- 11/04/2008
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olá amigos, traduzi um texto do shroomery, da parte de farmacologia (http://www.shroomery.org/6297/Psilocybe-Toxicity-Information).
perdoem qualquer erro de grafia ou a má disposição dos parágrafos (tá corrido aqui). REPAREM que eu pessoalmente não concordo com tudo o que está escrito, a metodologia de observação etc. críticas ao texto, não ao macaco aqui ok?!
Informação sobre a toxicidade de psilocybes
trecho de uma matéria sobre psilocybes, com informação sobre toxicidade e referências.
Princípios ativos
Os princípos ativos responsáveis pelos efeitos psicológicos dos psilocybes são conhecidos como triptaminas.
Triptaminas são compostos que contêm um anel fenólico. Estes compostos se assemelham ao neurotransmissor 'serotonina'. Imagina-se que sejam agonistas competidores nos receptores 5-HT2 (um subtipo particular de receptor de serotonina). A psilocibina é a triptamina mais abundante nos cogumelos do gênero psilocybe, e já foi confirmada em concentrações variando de 0.36% no P.stuntzii a 0.98% no P. semilanceata. Entretanto, após a ingestão, ela é rapidamente defosforizada pela enzima 'fosfatase alcalina' no intestino. além disso, acredita-se que o metabólito psilocina é responsável pelas alucinações e efeitos psicológicos.
Psilocina é o próximo composto mais abundante, variando de 0.12% no P. stuntzii a 0.60% em P. cubensis. Sua biodisponibilidade (o montante que é absorvido na corrente sanguínea intestinal) foi detectada em 50% em ratos. A psilocina se distribui uniformemente na maioria dos tecidos corpóreos, exceto para maiores concentrações no fígado e supra-renais. Em ratos, psiolcina se concentra em áreas específicas do cérebro: o neocortex, o hipocampo (envolvendo aprendizado e memória), e o tálamo (processamento sensorial). Em ratos, aproximadamente 20% da psilocina é excretada inalterada na urina, com o remanscente excretado como metabólitos conjugados polares como os glucoronides. Foi estimado que menos de 4% da psilocina é degradada pela monoamina oxidase, a enzima que degrada monoaminas endógenas como a serotonina.
Baeocistina está geralmente presente em concentrações de menos de 0.1%. Entretanto, umas poucas espécies, como P. semilanceata (liberty caps) podem conter até 0.36%. Por conta de poucos estudos farmacológicos foram feitos com a baeocistina, sua potência relativa à psilocibina desconhecida.
Alguns cogumelos de gêneros além do psilocybe também contêm triptaminas psicoativas, incluindo Paneolus, Gymnopilus, e Inocybe.
Toxicidade a curto prazo
Psilocibina não é qualificada como uma substância altamente tóxica quando usando métodos tradicionais de medição de toxicidade aguda como o LD 50 ( a dose requerida para matar 50% dos animais testados, geralmente ratos). Psilocibina tem um LD 50 de 280mg/kg. Em comparação, o LD-50 do LSD, THC (princípio ativo da cannabis), e mescalina, são respectivamente 30mg/kg, 42mg/kg e 370mg/kg. Além disso, quando a morte é considerada o ponto final da intoxicação, a psilocibina é um dos alucinógenos menos tóxicos. Também o potencial de dependência (vício fisiológico) da psilocinina e alucinógenos em geral é mínima a não-existente, o que ajuda a sustentar a tese da relativa segurança dela em relação a outros narcóticos. Entretanto, fatalidades e acidentes foram resultado de quedas de carro ou batidas causadas pelo comportamento a curto-prazo e confusão sensorial. Em uma pesquisa entre adolescentes usuários de psilocibina, 13% relataram sérios acidentes como traumatismo craniano e perda de consciência.
