O conceito de Planta de Saber, Maestra ou de Poder, compreende uma série de
espécies vegetais e fungos (sobretudo cogumelos) capazes de gerar estados alterados de
consciência. Tais estados, como já foi dito, são considerados encontros com um outro tipo
de realidade, que se integra de forma sutil e complementar à nossa realidade cotidiana.
Além disso, as plantas capazes de proporcionar tais estados são consideradas, pelos povos
nativos, seres dotados de um tipo de inteligência diversa da inteligência humana, e que
transmitem seu conhecimento quando são ingeridas, fumadas, aspiradas, etc. Daí as
denominações Plantas Maestras, Plantas Professoras, Plantas de Poder.
A Antropologia é pioneira nas pesquisas sobre as plantas sagradas e seus usos, mas
há uma série de temas que são abordados por este campo do saber e que dizem respeito à
psicologia e à psicossociologia. Entre muitos dos que se dedicaram ao tema, Levi-Strauss
levantou algumas destas questões quando afirmou: “Uma das mais certas conclusões que se
pode tirar (...) sobre os cogumelos alucinógenos, é que a forma e o conteúdo do delírio
mudam completamente de uma pessoa para outra, pois dependem do temperamento, da
história pessoal, da educação e da profissão.”(STRAUSS, 1976, p.238)
Logo a seguir, nossa hipótese de que as práticas sociais do grupo são de extrema
relevância para a construção do significado da experiência encontrou respaldo nas
pesquisas de Strauss. Vejamos:
Strauss considerou que o uso do cogumelo estava intimamente associado às
antigas religiões asiáticas. Os cogumelos, que cresciam no tronco das bétulas das florestas
montanhosas, seriam os verdadeiros frutos da Árvore do Conhecimento:
Muitos dos pesquisadores que estudam o uso ritual de substâncias psicoativas não se
referem a elas como drogas, palavra que traz em si uma conotação negativa, associada à
desagregação física, psicológica e social dos indivíduos, enfim, a algo que não presta. As
sociedades que fazem uso das substâncias psicoativas vêem tais substâncias como sábias
professoras e curadoras, verdadeiros seres divinos em forma vegetal. Por isso, considera-se
o Daime e outras substâncias são chamadas de enteógenas Segundo com MacRae:
Ao tratar de contextos rituais, prefiro evitar o termo alucinógeno, pelo
forte juízo de valor a respeito da natureza das percepções que uma
substância possa produzir- alucinar significa errar, enganar-se, privar da
razão, do entendimento, desvairar, aloucar. Tal palavra não permite
comentar com imparcialidade os beatíficos e transcendentes estados de
comunhão com divindades que, segundo a crença de muitos povos,
determinados indivíduos podem alcançar mediante a ingestão de certos
psicoativos.
(...) Prefiro enteógeno, derivada de entheos, palavra do grego antigo que
significa literalmente “deus dentro” e era utilizada para descrever o estado
em que alguém se encontra quando inspirado ou possuído por um deus
que entrou em seu corpo. Era aplicada aos transes proféticos, à paixão
erótica e à criação artística, assim como aos ritos religiosos onde estados
místicos eram experienciados através da ingestão de substâncias que
partilhavam da essência divina. Portanto, enteógeno significa aquilo que
leva alguém a ter o divino dentro de si. (MAC RAE,1992 p.16)
Referências:
ARAÚJO, Maria Clara Rebel. Salve a Luz e Salve a Força: Dimensões Psicossociais na Doutrina do Santo Daime. Rio de Janeiro. UFRJ, 2010. 254p.(Tese Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.
MacRAE, E. Guiado pela lua: Xamanismo e uso ritual da ayahuasca no culto do santo daime.
São Paulo: Brasiliense, 1992.
STRAUSS, L. Os cogumelos na cultura. In: STRAUSS, L. Antropologia Estrutural 2.
Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, p. 229-244, 1976.
Foto 01
http://www.falcononline.com.br/forum/index.php?topic=13271.60
Foto 02
https://www.flickr.com/photos/urubyte/3792802961/
Foto 03
psycotria viridis
Charles Bikle (c)2006 EROWID
https://www.lookfordiagnosis.com/images.php?term=Psychotria&lang=3&from2=72
Foto 04
Arquivo pessoal
Última edição: