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Enteógenos, drogas, psicodélicas e a ânsia pelo infinito

bairava

Cogumelo maduro
Cadastrado
02/07/2006
2
68
50
As Portas da Percepção estão abertas

Enteógenos, drogas, psicodélicas e a ânsia pelo infinito



A exploração do desconhecido e terras ignotas tem fascinado a humanidade por séculos um dos locais mais desconhecidos e misteriosos é a mente humana ou a psique Jungiana para ampliar o conceito ou podemos usar outro ainda mais abrangente.

Em sua relação com o universo os seres humanos têm se defrontado com o mistério, alguns escolheram adentrar em profundidade a esta dimensão que é de uma feita assustadora e de outra maravilhosa.Uma das ferramentas para esta exploração são as drogas psicodélicas.

Tudo que esta a nossa volta nos influencia mais ou menos, os alimentos alteram o nosso estado de humor e conseqüentemente a nossa relação com o mundo, a televisão, o cinema as propagandas, a musica e muitas outras coisas idem.
As drogas igualmente agem desta forma, mas com uma potencia muito maior, lembrando que por trás desta palavra há uma centena de substancias que agem das mais variadas formas.

Muitas pessoas já abordaram o uso destas substancias, Baudelaire, De Quincey, Crowley,Huxley , Burroughs, Artaud, Timothy Leary, Robert Anton Wilson, John c Lilly, Terence McKenna, Carlos Castaneda, Grof.

Não esquecendo de Marcelo D2 e do super deputado Fernando Gabeira que dispensam apresentações.

O uso de substancias psicoativas é tão antigo quanto à humanidade, inclusive alguns animais fazem uso delas.
O diretor do instituto de psicologia experimental da USP César Ades fala a respeito do uso de plantas alucinógenas por primatas, que buscam seus efeitos “eufóricos”.

Nos ateremos aqui as psicodélicas, que aumentam a atividade cerebral e a percepção dos sentidos. Para muitos (este autor inclusive) elas expandem a consciência.

Eu não sei se estes compostos químicos nos levam a outras dimensões do espaço ou a “lugares” da mente, ou ainda ao inconsciente coletivo, ou uma imersão nos campos morfogeneticos ou uma centena de possibilidades. O que é claro é que eles nos levam em um passeio pelo nosso eu mais profundo com direito a olhar pela janela e ver as mais variadas paisagens do universo.

Um fato curioso em grande parte destas vivencias é que aparentemente algo fala conosco quando estamos neste estado, não tentarei definir se a voz é “objetiva” ou “subjetiva” e muito menos de onde ela provem. Mas é uma voz sabia e milenar, algo imbuído de grande conhecimento tendo alguns paralelos com o logos dos gregos.

Uma das grandes vantagens dos psicodélicos é que eles “ensinam” sem a necessidade de um mestre, guru ou similar, conseqüentemente sem os caprichos de um ego humano cheio de segundas intenções.

As visões oriundas de seu uso transportam a pessoa a um local sagrado que pode ser entendido como uma instancia de si mesmo, que também é um ponto de ligação com o cosmo. Isso possibilita auto-conhecimento e conhecimento.

Todas as facetas que compõem a vida são ampliadas, vemos e sentimos o fluir dos dias, meses e anos como contas de um colar, uma jóia trabalhada a cada dia.

Um dos problemas de escrever a respeito destes temas é a terminologia, nos defrontamos com um desafio em parte similar ao dos alquimistas. As experiências e estágios são muito difíceis de serem comunicados, transformados em palavras, primeiro por reduzir a aridez do discurso algo infinitamente cheio de detalhes, de outro os referencias do leitor, qual a bagagem dele pra decodificar vivencias tão bizarras e sublimes. Alem de tudo isso há uma terminologia própria dos “iniciados” comum a todos os ramos do saber humano onde há uma especialização.

Por exemplo, ao invés de alucinógenos é preferível enteógeno , palavra grega que significa o deus interno, ou descobrir o deus em si ou o potencial de sermos deuses. Termo usado pela primeira vez por Carl Ruck e Robert Gordon Wasson.

Em verdade estes compostos químicos fazem aflorar algo interno da pessoa que os ingere, algo que diz respeito a elas mesmas. Outra palavra é hiper-consciência que é o estado em que ficam as pessoas que ingerem estas substancias, um termo auto explicativo que a grosso modo é a consciência expandida.

