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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Meu primeiro relato com cogumelos

Kvasir

Primórdia
Membro Ativo
21/03/2017
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Olá colegas deste incrível fórum,
Finalmente posso escrever meu primeiro relato para vocês. Tive uma experiência recentemente cuja dosagem exata desconheço, mas explicarei melhor conforme for contanto.
Primeiro eu gostaria de dizer algumas coisas antes de partir para o relato da experiência em si, pois acredito que set e setting são mais amplos do que a experiência em si, envolvem sentimentos e mudanças que antecedem as experiências. Acredito que os relatos são importantes documentos que testemunham sobre o uso de cogumelos sagrados, como uma medicina profundamente impactante que me sinto extremamente grato em poder ter conhecido.
Como sou novato eu gostaria de agradecer a todos os cogumeleiros e psiconautas que preparam o terreno para que os menos experientes possam fazer um bom uso dessa medicina. Apesar de se saber pouco cientificamente sobre os cogumelos sagrados, com mais e mais relatos, poderemos saber como sociedade o que se deve fazer e assim poderemos dar a eles o lugar que merecem, medicina sagrada. Não podemos virar os olhos para esta substância, como sociedade, pois ela não sumirá e não deixará de ser consumida, devemos compreender ela e saber fazer um bom uso. Absolutamente ninguém deve ter o direito de julgar terceiros pelas suas escolhas individuais, todos devemos ser livres para viver e usufruir bem das medicinas que a própria vida nos fornece. Nenhum individuo deve deixar de fazer algo por que algum terceiro não quer que o faça, quando atinge apenas a si mesmo. Os cogumelos tem um grande potencial em transformar vidas.
Mas agora para contar a minha experiência recente devo contar um pouco da minha curta história com os cogumelos. Eu ouço falar deles desde adolescente creio, se ouvi na infância ignorei, mas me lembro de na minha cidade sempre houve cogumeleiros, alguns usando-os para zoar e outros para apreciar. Sempre houve pastos aqui e os relatos mais antigos de experiências aqui na cidade que ouvi datam da década de 70 e 80. Os cogumelos, no entanto sempre foram um tabu para mim, algo distante, até que no final de 2016 despertaram meu interesse. Comecei a ler alguns autores como Paul Stamets, os irmãos McKenna, Gordon Wasson e Albert Hofmann. Também assisti documentários e videos, como os de Hamilton Morris, e lia tudo que encontrava e no início de 2017 eu conheci o CM que agora virou TEO. Aqui aprendi tudo o que sei sobre cogumelos e me despertou um enorme interesse por micologia, pois aqui aprendi a identificar e cultivar e ser responsável e respeitoso com os cogumelos. E no final do verão de 2017 comecei minhas caçadas que foram todas fracassadas. Até que sonhei que os encontraria num vale cheio de arvores, no sonho tinham muitos cogumelos. Na mesma semana num pasto em que me guiavam me mostraram um vale cheio de árvores onde tinha um lago no fundo, era sempre úmido, e ali as vacas bebiam e se protegiam do sol. Havia muitos cogumelos de muitas espécies para todo lado, mas nenhum cubensis. Até que me deparei com um cogumelo fininho que não tinha véu, mas que lembrava ao cubensis então o arranquei para ver se azulava e não azulou. O deixei num tronco sabendo que pode levar um tempo e voltei a procurar. Quando voltei 15 min depois o encontrei e estava todo azul, porém não sabia de que espécie era, uma vez que o cubensis era mais comum, o que descobri depender da região, pois era um panaeolus que eu encontro com bem mais frequência que o cubensis.
Voltei ao pasto algumas vezes e encontrei alguns pans, que logo carimbei para iniciar cultivos. Minhas primeiras experiências não renderam nada, pois eu não tinha cogumelos suficientes. E depois de inúmeros fracassos eu conseguia novos carimbos de bolos contaminados que eu jogava no quintal, e um dia, eu consegui cultivar os pans, meu primeiro cultivo bem sucedido rendeu uns bons 30 a 40 pans dos quais uns 10 eram bem grandes. Eu guardei os carimbos, mas os perdi, pois algum parente jogou fora. Atualmente estou na minha segunda tentativa de domesticação, mas tive que deixar de lado por enquanto, esperando em breve poder retornar. Com estes pans cultivados tive 3 experiências de dosagem baixa, pois ao longo do tempo comecei a desenvolver uma certa ansiedade e medo pelos cogumelos, o que se ressaltou bem na primeira experiência de 1 grama e pouco seco de pans que comi, me senti mal e doente, apenas pude esperar a onda passar, me senti confuso e creio que minha razão estava resistindo ao cogumelo, mas quando a trip foi baixando me senti aliviado. Era muito confuso a sensação da realidade se dobrar por cima de você, de tudo e nada fazer sentido. Nessa experiência me prometi que não me forçaria a nada e que levaria meu tempo para tomar os cogumelos novamente. Isso foi final de 2017. Desta data até hoje tive duas experiências com cubensis que aprendi a caçar e a cultivar. Foram também de dose baixa por questão de ansiedade e receio de não ir bem. Eu era muito imaturo ainda para os cogumelos, eu sabia que uma hora estaria pronto.
