Encontram-se em vermelho as partes da experiência que fui digerindo e lembrando com o tempo.
Pois bem meus amigos!
Depois de muito tempo aguardando por isso, posso dizer, experimentei! Vamos à história!
Cheguei do trabalho, me arrumei e esperei o Quetzal e o Nabodê chegarem.
Aproveitamos do Sol e fomos procurar mais alguns frescos em pasto dos arredores da cidade.
Dotados de sapiência entramos na chácara como pesquisadores de fungos. Em nenhum momento mentimos nem enganamos ninguém.
Fomos para a cidade do Nabodê (que nos cedeu e concedeu o uso da chácara), passamos em sua casa e fizemos o favor de limpar sua geladeira - comemos tudo que tínhamos direito.
Nesse momento chega Zalinsk para terminar de vez com a comida dele (melhor dizendo, que sua mãe havia feito).
Fomos então todos no mesmo carro para a chácara. Mas chegando lá sentimos que faltava alguma coisa em todos nós, é aquilo em nós que faz que todas as portas que apareceram na nossa vida sejam abertas... As chaves!
Ficaram então Quetzal e Zalinsk tentando arrombar a chácara enquanto Nabodê e eu voltamos para cidade para pegar a bendita chave.
A experiência em si não poderia ficar melhor se não fossem essa classe de eventos.
Pois bem, em meio as conversas e descontrações, próximo da meia-noite fizemos uma macarronada, mandioca e carne e 'ceiamos' antes de deitar.
Conforme o planejado, acordamos por volta das 03h30min (o Zalinsk e Quetzal nem dormiram, elétricos, pois arriscaram a tomar meu pó mágico, um composto de ginkgo biloba, ginseng, maca e guaraná). Tomei um pouco do meu pó para dar aquela levantada.
Meio que às tapas começamos a discutir sobre como faríamos o chá. Decidimos fazer do jeito mais primitivo, água e cogumelo apenas.
Nossa receita foi utilizar dos meus 5.5 gramas de tasmanianos, mais umas 6 gramas dos tasmanianos que sobraram do Zalinsk, somados a uns 70 gramas de cogumelos fresquinhos. Foi adicionado também os cogumelos secos que encontramos em nossa caçada de fim de expediente. Calculamos que cada um dos 3 tomou por volta do equivalente a 7 gramas de cogumelos secos. (o Zalinsk já havia tomado, não queria novamente, leiam o relato dele). Só para loucos.
A receita rendeu perfeitos 3 copos. Então decidimos que iríamos tomar afastados da casa, em meio a chácara, meio a natureza. :
Na 'discussão' de que o gosto seria ruim e que deveríamos colocar açúcar, tomei APENAS um golinho, fundo do copo, daquele caldo preto. Apenas molhei a boca...
Então saímos da casa. Antes de chegarmos à clareira, que eram quase 10 minutos de caminhada, já notei os efeitos da psilocibina atuando em meu organismo. Notei as cores bem mais fortes, contornos dos objetos mais nítidos, facilidade de enxergar no escuro e audição levemente mais aguçada. :rollees:
Quando chegamos, estendemos uma lona no chão. Cada um então tomou um copo do chá.
Vale lembrar que o Zalinsk foi nossa babá! E que tamanha compreensão que tem esse grande irmão em não apoiar nem se opor a nossa vontade de tomar o chá, senão de ser imparcial e de nos ajudar em todos os momentos. Valeu Zal!
Como já estava com psilocibina no sangue e ter acabado de encher o tanque com mais um copo, rapidamente minhas pernas bambearam e logo fui deitar na lona. Foi então que notei que já fazia um tempo que era só fechar os olhos que contínuos fractais se formavam.
Passados 10 minutos, Quetzal havia vomitado :neg:, mas já era tarde, já havia absorvido psilocibina suficiente.
Enfim, toda descrição que fizer a partir de agora são da minha particularidade. O fungo se encarregou de levar a cada um o seu 'poder' e cada um teve sua experiência em particular, embora com semelhantes objetivos, cada um teve a sua vivência.
Deitado na lona pude observar o forte brilho das estrelas. Cintilavam, sentia a vida nelas, indescritível.
Descrevia para o Zalinsk: 'Estou afundando, estou derretendo!'. E ele dizia: 'Do chão não passa, respira fundo e viva'. Então pensei comigo.... Afunda sim, afunda sim... E então me sentia derretendo lentamente.
Recordo que o Zalinsk falou então para mim: 'Tente dormir' então ele soltava uma risada sarcástica e irônica e dizia: 'Não vai conseguir...'
Em poucos segundos me senti tomado completamente pelo fungo. Fechava os olhos e continuava a ver o céu, maravilhoso, da mesma forma que com os olhos abertos.
