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Ovo-cristalino do choro gostoso (primeira trip depois de 9 anos)

AVKAruz NorûeAv

Hifa
Membro Ativo
15/09/2021
173
8
Antes da recolecção da experiência devo dizer o contexto antes do uso, que vai até muitos anos atrás.

Conheci os cogumelos mágicos quando tinha 15 anos, tive muitas experiências com doses altas com 15 e 16 anos, sendo a última exp. de "doses altas" com 16 anos. Não sei dizer o máximo que já tomei (eqv. em seco por ex.), pois não era de parâmetro nenhum: era fazer o chá com o que encontrávamos nas colheitas e tomar dividindo igual para todos amigos, mas já fiz alguns chás sozinho e assim tomei.

Com 17 anos tive um surto psicótico desencadeado por supostamente meu uso passado de cogumelos. Meu pai já sabia do uso e foi o culpado na época, sendo que nunca aceitei esse "fato", pois a última vez que havia tomado o chá foi mais de um ano antes do surto. Fui descobrir através de reflexão própria e com psicoterapia os culpados: fim do E.M. e pressão para arranjar algo do futuro, uso excessivo de álcool e maconha, mãe alcóolatra, a morte de uma amiga próxima a minha mãe (o que a deixou mais afundada no álcool e num estado depressivo deplorável), fim de relacionamentos conturbados de adolescente e outras coisinhas mais... Passaram reto por cima disso tudo para culparem meu uso de cogumelos (sendo que meu pai é do santo daime e tem um preconceito danado por cogumelos), uma negligência completa de todos meus familiares e dos psicólogos e psiquiatras que me atenderam.

Minha curiosidade por meios de alterar a consciência não parou apesar do ocorrido, sempre procurei bastante as drogas e ervas mais desconhecidas, com os mais diversos efeitos, fugindo sempre das que causam dependência.

Há um ano e meio atrás começou minha aproximação novamente com o cogumelo (mas já pairava na cabeça antes), comprei um bocado pela internet com o propósito de usar como microdose, e assim usei intercalado com diversas outras coisas sempre como microdose ou dose pequena. Não me sentia a vontade para adentrar em doses altas e nunca me sentia seguro para usar apesar de sempre planejar.

Acredito que três coisas me deram a segurança para essa pequena viagem:
1-Ter preparado o ambiente para um trip da minha esposa, percebi o carinho que tive por ela e pela experiência dela que tomei esse cuidado e voltei para mim.
2-Procurando coisas que pudessem aliviar a ansiedade da trip. Tive experiência falhas com São Pedro (por ser outra classe de compostos que não atiçam a ansiedade) e acabei resolvendo voltar a ideia de usar cogumelos, em conjunto com kava kava para aliviar a ansiedade.
3-Ter encontrado (por acaso?) cogumelos mágicos perto de casa num loteamento abandonado, esse reencontro com eles na natureza foi realmente mágico e me abriu os olhos para a colheita em diversos locais não tão longes e menos expostos quanto os que eu ia na adolescência.


Me apareceu a oportunidade de usar: nos mudamos para um aluguel onde arrumamos tudo, minha esposa iria viajar, eu teria bastante tempo para me preparar.

Sou muito cuidadoso com o setting do local e pessoal antes de me aventurar, bem nutella mesmo, fiz as seguintes coisas:
-Deixei a casa toda limpa dias antes e mantive limpa até o dia, separando também roupa de cama apenas para exp.
-Coloquei algumas coisas bonitas na cabeceira: cristais, umas esculturas de argila que eu fiz e um caderno para anotar ou desenhar o que quisesse.
-5 dias antes já estava evitando influências de mídia ou notícias ruins: filmes tensos, desastres, passo longe!
-2 dias antes parei de usar facebook e youtube (é basicamente a rede social que mais uso) e de ouvir qualquer musica (não vivo sem), e 1 dia antes desliguei meus whatsapps. Deveria ter ficado mais tempo sem contato com rede social porque ficou me vindo toda hora a xibom bombom no dia anterior a trip quando fui dormir......
-No dia anterior e no dia também só comi coisas leves, sem nada que fosse nem lácteo nem ovo.

Só esse preparo anterior já é uma experiência em si. Passei a notar todos meus impulsos que o cérebro lança para que ele ignore a si mesmo: impulso de pegar no celular, de ouvir música, de mandar mensagem para tal pessoa resolver tal coisa, de entrar no teo para ver qq tem de novo etc. É estonteante o quanto eu (e provavelmente a maioria da humanidade) está imersa em constantes distrações.

Meus catalisadores são: duas xícaras e meia de kava kava e 1.4g de cogumelos ps. cubensis imbuídos em chocolate. Lembrando que têm alguns indícios de que a kava tenha propriedades de IMAO.

No dia acordei 4:30 para a viagem, comecei a tomar a kava umas 5:30 e comer os chocolates. Originalmente era para eu ter tomado 1.8g, no máximo 2.2g, já estava separado, mas não senti o impulso para fazê-lo. Comi em três partes dentro de duas horas para que os efeitos viessem mais lentamente e durasse mais.

Deitei, coloquei meus fones, a playlist de viagens internas e meu capacete de travesseiros (para abafar o som de fora e tapar os olhos hehehe).

Não vou contar exatamente na ordem cronológica, mas sim agrupar os insights e experiências.


Assim como com o São Pedro de início não tive alterações fortes nem perceptíveis visuais, mas sim um aumento grande na imaginação.
Eu normalmente já penso em milhares de possibilidades, minha mente é muito a frente do tempo presente, se penso numa situação vou num sentido completamente improvável e profundo nela, normalmente pessimista. Na experiência isso se misturou com minha ansiedade do uso e foi aumentado. Minha mente voou em suposições de que talvez eu ficasse louco de pedra e não estivesse nem ao menos percebendo. Me vi ligando para meu amigo (psicólogo que faz uso de psicodélicos) e ele me falando pela ligação para eu ir para o hospital o quanto antes que eu estava fora de si, mas isso apenas no campo da imaginação. Lembrei de relatos aqui do fórum, como aquele em que o cara pensa em pegar a arma para se matar, minha mente voou por todas ferramentas de corte da casa, tesouras, facas... Pensei num dos diversos relatos de pessoas que prendem papéis na porta da casa dizendo "não saia, você está doidão e em X horas irá passar" ou algo do tipo. Refleti comigo mesmo que já havia lido tanto sobre isso e me preparei tanto que esses "papéis" e "avisos" já estavam na minha mente, não no mundo exterior, mas na parede do meu cérebro.


Desci para o banheiro quase 10 vezes durante o tempo dos efeitos, xixizada danada. Algumas descidas era de boa, outras eu ficava meio mal, tive um pouco de enjoo mas nada perto de vomitar. Me vi no espelho inúmeras vezes mas com bastante indiferença, uma vez foi bom, me vi estiloso com minhas tatuagens, outra foi ruim, me vi magrelo, mas no geral bem neutro.


Numa dessas subidas de volta para cama me veio uma "catarse" que eu não esperava... Pensei em quase todas meninas com qual me relacionei e senti um certo arrependimento/peso por toda tristeza que já as fiz passar, como algumas eu "usei e descartei", outras acabei deixando triste só pelo meu jeito, algumas pela falta de comprometimento meu. Chorei aliviado com isso tudo, um choro longo, como se tivesse me conectado a elas e mostrando "olha, eu consigo ver o que fiz e me arrependo". Não que eu seja um homem horrível, longe disso, ao ver os "homens médios" que estão ao meu redor eu sou uma joia rara. Mas não posso me basear pela minha visão do mundo exterior: tenho de me auto-utilizar como parâmetro, o que é ser bom PARA MIM? O que eu fiz de ruim NOS MEUS PARÂMETROS? Acho que sempre fiz o melhor diante das situações dos meus relacionamentos: terminei quando vi que estávamos muito tóxicos entre nós... Num caso contei a verdade de que estava esperando uma outra menina enquanto ficava com uma primeira mesmo que ela nem fosse saber se eu não contasse... Eu ter a melhor atitude não nos exime da tristeza. Aceitei a tristeza das minhas boas escolhas, aceitei a tristeza das boas escolhas das meninas com quem me relacionei.

