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Nascidos Naturalmente para Matar

Clorofila

Cogumelo maduro
Membro Ativo
24/01/2007
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Nascidos Naturalmente para Matar
por Sky Hiatt

Dizem que estamos vivendo na 6ª maior extinção em massa de espécies não-humanas aqui na Terra. Assim como qualquer calamidade muda de curso a influência do poder, também significa que entramos na 6ª grande era dos micróbios. Condições decisivas para uma evolução lenta, de espécies relativamente novas, bem como a nossa própria, provarão ser benéficas, e até mesmo ideais, para a rápida mutação de espécies antigas como vírus e batérias. Esses são os primeiros e mais antigos seres vivos, escondidos em fóssils pré-cambrianos de mais de 3.2 bilhões de anos. Antes deles, não havia nada. Por bilhões de anos depois deles, não havia nada mais. Eles prepararam a Terra para toda a vida que estaria por vir, mas temos o costume de pensar neles como coisas elementares, tristemente negadas à dignidade da consciência. Mas quando os cálculos da cognição desaparecem, e o corpo toma a sua forma mais vulnerável, as leias da ordem orgânica se enfraquecem. Na verdade, para as bactérias e os vírus, a maioria das leis da biologia existem apenas para serem quebradas.

"A guerra contra as doenças infecciosas foi vencida," proclamou o chefe de Saúde Pública dos EUA em 1969. Isso foi antes das estratégias passivo-agressivas de micróbios tratados com remédios-milagrosos e a utopia a que eles aludiam. Os profissionais médicos também preveram o fim de doenças específicas, como a Tuberculose, que matou um milhão de pessoas em 1908 e atualmente é a segunda causa de morte em todo o mundo, matando três milhões anualmente. Nos EUA, as infecções de tuberculose aumentaram 20% em seis anos entre 1985 e 1991. A guerra não foi vencida. Quando a penicilina salvou pela primeira vez uma vida humana em 1942, um médico em plantão comentou depois, "Nada em toda a minha experiência se compara a isso". Uma outra testemunha ficou igualmente impressionada. "Era uma verdade tão gratificante que parecia inacreditável." A era dos antibióticos havia começado. Em Why We Get Sick ("Porque nós adoecemos"), os autores Randolph Ness e George Williams se referiram aos antibióticos como "Talvez o maior avanço médico do século e um dos maiores de todo nosso tempo..." A morte havia sido vencida. A Ciência reinava. Em três anos, as resistências apareceram. Os micróbios rapidamente aprenderam a como neutralizar os novos tratamentos com remédios. Em 1998, pela primeira vez em 56 anos, um paciente de um hospital morreu de uma infecção incurável por staphylococcus. Atualmente, 90% das infecções hospitalares por staphylococcus são resistentes a todos os antibióticos com exceção de um - vancomicina - também conhecida como o remédio de último recurso. A era de ouro acabou.

Enterococcus resistente à vancomicina. Staphylococcus aureus com resistência intermediária à vancomicina (VISA). O fenômeno foi institucionalizado. Novas áreas de especialização estão aparecendo. Reuniões de cúpula são organizadas para focalizar em um problema que poderia nos levar à "era pós-antibiótico." Para evitar uma crise, eles terão que alterar o curso da realidade contemporânea. Há muito tempo, desde 1996, a Organização Mundial de Saúde emitiu avisos de "uma grande praga para o próximo século." Sinceramente, a palavra praga já soa como importante para mim. A OMS reduziu os culpados microbiais à tuberculose, cólera, AIDS, difteria, e poliomielite. Se a crise não puder ser evitada, as doenças contagiosas irão continuar a se espalhar, pandemias irão surgir, e todo procedimento cirúrgico será tão perigoso como era em 1920 e não se ouvirá mais falar em cirurgias eletivas. Em The Dancing Matrix: Voyages Along the Viral Frontier (A Matriz Dançante: Viagens pela Fronteira Viral), Robin Henig resume, "A única e maior ameaça para a contínua dominação do homem no planeta, são os vírus.”