Senti meu corpo inteiro formigar como que estivesse fritando de dentro para fora.
:luz: Em mais alguns instantes veio o primeiro 'choque', tomei sentido absoluto de todo meu corpo. Podia sentir todas os músculos, nervos, cartilagens, tendões, artérias. Podia sentir o fluxo do sangue fluir em cada parte do meu organismo. Sentir o coração, estômago, fígado, pâncreas e intestinos, pulmões, rins... Todos os órgãos... Senti como cumprem seu papel, senti que funcionavam, que estavam vivos. Simplesmente senti meu corpo.
Olhando para as estrelas pude notar que algumas se movimentavam! O pulsar delas era muito, muito forte! Mas em um determinado momento todas começaram a se mover harmoniosamente em direção a uma 'estrela central' que suavemente aumentava seu brilho. Até que todas estrelas foram absorvidas por essa linda e enorme estrela central!
Os cheiros/perfumes/fragrâncias da natureza! Com meu olfato super aguçado podia respirar junto a terra. Sentia o cheiro do campo. Ouvia o cheiro! Enxergava o cheiro!
Então acredito eu, entrei no efeito máximo do cogumelo. :!:
:luz: Fechava os olhos e infinitas visões e mensagens me viam, parecia que entrava cada vez mais no universo, ou que entrava cada vez mais em um átomo. Indescritível. Quem assistiu 'Viagens Alucinantes', ou quem já tomou uma dose cavalar como a nossa, sabe que essa descrição em forma de texto é representação de apenas 1% do que se consegue escrever.
Algumas vezes olhava para meu lado esquerdo e via o Nabodê se derretendo como uma estátua de cor verde acinzentado, integrado com a natureza, saindo folhas de todo seu corpo/estátua que estava metade afundada no chão, completamente sem movimento. Olhava para o lado direito e via o Quetzal, sorrindo todo feliz, meio transparente assumindo semelhante forma de um morcego, e ao mesmo tempo conseguia ver o universo estrelado através dele, no horizonte. Inclinava um pouco a cabeça para cima e via o Zalinsk, na forma como de um tigre, tomando conta da gente. Estava mexendo as mãos e enxergava muitos mais dedos do que havia. Usava isso como apoio e como ponte para manter a concentração, então, chamava-os pelo nome.
As vezes houve um som metálico estridente. Em alguns momentos ficava muito agudo e em outros ficava grave, ondulava e oscilava. Quem já brincou com um osciloscópio conhece os sons.
Mas não me incomodei em absolutamente nada com isso. Apenas sentia o som.
As vozes dos meus amigos em muitos momentos ficavam metálicas. Principalmente do Nabodê, pois em alguns momentos ele -tentava- vocalizar alguns mantrams. Parecia que o som emitido se arrastava por todo o campo, sentia-o, enxergava-o.
:luz: O impulso e a força violenta do fungo ficou ainda muito maior. A cada palavra que saia no ar da boca dos companheiros, afundavam em mim e então descobria o significado da palavra (ou achava que sentia, como vou repetir varias vezes nesse relato: preciso digerir muita coisa ainda). Sentia-a, simplesmente isso.
Via meus braços e pernas, mas não eram meus. Eram como que se fossem apenas pedaços de carnes, objetos. Em alguns momentos colocava minhas mãos sobre o rosto e sentia minhas mãos transpassarem meu rosto, meio que formigando soltava-se em minhas mão. Me sentia derretido, como se aquele corpo estivesse se despedaçando, mas que estava em cada um daqueles pedaços. Me desintegrava.
Ao mesmo tempo sentia uma forte sensação/emoção de como o corpo físico é realmente frágil. Sentia como meu organismo é realmente importante ao mesmo tempo que completamente insignificante perante o 'todo' aonde me encontro inserido.
O tempo tornou-se insignificante. Apenas uma propriedade da matéria. As vezes congelava, as vezes retrocedia, as vezes avançava. Muitas vezes NÃO EXISTIA.
Como que em flashs, sentia o significado de muitas coisas. Me sentia integrado com o todo, não chamava mais o nome de ninguém, não estava mais deitado na lona senão sentia que estava em todo lugar, em todos os pontos em todo o tempo. Acredito ser o ápice da coisa, pois não pensava mais, não sentia mais, a pouquíssima faísca de algo tão pequeno, chamado raciocínio, também não existia mais, simplesmente 'ERA'. O significado das coisas não tinha mais importância. Perdi minha identidade, acredito que naquele instante, não estava presente aquilo chamado EGO. Nada disso do que escrevo pode ser descrito em palavras, não é 1/2 % do que passei.
