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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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perigoso comer sem ferver??

AdAstra

Hifa
Cadastrado
19/01/2020
12
5
42
Olá! Procurei e achei muitas informações contraditórias. Afinal, pode comer selvagem sem ferver com segurança? Quais seriam os riscos de comer selvagens sem ferver?
 
Olá AdAstra.

Há pouco tempo eu postei o seguinte protocolo para selvagens:


Originalmente postado e afixado num grupo de uma rede social, eu penso que há espaço para essas recomendações aqui, que não foram feitas desta forma ou, aparentemente, por profissionais especializados. Enteógenos ou meramente comestíveis, a chance de intoxicação acidental por ingestão de cogumelos indigestos é idêntica para ambos interesses. Os tópicos são pensados para iniciantes; mas diversas noções podem ser desenvolvidas e complementadas por quem já tem alguma experiência prévia.

Traduzo, portanto, as palavras do micologista Keith Miklas da Rutgers University, de Nova Jérsei, Estados Unidos. É uma tradução adaptada, já que traduções literais podem deixar passagens confusas ou desconfortáveis. Sugestões de melhoria do texto são sempre bem-vindas.

Adiciono algumas notas pessoais em itálico no texto principal quando necessário, e outras ao final deste - todas igualmente passíveis de crítica. Agradeço a atenção e interesse.


"PROTOCOLO DE COMESTIBILIDADE

Olá a todos! Sinto que devo compartilhar algumas recomendações que me foram dadas anos atrás quando iniciei minha carreira na micologia. Foram me passadas pelo falecido Dr. Varney, com quem estudei no Cook College, Rutgers University. Minha intenção com estas recomendações é ajudá-los a se manterem seguros, assim como tenho feito por mim desde o começo dos meus estudos, há 30 anos. ❤️ para todos -- Keith.

1. Obtenha uma identificação absolutamente positiva. Pessoas com experiência não deixarão dúvidas se você encontrar e apresentar algo perigoso a elas! Separe alguns para estudá-los mais tarde, caso seja necessário. Na dúvida, jogue fora! Lembre-se sempre de que pode comprar cogumelos quando lhe convier.

2. Vá devagar! Na toxicologia se diz "Sola dosis facit venenum", ou, "O que faz o veneno é a dose". Uma frase cunhada pelo médico, naturalista, ocultista e alquimista europeu Phillipus Paracelsus (1493-1541).

3. Lave e cozinhe bem um pedaço do tamanho da unha do dedão (O tipo de preparo pode variar. Alguns cogumelos comestíveis contém partes que podem ser irritantes ao trato digestivo, geralmente localizadas no píleo, como pêlos ou películas viscosas. Ver notas do OP, A e E). Consuma e aguarde um dia... Tente sondar alguma náusea em seu corpo. Se lhe desagradar, você terá uma breve onda de enjoo (30 segundos, talvez um minuto). Isto é o seu corpo dizendo: 'NÃO!'. Você também pode apresentar um toque leve de diarreia - não muito, apenas o suficiente para saber que o cogumelo não é bom.

4. Se não sentir nada, cozinhe bem um píleo pequeno (cabeça) e consuma. Aguarde mais um dia, ouça seu corpo por náusea.

5. Se tudo correr bem, você consumir uma porção razoável. Mas não exagere! Apenas alguns píleos e estipes (caule, pé).

6. Não misture cogumelos selvagens. Se você não se sentir bem, não saberá qual que te fez mal.

7. Mantenha distância de cogumelos com lamelas ou esporadas brancas (especialmente Amanitas sp.); assim como pequenos cogumelos marrons (provavelmente referente aos Psilocybes).

No Brasil é importante salientar que os alimentares mais cultivados são o ostra (Pleurotus ostreatus) e o champignon/paris (Agaricus sp.), e estes possuem lamelas e/ou esporadas brancas. Todavia, na natureza, se não se tem experiência e confiança pessoal, e se não se está pesquisando por enteogênicos, a regra prossegue válida.

8. Comece com 'chickens' (Laetiporus sulphureus cff. cincinatti), 'hens' (Grifola frondosa - Maitake) e 'puffballs' (Calvatia sp.; Calbovista sp. Lycoperdon sp.). Daí parta para boletos (Boletus sp.).

É necessário adaptar a recomendação para espécimes do gênero Suillus sp., Lactarius sp., Agaricus sp. e Pleurotus sp., que são encontrados com maior recorrência no Brasil de modo geral. L. sulphureus são endêmicos aqui, mas raros. Desconheço a ocorrência natural de Maitake e 'puffballs', mas não pretendo saber tudo. Todavia, a diversidade de biomas pode embotar esta dica, ou mesmo torná-la inútil. Em último caso, jogue fora!

Notas posteriores:


- Com este método (Ver etapa 3) eu comi muitos fungos que não me caíram bem, como 'honey mushrooms', e o 'cranium puffball', o que é uma pena, visto que são considerados boas espécies comestíveis e são frequentemente abundantes (Armillaria sp. e Calvatia craniiformis, respectivamente - não tenho certeza se são endêmicos no Brasil). Tivesse eu comido um prato cheio, teria passado uma noite enrodilhado no chão do banheiro ao lado do vaso!

- Pessoalmente, devo adicionar que nestes 30 anos eu apenas passei realmente mal por três vezes; em todas elas eu fui arrogante/estúpido, ignorei alguma etapa acima e apenas fui em frente comendo uma grande porção."

Notas Adicionais do OP:

A) Cruze informações de múltiplas fontes e reúna saber sobre o ecossistema onde vive ou que visitará. O advento da internet tornou possível pesquisar e ler manuais de identificação - assim como de participar de fóruns e grupos de pesquisa como o Teonanacatl, dentre outras redes sociais. Nestes grupos sempre existem pessoas experientes dispostas a ajudar (como o próprio autor das recomendações, por ex.). Eu procurei ter o cuidado de acrescentar as notas referentes às espécies ao post original, mas de forma alguma elas são aplicáveis para o todo do Brasil. Não há razões para não saber com antecedência quais espécies consumíveis podem ser encontradas na sua região. Leia antes, colete depois, estude com afinco e, apenas assim, prove por último.

B) Não prove cogumelos de áreas degradadas pela deposição de químicos ou próximos a corpos d'água que recebem derrames sanitários. Cogumelos são concentradores de metais pesados e outras substâncias tóxicas e

C) Apenas prove um cogumelo suspeito de comestibilidade quando houver certeza de que é possível obter ajuda ou que o atendimento médico profissional não está distante. Guarde algum cogumelo para ser levado consigo neste caso. Não prove algo que não faça ideia do que é.

D) Não colete todos cogumelos que encontrar. Cogumelos são órgãos reprodutores dos fungos e exauri-los pode afetar o desenvolvimento e presença da espécie na área. Um ou dois são suficientes: um para a coleta da esporada e outro para a prova.

E) Em virtude das notas C e D: não prove um cogumelo em campo. A análise e o estudo necessários para obter um grau de segurança razoável levam mais tempo do que costuma se dispor para tanto. A técnica do "provar e cuspir" só faz sentido para quem tem uma boa bagagem anterior.

F) Atente que mesmo espécies sabidamente consumíveis podem provocar reações adversas. Eu já testei estas dicas (com Lepista nuda, Lentinus crinitus e Favolus brasiliensis, usualmente comestíveis e com preparo prévio específico determinado) e passei mal (azia leve com L. nuda) consumindo apenas a fração sugerida pelo autor original. Apenas em virtude disto considero que estas informações são importantes para quem quer estudar fungos e técnicas de sobrevivência - ao invés de apenas demonstrar coragem e ousadia para si ou outrem.

G) Finalmente, é tácito lembrar que o teste de prova é um risco que você - e apenas você - assume. Não terceirize sua responsabilidade. Não coloque sua saúde pessoal e/ou de outros em risco desnecessário. O risco é REAL. NA DÚVIDA, JOGUE FORA!

PS: Se alguma pessoa da moderação considerar este post inadequado, desinformativo ou mesmo perigoso à saúde pública, pode e deve apagá-lo. Obrigado pelo espaço disponibilizado.​
 
Eae man blz? Vai da sua própria conta e risco. Eu já tive abcesso bem na época em que comia a rodo... Essa parada dói pra caramba.

Digo isso por experiência própria. Apesar de só conseguir encontrar Panaeolus por aqui, acredito que também aconteça com Cubensis...

Não tenho conhecimento sobre os outros males que pode lhe causar um cogumelo selvagem. Os relatos que li e informações que obtive foram de furúnculos/abcessos.
 
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