Apesar de sua notorieadade, os vírus não possuem inventários taxonômicos. Eles não estão exatamente vivos, são somente sequências de proteínas elementares que necessitam de uma célula hospedeira para se duplicarem. Talvez seja por isso que eles não conhecem o medo, não se cansam ou se confundem, ou se enfurecem ou ficam impacientes. Talvez seja por isso que eles não são programados para desisitir, ceder ou se render. De acordo com o pesquisador Glenn Morris, "Os vírus passam cada segundo de suas vidas tentando se proteger e se duplicar." Não existe uma hibernação. Suas primas, as bactérias, podem existir respirando sulfeto, oxigênio, metano, amônia, monóxido de carbono, e nitrogênio inerte. Elas podem viver confortavelmente em água fervente, ácido, gelo, e na aridez do deserto, suspendendo suas funções vitais e esperando por uma gota de chuva.

As coisas eram diferentes na Terra quando os vírus e as bactérias apareceram. Os tempos eram difíceis. O jovem planeta era um ambiente não-receptivo e letal, possivelmente satisfeito em arder lentamente para sempre como uma rocha derretida sem vida. Não era necessariamente garantido que espécies apareceriam, ou sobreviveriam. Qualquer forma de vida, naquele mundo, teria que ser resistente de uma forma inconcebível. Elas teriam que ser praticamente indestrutíveis.

Comparado ao períoro Pré-Cambriano, a civilização tem sido uma abundância para essas formas de vida. Tudo o que fazemos nos ameaça e as favorece. O aquecimento global, o colonialismo, mudança crônica, poluição, cidades, a diminuição da camada de ozônio, refugiados, pobreza, prostituição, riqueza, guerra, represas, sem-tetos, prisões, campos de prisioneiros, vício em drogas, agricultura animal, lixões, e irrigação. "A escala de doenças associadas à irrigação é massiva," escreveu Sandra Postel em The Last Oasis (O Último Oásis). Sistemas de água quente, umidificadores, ar-condicionado. A Doença dos Legionários iniciou-se em um centro de conferências no período antes de Cristo e agora é uma ameaça mundial. Os micróbios preferem as piscinas mornas artificiais da modernidade. Nós agora sabemos que as bactérias do solo se dão bem em equipamentos refrigerados de alta tecnologia. Viagens e comércio internacional? Paul Reston escreve sobre isso em The Hot Zone (A Zona Quente). Um "vírus da floresta amazônica está agora a 24 horas de distância de qualquer cidade na Terra-Paris, Roma, Nova Iorque - para todo ludar que os aviões voarem." Os bacteriologistas chamam isso de tráfico viral pela estrada viral. Laurie Garrett chama isso de a globalização dos micróbios. Os pesquisadores e os médicos que se reúnem para avaliarem as intensificantes crises de saúde, terão que pensar sobre todas essas coisas. Talvez eventualmente eles se darão conta que a civilização é uma máquina de doenças.

O nosso destino imperialista tem liberado bactérias, das quais antes eram contidas por imunidades adquiridas de ecossistemas. Houve uma época em que as áreas selvagens ofereciam proteção para todos. Em tempos estáveis, uma espécie se tornava extinta e uma aparecia, em média, a cada milhão de anos. Durante esses tempos, as espécies em cada biorregião habituavam-se umas com as outras. A compatibilidade era a primeira lei e ela nunca foi rescindida. Agentes infecciosos e hospedeiros já viveram juntos. A harmonia auto-imune prevalecia. Se qualquer coisa se movia para fora do aglomerado ecológico protetor, ela arriscava a sua morte. Se novos organismos entravam, a maioria era logo exterminada. Para cada 1000 formas de vida que aparecia na Terra apenas uma sobrevivia. A estabilidade, a continuidade, e a permanência sempre têm sido as leis de se manter vivo. É claro, há muito nós suspeitamos que os vírus, bactérias e germes prosperariam em um mundo pós-apocalíptico. Mas, por acaso nós os vimos como o próprio apocalipse?. Se uma forma de AIDS transmissível pelo ar aparecer, de acordo com Arno Karlen, nós provavelmente estaremos condenados. Tudo o que o vírus tem que fazer é migrar para os pulmões, onde suas propriedades mortais possam ser espalhadas simplesmente respirando em alguém. Não existem leis de biologia que impeçam isso de acontecer.

