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FORÇA

Matus

Primórdia
Membro Ativo
21/05/2016
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Ainda não tenho meu cultivo. Enquanto isso....
Depois de muito pedir em outros lugares ao longo dos anos, resolvi pedir em um lugar que não peço tem bastante tempo. E realmente, a qualidade é impressionante. Não sei exatamente quanto ingeri, pois vem em porções de 5g. Abri e peguei uns 6 cogus. Ingeri às 14:35h de ontem (09/04/22). Não eram muito grandes. Senti a força chegando de forma bem suave. Dessa vez não tinha cannabis comigo, de forma que era um particular com os cogus e estava feliz por isso, porque as vezes tenho a impressão de que a cannabis distrai. Já havia determinado para mim que o tempo enquanto aguardava os efeitos se aproximarem seria investido em uma breve limpeza do ambiente. Dei um jeito no banheiro e lavei a louça. Quando estava terminando a louça, as coisas já estavam um pouco diferentes. Também havia decidido que ouviria o disco Tenku do Kitaro, pois são músicas que ouço desde anos atrás e pensei que seria uma boa ideia unir os dois, de forma que depois, ouvindo Kitaro novamente, pudesse trazer algo da experiência com os cogus. Algo como um flashback, cinestesia e memória mnemônica. A caixinha de som estava ruim, então ficou com um ruído que iria atrapalhar muito toda a possibilidade de harmonia da experiência. Acendi um incenso que havia comprado uma hora antes e fiquei no silêncio. Comecei a ter umas impressões engraçadas. A primeira delas foi a do professor de tai chi. Ele diz que não precisamos de substâncias para atingir níveis mais refinados de energia. Que as substâncias devem ser usadas por quem sabe. Enfim, algo que entendo como um uso cuidadoso. Mas sendo alguém que trilha um caminho bem autêntico, ele foca mais no caminho em si do que nos auxílios. Entendo perfeitamente. Mas entendo também que cada um de nós deve explorar por conta própria. A impressão que tive foi a dele no lugar do meme do Obama, onde o obama faz gestos de "ué? E aí? Então..?" Não sei se alguém conhece. Seria ele no lugar do Obama, perguntando pra mim "E aí? Então? Isso é tudo?" Na hora foi engraçado... mas era apenas o começo. Fui começando a ficar mole, relaxado. Me deu uma vontade de ficar deitado, quase um sono, mas não estava com sono. Teve um momento que sentia todo o meu corpo. Sentia como se uma corrente elétrica estivesse unindo todos os meus tendões. Sentia meu corpo uno, fisicamente uno. Fiquei com uma vontade de espreguiçar...que espreguiçada gostosa. Me estiquei de um jeito que não fazia há tempos. E não só o ato de esticar-se, porque volta e meia faço isso, mas a qualidade da espreguiçada que me deixou satisfeitíssimo. Mole...estava bem relaxado. Fiquei caído no sofá e de repente pensei que não poderia gastar aquela energia toda apenas ali. Precisava me mover. Então fui fazer uns movimentos de tai chi. Esqueci um deles. Não conseguia lembrar de jeito nenhum. Com a memória corporal, tentei resgatá-los. Também com a mente, mas não consegui. Pensei então que deveria fazer outra coisa. Peguei o violão. Não posso dizer que "toco violão". Prefiro dizer que toco algumas músicas no violão. Sou amador, embora tenha o violão por anos e anos. Comecei...Nando Reis, Pink Floyd, Raul Seixas, Arnaldo Antunes...resolvi arriscar para outras do Nando Reis que havia tempo que não ousava tocar. A Força me invadiu de tal maneira, que minha voz soltou de um jeito...que não sei se hoje sou capaz de repetir aquele feito. Eu estava completo. Aquela era a minha verdadeira voz, que normalmente está trancafiada e tímida. Consegui esperar o momento de cantar cada frase, sem pressa. Sou bastante ansioso e me atropelo demais. Estava descansado em cada momento de executar cada batida ou acorde e em cada frase. E quando eu achava que tinha cansado...e começava a cantar outra música, a Força despertava e vinha a toda novamente. Cantei e toquei aquela música "Mantra" do nando Reis (Quando não se tem mais nada, não se perde nada...tudo ou espada..). Até que minha esposa disse que estava chegando do mercado e precisei parar de verdade. Quando parei, um pouco depois os vizinhos aqui da frente de casa começaram a brigar. Um barraco... então pensei: caramba, e eu sou louco? Por comer cogus... não é possível! rsrs Ainda quando estava no início, senti um tesão/energia sexual muito intensa na região do abdomen. Do umbigo para baixo, que irradiava por dentro das coxas. Mas uma energia sexual muito diferente da energia que a cannabis proporciona. Senti e pensei "nossa...nessa área aqui tem muita coisa...". Lembro de ter ido no banheiro e conversar comigo no espelho, no escuro/penumbra. Lembro que disse que aquele era Eu (verdadeiro Eu)..Então consertei e disse que não, não era Eu, porque o verdadeiro Eu ainda está a caminho. Somos um ser que na verdade está-para-ser. Ainda não é. Mas enquanto isso, os funcionários da casa devem manter as coisas em ordem. (Nesse ponto tirei significado de uma antiga alegoria onde o ser humano é comparado com uma casa sem mestre. A casa é uma desordem. O cozinheiro está no estábulo, o responsável pelo estábulo está fazendo outra coisa..e ninguém está em seu lugar. Então, nessa zona deve ser eleito o melhor de todos. Esse será o Mordomo Substituto. Ele irá colocar cada um em seu lugar e preparar a vinda do Mordomo, que quando chegar terá como trabalhar. E um dia, com sorte....o mestre, o Eu verdadeiro chegará na casa. Mas isso requer o perfeito funcionamento de todos os setores da casa). Lembro de ter movimentos como se fosse um desenho animado. Lembro de ter uma sensação de que eu não era meu corpo. Algo bem mais nítido do que apenas "saber isso com a cabeça". Lembro de dizer "Vamos moldar a matéria...." kkkk E fiz uns gestos como se meu corpo fosse flexível e maleável.