O mais importante aspecto da intoxicação a curto prazo é a imprevisível passagem do tempo e a intensidade dos sintomas. A ingestão de cogumelos com psilocibina resulta em sintomas alucinógenos que começam em pelo menos 10 minutos após a ingestão, e tipicamente dura de quatro a doze horas, apesar de casos com duração muito maior tenham sido relatados na literatura. Enquanto relatos pessoais de intoxicação compartilham temas, ambas intensidade e efeitos alucinógenos são altamente variáveis. Esta variabilidade tem sido atribuída a muitos fatores, incluindo características psicológicas do usuário, o anteparo cultural, o humor e expectativas dos usuários anteriores à ingestão (o 'set'), o ambiente do uso (o 'setting'), o conteúdo de psilocibina (que pode variar muito entre espécies, e pode mudar em função de preparo ou manuseio), uso prévio de outros aluncinógenos, e uso corrente de outras drogas ou álcool. Também, é possível que a sensibildiade individual seja resultados de diferenças herdadas sobre capacidades metabólicas.
Os seguintes sintomas são relatados durante uma intoxicação comum:
-início: tontura, vertigem, náusea, fraqueza, dores musculares, tremores, ansiedade, agitação, dor abdominal.
- Efeitos alucinógenos e psicológicos: efeitos visuais que incluem brilho e distorção de cores, pós-imagens, padrões visuais, superfícies movendo-se como ondas, expressões faciais alteradas, aumento da temperatura corporal, rubor facial, taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), dilatação dos pupilas, sudorese, sensação de irrealidade e despersonalização, devaneio, sentimentos de pânico; julgamento distorcido de distâncias, incoordenação; prejudicada percepção de tempo, também, um estado de esquizofrenia com dupla concepção de ambos os eventos do mundo real ligeiramente alterados e efeitos alucinatórios têm sido descritos.
- recuperação: gradual declínio dos efeitos acima, dor-de-cabeça, fadiga extrema, resultando em 10/15 horas de sono; profunda depressão mental, diminuição do apetite.
Há casos relatados na literatura de efeitos agudos mais sérios quando extratos destes cogumelos foram usados intravenosamente. Vômitos persistentes, dores musculares, febre, baixa oxigenação sanguínea, elevado nível de enzimas no fígado (usado como medida para a toxicidade do fígado) e metaemoglobinemia (uma condição sanguínea resultada da baixa capacidade de carregar oxigênio) foram relatados.
Crianças são aparentemente mais suscetíveis à intoxicação por cogumelos psilocybe, e isso tem consequências como no caso abaixo:
Uma menina de seis anos comeu cogumelos, posteriormente identificados como p. baeoystis, crescendo perto de coníferas ao lado de sua casa em Kelso, Washington. Ela foi encontrada pelos pais em estado de ataxia e incoerência. Ela foi levada ao hospital local em estado convulsivo, pupilas fixas e dilatadas, e pele quente. A temperatura dela era de 41.1 graus célsius. Morreu três dias depois, tendo desenvolvido de um edema pulmonar.
Muitos envenenamentos e mortes foram resultado de má identificação de cogumelos comuns, parecidos, porém de espécies venenosas. Um caso de falha renal aguda em uma garota de 20 anos em função da ingestão de cogumelos Cortinarius foi relatado. A paciente admitiu ter comprado cogumelos que achava serem mágicos, de um traficante. Algumas espécies mortais de Cortinarius podem se parecer muito com cogumelos como psilocybes, até para micólogos profissionais.
Toxicidade a longo prazo
Enquanto a overdose letal com alucinógenos em geral e psilocibina em particular é rara, há um número de casos relatados de reações psiquiátricas adversas e distúribos neurológicos de longo prazo, atribuídas ao abuso de alucinógenos, que parecem indicar que estas substâncias exercem uma neurotixicidade mais duradoura, pelo menos numa parte dos consumidores. LSD, que tem uma estruturasimilar à da psilocibina, já causou palinopsia (visuais anteriores a imagens) em alguns indivíduos, por até cinco anos depois de terem parado de tomar. Aparentemente este fenômenos (anteriormente chamado 'flashback') é de frequência suficiente que recebeu um nome próprio: Hallucinogen Persisting Perceptual Disorder (HPPD) (*não achei como traduzir isso exatamente). Acredita-se que HPPD é causado por alterações permanentes de centros visuais no cérebro pelo LSD. Ainda não é claro se a psilocibina também causa tais distúrbios.