Certamente a civilização existiu muito antes dos antibióticos e muitos conseguiram sobreviver aos tempos modernos. Os que falharam, falharam por diferentes razões, isolamento relativo em suas biorregiões. Foi preciso que a tecnologia quebrasse os limites protetores, para que cada ameaça a alguém se tornasse uma ameaça a todos. Antes do turismo, dos barcos veleiros e dos aviões, se as culturas passadas se encontravam com agentes infecciosos, os danos seriam concentrados em um determinado local. Já que todas as sociedades atuais estão todas conectadas, a civilização como um todo está ameaçada. A vila global é hostil e inflexível. Os erros são "ampliados mundialmente." Enquanto os humanos se concentram em guerras pelo petróleo, sistemas climáticos alterados, rãs-mutantes, e fome mundial, os micróbios perseveram em sua inexorável conquista do planeta.

Os mosquitos vetores da Febre Amarela geralmente vivem em florestas e nas copas das árvores se alimentando de sangue de macacos e pequenos animais. Quando eles cortam as árvores, os mosquitos saem da floresta. Agora eles compartilham seus micróbios com os humanos. Ao longo do caminho eles desenvolveram resistências ao DDT. Se você queima as florestas de Bornéo, os morcegos frugívoros podem se mover para fazendas próximas e passar agentes infecciosos para os animais das fazendas, e estes podem passá-los para os fazendeiros. Se você mata todas as gazelas, a mosca tsé-tsé irá para outro lugar. Se você cria subdiviões nas florestas orientais dos EUA, os cervos serão pressionados a ficarem mais próximos de seus quintais e de suas casas. Os carrapatos dos cervos podem ser transferidos para os animais de estimação, que poderão passar a doença de Lyma para os humanos. Quanto mais os humanos aumentam a população, mais os micróbios irão se concentrar em nós. Nós estamos acabando com as populações de suas vítimas originais, enquanto oferecemos hospedeiros humanos com sistemas imunológicos virgens para eles se alimentarem. Atualmente, existem 5.000 frascos de vírus exóticos da floresta amazônica liofilizados em um laboratório em Yale esperando para que alguém dê uma olhada neles. Isso é apenas uma fração das populações de bactérias e vírus que estão em suas zonas de tranquilidade esperando que nós esbarremos neles. Leve em consideração a compulção do cuidado em que os cientistas tomam para se assegurarem que nenhuma bactéria alienígena seja traga de volta à Terra das missões espaciais, e as bactérias de origem terrena estimadas em duas milhões ainda esperando para serem encontradas, estudadas e caracterizadas. O perigo potencialmente catastrófico estava aqui o tempo todo. "Se nós as descobríssemos em Marte," escreveram Sagan e Margulis, "elas receberiam a devida atenção." A cada vez que nós entramos em uma floresta virgem para destruí-la ou para explorá-la, nós estamos pisando de um módulo lunar em um terreno alienígena.

As florestas podem permitir sua destruição passivamente, os oceanos morrem em silêncio, e os mamíferos, peixes, e aves caminham para a extinção. As bactérias não são assim. Elas redefinem o paradigma da vida em máximas codificadas nas combinações químicas e nas variações genéticas aleatórias de suas próprias estruturas. Nós seguimos suas regras por longas eras, do Australopiteco à idade do ferro. Mas, a era atual nos dissuadiu. Tanto que, o final da era do combustível fóssil, uma nova era glacial causada pelo aquecimento global, a superpopulação, a as guerras pela água - tudo isso é uma história do futuro distante. De acordo com as criaturas vivas mais antigas da Terra, a civilização nunca vai chegar tão longe.