'Passado um tempo' nesse estado, recobrei uma fração dos sentidos humanos. 'Retornei a lona' e uma grande inspiração me atingiu, tudo era muito claro de se entender. O sol já estava nascendo. Deve ter passado umas duas horas e já conseguia quase ficar de pé. Havia MUITOS mosquitos e pernilongos, mas não da a mínima importância para elas, não faziam sentido para mim.
Encorajado pelo Zalinsk, percorri a clareira e andando em círculos, algumas vezes me apoiando nele. Continuava a receber muitas impressões, muitos conceitos e dogmas continuavam a se quebrar. O tempo parecia acontecer de forma diferente do normal, mas o suficiente para apreciar o nascer do Sol com todas as cores possíveis. Beleza fatal, sedutora e encantadora.
Algo interessante aconteceu, as vacas que estavam pela redondeza começaram a se aproximar e dentro de minha viagem era como se todas elas estivessem olhando para mim! Impressionante a forma como todas elas me encaravam!
Olhava para o Zalinsk e em vários momentos perdia o conceito de profundidade. Era como se estive bem perto de mim e em outros momentos se encontrava a muitos e muitos metros de distancia.
Percorria o terreno, tudo parecia prazeroso, assim como no inicio da experiência, conseguia sentir os aromas com uma percepção incrível. Ouvia os grilos, os pássaros, as plantas, tudo como uma harmônica musica. Tamanho encanto da 'serpente' que muitas vezes me perdia em metros. Me confundia para onde deveria caminhar, muitas vezes o Zalinsk me questionava as coisas, muitas delas me atingiram, muita coisa eu obedecia como um zumbi, porque assim como repetia: 'Não importa'. Nada mais tinha significado, apenas 'vivia' a natureza, nada mais tinha valor. Valor foi um conceito que desapareceu. :luz:
Pouco a pouco o tempo passava e fui ao encontro do Nabodê e Zalinsk que já haviam entrado em um conjunto de arvores, uma mini-selva na chácara. O cheiro, o som, as cores, o sabor, a textura daquele lugar... Tudo muito nítido. A arvores cochichavam, o chão respirava, cada ponto era vivo e possuía sua inteligência. E podia sentir isso.
Muitas vezes me sentia perdido, em alguns momentos a floresta parecia infinita e em outros como toda aquelas arvores encontravam-se em pequeno quarto.
Como Quetzal havia absorvido pouca psilocibina, já estava suficientemente 'bom', tanto que nos trouxe uma garrafa de água. Beber a água foi uma experiência nova! Sentia o líquido escorregar suavemente pela minha garganta e chegando no estômago. O mais interessante é que enquanto bebia parecia que estava dentro da garrafa. Podia até ver as ondas lá dentro.
A psilocibina no sangue foi lentamente diminuindo e fui me dirigindo para casa. Me perdi algumas vezes, encantado com a paisagem. :
Em todos os momentos estive 'estranhamente' lúcido. Guiado, como se o fungo estive no comando, uma melhor analogia seria como se o fungo fosso o chofer, o motorista do carro e eu apenas estava lá atrás, assistindo e dizendo o que queria. Era e não era eu.
Fui chegando próximo da casa e ia sentindo que aquilo era o fim, mas já fazia tempo que havia perdido minha identidade. Reconhecia as pessoas, as coisas e os lugares, porem era como se nunca tivesse estado lá, nunca tivesse visto ninguém. Era como se estivesse retornando de uma viagem de muitos anos. Quem recorda do final do filme 'As Crônicas de Nárnia' sabe do que estou falando. Estava a cada passo sendo bombardeado por muitas idéias, muitas lembranças, muitos dogmas, idéias, conceitos foram quebrados, espero que não foram apenas substituído por outros, senão que houve uma revalorização geral da vida. Havia esquecido quem era e pouco a pouco fui recordando quem fui. De certa forma não queria, sentia uma angustia enorme.
Me sentia retornando para meu corpo, tomando o controle, ia me sentindo amarrado, me aprisionando novamente naquele veiculo humano frágil e limitado a matéria.
Deitei na cama. Fiz algumas respirações. Foi como nascer. Levantei, conversei (apenas fiquei ouvindo) um pouco da filosofia do Quetzal, que em instantes se retirou para procurar o Nabodê e o Zalinsk.
Era por volta das 08h30min. Fiquei sozinho na casa. Foi então que o a psilocibina ficou inerte no meu organismo. Como que bombardeado pela minha vida. Assisti meu passado me atingir. 'Lembrei' dos meus familiares, das minhas obrigações, das responsabilidades, de como fiz muitas dessas coisas sem sentido e sem responsabilidade devida... 'Lembrei' da minha noiva e me pus a chorar... Chorei igual um bebê, em silêncio apenas pela saudades que senti dela. A angustia era muito forte, ao mesmo tempo em que 'não queria voltar' daquela 'felicidade', me senti muito mal porque me lembrava de todos os momentos que fiz coisas erradas. Muita coisa passou pela cabeça. Muitos dogmas, conceitos, idéias que tinha sobre a vida e sobre as coisas, foram facilmente destruídas. Sempre soube que a vida é uma ilusão perfeita, mas nunca tinha tocado, sentido isso dessa forma. Mas que pelo menos, senti uma fração de uma fração de um fragmento, ainda de forma superficial, daquilo que todos os poetas, pintores, escultores, artistas e eteceteras tentaram expressar. Amor.
