- 14/04/2015
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As postagens abaixo dos queridos membros @Maicon Silva e @Texugo em um dos relatos do fórum (Primeira experiência com Psilocybe Cubensis 3g) são perfeitas para contextualizar o debate que aqui desejo iniciar.
Sobre sua primeira experiência, @Maicon Silva nos relata:
E a resposta do @Texugo, que inicia a dialética aqui buscada:
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Eis então a pergunta desse tópico:
E aí, o que você pensa, amigo cogumeleiro do Teo???
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Posso lançar logo como penso...
Acredito que a questão aqui é de liberdade, dentro de como Jean-Paul Sartre conclui ao fim de sua vida (livros da série "Os Caminhos da Liberdade"): liberdade é aquilo que fazemos com o que nos é feito. Ou em citações "Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”; ou ainda, "o importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós".
Não proponho adotar o existencialismo (até porque sou socrático) ou qualquer corrente específica (como verão abaixo), mas usar esse pensamento acima como um caminho inicial para dizer que de um lado somos moldados pelo mundo, até certo ponto em que, a depender das condições de vida, podemos ver e notar o que acontece a nós, e então seremos aptos a modificar o comportamento que antes era condicionado - e somente a partir desse momento, sim, podemos ser responsáveis se corrompemos ou se tornamos o mundo um lugar com mais empatia e amor. Obter esse conhecimento com potencial libertador, em termos agora socráticos (o conhecimento gera a conduta focada no bem de todos) é o que caracteriza a possibilidade de liberdade, de ação ou conduta feita por vontade.
A cada época e local diferentes no coletivo, esse conhecimento libertador pode ser uma ou outra coisa. No individual, na mesma época e local, esse conhecimento libertador pode ser uma ou outra coisa para pessoas diferentes.
Pra mim, nas relações sociais amplas, todo caminho que leva ao Bem Comum (conforme Sócrates), em seu conceito mais bem desenvolvido, como o "conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da Personalidade Humana e sua sociedade" (Papa João XXIII), é o que deve ser buscado socialmente.
Já dentro das relações inter-individuais, são libertadoras e devem ser buscadas as informações e experiências que tendam à criação de empatia e à realização do amor, como exposto por Jesus ("fazei ao próximo o que gostaria que fosse feito a ti") e por tantos outros líderes de religiões e filósofos; pois tornam possível a libertação de condutas que causem a destruição das outras pessoas, e de si mesmo.
Se eximem dessa possibilidade de liberdade apenas o psicopata, o sociopata e o perverso (este último termo no sentido estrito de Freud). Doenças ou condições mentais que impossibilitam a compreensão ou a opção pelas condutas empáticas.
...
Então, eu responderia às duas perguntas em três momentos, para ao fim explicar que meu "porquê" até agora é pra dizer que "não importa":
Primeiro, o mundo nos corrompe, a depender da nossa formação e genética, em maior ou menor grau. Podemos crescer já com uma formação empática sólida, ou o oposto.
Depois, até o começo da maturidade, nós distribuímos ao mundo aquilo que nos formou. Podemos distribuir mais amor ou mais destruição na nossa vida e na dos outros. Muitas vezes há destruição em "nome do amor" ou "em nome de Deus", quando o foco deixa de ser o Humano (Empatia e Ética) e passa a ser uma Divindade (Imposição e Moralismo). Uma perigosa armadilha em que a vida alheia é reduzida às condições de uma religião para poder existir; então não há empatia, e daí se tem um caminho temerário a ser seguido.
As exceções são a legítima defesa perante uma agressão injusta (art. 25 do Código Penal), bem como o estado de necessidade (art. 24 CP) - situações que mantêm o foco no Humano e que inclusive integram o Direito Penal para que um "crime" "deixe de ser" "crime" (art. 23, I e II CP), desde que não haja excesso (art. 23, parágrafo único). Apesar do Direito Penal tratar disso em condutas individuais, também se aplica moralmente a condutas coletivas.
Por fim, podemos mudar nossas condutas para deixarmos de corromper o mundo (ódio) e então o reconstruir (amor), quando saímos da ignorância e podemos fazer a escolha de fazer uma coisa ou outra, quando possível e dentro dos nossos limites humanos. Se antes dessa consciência sobre o próprio ódio fizemos o mal, fomos apenas ferramentas automatizadas, des-humanos. Não há culpa. Após a consciência, como diz o Espiritismo, aí sim surge o karma, a responsabilidade e tudo mais.
E é por isso que me reconecto ao começo da minha resposta com a citação de Sartre, mas nos termos de ética de Sócrates como a conduta do dia a dia perante si e perante os outros:
Não importa eticamente ou pragmaticamente se o mundo nos corrompe ou se nós corrompemos o mundo. Importa o que nós fazemos com a corrupção de que fomos vítimas e com a corrupção que já causamos, se nos perdoamos e se assumimos a responsabilidades de mudar ou não. Se preferimos seguir com o ciclo de ódio, ou se buscamos interromper esse ciclo para abrir espaço ao amor na Terra.
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Sei que não era o foco deles quando falaram desse tema no relato, mas abro aqui esse debate filosófico e ético.
Somos ao mesmo tempo vítimas e algozes, feridos e médicos de nós e dos demais. Só nos resta saber qual caminho escolhemos seguir. E ainda que erremos, que seja de boa-fé em fazer do mundo um lugar melhor, com empatia/amor.
Sobre sua primeira experiência, @Maicon Silva nos relata:
Eu me sentia muito puro, sem nenhuma malícia, queria o bem de todos nesse momento, pensei nas pessoas que me fizeram mal, não sentia mais revolta, entendi que tudo o que me fizeram não tinha um culpado, entendi que a forma como vivemos resultava em dor, que o mundo nos corrompeu.