O que os cientistas sabem agora sobre as bactérias é que, você pode matá-las, mas você nunca conseguirá matar todas elas. Entre as milhões encontradas proliferando na cabeça de um alfinete, a variedade genética existe naturalmente. Os antibióticos selecionam aquelas poucas ao matar todo o resto. Novos antibióticos têm de ser sintetizados para as sobreviventes, e por aí vai. Por agora, bactérias com resistência múltipla a doenças em todo o mundo estão retornando e doenças do Velho Mundo estão aumentando. As doenças de ontem? Exceto pela varíola, não existe tal coisa. A maioria está retornando. Cólera - existem agora 139 variedades registradas. Sarampo, gonorréia, peste bubônica, tifo, tuberculose, malária, difteria, febre amarela, dengue, escarlatina - a variedade antiga foi eliminada, mas agora uma versão nova e mais forte já retornou e matou. Febre reumática, disenteria. A lepra evolui em novas variedades intratáveis. A sífilis infecta mais pessoas hoje do que na década de 1950. Doenças emergentes também estão aumentando: o vírus Marburg, Ebola, AIDS, HSE, doença de Kuru, doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), febre de Lassa, febre do Nilo Ocidental. Doenças debilitantes, doenças pulmonares. Em Health, Illness and the Social Body (Saúde, Doenças, e o Corpo Social), Fruend e McGuire escreveram "As doenças crônicas e degenetarivas aumentaram quando populações mudaram de coletoras-caçadoras para a agricultura e para a comunidade industrial." Isso funciona bem para os farmacêuticos, que preferem fabricar remédios que serão tomados por quarenta anos, ao invés daqueles que serão utilizados episodicamente, raramente ou nunca.

Em The Future in Plain Sight (O Futuro a Plena Vista), Eugene Linden faz referência às cidades como "Os viveiros ideais para incubar formas mais mortais de doenças." Elas são as zonas das pragas contemporâneas. Os primeiros agricultores fixos do mundo, e posteriormente os colonialistas, removeram populações inteiras de suas terras ancestrais, convertendo essas terras em crescentes centros urbanos. Arno Karlen chama as cidades de "super rebanhos de humanos", onde patogenias podem misturar-se e cruzar-se livremente. A síndrome dos edifícios doentes (SBS) é um problema moderno. Compostos sintéticos filtram o 'ar enlatado' recirculado de escritórios, que são isolados da atmosfera exterior. Os germes se deleitam neles. A cidade interior é um anti-oásis do terceiro mundo, onde surtos de tuberculose com resistência múltipla a doenças são difícies de erradicar. Os sem-teto geralmente não conseguem completar os longos tratamentos necessários. As cidades romperam antigos parâmetros de saúde e deram origem às 'doenças coletivas', aquelas infecções inesperadas que necessitam constantemente de novas vítimas para se sustentarem. Esse é o "efeito limiar" pelo qual populações cada vez mais urbanizadas atingem níveis críticos, permitindo que novas infecções se espalhem continuamente. Sarampo, caxumba, resfriado, gripe, varíola - todas precisam de vastas populações, e suprimentos intermináveis de novas vítimas desprovidas de tolerâncias ou imunidades, para sustentá-las. Todos os organismos em um determinado aglomerado teriam ou se extinguido ou desenvolvido imunidades. Em tempos primitivos, essas doenças e as epidemias que elas promoviam eram impossibilidades.

As ameaças remanescentes da modernidade? O aquecimento global envia vetores de doenças migrando para o norte que prosperam nos climas mais quentes reminescentes da antiga Terra. O desaparecimento da camada de ozônio pode ser irrelevante para as bactérias, já que foram elas que criaram o oxigênio da Terra, o qual o Sol converteu para ozônio, mas não antes dos micróbios tornarem-se resistentes aos efeitos da radiação. A pobreza ofereçe aos micróbios milhões de hospedeiros vulneráveis e vítimas indefesas. Enquanto o número de pessoas pobres aumenta em todo o mundo, doenças se espalham entre eles. Refugiados, atualmente chegando aos 20 milhões globalmente, são super-rebanhos de humanos angustiados que espalham doenças entre si. A AIDS forma um trio mortal com a sífilis e a tuberculose. A carência de imunidades são santuários ideais onde velhas doenças renascem como adversários inconquistáveis, indiferentes aos nossos remédios e às nossas vastas tecnologias. O vício em drogas introduz agulhas reutilizadas - vetores de doença perfeitos para mosquitos, carrapatos, água contaminada.

A guerra é uma zona de nirvana microbial. Elementos favoráveis estão à mão simultaneamente: sujeira, feridas abertas, estrangeiros sendo jogados juntos em terras desconhecidas. "De cada cinco fatalidades na 2ª guerra mundial, quatro foram de infecções, e não dos ferimentos", escreveram os Zimmermans em Killer Germs (Germes Assassinos). Na 1ª guerra mundial, só da doença tifo morreram três milhões. A gripe aviária moveu-se recentemente para a África, Grécia, Itália, e Bulgária. As aves irão voar. Os epidemiologistas estão traçando as rotas migratórias. A gripe aviária também entrou no Iraque. Talvez o cheiro de explosivos empurrará a gripe para uma mutação final permitindo que ela se espalhe contagiosamente de humano a humano. Então, tropas americanas retornando para casa poderão espalhar efetivamente a doença entre nós. Neste caso, poderia haver uma reavaliação de suas missões por lá.