Nesse mesmo momento estava acabado na cama e me veio um insight duplo: segurava a garrafa de água em meu colo enquanto estava aos prantos, vi a garrafa e me veio na imaginação um ovo cristalino, como se fosse um filho que eu havia parido kkkkk mas na verdade era um "ovo quântico", imaginei diversas versões alternativas e caóticas desse ovo como uma "manta" em cima do ovo cristalino. Desculpe não conseguir fazer com que faça muito sentido diante dessa explicação, mas foi uma revelação dupla sobre COMPROMETIMENTO, tanto no relacionamento com minha mulher quanto com minhas aspirações artísticas: se comprometer e fazer, limpar de toda possibilidade e se comprometer com uma visão clara de realização.

Nesse ponto também chorei pela minha "falta de gratidão" pela minha mãe e meu pai que me ajudaram com algumas coisas desde que passei a morar sozinho, mesmo que seja pouco ainda sim é importante. Chorei a beça por ser tão ressentido com a minha mãe e me veio a ideia de apresentar kava kava para ela talvez tratar o alcoolismo dela.


Chegando ao pico dos efeitos, já com alterações visuais me vieram ondas de ansiedade, um medo de me desligar da realidade concreta já que até o momento estava tudo mais ou menos no campo da realidade. Vi distorções espaciais e imagens de olhos fechados, fui tentar dobrar a toalha e ela estava meio-infinita, o lençol da cama não parecia nunca ficar direito... Olhava para algumas coisas e elas meio reviradas, retorcidas como aquelas imagens de IA que não sabem desenhar rostos ou mãos... Diante dessa diferença perceptual me bateu uma ansiedade, mas me deitei e coloquei meu capacete. Me veio a reflexão que tenho pessoas para me proteger mesmo que elas estivessem longe: minha esposa, meu pai mesmo com os preconceitos dele me ajudaria, meu amigo... Só o fato de ter pessoas para me ajudar já ajudou, difícil de explicar... Era como se na pior das hipóteses eu encontraria alguém que iria me trazer segurança, eu conseguiria alcançar algum deles ou alguma outra pessoa que me ajudaria.


Sempre sinto que gratidão é uma coisa besta, não gosto de agradecimentos pelo que faço, pela minha natureza independente e "igualitária" me incomoda pedir coisas para os outros ou até mesmo ir em restaurantes para que um garçom me sirva, me sinto envergonhado! Me dá uma raiva de gente que vive falando "gratidão" para qualquer coisa! Não quero gratidão pelo que eu faço, eu não quero nada. Da mesma forma não fico verbalizando isso aos outros, se me ajudam em X coisa é porque quiseram, só agradeço mesmo quando fui eu quem pedi pela ajuda. Não que eu seja um completo babaca que não diz obrigado, mas ficar mostrando os dentes não é pra mim. Até que encontrei nessa trip o porquê disso: RETRIBUIÇÃO.
No caso devemos retribuir mais que agradecer, agradecimento verdadeiro vem de uma retribuição esforçada, não de palavras vazias. Percebi que sempre agi nesse princípio: prefiro fazer do que falar. Retribuir por algo bom que fizeram pela gente é a mais alta forma de gratidão.


Lembro de me perguntar inúmeras vezes em um momento "Por que eu sempre fui triste?". Viajei para tempos imemoriais, desde a infância até atualmente, senti parte da minha tristeza, em como eu me sentia alegre mesmo quando estava jogando, ou num papo bom que eu gostasse e ou focado num projeto que estava apaixonado, todos esses momentos escassos. Lembrei que numa pesquisa o que mais define uma "vida boa" é a qualidade das relações que temos. A partir desse ponto, logo no pico da viagem, tive uma vontade enorme de ir encontrar meu pai e meu irmão, já que temos poucos momentos que podemos ficar nós três juntos. Refleti em todas possiblidades de me relacionar e ajudar as pessoas importantes ao meu redor, o que conversar com elas, como resolver alguns problemas, criar momentos felizes... Não é porque não me demonstraram tanto afeto que eu não deva fazê-lo pelos outros. Se os outros não entendem pena deles, eu entendi e talvez possa fazer algo por isso! Liguei para minha mulher e conversamos um pouco... Tive de aguentar por umas duas horas até o efeito baixar o suficiente e eu me sentir seguro para encontrar meu pai e meu irmão, nesse fim as distorções sumiram mas as cores estavam ultravibrantes e tudo em HD64K. Essa espera foi tranquila e ansiosa ao mesmo tempo. Simplesmente senti que não tinha mais o que retirar... Como se minha "stamina revelacional" tivesse secado. Ouvi algumas coisas diferentes do álbum de viagens e foi isso.




