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O Nó Paradoxal

User03

Cogumelo maduro
Membro Ativo
28/03/2011
2,985
56
Eu não sou de relatar experiências, simplesmente porque eu possuo extrema dificuldade em passar para palavras o que eu visualizo ou aprendo quando estou sob o efeito da medicina sagrada.

Mas a trip do dia 19 de Junho de 2013 exige um relato, mesmo que ele não seja publicado. O que se passou nessa noite foi algo além de qualquer experiência que eu já tenha tido.

Ingeri 3 gramas de cubensis secos por volta das 22:30 - 23:00 da noite. Antes de ingerir é claro, limpei o quarto, troquei a cama, tomei banho, concentrei as energias na experiência, pedi que o espírito do cogumelo me guiasse e agradeci pela oportunidade. Coloquei hinários para a clareza do pensamento. Estava um pouco preocupado pois eu havia ingerido um pouco de álcool em um churrasco na universidade.

Realizei a experiência completamente nu, deixando somente um calção para as idas ao banheiro. Mastiguei bem os cubensis, e continuei escutando os hinários.

A trip estava chegando. A música começou a ficar desagradável, então eu retirei a mesma e me deitei, aguardando os efeitos. Deixei a luz ligada para que eu pudesse acompanhar o início da viajem. Eu sempre deixo a luz desligada no início das trips, mas isso estava me deixando desconfortável dessa vez. Fiquei em um estado de espera, um tanto ansioso. Os efeitos começaram. Uma leve fraqueza nos músculos, confusão de palavras e pensamentos. A sensação de ser empurrado idefinidamente havia começado, e eu fiz alguns vídeos para assistir após a trip. Eu havia desligado todos os aparelhos eletrônicos, mas eu estava em uma euforia de registrar o início da trip, então religuei o celular.

Após algumas gravações, eu olhei para o relógio, e percebi que já haviam passado duas horas. Fiquei um tanto assustado, pois imaginei que no máximo 10 minutos tinham corrido. Então desliguei o celular e a luz, e deitei. Eu já havia preparado um set de músicas para a trip, e o fone de ouvido estava ao lado da cama.

Então eu mergulhei. Parei de acompanhar o tempo… Eu pensava: somente esses efeitos? Não estou tendo a presença de visuais, como eu geralmente tinha. Pensei: creio que a dosagem de 3 gramas não é suficiente para mim. Mas então eu comecei a prestar atenção no ambiente ao meu redor. Eu estava extremamente perceptivo aos sons. Eu escutava as gotas de água nos canos, eu escutava os vizinhos lavando os pratos. Eu escutava os gatos passeando pelos telhados do prédio. Eu achei muito interessante que, em determinado momento, o som rítmico de certas gotas que estavam pingando lá fora se tranformaram em palavras proferidas por alguma criatura de alma extraterrena. Aquela voz eletrizada me tentava falar alguma coisa que eu não pude compreender.

Senti muita vontade de escutar música. Então coloquei os fones de ouvido. Creio que essa foi uma das melhores decisões que eu tomei na trip. A música estava completamente interessante. Ela criou um ambiente ao meu redor (talvez por ser música ambiente), e eu estava completamente mergulhado nele.

Então, aconteceu o epicentro da viajem. A música "To fragile to walk on", do Biosphere, começou a tocar. Você pode escutar a mesma aqui. Os cogumelos estavam tentando me ensinar alguma coisa, e eu comecei a prestar atenção. Eu tenho a mania de querer registrar tudo em minha vida. Uma música nova que eu descubro, por exemplo. Em vez de realmente aproveitar a mesma, eu busco incansavelmente guardar o nome dela, baixar e fazer uma lista. Um lugar novo que eu visito, eu preciso escrever que eu estou visitando, eu preciso tirar fotos. Isso faz com que eu não consiga nem registrar, nem aproveitar o momento adequadamente.

Então surge um nó, um vértice do pensamento humano. Um PARADOXO.

Eu estava aproveitando a trip, deslizando através daquela música. Estava bom demais, é impossível descrever em um estado ordinário de consciência. Mas os cogumelos estavam tentando me ensinar uma coisa, ao mesmo tempo. Então, deu-se o nó: O que os cogumelos estavam me ensinando, e me mostrando que era errado, eles mesmos estavam causando. Sim, é MUITO complicado de entender, eu ainda estou tentando transcrever para palavras a compreensão que eu tive. O paradoxo ocorreu quando os cogumelos estavam me ensinando algo errado que eles mesmos estavam fazendo. Eu não estava conseguindo aproveitar a música completamente porque eu estava focado em escutar o que os cogumelos estavam falando. Esse pensamento paradoxal se transformou em um vértice visual, um fractal com um ponto central, que estava dançando em loop indefinidamente. A música que eu estava escutando tem uma repetição sonora constante, o que causou uma sinestesia fortíssima. Eu estava vendo o pensamento, eu estava escutando o que eu via, eu estava entendendo o som através da visão.

Foi incrível. Eu consegui sentir, ver em forma de imagens os pensamentos paradoxais. Essa trip foi extremamente sinestésica, eu vi diversas vezes o meu próprio pensamento, em forma de fractais que se moldavam exatamente na forma que o pensamento ocorria.

Precisei ir ao banheiro. Então, a trip se transformou completamente. Eu nunca havia presenciado uma trip "para fora". Eu sempre nadei nos mares, na "Terra Incognita" do meu próprio eu. Quando eu ia ao banheiro em outras trips, era como se eu estivesse muito tonto, sem conseguir enxergar direito. Mas dessa vez foi diferente. Eu não estava mais aqui. Colocar o calção foi uma tarefa complicada, ele estava do tamanho do quarto. Depois que eu consegui realizar essa complicada tarefa, abri a porta. Tudo havia se transformado… Eu não estava mais aqui, eu estava em um lugar muito antigo. Eu estava em uma caverna, em um quarto dos anciões mágicos. A iluminação me deixou em um estado de miração eterno… minha imagem distorcida no espelho brincava enquanto eu a observava. Ficar de pé dava um prazer imenso… O corpo dançava sem se mexer, cristais brincalhões me contavam histórias. Tudo isso embalado pelas músicas, que ajudaram muito a criar o setting.

Voltei para o quarto. Me deu fome. Então eu fui para a geladeira, e peguei um melão. Eu só posso dizer que não existirá uma fruta tão boa quanto aquela que eu comi. Agradeci à mãe natureza, pela oportunidade de consumir os frutos sagrados que ela oferecia de graça. Percebi que a felicidade do ser humano está nas pequenas coisas, e que muitas vezes buscamos algo maior, além do nosso alcance, que não nos deixará tão felizes quanto uma simples fruta. A trilha sonora "florestal" fez eu me sentir um índio, um nativo que realmente havia descoberto todas essas coisas antes de mim.

A trip estava chegando ao fim… Gosto muito da trajetória final das trips, em que eu brinco com minha própria percepção. É nessa hora que os lados direito e esquerdo se misturam, em que o "em cima" vira o "embaixo", em que meus ouvidos trocam de lugar a todo instante. Foi nessa hora que eu percebi o surgimento da linguagem. SIM. Eu entendi. Palavras ditas por mim tomavam formas, tomavam um significado intrínseco. Eu entendi como nossos ancestrais, sob o efeito dos cogumelos, despertaram a consciência humana, despertaram a linguagem.

Também foi nessa hora que uma lista de coisas que eu preciso fazer na minha vida surgiu. 4 itens, simples, claros, necessários. Eu me dei conta nessa hora de que as pessoas, sim, AS PESSOAS são as peças de nossa vida que importam. É às pessoas que devemos amor, devemos dedicação. Eu me dei conta de quantas pessoas boas cruzaram meu caminho, e eu nem havia percebido.

Eram 3 horas da manhã, quando eu comecei a baixar. Brinquei mais um pouco com meus sentidos, e então finalmente dormi.

Acordei hoje com uma leve dor de cabeça, o que é normal.

Eu simplesmente tive que escrever esse relato, pois nunca havia presenciado uma trip igual à essa.

Bom final de semana a todos!!
 
Última edição por um moderador:
Show RainSpirit...

Não adianta, sempre quando pensamos "acho que nao vai bater" ou "acho que foi pouco" .... é nesse momento que vem fortes ensinamentos.

Abs!
 
obrigado, muito bom, me sinto feliz por você !
 
Quando eu parar de me arrepiar eu comento, rsrrsrs.


Parabéns, meu amigo. Você merece... qual era a strain?

Abraços!
 
Realizei a experiência completamente nu, deixando somente um calção para as idas ao banheiro. Mastiguei bem os cubensis, e continuei escutando os hinários.

(...)

Eu estava extremamente perceptivo aos sons. Eu escutava as gotas de água nos canos, eu escutava os vizinhos lavando os pratos. Eu escutava os gatos passeando pelos telhados do prédio. Eu achei muito interessante que, em determinado momento, o som rítmico de certas gotas que estavam pingando lá fora se tranformaram em palavras proferidas por alguma criatura de alma extraterrena. Aquela voz eletrizada me tentava falar alguma coisa que eu não pude compreender.