Enquanto a civilização avançava, até mesmo o alimento serviu como um conveniente vetor de doenças. Os primeiros hominídeos comiam principalmente alimentos vegetais, fato evidenciado pelos dentes molares e o longo intestino. Depois, os primeiros humanos começaram a procurar e a se alimentar de carne morta de outros animais. Depois, veio o status de caçador-coletor. E então, a agricultura baseada em animais. E finalmente, as fazendas industriais. Passando pelos primeiros estágios, os humanos avançaram para além dos trópicos contraindo novas doenças em troca das calorias para alimentar a expansão da população global. A criação de animais pressionou os humanos à uma associação mais próxima com outras espécies, estas agora domesticadas, acelerando a incidência de cruzamento de doenças. Nós agora sabemos que todas as doenças contagiosas chegam até nós pelos animais. Sessenta e cinco doenças vindo de cães - a cinomose é causada por um vírus que quando pulou para os humanos se tornou o sarampo. Trinta e cinco doenças de cavalos, incluindo a gripe comum. Quarenta e seis de carneiros e cabras. Cem de aves incluindo a gripe aviária de mutação rápida com uma taxa de fatalidade de 50% nos humanos até agora. A pandemia da gripe de 1918 só matava uma em cada mil pessoas. Milhões morreram. Sobre uma potencial pandemia moderna de gripe aviária, a autora Laurie Garrett diz que a única coisa que ela consegue pensar que seria pior, seria uma guerra nuclear. A cólera, a hantavirose, a tifo e várias pragas, vieram de roedores que seguiram os humanos aos seu santuário urbano. Existem agora 129 variedades da cólera registradas - o micróbio é um oportunista a espreita em águas contaminadas do terceiro mundo. Quarenta e duas doenças vindas de porcos. A lepra veio do curtimento de pele de búfalo. Dos macacos nós temos o Ebola, e o vírus Marburg - uma doença tão letal que os pesquisadores arriscam suas vidas estudando-a. Cinqüenta doenças do gado incluindo tuberculose e varíola - a mesma bactéria que a ciência afirma ter exterminado.

Nosso relacionamento com os animais moldou o mundo, quase prometendo que ele se tornaria civilizado. Com as doenças vindas da criação de animais, foi determinado que os europeus derrotassem os nativos do Novo Mundo. Caçadores-coletores indígenas tinham um relacionamento mais distante com animais, e portanto, menos doenças contagiosas para compartilhar e sem tolerância imune ao inventário microbial do conquistador. Os pioneiros talvez não precisaram realmente de outras armas. É dito que muitas vilas foram dizimadas antes mesmo dos conquistadores as alcançarem, enquanto os micróbios se espalhavam à frente mudando a história. Em Health and the Rise of Civilization (A Saúde e a Ascenção da da Civilização), Mark Nathan Cohen escreve, "A carne é a fonte mais perigosa de contaminação de origem alimentar." Não somente doenças históricas, mas também muitas doenças contagiosas emergentes estão chegando até nós por esse meio. É como se cada animal tivesse um reino nele mesmo - um universo de bactérias exóticas envoltas em pele. Os carnívoros desenvolveram tolerâncias aos reinos dos corpos de outros seres. Mas, para os humanos, os perigos de ter comido carne ajudaram a empurrar os humanos no nível atual de incompetência sócio-cultural.

