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Experiência de evolução mental/espiritual

DomJuanCasta

Hifa
Cadastrado
08/05/2014
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Cheguei da aula e arrumei meu quarto. Dobrei e pendurei algumas roupas que estavam fora do lugar, varri o chão, arrumei a cama. Deixei a mão água, duas bananas e pouco mais de meio litro de suco de uva integral. Coloquei para tocar um mantra de meditação e acendi um incenso. Separei um grama do Taonanáctl desidratado. Estava a mais ou menos cinco horas de jejum quando comecei a comer o fungo. Mastiguei muito bem e engoli junto com pequenos goles do suco. Logo depois de ingerir deitei na cama e me cobri com um cobertor de lã bem quente e confortável.

Fechei os olhos e procurei relaxar o máximo ao som do mantra e aroma do incenso. Tentei deixar a mente vazia, sem pensar em nada. Fiquei aguardando o inicio dos efeitos na minha mente e meu corpo. Não consegui relaxar muito, estava um pouco ansioso, mas continuei deitado me esforçando para ficar relaxado. Comecei a abrir o olho de instantes em instantes olhando ao redor do quarto como se esperasse ver alguns objetos mais brilhantes ou se distorcendo. Tive a impressão de que as vigas de madeira no teto estavam curvas e que a toalha pendurada no gancho da parede estava derretendo. O vento fazia a cortina formar relevos fascinantes. A fumaça do incenso parecia fluir ao ritmo da música. As caixas de som pareciam dois olhos brilhantes e embaçados.

Fechei os olhos novamente e encostei a cabeça no travesseiro, comecei a ouvir zumbidos altos e agudos cada vez que uma rajada de vento mais forte entrava no quarto. Comecei a ficar com os pensamentos embaralhados, uma espécie de confusão mental. Pensava mil coisas ao mesmo tempo. Abri os olhos de repente, como se estivesse assustado, percebi que havia ficado apenas um ou dois minutos de olhos fechados, mas na minha mente havia passado um bom tempo. Há quanto tempo já estava deitado ali? Não sabia dizer.

Levantei. Ao sair debaixo das cobertas senti uma onda de frio percorrer todo meu corpo. Fui me olhar no espelho. Meu reflexo parecia estar rindo de mim então comecei a rir também. Meu corpo estava mole e pesado. Fui acender outro incenso e tive grandes dificuldades em executar a ação. Tomei um copo de suco e comi uma banana.

Voltei a deitar e me concentrei no som do mantra. Fechei os olhos e comecei a ver linhas embaçadas se curvando formando uma espécie de mandala. Senti meu corpo leve, fluindo junto com cada som da música. Quando o mantra finalmente acabou e o silêncio tomou conta do ambiente tive a noção que havia se passado cerca de uma hora e meia desde a ingestão do fungo.

Pensei em colocar outro tipo de som para tocar e continuar deitado fluindo com o som, mas comecei a me sentir meio enclausurado no quarto e decidi que era melhor sair. Inicialmente tive medo da idéia de sair do quarto. Não sabia o que iria encontrar do lado de fora. Minha mente ainda estava um tanto quanto confusa. Tomei coragem. Coloquei a banana restante no bolso, dei um longo gole de suco e depois um longo gole de água. Abri a porta e finalmente sai.

Senti-me com medo. A grama ao redor do quarto estava brilhante, as árvores balançavam em harmonia com o vento. Deixei o sentimento de medo de lado e senti-me livre. Chamei meu cachorro e logo me puis a subir a trilha do fundo do meu quintal. Usava os troncos das árvores como apoio para me ajudar a escalar a pequena subida a minha frente. A cada contato de minhas mãos com as plantas sentia uma troca de energia entre meu ser e a natureza. Parei de me movimentar e contemplei aquela mata fechada com sua grande diversidade de plantas. Um bem estar tomou conta do meu corpo e minha mente. Subi mais alguns metros até o fim da trilha. Cheguei ao meu destino, um campo de Dunas. Meu cachorro já me aguardava ali. Quando me viu, saiu correndo em disparada. Pude sentir seu sentimento de alegria. Comecei a caminhar rápido em sua direção e logo estávamos beirando um pequeno lago. O vento gerava pequenas ondas na superfície do lago que eram refletidas pela luz do sol. Contemplei aquele fenômeno de interação entre os elementos da natureza e me senti realmente vivo. Olhei o céu e suas nuvens e me senti melhor ainda. Dividi a última banana com meu cachorro. Seu sabor e textura estavam magníficos.

Explorei as dunas junto com meu cachorro, e comecei a ter pensamentos profundos sobre a minha existência. Agradeci por ter o privilégio de desfrutar daqueles momentos em um lugar tão intocado e de certa forma secreto. Longe da urbanização, fora da rotina e liberto do sistema.

Comecei a subir uma duna realmente alta e íngreme e pensei que a vida também é como uma escalada. Devem-se subir os degraus passo a passo, como foco e determinação para que seja possível atingir o objetivo tão desejado. Cheguei ao topo e contemplei a beleza daquele lugar. Dunas de areia branca misturadas com uma vegetação verde escuro e alguns pequenos lagos. Montanhas e o mar aberto ao fundo. Continuei relacionando aquele momento com a vida. Olhei o caminho que havia acabado de subir e pensei que como na vida, ao olhar para trás, deve-se ter a sensação de que apesar de todo esforço necessário para chegar até ali, a recompensa tem valor inestimável.

Continuei caminhando pelas dunas pensando a respeito da minha vida, do meu passado e de minhas expectativas pro futuro. Dos meus erros e acertos. Sentia como se houvessem dois Eus na minha consciência e eles estivessem conversando entre eles. Fiz um julgamento de mim mesmo e me senti bem com aquilo, a balança pendia positivamente a meu favor.

Lembrei que a apenas alguns momentos antes estava com medo de sair do quarto e me senti orgulhoso por ter vencido aquele medo. Senti uma clareza no pensamento, sereno, em equilíbrio com a natureza e com a vida. Recordei do livro do Carlos Castaneda “A erva do diabo” que havia lido há algumas semanas. "O homem tem quatro inimigos naturais: o medo, a clareza, o poder e a velhice”. Conclui então que já havia vencido de certa forma o medo e que agora não podia deixar a clareza me cegar. Prometi que iria estudar cada vez mais, senti uma ânsia extrema em obter novos conhecimentos e isso me deixou eufórico.

Continuei a explorar o ambiente por mais algum tempo sempre apreciando a natureza. Senti que estava de fato existindo e não só sobrevivendo. Minha mente esteve sempre com pensamentos positivos e com perspectivas boas para o futuro. A vida é complexa mais ao mesmo tempo simples. É preciso estar em batalha constante para não cair na rotina e ser apenas mais um dominado pelo sistema. É preciso desfrutar das belezas da mãe natureza. Prometi que a partir de agora irei dar mais valor a minha existência. Seguir com o fluxo natural das energias do universo. Agradeci aos fungos sagrados por abrirem as minhas portas para uma percepção mais elevada. Um novo mundo. Evolui espiritualmente.

Retornei até minha casa. Tomei um banho quente relaxante, fiz um jantar revigorante e descansei ouvindo música.

Paz a todos!
 
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