Senti muita vontade de escutar música. Então coloquei os fones de ouvido. Creio que essa foi uma das melhores decisões que eu tomei na trip. A música estava completamente interessante. Ela criou um ambiente ao meu redor (talvez por ser música ambiente), e eu estava completamente mergulhado nele.



Eu particularmente evito música durante a sessão, pois isso me desagrada profundamente por conta da hiperacusia. Prefiro estar atento aos sons externos e dos meus próprios pensamentos. Sons externos que indiquem a presença de outros humanos também me desagradam e soam como uma agressão...invasão à minha privacidade mental... Depois da sessão, aí sim uma caminhada e uma musiquinha no fone de ouvido podem ser até agradáveis, já sem os efeitos da psilocina.
 
Qual foi o paradoxo? O que eles estavam te ensinando?
Looping, linguagem, imagem, matéria, forma, um holograma coreografando algo mais sutil, que também é uma coreografia de algo mais sutil, que também é uma coreografia de algo mais sutil... infinitamente. Mundos sobre mundos, entre mundos, intra mundos.
 
Eu não sou de relatar experiências, simplesmente porque eu possuo extrema dificuldade em passar para palavras o que eu visualizo ou aprendo quando estou sob o efeito da medicina sagrada.

Mas a trip do dia 19 de Junho de 2013 exige um relato, mesmo que ele não seja publicado. O que se passou nessa noite foi algo além de qualquer experiência que eu já tenha tido.

Ingeri 3 gramas de cubensis secos por volta das 22:30 - 23:00 da noite. Antes de ingerir é claro, limpei o quarto, troquei a cama, tomei banho, concentrei as energias na experiência, pedi que o espírito do cogumelo me guiasse e agradeci pela oportunidade. Coloquei hinários para a clareza do pensamento. Estava um pouco preocupado pois eu havia ingerido um pouco de álcool em um churrasco na universidade.

Realizei a experiência completamente nu, deixando somente um calção para as idas ao banheiro. Mastiguei bem os cubensis, e continuei escutando os hinários.

A trip estava chegando. A música começou a ficar desagradável, então eu retirei a mesma e me deitei, aguardando os efeitos. Deixei a luz ligada para que eu pudesse acompanhar o início da viajem. Eu sempre deixo a luz desligada no início das trips, mas isso estava me deixando desconfortável dessa vez. Fiquei em um estado de espera, um tanto ansioso. Os efeitos começaram. Uma leve fraqueza nos músculos, confusão de palavras e pensamentos. A sensação de ser empurrado idefinidamente havia começado, e eu fiz alguns vídeos para assistir após a trip. Eu havia desligado todos os aparelhos eletrônicos, mas eu estava em uma euforia de registrar o início da trip, então religuei o celular.

Após algumas gravações, eu olhei para o relógio, e percebi que já haviam passado duas horas. Fiquei um tanto assustado, pois imaginei que no máximo 10 minutos tinham corrido. Então desliguei o celular e a luz, e deitei. Eu já havia preparado um set de músicas para a trip, e o fone de ouvido estava ao lado da cama.

Então eu mergulhei. Parei de acompanhar o tempo… Eu pensava: somente esses efeitos? Não estou tendo a presença de visuais, como eu geralmente tinha. Pensei: creio que a dosagem de 3 gramas não é suficiente para mim. Mas então eu comecei a prestar atenção no ambiente ao meu redor. Eu estava extremamente perceptivo aos sons. Eu escutava as gotas de água nos canos, eu escutava os vizinhos lavando os pratos. Eu escutava os gatos passeando pelos telhados do prédio. Eu achei muito interessante que, em determinado momento, o som rítmico de certas gotas que estavam pingando lá fora se tranformaram em palavras proferidas por alguma criatura de alma extraterrena. Aquela voz eletrizada me tentava falar alguma coisa que eu não pude compreender.

Senti muita vontade de escutar música. Então coloquei os fones de ouvido. Creio que essa foi uma das melhores decisões que eu tomei na trip. A música estava completamente interessante. Ela criou um ambiente ao meu redor (talvez por ser música ambiente), e eu estava completamente mergulhado nele.

Então, aconteceu o epicentro da viajem. A música "To fragile to walk on", do Biosphere, começou a tocar. Você pode escutar a mesma aqui. Os cogumelos estavam tentando me ensinar alguma coisa, e eu comecei a prestar atenção. Eu tenho a mania de querer registrar tudo em minha vida. Uma música nova que eu descubro, por exemplo. Em vez de realmente aproveitar a mesma, eu busco incansavelmente guardar o nome dela, baixar e fazer uma lista. Um lugar novo que eu visito, eu preciso escrever que eu estou visitando, eu preciso tirar fotos. Isso faz com que eu não consiga nem registrar, nem aproveitar o momento adequadamente.