Como disse McKenna os enteogenos estão para a psicologia como os telescópios para astronomia.

Os caminhos para o êxtase são vários e nas religiões e tradições espiritualistas há inúmeros deles, jejum, penitencia, oração, respiração, isolamento sensorial, sexo, toques de tambor, mantras, posturas corporais, símbolos e centenas de outros, todos com o objetivo de alterar a consciência ordinária e possibilitar experiências transcendentes, justamente o que os enteógenos possibilitam de uma forma muito mais rápida.

O uso da ayahusca,mescalina,psilocibina e LSD, provocam o aumento das ondas alfa do cérebro um estado similar ao conseguido com meditação profunda ou hipnose.

Terence McKenna é etnobotânico ele crê que o uso da psilocibina encontrada em alguns cogumelos foi fundamental, por exemplo, no desenvolvimento da fala ampliando o conceito idealizado por Gordon Wasson.

A ingestão de cogumelos que contem psilocibina teria provocado um salto de criatividade no homem pré-histórico.

Um exemplo de como a psilocibina pode alterar para melhor as condições da mente e do corpo foi conseguido acidentalmente.
O Império Britânico na ânsia por controlar a África (séc XIX) travou varias batalhas com os povos nativos. Se seguirmos a teoria de Jared Diamond era claro que os Britânicos venceriam sem grande dificuldade. Por terem maior tecnologia bélica, estratégica e etc.

Mas ouve uma exceção a batalha de Isandlwana onde praticamente todos os ingleses foram massacrados. Especialistas atualmente se debruçaram nos motivos desta derrota. Foram levantadas varias hipóteses e uma das mais aceitas é que uma poção feita pelos xamãs zulus tenha sido o fiel da balança. Um dos componentes eram os cogumelos com psilocibina.

Para desvendar este mistério foi feita a seguinte experiência: dois lutadores de judô lutaram algumas vezes sem o uso da pscilocibina , as lutas foram equilibradas e com resultados iguais para ambos os lutadores. Ai os dois ingeriram uma substancia, para um deles foi dada psicilocibina e para o outro um placebo. O que tomou a psicilocibina ganhou todas as lutas, o combate que antes era equilibrado agora pendia para o lutador que havia ingerido o alcalóide.

A psilocibina produz um estado de tranqüilidade e ao mesmo acelera os reflexos. Ela cria um sentido de unidade onde a vida do individuo ganha uma dimensão muito maior, Timothy Leary a usou com sucesso na reabilitação de detentos. Os que ingeriram psilocibina tiveram uma reincidência ao crime muito menor que os que não ingeriram.

Hoje em dia nos EUA pesquisas usam os cogumelos alucinógenos na reabilitação de usuários de drogas pesadas, o que é feito no Brasil com a ayahuasca.
Há pouco tempo pesquisas foram levadas a cabo na universidade medicina Johns Hopkins.

Os participantes tiveram profundas experiências místicas, em sua maioria relataram ser está a vivencia mais significativa de suas vidas. Eles nunca haviam feito uso de qualquer alucinógeno.

Os pesquisadores não detectaram nenhum dano ao cérebro ou a saúde dos voluntários. Uma grande maioria, se não todas, as pessoas que usam enteógenos tem centenas de insight sobre suas vidas e o universo. Ao que parece o universo é informação.

Curiosamente os enteógenos e o mundo dos computadores têm alguma relação Terence McKenna em seu livro retorno a cultura arcaica diz “os dois conceitos drogas e computadores vêm se aproximando” algo como no livro neuromancer de William Gibson onde a consciência viajava pelo ciberespaço, só que neste caso a viagem é “neste espaço”.

Timothy Leary também ficou fascinado pelos computadores e a conectividade em entrevista a Cláudio Júlio Tognolli disse “ A Internet vai libertar-nos de padres, políticos e outras pragas semelhantes”.

De fato os estados alterados de consciência e a super conectividade tem algo incomum, a informação, o universo é recheado de informação, DNA, células, moléculas, partes que se combinam pra formar estruturas mais complexas, como letras que se combinam para formar palavras e estas frases, textos, paginas na web, livros e conseqüentemente transmitir idéias um universo a partir dos caracteres.

