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Muitas dádivas numa primeira vez. Grata a todos!

Kinoko

Esporo
Cadastrado
29/08/2018
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Boa noite a todos.
Venho aqui relatar meu primeiro passeio, guiada pelos mágicos. Aconteceu nesta madrugada.

E vou me esforçar para narrar exatamente como o fluxo se deu. Espero conseguir e que essa experiência seja útil a alguém.

Ontem cheguei em casa às 22h e blau. Não tinha planejado chegar tão tarde, mas felizmente tinha planejado meticulosamente essa experiência. Gastaria um tempo fazendo uma faxina rápida e arrumando meu quarto.
Minutos antes de iniciar, fiz uma prece com toda a profundidade da minha fé e convidei meu pai e meus guias para me acompanhar e me proteger. Agradeci à oportunidade de vivenciar a experiência que fosse e deixei um bilhete para mim, caso precisasse.
Em jejum desde 12h, terminei de comer 3g secos de cubensis exatamente às 00h.

Uma amiga estava comigo. Ficamos vendo um programa de humor no Netflix e às 00:50h percebi a visão levemente enevoada e o corpo sensivelmente leve.
Avisei que iria pro quarto e se precisasse dela, bateria na parede. Ela foi para o quarto dos meus filhos.

Entrei no meu quarto, sentei na minha cama em posição de lotus, coloquei o fone no ouvido e dei play em uma playlist que havia feito. Comecei com o Canto de Oyá.
Não sabia que seria tão rápido, pois comecei a respirar conscientemente e assim que fechei os olhos fractais maravilhosos, de cores muito ricas, começaram a vibrar ao som dessa música que me emociona tanto. Senti então sua presença majestosa e ela desceu girando rapidamente, cercada de maravilhosos raios. Era Oyá. E eu me tornei ela. Senti o vento, senti sua força e eu sabia que era eu. Ela falou para mim: Você consegue ouvir o trovão?
Ele reverberou com muita energia e Ogum apareceu. Aquela força maravilhosa, que vence qualquer demanda. As lágrimas escorriam copiosamente. Eu era os dois.
Com um sentimento pleno de força física, determinação, bravura e ferocidade, eu me senti capaz de absolutamente tudo. Eu dancei como Oyá, eu dancei como Ogum. E essa primeira música acabou. Eles não foram embora, mas não estavam "em mim". Apenas me observavam. Abri os olhos. Pausei a playlist. Só haviam passado um pouco mais de 3 minutos. Ri de felicidade. O rosto banhado de lágrimas. Parecia que haviam passado horas. Jamais imaginaria que seria assim. Fiz uma pequena prece em gratidão pela experiência vivida. Comuniquei que estava pronta para tudo e que estava disposta a continuar. Despausei a playlist. Era um dos vários mantras que havia baixado.

Voltei a respirar conscientemente até sentir os primeiros acordes. Ouvi então a voz de meu pai e ele surgiu com seu sorriso lindo. Ele me abraçou e eu senti todo o amor que sinto por ele, sem amarras, sem limites. Esse amor era tão forte que eu sentia seu abraço fisicamente. Havia um amor indescritível em seu olhar e em sua voz e ele me disse:
- Eu tenho muito orgulho de você, minha filha. Hoje eu entendo tudo o que você queria me dizer. Eu não sabia, mas acreditava em você. Todos estão muito orgulhosos. Mostra pra todo mundo esse instrumento* lindo que você é.
Não sei se vou ser clara ao descrever o que senti. Eu me vi. Sentada em posição de lotus. Eu sentia as vibrações do mantra em separado. E cada vez que reverberava dentro de mim, eu girava um tanto no sentido anti horário, na vertical. A cada movimento, eu deixava uma espécie de rastro de mim mesma. Como uma imagem residual.
Em um dado momento - eu achava que estava desenhando com o meu próprio corpo - eu percebi que não ouvia mais o conjunto da música. Eu estava imersa na vibração. Não havia tempo, só som. Vibrando num todo, já não existia mais "dentro de mim". Meu pai voltou a falar: - Não se preocupa, minha filha. Continua desenhando. Olha que lindo o que você faz. O seu traço é muito delicado.