Após ter dizimado populações indianas, a varíola se tornou a única doença que a ciência pode tomar crédito por ter exterminado. Versões de vacinas do vírus neutralizado conseguiram isso. As vacinas não são uma invenção do presente, mas estão por aqui desde a antiguidade. Naqueles dias, entretanto, os humanos eram naturalmente expostos à versões não-letais dos micróbios no cotidiano. Hoje, as vacinações - recentemente ligadas ao TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade) e ao autismo - são distribuídas em consultórios médicos criando uma dependência tão grande que, no caso de ocorrer uma indisponibilidade de vacinas, aqueles que nascerem após este período não estarão protegidos contra surtos futuros. Isso é importante porque, apesar deles terem exterminado a doença, a varíola não desapareceu. Reservas são mantidas em laboratórios na Rússia e nos EUA como uma salvaguarda para desenvolver vacinas contra um potencial bio-terrorismo. Algumas dessas amostras de alto risco já sumiram. E existem estimativas que pelo menos uma dúzia das chamadas "nações rebeldes" possuem estoques ilegais do vírus da varíola. Isso não é novidade. Os EUA usou o antrax como arma, e também uma forma do botulismo 10.000 vezes mais venenoso do que os gases nervosos. Eles iam utilizá-lo em Cuba, mas mudaram de idéia. 226 gramas poderiam ter exterminado toda a humanidade. Ela ainda está disponível na prateleira? Quem sabe? Historicamente, tratados de armas biológicas são quebrados por todos que os assinam.

Os trabalhadores da área concordam, "O potencial para o bio-terrorismo é sem limites". Em Our Final Hour (Nossa Hora Final), Martin Reese escreve, "O disastre poderia ser causado por alguém que é meramente incompetente em vez de maligno." Bio-terroristas em potencial já podem ter notado que as vacinações contra varíola acabaram nos EUA em 1972, já que, desde então, mais pessoas estavam morrendo da vacina do que do vírus. Então, se a varíola fosse ser usada como uma arma aqui, muitos americanos estariam vulneráveis. Talvez os terroristas estão apenas esperando a hora certa. Quanto mais esperarem, maior a porcentagem desprotegida da população.

Como vimos, existem limites cruciais para vacinas e antibióticos. As possibilidades de longevidade, no entanto, têm sem dúvida ganhado mais adeptos da civilização do que qualquer outra conquista de nossos tempos. Os tratamentos com remédios foram maximizadas, os doentes foram curados, doenças contagiosas subjugadas à submissão, a expectativa de vida elevou. Mas esses ganhos foram artificiais - uma anomalia insustentável do presente. Na verdade, recentemente foi relatado que pela primeira vez na história americana, a próxima geração terá uma expectativa de vida menor do que a atual (dependendo do acesso a tecnologias de prolongamento de vida).

Desestabilizar ecossistemas adjacentes para o benefício de uma espécie é déficit biocultural. Qualquer coisa que mereça aclamação não pode ser boa para uma espécie em detrimento de todo as outras. Eventualmente a dívida aumenta e seu império de dominação irá cair. Uma guerra em larga escala na Natureza não é o caminho para a saúde. Ganhos genuínos devem obedecer a ordem planetária.

“Até onde os registros indicam, nenhuma época na história gastou tanto dinheiro em saúde e curas como a atual. Nenhuma época sequer teve que gastar.” - Do Herb Growing for Health (Cultivo de Ervas para a Saúde), por Donald Law.

No século 21, todas as populações concentradas compartilham da mesma agulha, e são infectadas com a mesma doença. Elas compartilham um pacto de destinos similares - as injeções letais da modernidade. O comércio justo significa comercializar tudo. Nike, Pepsi, filmes, novas doenças, velhas doenças, tudo. As doenças antigas estão crescendo em todo lugar. Novas estão surgindo em todo lugar. A resistência a antibióticos está ocorrendo em todo lugar. As doenças contagiosas aumentaram 20% nos últimos 20 anos - não no terceiro mundo, mas nos EUA. Porque os micróbios não dominaram a Terra? Bem, você não tem prestado atenção?

A notícia ruim, é que nossas memórias genéticas foram apagadas. A caixa preta da civilização interrompeu os processos evolucionários de saúde com uma gama de armamentos médicos em que nós, mal conseguindo evoluir, enfraquecemos e atrofiamos. A saúde natural foi interrompida. Duros ganhos de nossa espécie foram apagados em uma grande área e nós regredimos para a vulnerabilidade imunológica. Nossos corpos podem identificar e atacar um milhão de proteínas estranhas. Mas somente se somos expostos a elas. A ciência não deixa isso acontecer. Agora nós temos "a Hipótese da Higiene", a teoria de que nossos sistemas imunológicos estão tão pouco utilizados que eles não conseguem responder efetivamente ao mundo em nossa volta. Ficamos por conta própria para encararmos o desafio de recapturar imunidades robustas e evoluídas e a dinâmica de saúde primordial. Nossos ancestrais já pagaram por tudo isso. Mas o elo foi quebrado.