Senti isso, que a única maneira de se chegar a algo parecido com aquela 'liberdade/realidade' (ou ilusão daquilo) seria estar na condição humana. Que realmente precisava de todas aquelas coisas que fui recordando. Transcendê-las.
O que sentia naquele momento é bem parecido com ALGUMAS das frases da música dos Titãs, Epitáfio:
Devia ter amado mais, Ter chorado mais, Ter visto o sol nascer, Devia ter arriscado mais, E até errado mais, Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração...
...
Devia ter complicado menos, Trabalhado menos, ter visto o sol se pôr, Devia ter me importado menos, Com problemas pequenos, Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado a vida como ela é, A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier...
...
Devia ter complicado menos... Trabalhado menos... Ter visto o sol se pôr...
Não sei se aquilo que vi/senti/percebi era a 'realidade' (ou uma fração perceptível dela), pois havia me separado temporariamente do ego.
ou
Não sei se aquilo que vi/senti/percebi era uma ilusão, a ilusão que de fato vivemos, só que vista de forma nua e crua, já que havia me separado temporariamente do filtro que nós mesmo criamos, o ego.
Acredito que uma conclusão segura que posso tirar é que é tudo uma ilusão. E que a realidade, de verdade se encontra engarrafada dentro de nós. Dentro de cada um, aprisionada dentro de cada particularidade humana. Ignorada por nós, ou não.
Algo interessante que aconteceu e que Quetzal notou foi que a nossa integração com a natureza foi tamanha que não nos machucamos em nenhum momento! Um exemplo é que andávamos descalço e nada aconteceu a nossos pés! Diferente de outros dias, ou mesmo horas depois nesse mesmo dia, aonde caminhamos reclamando dos espinhos ou das pedras, cheios de frescura.
Nos momentos da viagem estávamos em harmonia com a natureza! Não a ferimos e ela não nos feria... Ou será o contrario? Também não importa!
Não pretendo usar os cogumelos novamente. Também não posso afirmar que nunca vou usá-los novamente. Mas posso dizer que 'hoje', não vou precisar mais deles. :luz:
Posso ter tirado muitas conclusões erradas, ou não. Ainda estou trabalhando e refletindo muito sobre o que passei. Mas ai esta o meu testemunho.
Gostaria de avisar que o que descrevi nesse pequeno texto é uma porcentagem MUITO PEQUENA do que consegui digerir das informações que recebi. E que também não importa o quanto tenha tentado detalhar, nada, absolutamente NADA chega perto do que foi sentido, isso não pode ser expressado em palavras, em textos, em relatos de experiências. Mesmo porque MUITAS das experiências que senti, bem como que 'significados' e 'explicações' procurava, são muito particulares e não cabe em lugar nem hora nenhuma detalhar isso. Mesmo porque ainda vou levar algum tempo para digerir tudo.
Traduzindo em fatos, vou levar essa experiência para toda vida. É no mínimo interessante olhar para as pessoas, para os animais, plantas, pedras... Com outro olhar, um outro sentir, tenho que trabalhar para que não me acomode tão fácil nem que me nivele com as pessoas tão rápido.
Agradecimentos para Nabodê, Zalinsk, Quetzal, pelo trabalho em equipe e cooperação, pela vivencia e convivência no meu dia-a-dia.
Agradecimentos extras para Calimba, Boca, Maurício e MuiLok que influenciaram diretamente no meu cultivo.
Agradecimento especial para minha noiva. Pela sua paciência, sua compreensão e seu sentido maternal em se preocupar comigo.
Não posso esquecer da minha família que me apoiou no cultivo, mesmo sem entenderem meus objetivos.
E também a muitas outras pessoas que conheci no fórum, que me ajudaram direta ou indiretamente para que eu chegasse aos meus objetivos. Todos tiveram sua participação em maior ou menor grau.
O Heroína é um mala, mas é gente fina, tem chances de se tornar um exímio cultivador de medicinais, pois esta pesquisando MUITO.
Acredito que agora eu dê uma afastada do fórum. O fórum é rico e transbordante de informações e um lugar interessante aonde algumas POUCAS pessoas que conheci compartilham de objetivos semelhantes (fora o cultivo em si).