Não consigo deixar de pensar em poesia, uma poesia Sufi, por exemplo. Ela é feita com letras e palavras, mas a poesia não está nelas, mas é feita a partir delas, uma quinta essência que existe, mas de certa forma é intangível.


" O mundo está fundado na imaginação. Tu pensas que este mundo é real porque o vês e o tocas, chamas todas as realidades profundas (mani), às quais este mundo está subordinado, de imaginação. É o contrário (que é correto).

A imaginação é este mundo e a realidade pode criar cem mundos parecidos, que apodrecem, deterioram-se e se destroem; ela pode ainda criar um mundo melhor que não envelhece, que está longe de ser novo ou velho; tem a qualidade de ser velho ou novo o que decorre disso.

Um arquiteto projeta em seu pensamento uma casa e cria imagens: ele imagina seu comprimento, sua largura, o piso, o pátio. Essas imagens não são a imaginação: a realidade sai dessa imaginação e depende dela. O homem que não é arquiteto e que elabora formas e imagens em pensamento, usa a imaginação; normalmente, as pessoas dizem a esse homem que não é arquiteto e não conhece esta arte: "Estás imaginando coisas". ...

Se esse conhecimento pudesse ser obtido simplesmente pelo que dizem outros homens, não seria necessário entregar-se a tanto trabalho e esforço, e ninguém se sacrificaria tanto nessa busca. Alguém vai à beira do mar e só vê água salgada, tubarões e peixes. Ele diz: "onde está essa pérola de que falam? Talvez não haja pérola alguma". Como seria possível obter a pérola simplesmente olhando o mar? Mesmo que tivesse de esvaziar o mar cem mil vezes com uma taça, a pérola jamais seria encontrada.

É preciso um mergulhador para encontrá-la."

"Procurai não dizer que entendestes... A compreensão reside em não compreender... Para ti, essa compreensão é um obstáculo. É preciso escapar dela. Para alcançar o sentido profundo (mani) dissimulado "sob o véu das palavras", somente disponibilidade, ou receptividade não bastam: é necessário um esforço, uma atitude, primeiro passo que faz daquele que questiona - ou se questiona - um peregrino, no Caminho.

A utilidade da palavra será portanto a de fazer-te procurar e a de iniciar-te; o que não quer dizer que a coisa que se busca seja obtida pela palavra: se fosse assim, não terias que fazer tanto esforço... A palavra é como algo que vês mover-se de longe: vais à sua procura para vê-la, mas não é por causa de seu movimento que a vês. A palavra do homem, sob seu aspecto oculto, é algo como: ela te faz buscar o sentido, embora na realidade não o vejas".

*Rumi. Século XIII. Fihi Ma Fihi. Tradução do original persa por Eva de Vtray-Meyerovich. Rio de Janeiro, Edições Dervish, 1993.


O LSD foi criado acidentalmente pelo químico Albert Hofmann suas propriedades foram usadas na terapia psicológica. Por Timothy Leary e Stanislav Grof e muitos outros.

Um ponto importante é a similitude entre as experiências de quase morte e as viagens psicodélicas. Por outro lado o LSD foi usado em pacientes terminais, dando-lhes “calma” e um sentido maior para vida, e conseqüentemente para a morte.Em todo caso a terapia psicodélica ajudou muito a ampliar os horizontes da tanatologia.

As experiências de quase morte tem uma similitude entre si muito grande, descartando a hipótese de mero acaso .
Alguns pontos em comum são a atividade mental se intensifica com um grande fluxo de pensamentos e lembranças de momentos marcantes e os pontos principais da vida são analisados, o conhecimento antecipado do desenrolar dos fatos, distorção do tempo, atemporalidade, sensação de paz e transcendência e visões de rara beleza.

Leary entendeu esta relação e usou o Bardo Todol, o livro dos mortos Tibetano, como roteiro para viagens psicodélicas.

Esquizofrênicos em momentos de crises fortes podem passar por vivencias iguais. O psiquiatra Stanislav Grof analisou que os psicodélicos causam visões e experiências similares a pessoas escolhidas ao acaso, independente de sua origem e formação, por sua vez mantendo relação estreita com as experiências de quase morte, isso só é possível se os componentes destas visões forem partes naturais da mente e psique humanas.

