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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Microdose na Boate (xp 41)

ExPoro

Enteogenista Apaixonado pela Vida
Cultivador confiável
14/04/2015
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Sempre quis fazer um relato simples pelo celular, vai ser esse. Não o coloco no subfórum de microdoses porque lá a ideia é mais "alopática" ou medicinal. Aqui foi um uso que descobri recentemente para microdoses na casa de 100 mg como estimulante e empatogênico.

No carnaval, podendo sair na tarde da terça, levei umas microdoses pros amigos tomarem, mas eu não tomei pra não cruzar com outra substância. Todos eles curtiram, foi suave e tranquilo, mas bem sensível para todos.

Eis que hoje então eu e minha esposa tomamos cada um uma cápsula de cerca de 120 mg de cogumelos secos numa boate. De outras substâncias, apenas tomamos juntos duas caipirinhas no começo da noite. De resto ficamos as quase 5 horas na boate apenas dançando e alguma água no fim.

Como esperado, o efeito foi apenas estimulante e empatogênico. Particularmente a dança fluiu muito bem, muito sorriso e bem-estar somando a serotonina liberada com os movimentos corporais ao som de eletrônica. Acredito que a dança e a liberação de substâncias endógenas no cérebro "cruzou" com o efeito do cogumelo e o realçou a ponto das cores do celular parecerem mais vivas, o que nunca tive antes com microdosagem.

Até teve um momento de reflexão, iniciado por uma autoreflexão sobre como sou paranóico ego-centrado, já quase antes de ir embora, em que pensei minha relação com os cogumelos e como mudaram minha vida e o medo que tenho cada vez que vou tomar por conta da intensidade e de como "arranca" os males doendo mas curando. Pensei em como tudo que me altera a consciência tem tido seu efeito alterado pelas novas sinapses dos cogumelos, me levando a reduzir aos poucos até mesmo o álcool (que nem é psicodélico) e levando praticamente ao abandono da erva. Qualquer estado alterado de consciência aos poucos fica mais pertubador, como se fosse uma aceleração de cogumelo, mas sem os benefícios libertadores e curativos dos meninos sagrados.

Em certo ponto quase chorei a Deus, no meio do povo, pedindo que ele me pusesse de novo no caminho de Sua Vontade quanto ao que Ele deseja que eu faça nessa vida. Pensei como me classifico como enteogenista mas tenho tanto medo da dureza do meu sacramento. Se eu poderia me tornar "perfeito" e só depois tomar o cogumelo. Mas sei que isso é apego ao meu ser atrasado, pois a evolução a galope dos cogumelos é dolorida porque resume em 6 horas o aprendizado das porradas que a vida daria em 10 anos - uma ferramenta inigualável e da mesma forma pesada.

Então ri lembrando da minha religião e da loucura que parece aos outros ouvir Pink Floyd como hino litúrgico.

Foi quando pedi uma coca-cola pra jogar glicose no sangue e melhorar aquele humor de vez.

Daí fomos pra casa. Já sabia que ia relatar como uma experiência com cogumelo, de uso social de microdose. Ao contrário de todas as microdoses que tenho tomado neste ano para fins medicinais (ou estimulantes sem fins de diversão) e que pretendo relatar resumidamente no subfórum de "microdoses", a finalidade desta microdose a coloca como diversão, e por isso este relato.

Foi divertido. Foi sorridente. Foi bom dançar. A música e a dança aliás tiraram qualquer lado negativo da microdose logo após tomar, que era algo que me preocupava. Eu até nem ia levar as cápsulas por isso, mas foi bom minha esposa ter dado a ideia e eu aderido.

Ah, e também pensei na Maria Sabina. Eram uns poucos cogumelos que ela tomava em regra. Isso dá pouco em peso seco e mesmo pra cogumelos não-Psilocybe mais potentes não é uma super-dose. Daí me questionei também da necessidade de altas doses para os efeitos mais poderosos e espirituais dos cogumelos, posicionamento muito comum de se ver em tópicos de relatos antigos, mas que me parece contrariar justamente a sabedoria ancestral dos povos que tomavam cogumelo como legítimo sacramento - enquanto se alega o "retorno ao arcaico", em aparente contradição. O que os sábios não perdiam era o pragmatismo da vida, que alguns psiconautas perdem pelo caminho com reformulações muito profundas da realidade, que no entanto não deixará de lhe fazer sentir fome nem de ir defecar apenas porque descobriu "a verdade última de tudo". Não que não haja experiência imersiva, como a que rendeu à sábia a "Linguagem"; mas super-dosagem hiper-heróica (dezenas de cogumelos), não.

Até que o psiconauta tarimbado profundo de viagens homéricas e que está fora do "homem comum" tem um(a) filho(a) um dia e descobre que, afinal, se perdeu quando deixou de olhar pra sua vida do dia a dia e dela cuidar. Que sim, o sorriso da criança amada traz tanta felicidade... e a conta vai vencer, mas viver essa vida na Terra vale a pena.

Oh, psiconautas, não se percam no lado de lá... Não existe "lá e cá" quando se está "lá". Mas quando "cá", "cá" existe, assim como "lá". Ou será como aquele que se isola do mundo em alguma seita religiosa e se orgulha de ter deixado "pra trás" aquelas relações mundanas, enquanto apenas as substitui por novas pessoas auto-referenciadas na mesma ideia. O que se tem é a mera ilusão da evolução, quando apenas se troca uma coisa ("cá") por outra ("lá") sem qualquer ganho real para si nem pro mundo. Eis que evolução sem ética (atuação pragmática perante terceiros) é o mesmo que ler um livro sobre sexo e achar que já é um amante perfeito sendo ainda virgem. Ilusão, e das piores, porque cheia de arrogância evolutiva.

Enfim... não esperava doutrinar ninguém neste relato.

Hora de sair das palavras, voltar pra vida e ir dormir. :LOL:
 
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