Pessoal... É isso! É!
Pois bem meus amigos!
Depois de muito tempo aguardando por isso, posso dizer, experimentei! Vamos à história!
Cheguei do trabalho, me arrumei e esperei o Quetzal e o Nabodê chegarem.
Aproveitamos do Sol e fomos procurar mais alguns frescos em pasto dos arredores da cidade.
Dotados de sapiência entramos na chácara como pesquisadores de fungos. Em nenhum momento mentimos nem enganamos ninguém.
Fomos para a cidade do Nabodê (que nos cedeu e concedeu o uso da chácara), passamos em sua casa e fizemos o favor de limpar sua geladeira - comemos tudo que tínhamos direito.
Nesse momento chega Zalinsk para terminar de vez com a comida dele (melhor dizendo, que sua mãe havia feito).
Fomos então todos no mesmo carro para a chácara. Mas chegando lá sentimos que faltava alguma coisa em todos nós, é aquilo em nós que faz que todas as portas que apareceram na nossa vida sejam abertas... As chaves!
Ficaram então Quetzal e Zalinsk tentando arrombar a chácara enquanto Nabodê e eu voltamos para cidade para pegar a bendita chave.
A experiência em si não poderia ficar melhor se não fossem essa classe de eventos.
Pois bem, em meio as conversas e descontrações, próximo da meia-noite fizemos uma macarronada, mandioca e carne e 'ceiamos' antes de deitar.
Conforme o planejado, acordamos por volta das 03h30min (o Zalinsk e Quetzal nem dormiram, elétricos, pois arriscaram a tomar meu pó mágico, um composto de ginkgo biloba, ginseng, maca e guaraná). Tomei um pouco do meu pó para dar aquela levantada.
Meio que às tapas começamos a discutir sobre como faríamos o chá. Decidimos fazer do jeito mais primitivo, água e cogumelo apenas.
Nossa receita foi utilizar dos meus 5.5 gramas de tasmanianos, mais umas 6 gramas dos tasmanianos que sobraram do Zalinsk, somados a uns 70 gramas de cogumelos fresquinhos. Foi adicionado também os cogumelos secos que encontramos em nossa caçada de fim de expediente. Calculamos que cada um dos 3 tomou por volta do equivalente a 7 gramas de cogumelos secos. (o Zalinsk já havia tomado, não queria novamente, leiam o relato dele). Só para loucos.
A receita rendeu perfeitos 3 copos. Então decidimos que iríamos tomar afastados da casa, em meio a chácara, meio a natureza. :
Na 'discussão' de que o gosto seria ruim e que deveríamos colocar açúcar, tomei APENAS um golinho, fundo do copo, daquele caldo preto. Apenas molhei a boca...
Então saímos da casa. Antes de chegarmos à clareira, que eram quase 10 minutos de caminhada, já notei os efeitos da psilocibina atuando em meu organismo. Notei as cores bem mais fortes, contornos dos objetos mais nítidos, facilidade de enxergar no escuro e audição levemente mais aguçada. :rollees:
Quando chegamos, estendemos uma lona no chão. Cada um então tomou um copo do chá.
Vale lembrar que o Zalinsk foi nossa babá! E que tamanha compreensão que tem esse grande irmão em não apoiar nem se opor a nossa vontade de tomar o chá, senão de ser imparcial e de nos ajudar em todos os momentos. Valeu Zal!
Como já estava com psilocibina no sangue e ter acabado de encher o tanque com mais um copo, rapidamente minhas pernas bambearam e logo fui deitar na lona. Foi então que notei que já fazia um tempo que era só fechar os olhos que contínuos fractais se formavam.
Passados 10 minutos, Quetzal havia vomitado :neg:, mas já era tarde, já havia absorvido psilocibina suficiente.
Enfim, toda descrição que fizer a partir de agora são da minha particularidade. O fungo se encarregou de levar a cada um o seu 'poder' e cada um teve sua experiência em particular, embora com semelhantes objetivos, cada um teve a sua vivência.
Deitado na lona pude observar o forte brilho das estrelas. Cintilavam, sentia a vida nelas, indescritível.
Descrevia para o Zalinsk: 'Estou afundando, estou derretendo!'. E ele dizia: 'Do chão não passa, respira fundo e viva'. Então pensei comigo.... Afunda sim, afunda sim... E então me sentia derretendo lentamente.
Recordo que o Zalinsk falou então para mim: 'Tente dormir' então ele soltava uma risada sarcástica e irônica e dizia: 'Não vai conseguir...'
Em poucos segundos me senti tomado completamente pelo fungo. Fechava os olhos e continuava a ver o céu, maravilhoso, da mesma forma que com os olhos abertos.
Senti meu corpo inteiro formigar como que estivesse fritando de dentro para fora.