O parapsicólogo Karlis Osis estudou inúmeros relatos de pacientes na hora da morte e notou em vários deles a presença de visões incríveis, atemporais, lugares mágicos e fabulosos, estas visões de acordo com Osis se assemelhavam as de pessoas que ingeriram mescalina ou LSD.

A nossa sociedade é repleta de neuroses já as sociedades “primitivas” xamanicas estas neuroses são muitas vezes um caminho para a sabedoria, a doença como caminho. A vocação do xamã surge em vários casos destas enfermidades, curandeiro cura a ti mesmo.

Estes aparentes surtos psicóticos dos xamãs são a forma deles se relacionarem com o mundo invisível a diferença tremenda é que o xamã entra e sai deste estado por vontade própria, bem diferente das patologias encontradas no “mundo moderno”.
Aproveitando o ensejo na experiência psicodélica é narrado o encontro com um estado (ou local) que é o grande vazio, mas um vazio cheio de potencia, de vir a ser, o caos origem e fim de todas as coisas. No xamanismo norte americano Wakan Tanka

Falarei agora de uma das experiências que tive com enteógenos,” esta com o uso de ayahuasca, estas vivencias são subjetivas e extrapolam completamente, ou em grande parte, o senso comum, deixo a cargo dos leitores as conclusões, o que atesto veementemente é a veracidade da narrativa, ou seja, os fenômenos foram vivenciados e entendidos da maneira que serão narrados, quanto a objetividade “material” é difícil tecer conclusões. Os sentimentos em todas elas foram de uma beleza transcendente, amor incondicional, força e poder, atemporalidade, mistério e mesmo assim estas palavras são apenas sombras.


A primeira experiência psicodélica de minha vida foi com a ayahuasca. A principio a viagem veio tranqüila via bolas coloridas ao meu redor, o tempo distorcia e minutos pareciam horas, em um dado momento eu ouvia o crepitar de uma fogueira que estava a vários metros de distancia, o vento e o som do fogo criavam uma sensação profunda,indescritível, neste momento seres como demônios saíram da fogueira e vieram em minha direção, tive medo, mas concentrei minha mente no fato que eu era um com o universo, neste momento eles desapareceram.

Olhava as plantas e via seres que lembravam elementais, algo entre um elfo e um gnomo.. Sentia os batimentos cardíacos disparados e tinha a necessidade de lembrar de respirar, na verdade eu apenas não estava acostumado com o estado incomum que a ayahuasca possibilita, tudo estava normal, mas o meu ego não sabia disso.

Tive na seqüência uma “visão” fortíssima eu saia do meu corpo e ia até um “lugar” repleto de mandalas, mas elas eram tridimensionais e giravam, conseguia vê-las em toda minha volta. Uma beleza que era quase impossível de sentir, em um instante elas foram se unindo e formaram o dragão do criativo do I Ching.

Estabeleci um dialogo com ele ao mesmo tempo em que senti uma das coisas mais estanhas da minha vida, sentia saudade de mim mesmo, do corpo ou personalidade que estava lá “em baixo” era outra instancia de mim que dialogava com o dragão. Ele me disse que eu poderia ficar ali, mas o meu eu “mais terrestre” pereceria. Via a vida como infinita e os fatos encadeados e ritmados formando todas as coisas, resolvi voltar.Não resisti e vomitei muito, fiz um pranayama para controlar minha mente e o corpo.

Caminhei e me sentia desassociado do meu corpo, olhando-o de uma outra perspectiva, conseguia uma comunhão profunda com as plantas e a vida como um todo. Via civilizações antigas, ou o assim me pareciam, animais e formas geométricas. Aos poucos o efeito foi passando, mas minha vida estava mudada para sempre, via as coisas como disse Blake “If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite”

"Se as portas da percepção se abrissem, o ser humano veria as coisas como elas são, infinitas “.
 
Esse texto não tem autoria?
 
Esse texto está maravilhoso!

.. adorei mesmo, esse Marcos Torrigo tem um excelente poder de síntese.... vou guardar aqui para ajudar na iniciação de amigos interessados.

Valeu bairava :pos::pos::pos:
 
As Portas da Percepção estão abertas

Enteógenos, drogas, psicodélicas e a ânsia pelo infinito



A exploração do desconhecido e terras ignotas tem fascinado a humanidade por séculos um dos locais mais desconhecidos e misteriosos é a mente humana ou a psique Jungiana para ampliar o conceito ou podemos usar outro ainda mais abrangente.