O que está ocorrendo, é que as antigas doenças inicialmente decaíram pelo uso de antibióticos. Durante esse mesmo período, as 'doenças da civilização' surgiram: doenças cardíacas, câncer, diabetes, obesidade, etc. Então as doenças originais começaram a ressurgir, geralmente em formas mais perigosas. E agora novas doenças contagiosas, doenças emergentes, estão aparecendo, sobrepondo todo o resto. Esse é o caminho em que estamos. Mas a maioria dos pesquisadores continuam procurando pela cura infalível. Em alguns círculos, o otimismo persiste. Em seu livro recente Bioevolution (Bioevolução), Michael Fumento prevê que as realizações futuras da engenharia genética incluirão o fim da maioria das doenças, aumentará a expectativa de vida humana, maior rendimento de colheitas e fertilidade do solo, restauração do meio ambiente, o fim da subnutrição, e as doenças de plantas serão eliminadas. No livro The Next 50 Years (Os Próximos 50 Anos), John Brockman escreve "...é quase certo que nós poderemos produzir sistemas imunológicos artificiais que poderão reagir tanto a vírus vivos como a vírus de computador." A nanotecnologia irá "...fornecer habitats para nos proteger de nossas más ações ecológicas..." James Watson, famoso pela descoberta da dupla hélice do DNA disse uma vez, "Se os biólogos não brincassem de deus, quem iria?" Aparentemente ele tem seguidores: imortalistas, transhumanistas, crionicistas.

Poderíamos impedir as massas microbiais em seus caminhos? Bem, as leis da probabilidade não estão do nosso lado. Nós pusemos um homem na Lua. Desenvolvemos armas nucleares. Se nós pudéssemos impedir os micróbios, pareceria que, por agora, nós já teríamos conseguido. Não, esse mundo nunca será saudável. A civilização carece de qualidades inatas. Ela é estruturalmente defeituosa. Não importa o quão seguros nós nos sentimos na câmara antiséptica de isolamento do presente, não importa quantas tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas, eletrocardiogramas, ou drogas novas nós consumimos, isso não irá acontecer. "Nós estamos em uma guerra armada", escrevem os autores de The Killers Within (Os Assassinos Internos). "O desarmamento não é uma opção." Esse é um mundo no qual a estreptomicina (primeiro medicamento efetivo no tratamento da tuberculose) se tornou um nutriente para as bactérias que estamos em guerra.

A solução para nossa crise de saúde não será descoberta pelas lentes de um microscópio eletrônico de varredura. Para derrotar os germes, nós precisamos abaixar as armas da tecnologia, recuarmos para a floresta e deixarmos os destroços da civilização para trás. Se podemos viver na Natureza, em grupos relativamente pequenos de pessoas próximas comprometidas em um domínio geográfico, vivendo o mais simples possível, o mais primitivo possível, vivendo de modo selvagem, sem guerra, sem agricultura, sem cidades - se nós podemos fazer isso e um disastre ou uma sublevação não intervir, os mitos do santuário Terrestre estarão mais próximos do que eles poderiam estar de se tornarem realidade. "A doença é a vida sob condições alteradas", disse Florence Nightengale. "Não existem doenças específicas, apenas condições específicas de doenças". Ao fechar o parágrafo de Viruses (Vírus), Arnold Levine escreve: "Aquele relacionamento especial entre o hospedeiro e o parasita irá continuar a fazer os seres humanos - e todas formas de vida na Terra - o que somos e o que seremos. É importante que nós saibamos as regras.”

Green Anarchy #23
 
que a evolução sigo seu curso...
se for para morrermos todos e as bactérias viverem, que assim seja!:pos:
 
A solução para nossa crise de saúde não será descoberta pelas lentes de um microscópio eletrônico de varredura. Para derrotar os germes, nós precisamos abaixar as armas da tecnologia, recuarmos para a floresta e deixarmos os destroços da civilização para trás. ”

Green Anarchy #23

Esse texto rrrrrrrrrules!!!!!!!!!! Adorei isso!!!!!!!!!!!!!!
 
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