E a resposta do @Texugo, que inicia a dialética aqui buscada:
Eu sinto falta dessas trips que trazem a empatia e sensação de união.
Grande parte das primeiras experiências pareciam ter essa conexão.
Depois de uma trip "diferente" eu troquei minha conclusão:
Hoje, minha opinião é que nós quem corrompemos o mundo.
A ganância, violência, inveja, egocentrismo, narcisimo e luxúria são inerentes à história humana.
O mundo é só um reflexo do conjunto de indivíduos que habitam nele.
Enfim, belíssima primeira trip.
Para mim, nas primeiras trips é como se estivesse vendo o mundo com olhos de recém-nascido.
É maravilhoso
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Eis então a pergunta desse tópico:
O mundo nos corrompe, ou nós somos corrompidos pelo mundo? Por quê?
E aí, o que você pensa, amigo cogumeleiro do Teo???
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Posso lançar logo como penso...
Acredito que a questão aqui é de liberdade, dentro de como Jean-Paul Sartre conclui ao fim de sua vida (livros da série "Os Caminhos da Liberdade"): liberdade é aquilo que fazemos com o que nos é feito. Ou em citações "Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”; ou ainda, "o importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós".
Não proponho adotar o existencialismo (até porque sou socrático) ou qualquer corrente específica (como verão abaixo), mas usar esse pensamento acima como um caminho inicial para dizer que de um lado somos moldados pelo mundo, até certo ponto em que, a depender das condições de vida, podemos ver e notar o que acontece a nós, e então seremos aptos a modificar o comportamento que antes era condicionado - e somente a partir desse momento, sim, podemos ser responsáveis se corrompemos ou se tornamos o mundo um lugar com mais empatia e amor. Obter esse conhecimento com potencial libertador, em termos agora socráticos (o conhecimento gera a conduta focada no bem de todos) é o que caracteriza a possibilidade de liberdade, de ação ou conduta feita por vontade.
A cada época e local diferentes no coletivo, esse conhecimento libertador pode ser uma ou outra coisa. No individual, na mesma época e local, esse conhecimento libertador pode ser uma ou outra coisa para pessoas diferentes.
Pra mim, nas relações sociais amplas, todo caminho que leva ao Bem Comum (conforme Sócrates), em seu conceito mais bem desenvolvido, como o "conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da Personalidade Humana e sua sociedade" (Papa João XXIII), é o que deve ser buscado socialmente.
Já dentro das relações inter-individuais, são libertadoras e devem ser buscadas as informações e experiências que tendam à criação de empatia e à realização do amor, como exposto por Jesus ("fazei ao próximo o que gostaria que fosse feito a ti") e por tantos outros líderes de religiões e filósofos; pois tornam possível a libertação de condutas que causem a destruição das outras pessoas, e de si mesmo.
Se eximem dessa possibilidade de liberdade apenas o psicopata, o sociopata e o perverso (este último termo no sentido estrito de Freud). Doenças ou condições mentais que impossibilitam a compreensão ou a opção pelas condutas empáticas.
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Então, eu responderia às duas perguntas em três momentos, para ao fim explicar que meu "porquê" até agora é pra dizer que "não importa":
Primeiro, o mundo nos corrompe, a depender da nossa formação e genética, em maior ou menor grau. Podemos crescer já com uma formação empática sólida, ou o oposto.
Depois, até o começo da maturidade, nós distribuímos ao mundo aquilo que nos formou. Podemos distribuir mais amor ou mais destruição na nossa vida e na dos outros. Muitas vezes há destruição em "nome do amor" ou "em nome de Deus", quando o foco deixa de ser o Humano (Empatia e Ética) e passa a ser uma Divindade (Imposição e Moralismo). Uma perigosa armadilha em que a vida alheia é reduzida às condições de uma religião para poder existir; então não há empatia, e daí se tem um caminho temerário a ser seguido.
As exceções são a legítima defesa perante uma agressão injusta (art. 25 do Código Penal), bem como o estado de necessidade (art. 24 CP) - situações que mantêm o foco no Humano e que inclusive integram o Direito Penal para que um "crime" "deixe de ser" "crime" (art. 23, I e II CP), desde que não haja excesso (art. 23, parágrafo único). Apesar do Direito Penal tratar disso em condutas individuais, também se aplica moralmente a condutas coletivas.
Por fim, podemos mudar nossas condutas para deixarmos de corromper o mundo (ódio) e então o reconstruir (amor), quando saímos da ignorância e podemos fazer a escolha de fazer uma coisa ou outra, quando possível e dentro dos nossos limites humanos. Se antes dessa consciência sobre o próprio ódio fizemos o mal, fomos apenas ferramentas automatizadas, des-humanos. Não há culpa. Após a consciência, como diz o Espiritismo, aí sim surge o karma, a responsabilidade e tudo mais.
E é por isso que me reconecto ao começo da minha resposta com a citação de Sartre, mas nos termos de ética de Sócrates como a conduta do dia a dia perante si e perante os outros:
Não importa eticamente ou pragmaticamente se o mundo nos corrompe ou se nós corrompemos o mundo. Importa o que nós fazemos com a corrupção de que fomos vítimas e com a corrupção que já causamos, se nos perdoamos e se assumimos a responsabilidades de mudar ou não. Se preferimos seguir com o ciclo de ódio, ou se buscamos interromper esse ciclo para abrir espaço ao amor na Terra.
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Sei que não era o foco deles quando falaram desse tema no relato, mas abro aqui esse debate filosófico e ético.
Somos ao mesmo tempo vítimas e algozes, feridos e médicos de nós e dos demais. Só nos resta saber qual caminho escolhemos seguir. E ainda que erremos, que seja de boa-fé em fazer do mundo um lugar melhor, com empatia/amor.
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