No fim acho que as principais palavras que ficam para que eu integre no fundo da minha mente são:

Comprometimento e Retribuição





Bem, esse foi o relato, espero que tenham gostado. O que tiverem de apontamentos que me levem a mais reflexões e melhoras eu agradeço! Em anexo uma foto não-fidedigna do meu filho ovo gerado por IA.
 

Anexos

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Esses insights terapêuticos são, pra mim, a parte mais significativa das viagens.

Revisitar a infância requer muita coragem, mas é um meio de organizar todas as raízes pra tornar a árvore que somos mais forte e sólida.

relatando algo semelhante, que pode ter algum valor para teu relato. Hoje acredito ter superado minha auto imagem de "pessoa triste" quando numa dessas vizitas ao passado pude notar que, no final das contas, eu era uma criança feliz e amada.

Eu era todo o tempo feliz? não tinha problemas? os traumas não existiram? a resposta é não pra tudo, mas, reassistir a tudo usando a empatia que desenvolvi durante toda minha vida, para me colocar no lugar dos adultos que me cercavam na infância, ajudou a entender que muitas das coisas que aconteceram não aconteceram por falta de amor àquela criança (no caso, eu), a realidade é que eram seres humanos comuns, que eram falhos, tinham medos, anseios, erravam, acertavam, como todo mundo, o melhor que aquelas pessoas podiam fazer naquele momento elas estavam fazendo.
Eu consegui ver que se eu, adulto, hoje, pudesse voltar no tempo, eu não iria lá dar um esporro naquelas pessoas, mas sim eu iria dar uma abraço e oferecer conforto, reconhecer as batalhas, e dizer que no final iria dar tudo certo.

Ver isso dessa forma acabou sendo bem transformador, e com o passar dos dias e semanas, assimilar isso, incluir na minha vida esse fato, me ajudou bastante a melhorar a qualidade do meu humor.
 
Eu consegui ver que se eu, adulto, hoje, pudesse voltar no tempo, eu não iria lá dar um esporro naquelas pessoas, mas sim eu iria dar uma abraço e oferecer conforto, reconhecer as batalhas, e dizer que no final iria dar tudo certo.
Isso é realmente um insight valioso... Cheguei a mesma conclusão por vias diferentes.

Não adentrei em detalhes mas minha mãe é uma criatura complicada... Eu fico até meio assim de me aproximar muito afetivamente, mas talvez tenha outros meios além de uma afetividade direta, algo mais pelas beiradas. Estou com a missão de preparar um monte de kava para ela e levar para ela, bater um papo, ajudar com algumas coisas pendentes da casa dela etc.
 
Isso é realmente um insight valioso... Cheguei a mesma conclusão por vias diferentes.

Não adentrei em detalhes mas minha mãe é uma criatura complicada... Eu fico até meio assim de me aproximar muito afetivamente, mas talvez tenha outros meios além de uma afetividade direta, algo mais pelas beiradas. Estou com a missão de preparar um monte de kava para ela e levar para ela, bater um papo, ajudar com algumas coisas pendentes da casa dela etc.

A depender dessas complicações a jornada de cura é bem difícil mesmo, mas o fato de você se mostrar predisposto a ajudar já demonstra alguma evolução da tua parte.

Vou fazer uma colocação aqui, que não é aconselhamento psicológico, é feito com boas intenções e que no final das contas, pode não ser válido para teu caso, mas se não for, pode ser para outra pessoa.

Dentro do que você relatou sobre tua mãe, se tua viagem de cogumelos foi recente, eu sugeriria você dar um tempo até se aproximar, é que por um período de algumas semanas após as viagens costumamos ficar muito sensíveis e a gente pode absorver muito facilmente lixo emocional, ou cair em caminhos mentais já pré definidos, reforçando "vícios" antigos. No caso, a neuroplasticidade, ao invés de ser aproveitada para reavaliar as situações e aprender formas novas de lidar com as coisas, pode acabar sendo aproveitada para reforçar entendimentos já definidos em nossa mente. Se você acha que nessa aproximação pode ter alguma resposta indesejada, seja falada, ou comportamental, acredito que seja melhor esperar a estabilização da mente para depois tentar essa aproximação.

Claro, isso que falei pode passar longe da realidade e ninguém melhor que você para entender a situação, então, se falei algo que não agradou, desde já, desculpe-me.
 
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