Tive efeitos visuais e a viagem interior, como não tinha havia muito tempo. Não dessa forma. Sensacional. Agora vou aguardar uns 25 ou 20 dias e usar o que restou.

Enquanto tocava o violão, tive uma sensação muito nítida de que eu estava sem corpo. Sabia que meu corpo estava ali, mas a impressão de ser limitado ao corpo havia ido embora, de alguma forma. Sobre ter continuado tocando com ímpeto e força e sobre essa sensação de estar sem corpo, lembrei de trechos dos livros de Castaneda. Sei que ninguém sabe dizer se são ou não relatos verídicos. Se o 'fuminho' (humito) é real ou não, no que diz respeito ao preparo do fumo, utilizando cogumelos psilocybes. Lembrando que nas descrições do livro é deixado claro que o pó fino que os cogus acabam se transformando depois de um ano não era queimado, mas sim aspirado... enquanto as demais plantas da mistura eram queimadas. Mas independente disso, seguem os trechos...

Sobre a Força para enfrentá-los:


- Mas então o que é que o fumo ensina?
- Ensina-lhe como usar seu poder, e a saber que deve tantas vezes quantas puder.
- Seu aliado é muito assustador, Dom Juan. Foi diferente de tudo o que já
experimentei. Achei que tinha perdido o juízo.
Por algum motivo, foi essa a imagem mais impressionante que me veio à cabeça.
Considerava o acontecimento global do ponto de vista especial de ter tido outras experiências
alucinógenas com as quais compará-lo, e a única coisa que me ocorria, repetidamente, era
que, com o fumo, a gente perde o juízo.
Dom Juan não fez caso de minha imagem, dizendo que o que eu sentia era seu poder
inimaginável. E para lidar com aquele poder, disse ele, é preciso viver uma vida forte. A idéia
de vida forte não só pertence ao período de preparação, como também acarreta a atitude do
homem depois da experiência. Disse que o fumo é tão forte que a gente só pode enfrentá-lo
com força; senão, a vida da pessoa seria despedaçada.