Eu olhei e eram milhares de imagens minhas, na posição de lotus. Em incontáveis ângulos diferentes. Eu senti que deveria continuar "desenhando" e permiti que meu corpo se movesse também na horizontal, sempre deixando esse rastro. Quanto mais imagens eu criava, de mim mesma, mais eu me sentia dissolver. Por algum motivo, essas cópias da minha imagem estavam com os olhos fechados e eu senti que se eu quissesse, elas abririam os olhos. Então desejei que abrissem os olhos e dentro de cada olho, refletiam infinitas imagens minhas. Foi assim que eu entendi que eu era tudo e que tudo era eu. Eu era o meu pai, meus filhos, meus familiares, meus amigos, meus desafetos, desconhecidos, bichos... Tudo era dourado. Uma luz muito intensa e com uma temperatura muito acolhedora. Eu sentia que apenas aquilo bastava. Eu sabia que não tinha mais forma, nome... E isso não importava, porque eu tinha certeza que a única coisa era sentir aquilo. Eu sabia que aquilo movia tudo. Eu também sabia que essa era uma sensação muito comum na minha vida. Eu já havia sentido várias outras vezes. Mas não lembrava o nome. Então pedi para lembrar. Revivi os partos dos meus filhos. E esse mesmo dourado ressurgiu. E desde quando eu era muito pequena esse dourado foi ressurgindo e eu revivendo cada momento. E eu fui crescendo e sentindo cada época da minha vida. Simplesmente não tinha fim. E nem eu queria que parasse, muito embora eu já soubesse o que era esse dourado.

Depois dessa eternidade, finalmente eu retornei ao momento presente, envolvida nesse dourado. Eu pedi que eu percebesse quando provocava esse dourado nos meus filhos, falei para o meu pai: - Isso é o amor, pai. E graças ao seu amor infinito e do da mamãe, eu fui capaz de sentir ele também. Eu quero ver nas crianças.
Meu pai acentiu. Ele disse: - Você merece, minha filha. Todos concordam. Você tem vivido uma vida de doação aos meus netos. Você vai ver tudo o que quiser.
E eu vi. Desde o nascimento dos meus filhos. A mesma trajetória. Até a idade presente. E nos momentos em que eu fui dura. Que eu achei que havia magoado-os, eles sentiam o dourado, porque eu era justa. Eu percebi que nunca só chamei a atenção. Eu sempre falei com carinho, com docilidade. Enquanto eu sinceramente me questionava, porque em muitos momentos tinha certeza de que tinha sido só mãe, o que havia sido perdido na memória, revivia, e em seguida da bronca, eu oferecia um abraço, um afago, uma brincadeira. Eu era também, além de mãe, a amiga que sempre sonhei ser. Um sentimento de gratidão muito forte, em relação ao meu pai, se adicionou a tudo isso. Eu pensei: - Talvez eu não lembre de nada disso, que pena.
Mas essa ideia não se confirmava. Veio então uma afirmação muito forte: Eu vou me lembrar de tudo o que for necessário. E eu também vou compartilhar.

A consciência do meu corpo físico retornou tão imediatamente. Tudo estava grande e eu ri. Eu parecia pilotar um Megazord. Pausei a Playlist e bati na parede, para chamar a minha amiga. Ela veio correndo, coitada, achando que eu estava morrendo. Eu acalmei ela, dizendo que só queria compartilhar, caso esquecesse de algo.
Contei o máximo que pude. E depois ela foi dormir.
Olhei no relógio, eram 2:47h. Fui fazer xixi. Uma quantidade massiva. Lembrei que não havia bebido água desde antes das 18h. Apenas 1 dedinho após ingerir os cubensis, obviamente não era proporcional. Ri. Eu tinha a sensação que sabia porque tinha tanta água em mim, mas não tinha certeza naquele momento.
Comi, porque estava faminta. E sabia que não iria dormir tão cedo. Olhei no relógio, 3:33h.