E nesses 2 anos eu aprendi a amar caçar eles, e aprendi mais sobre micologia, e li mais relatos e comecei a montar uma estratégia para superar meu medo, aprendendo aqui no fórum com os mais experientes e na maneira como lidavam com as trips. Comecei a pensar e a imaginar vários settings enquanto meu set amadurecia. 2019 não foi um ano muito bom, mas aprendi muito, e desde final de 2019 as coisas tem melhorado para mim, acredito, e comecei a sentir vontade de tomar eles, então nos últimos meses comecei a planejar. Pensei em tomar sozinho e de noite para poder ver o nascer do sol, e pensei em tomar no mato numa trilha que eu conheço muito bem e faço desde criança. Eu pensei em ficar uma semana dormindo bem e não comendo carne nem fumando nada nem bebendo nada para poder ter a mente limpa. E no final das contas a experiência veio e os meses de planejamento me ensinaram a lidar com a situação por que no dia não sabia o que estava por vir. Eu já fazia exercício físico constante há alguns meses e creio que isso foi fundamental para mim, estar ao ar livre e fazer exercício e procurar comer o melhor possível. Não pude planejar a experiência, mas tinha tudo o que precisava, lugar pra ficar tranquilo, comida, água e tinha uma boa companhia, em que confio, o que foi fundamental.
Nas últimas semanas duas pessoas próximas começaram a dizer que queriam tomar eles também, uma das quais já tinha tomado dose baixa. E no dia anterior decidimos fazer trilha para caçar cogumelos, pois tinha chovido bem, fomos na mesma trilha que vou desde pequeno. Saímos de manha, depois de um leve café da manha e fomos comendo umas batatas doces ao longo do caminho. Decidimos levar alguns cogumelos secos que tínhamos, mas como não tínhamos balança não sabíamos quanto levamos. Pela minha experiência anterior com doses baixas eu sabia que não era uma dose muito alta, na verdade pensei que sentiríamos apenas uma leve brisa, mas acredito pela experiência que deve ter sido uma dose média. Na trilha encontramos um cubensis e alguns pans. E num ponto alto da trilha decidimos parar e comer os cogumelos. estávamos com o estomago vazio, não estávamos de jejum, afinal estávamos fazendo exercício físico, mas tínhamos comido pouco.
Sabendo que demorariam em torno de uma hora para fazer efeito decidimos seguir a trilha para subir mais, num lugar mais isolado, uma trilha que leva em torno de 50 min para ser feita, mas nem na metade do caminho os cogumelos começaram a fazer efeito, foi muito mais rápido do que esperado, então sentamos numas pedras da trilha e começou a dar uma vontade de deitar, de não caminhar. Uma das pessoas estava apreensiva, sobre a dosagem que havíamos ingerido. Então decidimos voltar para onde havíamos ingerido eles, pois lá tem uma sombra e uma bela vista para apreciar. Fui cambaleando pela trilha meio grogue, mas sem distorções aparentes, além de me sentir meio esquisito. Chegando la uma das pessoas estava ansiosa sobre o efeito, achando mais forte do que esperava, então a abracei e acalmei, dizendo-lhe que iria ficar tudo bem, eu lhe disse para deixar derreter, deixar desfazer, disse-lhe para se deixar levar e assim ela relaxou. Em mim ainda não havia chegado o pico, mas para esta pessoa já haviam distorções visuais e auditivas, pelo que me contou depois.
Ouvimos vozes distantes de pessoas subindo a trilha e ficamos meio ansiosos com isso, pois não queríamos encontrar ninguém, mas logo vimos que ainda estavam distantes, e pelo passo deles percebi que não parariam onde estamos, eu sabia que apenas passariam por nós. Enquanto eles chegavam a trip ficava mais forte, eu deitei numa canga na grama e fechei os olhos, e vi figuras geométricas muito reais e bem detalhadas que se moviam e me vi parado numa floresta, eu via árvores e tinha larvas coloridas de borboletas. Quando as vozes dos estranhos se aproximaram me sentei, e de olhos abertos não senti muitos visuais, estava preocupado com os estranhos chegando e quando finalmente chegaram, nos trataram bem e com respeito, pediram informação sobre como chegar em determinado ponto da trilha, levantei, dei as informações fizemos um comentário ou outro sobre a trilha e eles seguiram adiante.
Depois que foram embora a trip veio com tudo. Vi que meus colegas pareciam tranquilos, apesar de termos acreditado que teríamos uma experiência fraca todos estavam indo aparentemente bem. Senti uma vontade muito forte de só me jogar no chão e ficar deitado lá e foi isso que fiz, estendi uma lona maior, deitei na sombra fechei os olhos e só me deixei levar. Deixei os cogumelos agir, eu sabia que íamos ficar bem, que uma hora a trp baixaria e que não havíamos passado de uma dose média. E me senti muito feliz, mesmo com a intensidade da trip, estava feliz por finalmente poder sentir a medicina agindo. Senti o cogumelo e sua personalidade, senti ele me mostrando coisas, fazendo coisas na minha frente e desfazendo elas, em alguns momentos esquecia completamente que estava jogado numa trilha, esqueci que estava ali. Deixei de existir, apenas estava em outro lugar, não tive uma morte de ego, nem me desfiz