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Os Irmãos Berimbau

Uru-Eu-Wã-Wã

Hifa
Cadastrado
27/11/2013
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Não tenho o hábito de escrever as experiências, pq acho difícil explicar em palavras O QUE exatamente é o interessante nelas (costumo ter poucas brisas visuais além do tradicional "superfícies que respiram", então quando alguém pergunta "mai qualé a briza?????" eu costumo escapar dizendo que é subjetivo demais). Mas ontem teve um momento muito bonito que aconteceu devido à ingestão de alguns desses cogus que eu gostaria de (tentar) compartilhar

A experiência foi bastante longa e "móvel" - começou em um parque, atravessou uma praça e chegou a uma grande universidade brasileira (foi uma sensação bem interessante sair trippando no meio das ruas e carros pra ir de um lugar a outro, nunca tinha feito isso antes, pois costumo privilegiar locais mais "naturais"... óbvio que uma praia é melhor, mas ao mesmo tempo achei bem interessante e produtivo levar os cogus pra passear em lugares da "vida real", do meu dia-a-dia). Não vou contar tudo porque seria muito comprido e confuso. A cena que vou relatar é o miolo da coisa toda.

Existe na cidade de São Paulo um lugar abençoado, pouco conhecido por quem não é daqui, mas um ponto-chave para o entusiasta da psicodelia. Uma série de fatores contribui para tornar essa praça um lugar único: o fato de ela ocupar a encosta de um morro, estar alinhada com o Oeste e voltada para uma área completamente plana (a várzea de um rio) que é ocupada por bairros residenciais de alto poder aquisitivo (só casinhas, sem prédios). Resumindo: lugar alto, vista panorâmica com um excelente por-do-sol. Esse é um dos únicos 2 lugares na cidade que eu conheço onde o fumo é legalizado "de facto" - basicamente porque nos fins de tarde tem tanta gente fumando que eles precisariam mandar a tropa de choque pra prender todo mundo (e, como eu falei, fica em um bairro rico, etc., os puliça não iam querer arrumar confusão com os papais dos playboys)

O motivo de minha chegada a esta praça era justamente dar uma "turbinada" na experiência, em um lugar livre de paranoia. Não havia por-do-sol, pois o céu estava nublado, mas havia um outro tipo de espetáculo reservado pra mim... logo depois de fazer a cabeça, um som de berimbau começou a chamar minha atenção. Olhei para trás e vi três amigos no ponto mais alto da praça, cada um com seu instrumento; resolvi me aproximar, mas sem chamar atenção, então me sentei na grama um pouco acima deles.

Um deles estava ensinando um ritmo para os outros, ou cada um sabia um ritmo diferente e estava ensinando, não entendi direito... o fato é que um ensinava, e os outros tentavam imitar. Mas teve um momento em que os três começaram a tocar juntos, e foi muito bonito; instintivamente apoiei os cotovelos nos joelhos e o rosto sobre as mãos, fechando os olhos para me concentrar completamente na música.

Foi aí que começou: no escuro das pálpebras eu via padrões coloridos que se movimentavam influenciados pela música dos três rapazes. Esses padrões me pareciam ser a própria imagem da trama da vida, e os tocadores de berimbau eram divindades que urdiam os fios com sua música (escrevi em um caderno: "Esses três tocadores de berimbau são o mundo"). A música era cheia de vida, e dava vontade de balançar no ritmo dela - percebi mais do que nunca como o som do berimbau tem uma cadência gostosa, assimétrica, uma certa imperfeição tonal, e isso me pareceu muito mais real do que a música tonal europeia a.k.a. globalizada.

Tudo parecia verdadeiro e bom... aqueles três amigos, sentados um ao lado do outro de frente para a vista nublada, cada um com seu instrumento, fazendo sua música - eles pareciam plenamente satisfeitos em tocar, e eu plenamente satisfeito em escutá-los; e, ao mesmo tempo, eu sabia que ELES não eram somente ELES, mas que representavam uma outra coisa, uma coisa inexprimível... até tive uma ideia pra um filme centrado na figura desses honoráveis desconhecidos (na minha cabeça ficava vindo continuamente, quase obsessivamente, a expressão "The three Berimbau Brothers", assim em inglês mesmo)

Vou parar por aqui o relato, porque a partir daí se desencadeou um daqueles momentos "lição de vida" no qual vc começa a pensar em tudo que não faz ou deixou de fazer, etc. e tal, e depois teve o momento mais assustador e perigoso da trip, no qual andei por ruas escuras e completamente desertas para chegar em um outro lugar que eu queria ver (assustador mas bonito, se eu não estivesse quase me cagando teria parado só pra ficar observando uns jogos de sombras muito loucos)

É isso aí, paz e muita merda de vaca no reveião de vocês :D:poop::poop::poop:

 
Muito interessante. Já tive uma experiência onde o tudo vem do nada, de uma coisa pequena e também era expresso pelo som. Estava ao ponto de entender como é de fato a energia vital até a trip mudar de rumo devido a pouco planejamento do s/s... Por acaso essa praça seria a praça por do sol na vila madalena?

Abraços

Paz
 
Trip legal man! Só não me arriscaria sair puraí loco de cogus andando pelas ruas.Certa vez tive que dirigir nesse estado.Engraçado,sempre que escuto "Expresso Bongo" do Marillion,me lembro desse momento. O som do berimbau estando de cara já é praticamente um mantra,imagina sob efeito dos chapeludos.
 
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