Décima sexta viagem - Retornando ao mundo mágico
Dia 03 de maio de 2024, das 23h às 04h aproximadamente.Dosagem: 5g de Hillbilly + 5g de Hillbilly depois de 40 minutos + 5g de Hillbilly 20 minutos mais tarde
Obs: sei que uma dosagem feita nesse esquema não equivale a tomar 15g de uma só vez.
Salve amigos!
Depois de um longo hiato, cá estou para relatar minha décima sexta viagem de cogumelos. Os mais atentos podem perceber que eu não escrevi o relato da minha décima quinta viagem. Não foi por esquecimento, mas por escolha. Minha penúltima viagem aconteceu em algum momento no final de 2023 e foi bastante desconfortável. Teve seu valor, mas acho que é íntimo demais para escrever aqui. Depois dela, acabei me abrindo (talvez até demais) com o meu pai e me coloquei numa posição muito vulnerável. Meu conselho a todos: evitem fazer experiências perto de pessoas que exercem grande influência sobre a sua psique. A simples presença de alguém importante demais pode corromper parte da experiência pela simples carga emocional que isso pode ter. Dito isso, vamos a um breve resumo da minha última viagem de fato.
Estou tratando depressão com Desvenlafaxina e como eu sabia que poderia haver uma diminuição nos efeitos da psilocibina, fiz um desmame durante a semana: de 100mg passei para 50mg na segunda e terça-feira. Na quarta, quinta e sexta fiquei sem o medicamento. Na sexta-feira, dia da trip, fiz questão de levar o dia na marcha lenta. Fiz um breve jejum das 19h30 até às 23h, quando tomei minha primeira dose.
Como sempre, coloquei minha playlist, liguei meu projetor de estrelas, deixei a fita de led ligada na cor roxa e fiquei deitado na minha cama, relaxando. Nos primeiros 30 minutos eu não estava sentindo quase nada além de uma sensação de embriaguez leve e isso foi me deixando ansioso. Aos 40 minutos eu decidi que talvez eu devesse comer mais 5g de cogumelos. E lá fui eu, comer mais 5g.
Depois de ter comido a segunda dose, comecei a sentir um body high maior e senti vontade de dançar ouvindo a minha playlist. Comecei a me mover mais. Tava ficando feliz, mas com poucos visuais. O máximo que eu via eram ondulações no meu campo de visão e nenhum visual de olho fechado. Eu estava ficando puto com isso. Comi mais 5g e como a ansiedade para mergulhar só aumentava, liguei pro meu melhor amigo naquela hora. Comecei a conversar com ele, dizendo que os medicamentos psiquiátricos me davam a sensação de que havia uma amarra me mantendo preso ao mundo real. Não tava conseguindo mergulhar.
À medida que eu fui conversando com ele, senti a necessidade de falar sobre a nossa amizade.
“Cara, eu preciso me abrir com você. Eu te amo demais cara. Você é muito importante pra mim e quero que você saiba que você é tipo família aqui no meu coração! Conte sempre comigo. Quero poder seguir nessa parceria firmeza entre nós até o fim das nossas vidas, cara!”
Falei um pouco sobre como a minha vida sempre teve uma grande confusão afetiva e sexual, mas que na verdade a minha questão principal era o amor. Nessa hora eu senti que faltava amor no mundo. Havia muita liberdade para se usar as pessoas, mas ninguém queria segurar a mão de ninguém de verdade. Comecei a chorar copiosamente. Foi um choro dolorido como eu não chorava há tempos. “Zé, a gente precisa de amor, mano! Eu sou um cara sedento de amor! Eu não sei o que fazer comigo mesmo, cara!” Depois de um tempo de conversa, comecei a ter um tipo de visão dupla: via o meu quarto ao mesmo tempo que via a sala da casa do meu amigo ao fundo da minha visão. Foi realmente impressionante. Como se eu estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. Conversei um pouco mais e deixei meu amigo em paz.
Nesse momento algumas pessoas particularmente cruéis passaram pela minha mente. Pessoas que me maltrataram, me traíram, me agrediram. Particularmente pessoas do meu convívio de igreja católica. “Algumas pessoas cheiram a morte”, foi um insight que eu tive. “Preciso afastar essas pessoas do meu coração e amar de verdade quem merece”. Vi meu filho e me vi fazendo um cafuné na cabeça dele. Tive uma visão desse mesmo amigo meu passeando na natureza comigo. Tive uma visão de mim mesmo surfando. Outro insight: “o amor me faz derrotar a morte! Quando eu amo eu estou no outro e o outro em mim.”
Fiquei feliz pra cacete! Feliz como só os cogumelos me deixam. Puxa cara, que delícia! Eu sentia amor fluindo por todo o meu corpo. Sentia a contração muscular de todas as fibras do meu corpo. Senti uma puta vontade de viver! De gozar! De ir pra natureza! De ser feliz de verdade! Comecei a falar sozinho em inglês (estranho, eu sei) “I am so fucking happy dude! I am the mushroom man! I found love! I defeated death!”
Saí do meu quarto e fui até a sacada do apartamento. Tava rindo igual um louco. Quando olhei pra noite eu juro que vi flashes coloridos como fogos de artifício de fim de ano. Era lindo. E eu pensando comigo como era foda estar vivo. Tomei água, urinei colorido no banheiro e voltei para o quarto. De repente estava sem roupa. Puxei o meu gato, abracei ele e dei um beijo na cabeça dele. Ele ficou sem entender nada. Sorte que não tomei uma unhada.
Deitei na cama e comecei a ter várias visões. Vi a vida unicelular virar vida animal. Me vi vivendo com uma família de guaxinins numa floresta da América do Norte. Depois me vi na forma de uma ave de rapina, provavelmente um falcãozinho. Depois me vi na forma de vasos sanguíneos pulsando freneticamente. Logo em seguida entrei num loop de pensamento no qual eu estava dirigindo meu carro por uma cidade serrana daqui de perto, completamente perdido, sem saber como eu faria para voltar pra casa. Comecei a ficar ansioso por causa do loop. Parecia que nunca ia acabar. Por uns instantes senti que eu me perdi de mim mesmo, como se eu tivesse esquecido que a vida real existisse.
Por volta das 4h da manhã eu acabei fraquejando e fiz algo do que eu me arrependo: mastiguei dois comprimidos de rivotril de 0,5mg e esfreguei debaixo de língua. Eu estava simplesmente exausto e precisava parar. Puxa… é uma pena, eu devia ter encarado até o fim. Fazia tempo que eu não entrava em loop e acho que isso acabou me assustando. Mas… bom, paciência.
E foi assim que se encerrou minha primeira trip de 2024. Tenho um punhado de integração pra fazer. Vejo que muitos aspectos dessa trip falam diretamente com temáticas profundas minhas: pessoas tóxicas, pessoas que merecem amor, ser autêntico comigo mesmo, cultivar um senso de liberdade. Se eu fosse elaborar mais este post ficaria terrivelmente chato para a maioria das pessoas então encerro por aqui.
É muito bom estar de volta.