás, explora possíveis efeitos terapêuticos da droga experimentada por pacientes acometidos por doenças fatais, como o câncer. Centenas de estudos realizados de 1940 até 1970 com a dietilamida do ácido lisérgico (muitos de má qualidade, segundo os padrões atuais) investigaram relatos pessoais do uso da droga, que permitiam aos pacientes se reconciliar com a própria mortalidade. Nos últimos anos, alguns pesquisadores estudaram a psicilocibina – componente ativo nos cogumelos alucinógenos e a MDMA (metilenodioximetanfetamina, mais conhecida por ecstasy), entre outras drogas, como possíveis tratamentos para a “angustia existencial”, mas não o LSD.
Gasser, chefe da Sociedade Médica Suíça para a Terapia Psicolítica, da qual se tornou membro depois de ter experimentado o LSD administrado por um terapeuta, só recentemente começou a discutir as pesquisas, revelando desafios dos estudos com psicotrópicos. O estudo, a um custo de US$ 190mil, aprovado pelas autoridades médicas suíças, foi quase todo financiado pela Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, organização americana sem fins lucrativos que patrocina pesquisas com a finalidade de legalizar a prescrição médica de drogas psicoativas e da maconha. O estudo teve início em 2008 e pretende tratar 12 pacientes – 8 receberão LSD e 4 um placebo. Selecionar os candidatos não foi tarefa fácil. Após 18 meses, apenas cinco pacientes haviam sido recrutados e somente quatro submetidos à rotina do experimento de duas sessões, de oito horas casa uma. “Por ser incomum, os oncologistas não indicam o tratamento com LSD para seus pacientes”, lamenta Gasser.
Os Pacientes que receberam a droga afirmaram que a experiência os ajudou emocionalmente, e nenhum apresentou reações se pânico ou outros sintomas desagradáveis. Um deles, Udo Schulz, relatou a Der Spiegel que a terapia com LSD o ajudou a superar a angústia após receber o diagnóstico de câncer no estômago e facilitou seu retorno ao trabalho.
Os experimentos sugerem um protocolo rígido –“todas as sessões de tratamento com LSD começam às 11 horas da manhã”-, e os pesquisadores são cautelosos para evitar excessos registrados em experimentos psicodélicos anteriores, quando pacientes foram deixados sozinhos durante uma sessão com a droga. Gasser e sua assistente estão sempre presentes durante as oito horas de cada sessão, realizada em salas sossegadas e na penumbra, com equipamento médico à mão. Antes de receberem o LSD a pessoas passam por testes psicológicos e sessões prévias de psicoterapia.
A Fundação Beckley, inglesa, também interessada na pesquisa com LSD, financia e colabora com um estudo-piloto com 12 pessoas na University of Califórnia, em Berkeley. O estudo examina como a droga estimula a criatividade e como alterações na atividade neural se relacionam com mudanças na experiência consciente induzida pela substância. Se o LSD será um dia a droga preferida para psicoterapia psicodélica ainda é uma incógnita, já que pode haver outras soluções. “Escolhemos a psilocibina porque é mais suave e geralmente menos eficaz que o LSD”, explica Charles S. Grob, professor de psiquiatria da University of Califórnia, em Los Angeles, que realizou um experimento para testar os efeitos sobre a angústia de pacientes terminais, vítimas de câncer. Além disso, “ela produz menos reações de pânico e menos surtos de paranóia e, acima de tudo, nos últimos 50 anos a psilocibina teve menos publicidade negativa e menor carga cultural que o LSD”.
Outros pesquisadores insistem na importância da farmacologia comparativa por causa do longo período de pesquisas autorizadas. Qual diferença entre LSD e psilocibina? O fato de existirem muitos tipos de antidepressivos ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) “não quer dizer que sejam todos idênticos”, observa Roland Griffiths, pesquisador da Johns Hopkins University, que realiza experimentos com psilocibina. De qualquer modo, no quadragésimo aniversário de Woodstock, as substâncias psicoativas – que representaram a apoteose da contracultura – não são mais apenas uma moda de hippie.