:luz: Em mais alguns instantes veio o primeiro 'choque', tomei sentido absoluto de todo meu corpo. Podia sentir todas os músculos, nervos, cartilagens, tendões, artérias. Podia sentir o fluxo do sangue fluir em cada parte do meu organismo. Sentir o coração, estômago, fígado, pâncreas e intestinos, pulmões, rins... Todos os órgãos... Senti como cumprem seu papel, senti que funcionavam, que estavam vivos. Simplesmente senti meu corpo.
Olhando para as estrelas pude notar que algumas se movimentavam! O pulsar delas era muito, muito forte! Mas em um determinado momento todas começaram a se mover harmoniosamente em direção a uma 'estrela central' que suavemente aumentava seu brilho. Até que todas estrelas foram absorvidas por essa linda e enorme estrela central!
Os cheiros/perfumes/fragrâncias da natureza! Com meu olfato super aguçado podia respirar junto a terra. Sentia o cheiro do campo. Ouvia o cheiro! Enxergava o cheiro!
Então acredito eu, entrei no efeito máximo do cogumelo. :!:
:luz: Fechava os olhos e infinitas visões e mensagens me viam, parecia que entrava cada vez mais no universo, ou que entrava cada vez mais em um átomo. Indescritível. Quem assistiu 'Viagens Alucinantes', ou quem já tomou uma dose cavalar como a nossa, sabe que essa descrição em forma de texto é representação de apenas 1% do que se consegue escrever.
Algumas vezes olhava para meu lado esquerdo e via o Nabodê se derretendo como uma estátua de cor verde acinzentado, integrado com a natureza, saindo folhas de todo seu corpo/estátua que estava metade afundada no chão, completamente sem movimento. Olhava para o lado direito e via o Quetzal, sorrindo todo feliz, meio transparente assumindo semelhante forma de um morcego, e ao mesmo tempo conseguia ver o universo estrelado através dele, no horizonte. Inclinava um pouco a cabeça para cima e via o Zalinsk, na forma como de um tigre, tomando conta da gente. Estava mexendo as mãos e enxergava muitos mais dedos do que havia. Usava isso como apoio e como ponte para manter a concentração, então, chamava-os pelo nome.
As vezes houve um som metálico estridente. Em alguns momentos ficava muito agudo e em outros ficava grave, ondulava e oscilava. Quem já brincou com um osciloscópio conhece os sons.
Mas não me incomodei em absolutamente nada com isso. Apenas sentia o som.
As vozes dos meus amigos em muitos momentos ficavam metálicas. Principalmente do Nabodê, pois em alguns momentos ele -tentava- vocalizar alguns mantrams. Parecia que o som emitido se arrastava por todo o campo, sentia-o, enxergava-o.
:luz: O impulso e a força violenta do fungo ficou ainda muito maior. A cada palavra que saia no ar da boca dos companheiros, afundavam em mim e então descobria o significado da palavra (ou achava que sentia, como vou repetir varias vezes nesse relato: preciso digerir muita coisa ainda). Sentia-a, simplesmente isso.
Via meus braços e pernas, mas não eram meus. Eram como que se fossem apenas pedaços de carnes, objetos. Em alguns momentos colocava minhas mãos sobre o rosto e sentia minhas mãos transpassarem meu rosto, meio que formigando soltava-se em minhas mão. Me sentia derretido, como se aquele corpo estivesse se despedaçando, mas que estava em cada um daqueles pedaços. Me desintegrava.
Ao mesmo tempo sentia uma forte sensação/emoção de como o corpo físico é realmente frágil. Sentia como meu organismo é realmente importante ao mesmo tempo que completamente insignificante perante o 'todo' aonde me encontro inserido.
O tempo tornou-se insignificante. Apenas uma propriedade da matéria. As vezes congelava, as vezes retrocedia, as vezes avançava. Muitas vezes NÃO EXISTIA.
Como que em flashs, sentia o significado de muitas coisas. Me sentia integrado com o todo, não chamava mais o nome de ninguém, não estava mais deitado na lona senão sentia que estava em todo lugar, em todos os pontos em todo o tempo. Acredito ser o ápice da coisa, pois não pensava mais, não sentia mais, a pouquíssima faísca de algo tão pequeno, chamado raciocínio, também não existia mais, simplesmente 'ERA'. O significado das coisas não tinha mais importância. Perdi minha identidade, acredito que naquele instante, não estava presente aquilo chamado EGO. Nada disso do que escrevo pode ser descrito em palavras, não é 1/2 % do que passei.