completamente, mas senti conscientemente que estava dando um tempo, que estava fazendo uma limpeza, e que nada precisava fazer sentido naquela hora. O cogumelo tinha uma força absurda, conforme me mostrava as coisas, vi que era poderoso, algo que merece muito respeito. E apenas me deixei levar. Vi folhas e galhos e arvores se retorcendo, virando uma coisa só, vi uma barriga de grávida surgir do emaranhado de folhagens e por duas vezes vi um simpático rosto de uma mulher indígena surgir. Uma presença feminina. Senti que estava em outro mundo, num sonho. As vezes abria o olho para olhar meus colegas, e eles estavam bem, apreciando a trip, tendo suas próprias viagens. Eu perguntava a eles se eu estava bem, se estava na sombra, pois estava preocupado com o sol e com os insetos, fui picado por algumas formigas, mas eu estava bem, e meus colegas me transferiram confiança, cuidamos um do outro. E senti um laço muito profundo com eles. Senti que finalmente estava pronto para aquela experiência e me senti grato. Quando eu sentia que estava entrando num momento mais tenso, em que a trip vinha com mais intensidade, eu sentia que estava tenso e relaxava controlando a respiração, coisa essencial que aprendi no final de 2019 fazendo exercícios de respiração. Creio que esses exercícios me ajudaram a ter mais consciência de como lidar com meu corpo, foi fundamental para ganhar esse controle. Eu sentia como se tivesse alguém me acariciando, uma grande mãe. Um dos presentes relatou ter sentido uma grande força feminina, a natureza, cuidando de nós. E quando meus colegas vinham me olhar, as vezes tiravam uma formiga ou outra e me lembravam de beber água, eu senti que cuidavam de mim. E assim eu relaxava e continuava com a minha limpeza. Das vezes que abria o olho via muitas cores, e as coisas se retorcendo um pouco, via uma onda atravessar a paisagem e as coisas dançavam, tudo dançava. De olhos fechados eu me senti participando dessa dança, e a deixei me levar. Notei como as coisas são ambíguas, o tempo inteiro me senti uma contradição.
Quando a trip foi baixando aos poucos, senti vontade de sentar novamente, e assim começamos a conversar eu e meus colegas, sobre o q estávamos sentindo e vendo, e todos nos sentíamos muito amorosos e gratos por tudo, nos sentimos muito bem e tivemos um enorme respeito um pelo outro, rimos juntos e uma das pessoas chorou dizendo que estava bem. Eu estava simplesmente bem com tudo, e conforme as coisas foram se encaixando de novo e conforme as coisas que tinham deixado de existir voltavam a se refazer, nos sentíamos simplesmente renovados. Rimos muito e todos concordamos que precisávamos muito daquela experiência e daquela limpeza. Eu senti e sabia que de vez em quando eu precisaria daquela medicina. havia uma sinergia muito interessante com meus companheiros, parecia que nossos pensamentos se completavam, e que nos conhecíamos intimamente e que nos compreendíamos. Todos concordamos que foi uma experiência que jamais esqueceremos. Então em seguida comemos algo, pois começando a sentir o estomago reclamando, e então curtimos o final da tarde conforme a trip abaixava, apesar de continuarmos nos sentindo ótimos. No final da tarde descemos a trilha ainda rindo e conversando e apreciando tudo. Tomamos um banho gelado no riacho e de lá voltamos pra casa. Todos ainda estamos maravilhados com o que aconteceu, e continuamos conversando e sentimos e que mudamos de alguma forma, sentimos que nossa amizade tinha-se fortalecido. Dormi mais ou menos bem naquela noite, acordei meio cedo no dia seguinte, mas peguei no sono de novo, não sonhei nada. No dia seguinte estava me sentindo muito bem, ainda muito impressionado, e de lá até agora, 2 dias depois, ainda estou processando tudo.
Agradeço a oportunidade de poder relatar para vocês a minha experiência com esta medicina sagrada, espero poder continuar usufruindo de sua mágica e de poder continuar aqui com vocês neste incrível espaço. O que me foi fundamental para superar a minha ansiedade de tomar foi ir com calma, respeitar meu tempo, meu corpo, meu ego. Eu percebi a importância de planejar, mas eu aprendi que nunca se consegue planejar tudo, sempre haverá improvisos e contratempos e aleatoriedades, por isso estar preparado para lidar com isso é fundamental. Eu amo fazer trilha, estar na natureza é o que mais amo, adoro estar no meio do mato, faço isso com frequência, as pessoas que estavam comigo também tem experiência de trilha e de mato, todos adoramos aquele lugar e todos já tínhamos ido lá diversas vezes ao longo de anos. Então nos sentimos bem e nos sentimos em casa. Quando chegar a hora é preciso deixar-se levar. Eu penso em tomar novamente, mas penso em ter experiências gradualmente mais fortes, mas não vou me forçar a nada, saberei quando for a hora. Mas eu sou apenas novato, sei que o cogumelo apenas começou comigo, tenho demais a aprender ainda e por isso estou feliz, apenas satisfeito comigo mesmo.
Obrigado a todos e perdoem minha escrita, espero que possam tirar algo de proveitoso desse relato, pois para mim esta experiência foi incrível e se existe algum lugar para compartilhar ela é aqui com vocês.
 