Voltei ao meu quarto e me preparei para continuar. Como falta muito para eu me tornar alguém melhor, precisava aproveitar essa experiência ao máximo, para trazer insumo para o cotidiano.
Coloquei um mantra específico de Ganesha. Minha família tem enfrentado obstáculos muito difíceis e penosos e eu queria ser capaz de fazer algo por eles. Principalmente por minha vó, que está com Alzheimer. A sensação de dissolver no todo veio muito rápido, mal começou a música. Eu pedia: Como posso ajudar a minha família? Como posso ser útil?

Veio então uma consciência muito forte, muito pregnante, do amor que eu sinto por cada um. Quando eu me questionava, se eu havia sido uma boa irmã, ou uma boa neta, eu revivia os momentos em que fiz minha parte. Ainda assim, não me sentia respondida. Eu não estava insatisfeita, mas pedia sem parar para ser capaz de conscientemente fazer algo pela minha família, principalmente pela minha avó. Então eu ouvi claramente: - Se entrega ao amor da sua avó.
Revivi novamente essa trajetória de amor, desde a minha infância, mas se concentrava nos momentos em que vivi com a minha avó. Senti toda a força do amor dela e senti isso se unir ao profundo amor que eu sinto por ela. Foi então quando eu senti Oxum. Um amor transbordante. Exacerbado. Que escorria. Era Oxum. Escorria junto com o pranto. Um pranto incontrolável. Oxum nasceu dentro de mim. Ela chorava e eu também. Eu sabia que era isso.
Eu senti que meu pai queria se despedir. Ele me agradeceu - como em outra ocasião e isso me emocionou bastante - pela honra de ter sido meu pai. Eu implorei a Deus para me tornar gentil e humilde como o meu pai. Senti que ainda estava acompanhada do meu povo. Olhei no relógio e já eram 4H e pouca. Eu estava cansada. Minha cabeça pulava por qaulquer estímulo. Relaxei e perguntei até quando ia durar. Percebi que em menos de 1h já conseguiria relaxar o suficiente para dormir. Assim, fiquei ouvindo os mantras bem baixinho. Só um sonzinho ambiente.

Novamente "desenhei" e dancei. Algumas coisas me foram mostradas com muita delicadeza. Como eu estava muito cansada, não perguntava por mais nada - pelo menos não de uma forma direta. Mergulhei em muitas questões relativas à minha vida.

Por volta das 5h e pouquinha eu senti que já poderia dormir. Desliguei tudo e me cobri.

Acordei 10h, muito bem disposta, mas preferi me entregar à preguiça e dormi, acordando novamente às 12h.
Minha mãe me ligou e falei com ela e com meus filhos - que foram dormir na casa dela essa noite.
Senti meu amor renovado. Como se fosse indestrutível. A maior força de todo o universo.


Peço desculpas pelos erros de português. Escrevi de uma vez só, para ser capaz de reproduzir o fluxo da vivência. Peço desculpas se os termos utilizados para descrever o que senti são bizarros. Sei que existem termos próprios para muitas sensações, mas ainda não domino esse vocabulário.

*Instrumento: Quando pequena, era o jeito como eu tentava explicar como eu me sentia. Eu dizia que era um instrumento (musical)

E meu pai morreu já há 1 década. Ele teve um papel, junto com minha mãe que ainda é viva, preciosíssimo na minha espiritualidade.


Agora agradeço enormemente a todos os que participam e aos que idealizaram o fórum. Me interessei em viver essa experiência há 2 anos atrás. Mas após ler os relatos, sabia que não estava preparada. Passei por muitos acontecimentos até decidir seguir essa trajetória e então retornar ao fórum, como leitora novamente.
Os 2 últimos 2 meses foram só de preparação para esse momento e esse resultado, de uma beleza inexplicável - vou guardar para sempre no meu coração - devo muito à vocês. Obrigada.

Ah! Segue uma foto do bilhete que deixei pra mim! Ficou do meu lado o tempo todo.

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Última edição por um moderador:
Linda experiência! E muito bom o seu relato! Obrigada por compartilhar.

E a-do-rei essa ideia do bilhete pra si mesma!!! Muito útil! Vou fazer isso nas próximas vezes em que eu tomar uma quantidade grande :)
 
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