Então surge um nó, um vértice do pensamento humano. Um PARADOXO.

Eu estava aproveitando a trip, deslizando através daquela música. Estava bom demais, é impossível descrever em um estado ordinário de consciência. Mas os cogumelos estavam tentando me ensinar uma coisa, ao mesmo tempo. Então, deu-se o nó: O que os cogumelos estavam me ensinando, e me mostrando que era errado, eles mesmos estavam causando. Sim, é MUITO complicado de entender, eu ainda estou tentando transcrever para palavras a compreensão que eu tive. O paradoxo ocorreu quando os cogumelos estavam me ensinando algo errado que eles mesmos estavam fazendo. Eu não estava conseguindo aproveitar a música completamente porque eu estava focado em escutar o que os cogumelos estavam falando. Esse pensamento paradoxal se transformou em um vértice visual, um fractal com um ponto central, que estava dançando em loop indefinidamente. A música que eu estava escutando tem uma repetição sonora constante, o que causou uma sinestesia fortíssima. Eu estava vendo o pensamento, eu estava escutando o que eu via, eu estava entendendo o som através da visão.

Foi incrível. Eu consegui sentir, ver em forma de imagens os pensamentos paradoxais. Essa trip foi extremamente sinestésica, eu vi diversas vezes o meu próprio pensamento, em forma de fractais que se moldavam exatamente na forma que o pensamento ocorria.

Precisei ir ao banheiro. Então, a trip se transformou completamente. Eu nunca havia presenciado uma trip "para fora". Eu sempre nadei nos mares, na "Terra Incognita" do meu próprio eu. Quando eu ia ao banheiro em outras trips, era como se eu estivesse muito tonto, sem conseguir enxergar direito. Mas dessa vez foi diferente. Eu não estava mais aqui. Colocar o calção foi uma tarefa complicada, ele estava do tamanho do quarto. Depois que eu consegui realizar essa complicada tarefa, abri a porta. Tudo havia se transformado… Eu não estava mais aqui, eu estava em um lugar muito antigo. Eu estava em uma caverna, em um quarto dos anciões mágicos. A iluminação me deixou em um estado de miração eterno… minha imagem distorcida no espelho brincava enquanto eu a observava. Ficar de pé dava um prazer imenso… O corpo dançava sem se mexer, cristais brincalhões me contavam histórias. Tudo isso embalado pelas músicas, que ajudaram muito a criar o setting.

Voltei para o quarto. Me deu fome. Então eu fui para a geladeira, e peguei um melão. Eu só posso dizer que não existirá uma fruta tão boa quanto aquela que eu comi. Agradeci à mãe natureza, pela oportunidade de consumir os frutos sagrados que ela oferecia de graça. Percebi que a felicidade do ser humano está nas pequenas coisas, e que muitas vezes buscamos algo maior, além do nosso alcance, que não nos deixará tão felizes quanto uma simples fruta. A trilha sonora "florestal" fez eu me sentir um índio, um nativo que realmente havia descoberto todas essas coisas antes de mim.

A trip estava chegando ao fim… Gosto muito da trajetória final das trips, em que eu brinco com minha própria percepção. É nessa hora que os lados direito e esquerdo se misturam, em que o "em cima" vira o "embaixo", em que meus ouvidos trocam de lugar a todo instante. Foi nessa hora que eu percebi o surgimento da linguagem. SIM. Eu entendi. Palavras ditas por mim tomavam formas, tomavam um significado intrínseco. Eu entendi como nossos ancestrais, sob o efeito dos cogumelos, despertaram a consciência humana, despertaram a linguagem.

Também foi nessa hora que uma lista de coisas que eu preciso fazer na minha vida surgiu. 4 itens, simples, claros, necessários. Eu me dei conta nessa hora de que as pessoas, sim, AS PESSOAS são as peças de nossa vida que importam. É às pessoas que devemos amor, devemos dedicação. Eu me dei conta de quantas pessoas boas cruzaram meu caminho, e eu nem havia percebido.

Eram 3 horas da manhã, quando eu comecei a baixar. Brinquei mais um pouco com meus sentidos, e então finalmente dormi.

Acordei hoje com uma leve dor de cabeça, o que é normal.

Eu simplesmente tive que escrever esse relato, pois nunca havia presenciado uma trip igual à essa.

Bom final de semana a todos!!


Eu tive uma experiência muito parecida com a sua, ingeri 3g....
Porém a minha foi pela tarde....

Voces costumam consagrar em qual turno do dia? Digo, manhã,tarde ou anoite?
 
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