(* aqui suprimi um trecho que citava um estudo já revogado)
Os seguintes estudos e relatos descrevem prolongados distúrbios psiquiátricos após ingestão de cogumelos psilocybe:
1- Na inglaterra, um homem de 24 anos compareceu a um departamento psiquiátrico com um histórico de três meses de ataques de pânico diários, reclamando de tensão, ansiedade, despersonalização, palpitações, boca seca, e pulsação variante. Ele também admitiu sertir-se suicida muitas vezes desde o início de sua doença. Duas semanas antes do aparecimento destes sintomas, ele havia ingerido 25 cogumelos psilocybe com duas garrafas de cerveja, após o que ele havia ficado emocionalmente instável e experienciado distúrbios visuais três horas depois. O paciente não tinha nenhum histórico de problemas psiquiátricos.
2- Um homem de 25 anos sem nenhum histórico de problemas psiquiátricos mas com histórico de abuso de alucinógenos, por suas próprias contas, aproximadamente 200 cogumelos foram consumidos durante um dia. Ele também bebeu álcool e fumou cannabis. Após experienciar os típicos sintomas de uma intoxicação por psilocibina, ele subitamente ficou extremamente paranóico e agressivo, ameaçando três detetives que o prenderam. No dia seguinte ele reclamou de sono perturbado, irritabilidade e falta de concentração. Alguns dias depois a condição piorou, apesar do tratamento com tranquilizantes e anti-depressivos para sua ansiedade e depressão, então foi admitido num hospital. Ele relatou ter usado 50 cogumelos em duas outras ocasiões antes de sua admissão. Ele experienciou um 'flashback' dois dias depois, com distúrbios visuais e ataques de pânico, e ficou agressivo com a equipe do hostipal. Estes sintomas permaneceram por 14 dias e não se resolveu antes de quatro sessões de eletro-choque. Ele foi finalmente liberado do hospital dez semanas depois.
3- Um caso foi relatado no Jornal de medicina escandinavo Ugeskrift For Laeger de um norueguês de 24 anos que procurou ajuda médica por persistentes sintomas psicológicos nove meses após consumir cogumelos psilocybe.
4- Num estudo de ingestões confimadas de psilocybe semilanceata, um prolongado distúrbio psicológico ocorreu em 26 de 318 casos (acima de 8%). Dentre estes 26 casos, 21 pacientes experienciaram flashbacks até quatro meses após a ingestão inicial de cogumelos. Somente em 5 destes 26 casos este distúrbio pode ser atribuído a outras possíveis causas como predisposição anterior a doenças. De 160 casos em que o questionário de acompanhamento foi preenchido, 82 deles foram hospitalizados. Destes 82, 8 foram hospitalizados por dois ou mais dias por conta de alucinações prolongadas. Curiosamente, dentre 16 casos em que estes cogumelos foram usados de maneira abusiva com outras drogas ou álcool, nenhum teve intoxicação séria ou sintomas persistentes.
5- Num estudo de 27 casos de ingestão de p.semilanceata relatado no hospital Britânico, dois pacientes reclamaram de episódeos com ataques de pânico após a ingestão de álcool, um deles sete dias após a ingestão inicial de cogumelos, e outro nove dias depois. Em outro caso, um paciente aterrorizado foi admitido num hospital psiquiátrico por acreditar que deus e o diabo estavam falando com ele. Estas alucinações continuaram por três noites consecutivas, apesar do tratamento com anti-psicóticos.
O número de casos similares a estes descritos que não procuram ajuda médica por medo de complicações legais não pode ser determinado. A base biológica destas reações adversas não são conhecidas. Alguns destes casos (1 e 2) parecem envolver grande quantidade de cogumelos e/ou consumo de álcool, enquanto outros estudos (4 e 5) não puderam encontrar qualquer relação entre quantidade cosumida x severidade dos sintomas, ou nenhuma influência de interação entre drogas. Como a triptamina contida em cada cogumelo é variávelm, é difícil conseguir mais do que uma parca estimativa sobre o consumo destes compostos.
Talvez o fator que mais confunda a coleta de dados sobre estes cogumelos seja a grande porcentagem de falsos psilocybe vendidos no mercado negro, adulterados. Em uma análise de 1985 de 886 cogumelos vendidos ilegalmente como psilocybe, somente 28% deles eram realmente psilocybes, enquanto 31% eram cogumelos comuns de mercado, ou outras variedades 'batizadas' com LSD e PCP, e 37% eram inertes. Entretanto, a sensibilidade individual da psilocibina e compostos relacionados pode ser um déficit hereditário de enzimas importantes para o metabolismo destas substâncias, um fenômeno conhecido com o ácool e alopáticos, ou diferenças na química cerebral que resultaria em diferentes níveis de vulnerabilidade a doenças psiquiátricas como esquizofrenia e depressão. Também, como estes cogumelos podem naturalmente conter muitas substâncias diferentes além das triptaminas, talvez uma maior concentração de um composto ainda não identificado em algumas espécies ou raças podem ser responsáveis. Por conta do abuso destes cogumelos estar crescendo prevalescentemente entre jovens, mais pesquisa na área é necessário.
Tratamento
Não há antídoto específico para a intoxicação por psilocibina, apesar de relatos clínicos indicarem a reversão da intoxicação com 'fisiostigmina' merecerem atenção e novos estudos. Lidar com a intoxicação por psilocibina consiste mais em apoio emocional e reafirmação durante os episódeos de pânico, e monitoramento dos sinais vitais. Entretanto, em caso de reações adversas a longo-prazo, tranqulizantes como o Valium e anti-psicóticos como o Thorazine têm sido usados. Também, em casos em que a exata espécie não pode ser identificada, uma lavagem gástro-intestinal ou tratamento com carvão ativado é recomendado.
Referências
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Boutros NN, Bowers MB Jr. Chronic substance-induced psychotic disorders: state of the literature. Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neuroscience. 8(3): 262-9, 1996.
Francis J and Murray VSG: Review of Enquires made to the NPIS Concerning Psilocybe Mushroom Ingestion, 1978-1981. Human Toxicology 2: 349-352, 1983.
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perdoem qualquer erro de grafia ou a má disposição dos parágrafos (tá corrido aqui). REPAREM que eu pessoalmente não concordo com tudo o que está escrito, a metodologia de observação etc. críticas ao texto, não ao macaco aqui ok?!
Informação sobre a toxicidade de psilocybes
trecho de uma matéria sobre psilocybes, com informação sobre toxicidade e referências.
Princípios ativos
Os princípos ativos responsáveis pelos efeitos psicológicos dos psilocybes são conhecidos como triptaminas.
Triptaminas são compostos que contêm um anel fenólico. Estes compostos se assemelham ao neurotransmissor 'serotonina'. Imagina-se que sejam agonistas competidores nos receptores 5-HT2 (um subtipo particular de receptor de serotonina). A psilocibina é a triptamina mais abundante nos cogumelos do gênero psilocybe, e já foi confirmada em concentrações variando de 0.36% no P.stuntzii a 0.98% no P. semilanceata. Entretanto, após a ingestão, ela é rapidamente defosforizada pela enzima 'fosfatase alcalina' no intestino. além disso, acredita-se que o metabólito psilocina é responsável pelas alucinações e efeitos psicológicos.
Psilocina é o próximo composto mais abundante, variando de 0.12% no P. stuntzii a 0.60% em P. cubensis. Sua biodisponibilidade (o montante que é absorvido na corrente sanguínea intestinal) foi detectada em 50% em ratos. A psilocina se distribui uniformemente na maioria dos tecidos corpóreos, exceto para maiores concentrações no fígado e supra-renais. Em ratos, psiolcina se concentra em áreas específicas do cérebro: o neocortex, o hipocampo (envolvendo aprendizado e memória), e o tálamo (processamento sensorial). Em ratos, aproximadamente 20% da psilocina é excretada inalterada na urina, com o remanscente excretado como metabólitos conjugados polares como os glucoronides. Foi estimado que menos de 4% da psilocina é degradada pela monoamina oxidase, a enzima que degrada monoaminas endógenas como a serotonina.
Baeocistina está geralmente presente em concentrações de menos de 0.1%. Entretanto, umas poucas espécies, como P. semilanceata (liberty caps) podem conter até 0.36%. Por conta de poucos estudos farmacológicos foram feitos com a baeocistina, sua potência relativa à psilocibina desconhecida.
Alguns cogumelos de gêneros além do psilocybe também contêm triptaminas psicoativas, incluindo Paneolus, Gymnopilus, e Inocybe.
Toxicidade a curto prazo
Psilocibina não é qualificada como uma substância altamente tóxica quando usando métodos tradicionais de medição de toxicidade aguda como o LD 50 ( a dose requerida para matar 50% dos animais testados, geralmente ratos). Psilocibina tem um LD 50 de 280mg/kg. Em comparação, o LD-50 do LSD, THC (princípio ativo da cannabis), e mescalina, são respectivamente 30mg/kg, 42mg/kg e 370mg/kg. Além disso, quando a morte é considerada o ponto final da intoxicação, a psilocibina é um dos alucinógenos menos tóxicos. Também o potencial de dependência (vício fisiológico) da psilocinina e alucinógenos em geral é mínima a não-existente, o que ajuda a sustentar a tese da relativa segurança dela em relação a outros narcóticos. Entretanto, fatalidades e acidentes foram resultado de quedas de carro ou batidas causadas pelo comportamento a curto-prazo e confusão sensorial. Em uma pesquisa entre adolescentes usuários de psilocibina, 13% relataram sérios acidentes como traumatismo craniano e perda de consciência.
O mais importante aspecto da intoxicação a curto prazo é a imprevisível passagem do tempo e a intensidade dos sintomas. A ingestão de cogumelos com psilocibina resulta em sintomas alucinógenos que começam em pelo menos 10 minutos após a ingestão, e tipicamente dura de quatro a doze horas, apesar de casos com duração muito maior tenham sido relatados na literatura. Enquanto relatos pessoais de intoxicação compartilham temas, ambas intensidade e efeitos alucinógenos são altamente variáveis. Esta variabilidade tem sido atribuída a muitos fatores, incluindo características psicológicas do usuário, o anteparo cultural, o humor e expectativas dos usuários anteriores à ingestão (o 'set'), o ambiente do uso (o 'setting'), o conteúdo de psilocibina (que pode variar muito entre espécies, e pode mudar em função de preparo ou manuseio), uso prévio de outros aluncinógenos, e uso corrente de outras drogas ou álcool. Também, é possível que a sensibildiade individual seja resultados de diferenças herdadas sobre capacidades metabólicas.
Os seguintes sintomas são relatados durante uma intoxicação comum:
-início: tontura, vertigem, náusea, fraqueza, dores musculares, tremores, ansiedade, agitação, dor abdominal.
- Efeitos alucinógenos e psicológicos: efeitos visuais que incluem brilho e distorção de cores, pós-imagens, padrões visuais, superfícies movendo-se como ondas, expressões faciais alteradas, aumento da temperatura corporal, rubor facial, taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), dilatação dos pupilas, sudorese, sensação de irrealidade e despersonalização, devaneio, sentimentos de pânico; julgamento distorcido de distâncias, incoordenação; prejudicada percepção de tempo, também, um estado de esquizofrenia com dupla concepção de ambos os eventos do mundo real ligeiramente alterados e efeitos alucinatórios têm sido descritos.
- recuperação: gradual declínio dos efeitos acima, dor-de-cabeça, fadiga extrema, resultando em 10/15 horas de sono; profunda depressão mental, diminuição do apetite.
Há casos relatados na literatura de efeitos agudos mais sérios quando extratos destes cogumelos foram usados intravenosamente. Vômitos persistentes, dores musculares, febre, baixa oxigenação sanguínea, elevado nível de enzimas no fígado (usado como medida para a toxicidade do fígado) e metaemoglobinemia (uma condição sanguínea resultada da baixa capacidade de carregar oxigênio) foram relatados.
Crianças são aparentemente mais suscetíveis à intoxicação por cogumelos psilocybe, e isso tem consequências como no caso abaixo:
Uma menina de seis anos comeu cogumelos, posteriormente identificados como p. baeoystis, crescendo perto de coníferas ao lado de sua casa em Kelso, Washington. Ela foi encontrada pelos pais em estado de ataxia e incoerência. Ela foi levada ao hospital local em estado convulsivo, pupilas fixas e dilatadas, e pele quente. A temperatura dela era de 41.1 graus célsius. Morreu três dias depois, tendo desenvolvido de um edema pulmonar.
Muitos envenenamentos e mortes foram resultado de má identificação de cogumelos comuns, parecidos, porém de espécies venenosas. Um caso de falha renal aguda em uma garota de 20 anos em função da ingestão de cogumelos Cortinarius foi relatado. A paciente admitiu ter comprado cogumelos que achava serem mágicos, de um traficante. Algumas espécies mortais de Cortinarius podem se parecer muito com cogumelos como psilocybes, até para micólogos profissionais.
Toxicidade a longo prazo
Enquanto a overdose letal com alucinógenos em geral e psilocibina em particular é rara, há um número de casos relatados de reações psiquiátricas adversas e distúribos neurológicos de longo prazo, atribuídas ao abuso de alucinógenos, que parecem indicar que estas substâncias exercem uma neurotixicidade mais duradoura, pelo menos numa parte dos consumidores. LSD, que tem uma estruturasimilar à da psilocibina, já causou palinopsia (visuais anteriores a imagens) em alguns indivíduos, por até cinco anos depois de terem parado de tomar. Aparentemente este fenômenos (anteriormente chamado 'flashback') é de frequência suficiente que recebeu um nome próprio: Hallucinogen Persisting Perceptual Disorder (HPPD) (*não achei como traduzir isso exatamente). Acredita-se que HPPD é causado por alterações permanentes de centros visuais no cérebro pelo LSD. Ainda não é claro se a psilocibina também causa tais distúrbios.
(* aqui suprimi um trecho que citava um estudo já revogado)
Os seguintes estudos e relatos descrevem prolongados distúrbios psiquiátricos após ingestão de cogumelos psilocybe:
1- Na inglaterra, um homem de 24 anos compareceu a um departamento psiquiátrico com um histórico de três meses de ataques de pânico diários, reclamando de tensão, ansiedade, despersonalização, palpitações, boca seca, e pulsação variante. Ele também admitiu sertir-se suicida muitas vezes desde o início de sua doença. Duas semanas antes do aparecimento destes sintomas, ele havia ingerido 25 cogumelos psilocybe com duas garrafas de cerveja, após o que ele havia ficado emocionalmente instável e experienciado distúrbios visuais três horas depois. O paciente não tinha nenhum histórico de problemas psiquiátricos.
2- Um homem de 25 anos sem nenhum histórico de problemas psiquiátricos mas com histórico de abuso de alucinógenos, por suas próprias contas, aproximadamente 200 cogumelos foram consumidos durante um dia. Ele também bebeu álcool e fumou cannabis. Após experienciar os típicos sintomas de uma intoxicação por psilocibina, ele subitamente ficou extremamente paranóico e agressivo, ameaçando três detetives que o prenderam. No dia seguinte ele reclamou de sono perturbado, irritabilidade e falta de concentração. Alguns dias depois a condição piorou, apesar do tratamento com tranquilizantes e anti-depressivos para sua ansiedade e depressão, então foi admitido num hospital. Ele relatou ter usado 50 cogumelos em duas outras ocasiões antes de sua admissão. Ele experienciou um 'flashback' dois dias depois, com distúrbios visuais e ataques de pânico, e ficou agressivo com a equipe do hostipal. Estes sintomas permaneceram por 14 dias e não se resolveu antes de quatro sessões de eletro-choque. Ele foi finalmente liberado do hospital dez semanas depois.
3- Um caso foi relatado no Jornal de medicina escandinavo Ugeskrift For Laeger de um norueguês de 24 anos que procurou ajuda médica por persistentes sintomas psicológicos nove meses após consumir cogumelos psilocybe.
4- Num estudo de ingestões confimadas de psilocybe semilanceata, um prolongado distúrbio psicológico ocorreu em 26 de 318 casos (acima de 8%). Dentre estes 26 casos, 21 pacientes experienciaram flashbacks até quatro meses após a ingestão inicial de cogumelos. Somente em 5 destes 26 casos este distúrbio pode ser atribuído a outras possíveis causas como predisposição anterior a doenças. De 160 casos em que o questionário de acompanhamento foi preenchido, 82 deles foram hospitalizados. Destes 82, 8 foram hospitalizados por dois ou mais dias por conta de alucinações prolongadas. Curiosamente, dentre 16 casos em que estes cogumelos foram usados de maneira abusiva com outras drogas ou álcool, nenhum teve intoxicação séria ou sintomas persistentes.
5- Num estudo de 27 casos de ingestão de p.semilanceata relatado no hospital Britânico, dois pacientes reclamaram de episódeos com ataques de pânico após a ingestão de álcool, um deles sete dias após a ingestão inicial de cogumelos, e outro nove dias depois. Em outro caso, um paciente aterrorizado foi admitido num hospital psiquiátrico por acreditar que deus e o diabo estavam falando com ele. Estas alucinações continuaram por três noites consecutivas, apesar do tratamento com anti-psicóticos.
O número de casos similares a estes descritos que não procuram ajuda médica por medo de complicações legais não pode ser determinado. A base biológica destas reações adversas não são conhecidas. Alguns destes casos (1 e 2) parecem envolver grande quantidade de cogumelos e/ou consumo de álcool, enquanto outros estudos (4 e 5) não puderam encontrar qualquer relação entre quantidade cosumida x severidade dos sintomas, ou nenhuma influência de interação entre drogas. Como a triptamina contida em cada cogumelo é variávelm, é difícil conseguir mais do que uma parca estimativa sobre o consumo destes compostos.
Talvez o fator que mais confunda a coleta de dados sobre estes cogumelos seja a grande porcentagem de falsos psilocybe vendidos no mercado negro, adulterados. Em uma análise de 1985 de 886 cogumelos vendidos ilegalmente como psilocybe, somente 28% deles eram realmente psilocybes, enquanto 31% eram cogumelos comuns de mercado, ou outras variedades 'batizadas' com LSD e PCP, e 37% eram inertes. Entretanto, a sensibilidade individual da psilocibina e compostos relacionados pode ser um déficit hereditário de enzimas importantes para o metabolismo destas substâncias, um fenômeno conhecido com o ácool e alopáticos, ou diferenças na química cerebral que resultaria em diferentes níveis de vulnerabilidade a doenças psiquiátricas como esquizofrenia e depressão. Também, como estes cogumelos podem naturalmente conter muitas substâncias diferentes além das triptaminas, talvez uma maior concentração de um composto ainda não identificado em algumas espécies ou raças podem ser responsáveis. Por conta do abuso destes cogumelos estar crescendo prevalescentemente entre jovens, mais pesquisa na área é necessário.
Tratamento
Não há antídoto específico para a intoxicação por psilocibina, apesar de relatos clínicos indicarem a reversão da intoxicação com 'fisiostigmina' merecerem atenção e novos estudos. Lidar com a intoxicação por psilocibina consiste mais em apoio emocional e reafirmação durante os episódeos de pânico, e monitoramento dos sinais vitais. Entretanto, em caso de reações adversas a longo-prazo, tranqulizantes como o Valium e anti-psicóticos como o Thorazine têm sido usados. Também, em casos em que a exata espécie não pode ser identificada, uma lavagem gástro-intestinal ou tratamento com carvão ativado é recomendado.
Referências
Abraham HD, Aldridge AM: Adverse consequences of lysergic acid diethylamide. Addiction. 88(10): 1327-34, 1993.
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Gable RS: Toward a comparative overview of dependence potential and acute toxicity of psychoactive substances used nonmedically. American Journal of Drug and Alcohol Abuse. 19 (3): 263-281, 1993.
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