'Passado um tempo' nesse estado, recobrei uma fração dos sentidos humanos. 'Retornei a lona' e uma grande inspiração me atingiu, tudo era muito claro de se entender. O sol já estava nascendo. Deve ter passado umas duas horas e já conseguia quase ficar de pé. Havia MUITOS mosquitos e pernilongos, mas não da a mínima importância para elas, não faziam sentido para mim.
Encorajado pelo Zalinsk, percorri a clareira e andando em círculos, algumas vezes me apoiando nele. Continuava a receber muitas impressões, muitos conceitos e dogmas continuavam a se quebrar. O tempo parecia acontecer de forma diferente do normal, mas o suficiente para apreciar o nascer do Sol com todas as cores possíveis. Beleza fatal, sedutora e encantadora.
Algo interessante aconteceu, as vacas que estavam pela redondeza começaram a se aproximar e dentro de minha viagem era como se todas elas estivessem olhando para mim! Impressionante a forma como todas elas me encaravam!
Olhava para o Zalinsk e em vários momentos perdia o conceito de profundidade. Era como se estive bem perto de mim e em outros momentos se encontrava a muitos e muitos metros de distancia.
Percorria o terreno, tudo parecia prazeroso, assim como no inicio da experiência, conseguia sentir os aromas com uma percepção incrível. Ouvia os grilos, os pássaros, as plantas, tudo como uma harmônica musica. Tamanho encanto da 'serpente' que muitas vezes me perdia em metros. Me confundia para onde deveria caminhar, muitas vezes o Zalinsk me questionava as coisas, muitas delas me atingiram, muita coisa eu obedecia como um zumbi, porque assim como repetia: 'Não importa'. Nada mais tinha significado, apenas 'vivia' a natureza, nada mais tinha valor. Valor foi um conceito que desapareceu. :luz:
Pouco a pouco o tempo passava e fui ao encontro do Nabodê e Zalinsk que já haviam entrado em um conjunto de arvores, uma mini-selva na chácara. O cheiro, o som, as cores, o sabor, a textura daquele lugar... Tudo muito nítido. A arvores cochichavam, o chão respirava, cada ponto era vivo e possuía sua inteligência. E podia sentir isso.
Muitas vezes me sentia perdido, em alguns momentos a floresta parecia infinita e em outros como toda aquelas arvores encontravam-se em pequeno quarto.
Como Quetzal havia absorvido pouca psilocibina, já estava suficientemente 'bom', tanto que nos trouxe uma garrafa de água. Beber a água foi uma experiência nova! Sentia o líquido escorregar suavemente pela minha garganta e chegando no estômago. O mais interessante é que enquanto bebia parecia que estava dentro da garrafa. Podia até ver as ondas lá dentro.
A psilocibina no sangue foi lentamente diminuindo e fui me dirigindo para casa. Me perdi algumas vezes, encantado com a paisagem. :
Em todos os momentos estive 'estranhamente' lúcido. Guiado, como se o fungo estive no comando, uma melhor analogia seria como se o fungo fosso o chofer, o motorista do carro e eu apenas estava lá atrás, assistindo e dizendo o que queria. Era e não era eu.
Fui chegando próximo da casa e ia sentindo que aquilo era o fim, mas já fazia tempo que havia perdido minha identidade. Reconhecia as pessoas, as coisas e os lugares, porem era como se nunca tivesse estado lá, nunca tivesse visto ninguém. Era como se estivesse retornando de uma viagem de muitos anos. Quem recorda do final do filme 'As Crônicas de Nárnia' sabe do que estou falando. Estava a cada passo sendo bombardeado por muitas idéias, muitas lembranças, muitos dogmas, idéias, conceitos foram quebrados, espero que não foram apenas substituído por outros, senão que houve uma revalorização geral da vida. Havia esquecido quem era e pouco a pouco fui recordando quem fui. De certa forma não queria, sentia uma angustia enorme.
Me sentia retornando para meu corpo, tomando o controle, ia me sentindo amarrado, me aprisionando novamente naquele veiculo humano frágil e limitado a matéria.
Deitei na cama. Fiz algumas respirações. Foi como nascer. Levantei, conversei (apenas fiquei ouvindo) um pouco da filosofia do Quetzal, que em instantes se retirou para procurar o Nabodê e o Zalinsk.
Era por volta das 08h30min. Fiquei sozinho na casa. Foi então que o a psilocibina ficou inerte no meu organismo. Como que bombardeado pela minha vida. Assisti meu passado me atingir. 'Lembrei' dos meus familiares, das minhas obrigações, das responsabilidades, de como fiz muitas dessas coisas sem sentido e sem responsabilidade devida... 'Lembrei' da minha noiva e me pus a chorar... Chorei igual um bebê, em silêncio apenas pela saudades que senti dela. A angustia era muito forte, ao mesmo tempo em que 'não queria voltar' daquela 'felicidade', me senti muito mal porque me lembrava de todos os momentos que fiz coisas erradas. Muita coisa passou pela cabeça. Muitos dogmas, conceitos, idéias que tinha sobre a vida e sobre as coisas, foram facilmente destruídas. Sempre soube que a vida é uma ilusão perfeita, mas nunca tinha tocado, sentido isso dessa forma. Mas que pelo menos, senti uma fração de uma fração de um fragmento, ainda de forma superficial, daquilo que todos os poetas, pintores, escultores, artistas e eteceteras tentaram expressar. Amor.