Sobre não ter corpo:

O fumo por outro lado, é um aliado. Transforma você e lhe dá poder sem jamais mostrar a sua
presença. Não pode conversar com ele. Mas sabe que ele existe porque leva embora seu corpo
e o torna leve como o ar. No entanto, você nunca o vê. Mas está ali, dando-lhe poder para
realizar coisas inimagináveis, como quando lhe tira seu corpo.
- Senti mesmo como se tivesse perdido meu corpo, Dom Juan.
- E perdeu.
- Quer dizer, eu não tinha mesmo corpo?
- O que é que você acha?
- Bem, não sei. Só posso dizer-lhe o que eu sentia.
- É só isso que existe, na realidade... o que você sentia.
- Mas como é que você me via, Dom Juan? Como é que eu lhe aparecia?
- Como eu o via não importa. É como na ocasião em agarrou a vara. Sentia que não estava ali
e deu a volta à vara para se certificar de que estava lá. Mas quando saltou em cima dela,
tornou a sentir que não estava ali, realmente.
- Mas você me via como estou agora, não?
- Não! Não estava como está agora!
- É verdade! Isso admito. Mas tinha meu corpo, não tinha, embora não pudesse sentilo?
- Não! Que diabo! Não tinha um corpo como o que tem hoje!
- Então o que aconteceu com meu corpo?
- Eu pensava que você entendesse. O fuminho levou seu corpo.
- Mas para onde foi?
- Como, afinal, você espera que eu saiba disso?
Era inútil insistir em tentar obter uma explicação "racional". Disse-lhe que não queria
discutir, nem fazer perguntas bobas, mas se eu aceitasse a idéia de que era possível perder
meu corpo, perderia toda minha racionalidade.
Respondeu que eu estava exagerando, como sempre, e que não tinha perdido nem ia
perder nada por causa do fuminho.


É isso, pessoal... abraço!
 
Última edição:
Interessante, mesmo, @Matus, sua experiência e o relato é bem claro em passar as diversas sensações na medida em que fosse possível

Alguns comentários...

Dessa vez não tinha cannabis comigo, de forma que era um particular com os cogus e estava feliz por isso, porque as vezes tenho a impressão de que a cannabis distrai.

Que bom. A cannabis dá uma alterada na experiência por modular os efeitos, então sem ela você pôde sentir o cogumelo em maior pureza.

A caixinha de som estava ruim, então ficou com um ruído que iria atrapalhar muito toda a possibilidade de harmonia da experiência.

Ah, que chato! Que bom que resolveu com a música ao vivo. :)

entendo também que cada um de nós deve explorar por conta própria

Sim, a cada um seu caminho, a cada caminho seu um.

Me estiquei de um jeito que não fazia há tempos. E não só o ato de esticar-se, porque volta e meia faço isso, mas a qualidade da espreguiçada que me deixou satisfeitíssimo

Isso é "bão dimais da conta" kkk

Então fui fazer uns movimentos de tai chi.

Cara! Eu adoraria saber esses movimentos pra momentos com o cogumelo. Faço umas coisas doidas ao som de Pink Floyd, e sinto tanta energia passar e ser levada... imagina com movimentos conscientes de tai chi...

Mas, sua memória e o momento não eram pra movimentos físicos, afinal, como você disse, não os lembrava.

Peguei o violão. Não posso dizer que "toco violão". Prefiro dizer que toco algumas músicas no violão. Sou amador, embora tenha o violão por anos e anos. Comecei...Nando Reis, Pink Floyd, Raul Seixas, Arnaldo Antunes.

Ótima escolha de sonoridades!!!

A Força me invadiu de tal maneira, que minha voz soltou de um jeito...que não sei se hoje sou capaz de repetir aquele feito. Eu estava completo. Aquela era a minha verdadeira voz, que normalmente está trancafiada e tímida.

Isso... essa coisa de dentro pra fora no canto sob cogumelos... é tão verdadeiro, tão pra fora, tão vivo!

porque o verdadeiro Eu ainda está a caminho. Somos um ser que na verdade está-para-ser. Ainda não é.

Sim. Somos seres em constante progresso. Nada de "Síndrome de Gabriela Cravo e Canela - eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim", como diz Leandro Karmal. A cada dia podemos nos construir e reconstruir, sempre adiante.

Agora vou aguardar uns 25 ou 20 dias e usar o que restou.

Bom prazo pra aproveitar bem a próxima experiência com boa integração dessa que narrou. :D

Até a próxima!
 
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