Um ótimo relato de uma grande experiência, profunda, bem preparada mentalmente e ambientalmente, com todo o potencial dos meninos santos em plenitude.

Parabéns e obrigado pelo relato. Espero que prossiga em feliz comunhão com o sacramento do Cogumelo.

Alguns comentários...

meus colegas me transferiram confiança, cuidamos um do outro. E senti um laço muito profundo com eles

Isso, perfeito. Uma experiência psicodélica em grupo só deve ocorrer com pessoas que se sintam assim uns com os outros. Que legal.

sentia que estava tenso e relaxava controlando a respiração, coisa essencial que aprendi no final de 2019 fazendo exercícios de respiração

Muito boa a coisa de respirar pra se acalmar.
 
Obrigado @Tucum e @ExPoro pelas palavras! Tamo junto!


A Gente também agradece, e os meninos Santos também agradecem . Graças a vida ! que a pesar de tudo desse mundo de ilusão, de tudo que nao e pouca coisa, aqui estamos todos agradecendo !!!

É isso que eles me dizem , que tem vida ainda , que vale a pena ainda , que eu existo , que nós existimos, e que não somos só essa confusão do mundo.

Tenho fé que nada disso é em vão, e no Astral , o poder superior tá olhando por nós. O Mestre Tá sorrindo , cada um que chega é uma benção. Vamo seguir em frente irmão! Com firmeza pra não esmorecer .
 
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