Senti isso, que a única maneira de se chegar a algo parecido com aquela 'liberdade/realidade' (ou ilusão daquilo) seria estar na condição humana. Que realmente precisava de todas aquelas coisas que fui recordando. Transcendê-las.
O que sentia naquele momento é bem parecido com ALGUMAS das frases da música dos Titãs, Epitáfio:
Devia ter amado mais, Ter chorado mais, Ter visto o sol nascer, Devia ter arriscado mais, E até errado mais, Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração...
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Devia ter complicado menos, Trabalhado menos, ter visto o sol se pôr, Devia ter me importado menos, Com problemas pequenos, Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado a vida como ela é, A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier...
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Devia ter complicado menos... Trabalhado menos... Ter visto o sol se pôr...
Não sei se aquilo que vi/senti/percebi era a 'realidade' (ou uma fração perceptível dela), pois havia me separado temporariamente do ego.
ou
Não sei se aquilo que vi/senti/percebi era uma ilusão, a ilusão que de fato vivemos, só que vista de forma nua e crua, já que havia me separado temporariamente do filtro que nós mesmo criamos, o ego.
Acredito que uma conclusão segura que posso tirar é que é tudo uma ilusão. E que a realidade, de verdade se encontra engarrafada dentro de nós. Dentro de cada um, aprisionada dentro de cada particularidade humana. Ignorada por nós, ou não.
Algo interessante que aconteceu e que Quetzal notou foi que a nossa integração com a natureza foi tamanha que não nos machucamos em nenhum momento! Um exemplo é que andávamos descalço e nada aconteceu a nossos pés! Diferente de outros dias, ou mesmo horas depois nesse mesmo dia, aonde caminhamos reclamando dos espinhos ou das pedras, cheios de frescura.
Nos momentos da viagem estávamos em harmonia com a natureza! Não a ferimos e ela não nos feria... Ou será o contrario? Também não importa!
Não pretendo usar os cogumelos novamente. Também não posso afirmar que nunca vou usá-los novamente. Mas posso dizer que 'hoje', não vou precisar mais deles. :luz:
Posso ter tirado muitas conclusões erradas, ou não. Ainda estou trabalhando e refletindo muito sobre o que passei. Mas ai esta o meu testemunho.
Gostaria de avisar que o que descrevi nesse pequeno texto é uma porcentagem MUITO PEQUENA do que consegui digerir das informações que recebi. E que também não importa o quanto tenha tentado detalhar, nada, absolutamente NADA chega perto do que foi sentido, isso não pode ser expressado em palavras, em textos, em relatos de experiências. Mesmo porque MUITAS das experiências que senti, bem como que 'significados' e 'explicações' procurava, são muito particulares e não cabe em lugar nem hora nenhuma detalhar isso. Mesmo porque ainda vou levar algum tempo para digerir tudo.
Traduzindo em fatos, vou levar essa experiência para toda vida. É no mínimo interessante olhar para as pessoas, para os animais, plantas, pedras... Com outro olhar, um outro sentir, tenho que trabalhar para que não me acomode tão fácil nem que me nivele com as pessoas tão rápido.
Agradecimentos para Nabodê, Zalinsk, Quetzal, pelo trabalho em equipe e cooperação, pela vivencia e convivência no meu dia-a-dia.
Agradecimentos extras para Calimba, Boca, Maurício e MuiLok que influenciaram diretamente no meu cultivo.
Agradecimento especial para minha noiva. Pela sua paciência, sua compreensão e seu sentido maternal em se preocupar comigo.
Não posso esquecer da minha família que me apoiou no cultivo, mesmo sem entenderem meus objetivos.
E também a muitas outras pessoas que conheci no fórum, que me ajudaram direta ou indiretamente para que eu chegasse aos meus objetivos. Todos tiveram sua participação em maior ou menor grau.
O Heroína é um mala, mas é gente fina, tem chances de se tornar um exímio cultivador de medicinais, pois esta pesquisando MUITO.
Acredito que agora eu dê uma afastada do fórum. O fórum é rico e transbordante de informações e um lugar interessante aonde algumas POUCAS pessoas que conheci compartilham de objetivos semelhantes (fora o cultivo em si).
Pessoal... É isso! É!
::rollees: