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Sétima Experiência 3g - Cubensis

felipeleox

Esporo
Cadastrado
20/12/2021
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Quase um mês após a experiência “pesada” com 4g, decidi repetir a dose de 3g. Foi a dosagem que até então eu achei mais bacana, e queria repetir pra ver como seria.

A intenção era escutar música, basicamente.
Nesta mesma semana havíamos terminado uma “reforma” em casa, então a ideia seria “inaugurar” o escritório, agora devidamente organizado e com um aparelho de som de qualidade.

Acordei cedo num domingo, e preparei o café da manhã “especial”. Uma fatia de pão de forma com bastante geleia de maça, e por cima uma camada de 3g dos cogumelos. Para acompanhar, um café preto sem açúcar:

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Enquanto comia e esperava o início dos efeitos, estava assistindo um especial do canal Music Thunder Vision sobre a MTV. Foi bacana pois eu estava lendo a autobiografia do Luiz Thunderbird, então haviam coisas no vídeos que complementavam o livro.

Até que comecei a bocejar (virou meu indicador de que os efeitos vão começar), estendi um tapetinho no chão e coloquei o álbum Blind Faith, do Blind Faith.

Diferente das outras experiências (onde escutei discos que eu já conhecia e gosto bastante), minha intenção no momento era escutar álbuns pela primeira vez, sob o efeito dos psicodélicos. Foi muito perceptível essa diferença, pois em certos momentos eu estava gostando bastante do som, mas me peguei várias vezes meio impaciente sobre a duração ou clima que a música proporcionava.

Especialmente a última faixa (de 15 minutos) , tem um solo de bateria enorme, umas partes que que ficam vozes estranhas repetindo “Do What You Like” com sons estranhos... Foi só “legal”, não incrível como quando escutei outros discos nas outras vezes.

Quando terminou, me levantei e fui até a cozinha. Minha esposa estava em casa, acabamos conversando um pouco sobre os efeitos que estava sentindo, e contei pra ela sobre essa percepção meio confusa que tive do disco. Eu o achei muito bom, instrumentalmente falando, mas é como se a conexão não tivesse sido tão bacana.

Tomei água, conversamos sobre algumas outras coisas e comecei a ficar interessado na casa em si. Olhava para os eletrodomésticos e prestava atenção neles por um tempo, fui um pouco para a frente da casa olhar a rua... Enfim, perambulei um pouco, pensando sobre várias coisas, mas a sensação era bem agradável.

Voltei para o escritório e fiquei um tempo pensando qual outro disco escutaria. Acabei lembrando de um que havia escutado pela primeira vez na mesma semana, e decidi colocar. Era o Surfing da banda The Ventures.
Só de lembrar... caraca! Foi como se o som tivesse me engolido, de um jeito muito bom.

Eu havia ligado a minha guitarra para tocar junto, mas devo ter tocado apenas nas duas primeiras músicas. Depois eu fiquei simplesmente parado escutando atentamente, totalmente focado no som (e na capa do disco que fica aparecendo na tv). Eu realmente não escutei mais nada fora a música (latido de cachorro, minha esposa na casa...).

Quando o disco acabou, senti como se eu tivesse acordado de uma hipnose ou coisa do tipo. Bem intenso. Gostei muito!

Acho que vale contextualizar:
Toco guitarra desde os 14 anos, tive banda e tudo mais. Mas há alguns anos havia vendido todos os instrumentos por outros motivos, e só recentemente decidi voltar a tocar. E um dos estilos que coloquei como objetivo de aprender é o surf rock do início dos anos 60. Logo, tenho escutados esses álbuns regularmente desde o início do ano, e comprei a guitarra, amplificador e pedais já pensando em tirar uma sonoridade próxima desse estilo, que pelo uso do reverb de mola, resultam no tal “Classic Surf Drip”.
Certamente esse interesse recente e estar escutando, e pesquisando sobre isso resultou nessa experiência intensamente positiva com as 3g de cogumelo.


Acordado da “hipnose” fiquei um tempo pensando sobre o que foi ter escutado aquilo e como foi imersivo, como fez sentido eu querer aprender a tocar esses sons, porque me interessei, das diversas vezes que eu escutava algo do estilo mas não havia me aprofundado, e como foi bom não ter me aprofundado antes, e sim naquele momento.

Minha esposa precisou sair para passar rápido no serviço e depois no supermercado.

Sozinho, dei mais uma perambulada, e fiquei um tempão admirando as portas de madeira da casa. Os veios da madeira estavam muito mais destacados, e o verniz estava com um aspecto muito bonito, tipo um metalizado.

Voltei para o escritório e comecei a olhar as coisas nas prateleiras, puxei um livro antigo que eu havia ganhado a muitos anos mas ainda não li. Fiquei olhando os detalhes da capa, como as folhas ficam amareladas com o tempo (quando ganhei, já era um livro bem usado), pensei seriamente em começar a ler naquela hora, mas desisti e voltei a pensar em qual disco colocar pra tocar.

Naquela mesma semana (também por conta da leitura da autobiografia do Thunderbird), eu havia começado a escutar A Sétima Efervescência do Júpiter Maça, então coloquei pra tocar novamente, do início.

Já havia tido contato em alguma fase da adolescência, lembro de ter começado a ouvir mas ter achado “brisa demais” na época. Ouvindo naquele domingo, me lembro que gostei bastante, mas que fiquei com um sentimento de confusão bem grande em várias partes. Apesar de ser em português, tinha partes que não conseguia entender a letra (as vezes a não entendia as palavras, e as vezes entendia as palavras mas elas não faziam sentido com as palavras anteriores e seguintes).

Vale comentar sobre a música “Eu e Minha Ex”. Achei a música muito intensa, num sentido de me colocar no lugar do “Eu Lírico”, nas situações com ex e como seria meu sentimento sobre isso. Lembro que eu certo momento eu estava imaginando como seria passar por essas questões junto com minha esposa, caso nós nos separássemos. Foi bem estranho, porque não temos intenção de nos separar, então ficar pensando sobre isso por conta da música foi estranho.

Quando o disco acabou, minha esposa ainda não tinha voltado para casa e o efeito já estava mais brando. Dei mais uma andada na casa, abri o Youtube e apareceu um vídeo do Daniel Furlan, sobre uma história de infância ligada ao filme Karatê Kid. Peguei um pacote de Ruffles e uma Pepsi, comecei por esse vídeo e depois vi alguns outros até minha esposa chegar. Lembro que achei o vídeo bem engraçado, não sei se ainda tinha a ver com o efeito ou não.

Depois já não sentia mais nenhum efeito, e minha esposa chegou.


Essa foi a primeira vez que tomei psicodélico num horário tão cedo, onde o efeito passou e ainda não era nem 14h. Achei isso um tanto estranho, pois normalmente o efeito passa e já está próximo do hora de dormir. O fato de tomar tão cedo e demorar para dormir me deu uma impressão de que o dia foi bem mais longo do que realmente é.


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Nos dias seguintes eu fiquei bem curioso a respeito das minhas percepções sobre os discos que ainda não tinha ouvido antes da experiência, e decidi escutá-los sóbrio para ter uma referência.

Interessante que o do Blind Faith foi mais agradável de ouvir sóbrio. Acredito que a vibe das músicas, no estado alterado de consciência acessaram pontos que não me fizeram sentir tão bem. Talvez por ter detalhes que não me agradaram tanto, e esse detalhes acabaram se sobressaindo nas impressões. Escutando sóbrio, a mesma vibe me leva para outro lugar, onde pra mim a sensação funciona melhor.

Já o disco do Júpiter Maça foi também muito bom de ouvir sóbrio porque pude pegar detalhes que sob o efeito do cogumelo eu deixei passar. Sóbrio eu tive lembranças de algumas impressões e sensações do domingo. Senti como se a lembrança de escutar alterado complementasse a experiência de escutar sóbrio, somando e integrando as duas. E aí sim o disco se tornou muito bom pra mim (quero inclusive escutar novamente sob efeito de psicodélico, talvez LSD, pra ver qual será a nova impressão).
 
Eae, @felipeleox, que bom que nos trouxe mais um de seus relatos!

Novamente bem escrito com boas descrições para entendermos seus estados interiores, quando possível de descrever, né.

Alguns comentários...

Até que comecei a bocejar (virou meu indicador de que os efeitos vão começar),

Comigo é a moleza no corpo, normalmente com bocejos.

Acordei cedo num domingo, e preparei o café da manhã “especial”. Uma fatia de pão de forma com bastante geleia de maça, e por cima uma camada de 3g dos cogumelos. Para acompanhar, um café preto sem açúcar:

Deu água na boca, ainda mais que esse pãozinho me lembrou uma esfiha de chocolate que podia levar os cogus em cima hehehe

me peguei várias vezes meio impaciente sobre a duração ou clima que a música proporcionava.

É, a experimentação é sempre bacana, mas gera um estranhamento em alguns momentos. Por isso, eu que já tenho uma liturgia definida há anos com Pink Floyd, só faço as experimentações de novos sons depois de ter tocado pelo menos 3 álbuns do Pink, que vão estabilizar a frequência da minha mente nas fases iniciais mais conturbadas da experiência.

Voltei para o escritório e fiquei um tempo pensando qual outro disco escutaria. Acabei lembrando de um que havia escutado pela primeira vez na mesma semana, e decidi colocar. Era o Surfing da banda The Ventures.
Só de lembrar... caraca! Foi como se o som tivesse me engolido, de um jeito muito bom.

Eu havia ligado a minha guitarra para tocar junto, mas devo ter tocado apenas nas duas primeiras músicas. Depois eu fiquei simplesmente parado escutando atentamente, totalmente focado no som (e na capa do disco que fica aparecendo na tv). Eu realmente não escutei mais nada fora a música (latido de cachorro, minha esposa na casa...).

Quando o disco acabou, senti como se eu tivesse acordado de uma hipnose ou coisa do tipo. Bem intenso. Gostei muito!

Acho que vale contextualizar:
Toco guitarra desde os 14 anos, tive banda e tudo mais. Mas há alguns anos havia vendido todos os instrumentos por outros motivos, e só recentemente decidi voltar a tocar. E um dos estilos que coloquei como objetivo de aprender é o surf rock do início dos anos 60. Logo, tenho escutados esses álbuns regularmente desde o início do ano, e comprei a guitarra, amplificador e pedais já pensando em tirar uma sonoridade próxima desse estilo, que pelo uso do reverb de mola, resultam no tal “Classic Surf Drip”.
Certamente esse interesse recente e estar escutando, e pesquisando sobre isso resultou nessa experiência intensamente positiva com as 3g de cogumelo.

Que delícia! Essa imersão, tocar junto...

Meus primeiros solos cromáticos foram sob efeito de psicodelia, só não lembro qual substância. Depois passei a praticar também com cogumelos. A liberdade artística fica solta.

Que bom que encontrou uma sonoridade esplêndida pra você sob cogumelos. :D


Foi bem estranho, porque não temos intenção de nos separar, então ficar pensando sobre isso por conta da música foi estranho.

Isso aí. E não devemos estranhar pensamentos estranhos, só aceitar e deixar ir, como você parece ter feito. Um alto grau de autoaceitação do que vier à cabeça, seguindo o Princípio da Não-ação (ou seja, não fazer nada sob efeito sobre ideias ou decisões tomadas, deixar pra depois dos efeitos se ainda fizer sentido) pra não fazer besteira kkk.
 
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