Em sua relação com o universo os seres humanos têm se defrontado com o mistério, alguns escolheram adentrar em profundidade a esta dimensão que é de uma feita assustadora e de outra maravilhosa.Uma das ferramentas para esta exploração são as drogas psicodélicas.

Tudo que esta a nossa volta nos influencia mais ou menos, os alimentos alteram o nosso estado de humor e conseqüentemente a nossa relação com o mundo, a televisão, o cinema as propagandas, a musica e muitas outras coisas idem.
As drogas igualmente agem desta forma, mas com uma potencia muito maior, lembrando que por trás desta palavra há uma centena de substancias que agem das mais variadas formas.

Muitas pessoas já abordaram o uso destas substancias, Baudelaire, De Quincey, Crowley,Huxley , Burroughs, Artaud, Timothy Leary, Robert Anton Wilson, John c Lilly, Terence McKenna, Carlos Castaneda, Grof.

Não esquecendo de Marcelo D2 e do super deputado Fernando Gabeira que dispensam apresentações.

O uso de substancias psicoativas é tão antigo quanto à humanidade, inclusive alguns animais fazem uso delas.
O diretor do instituto de psicologia experimental da USP César Ades fala a respeito do uso de plantas alucinógenas por primatas, que buscam seus efeitos “eufóricos”.

Nos ateremos aqui as psicodélicas, que aumentam a atividade cerebral e a percepção dos sentidos. Para muitos (este autor inclusive) elas expandem a consciência.

Eu não sei se estes compostos químicos nos levam a outras dimensões do espaço ou a “lugares” da mente, ou ainda ao inconsciente coletivo, ou uma imersão nos campos morfogeneticos ou uma centena de possibilidades. O que é claro é que eles nos levam em um passeio pelo nosso eu mais profundo com direito a olhar pela janela e ver as mais variadas paisagens do universo.

Um fato curioso em grande parte destas vivencias é que aparentemente algo fala conosco quando estamos neste estado, não tentarei definir se a voz é “objetiva” ou “subjetiva” e muito menos de onde ela provem. Mas é uma voz sabia e milenar, algo imbuído de grande conhecimento tendo alguns paralelos com o logos dos gregos.

Uma das grandes vantagens dos psicodélicos é que eles “ensinam” sem a necessidade de um mestre, guru ou similar, conseqüentemente sem os caprichos de um ego humano cheio de segundas intenções.

As visões oriundas de seu uso transportam a pessoa a um local sagrado que pode ser entendido como uma instancia de si mesmo, que também é um ponto de ligação com o cosmo. Isso possibilita auto-conhecimento e conhecimento.

Todas as facetas que compõem a vida são ampliadas, vemos e sentimos o fluir dos dias, meses e anos como contas de um colar, uma jóia trabalhada a cada dia.

Um dos problemas de escrever a respeito destes temas é a terminologia, nos defrontamos com um desafio em parte similar ao dos alquimistas. As experiências e estágios são muito difíceis de serem comunicados, transformados em palavras, primeiro por reduzir a aridez do discurso algo infinitamente cheio de detalhes, de outro os referencias do leitor, qual a bagagem dele pra decodificar vivencias tão bizarras e sublimes. Alem de tudo isso há uma terminologia própria dos “iniciados” comum a todos os ramos do saber humano onde há uma especialização.

Por exemplo, ao invés de alucinógenos é preferível enteógeno , palavra grega que significa o deus interno, ou descobrir o deus em si ou o potencial de sermos deuses. Termo usado pela primeira vez por Carl Ruck e Robert Gordon Wasson.

Em verdade estes compostos químicos fazem aflorar algo interno da pessoa que os ingere, algo que diz respeito a elas mesmas. Outra palavra é hiper-consciência que é o estado em que ficam as pessoas que ingerem estas substancias, um termo auto explicativo que a grosso modo é a consciência expandida.

Como disse McKenna os enteogenos estão para a psicologia como os telescópios para astronomia.

Os caminhos para o êxtase são vários e nas religiões e tradições espiritualistas há inúmeros deles, jejum, penitencia, oração, respiração, isolamento sensorial, sexo, toques de tambor, mantras, posturas corporais, símbolos e centenas de outros, todos com o objetivo de alterar a consciência ordinária e possibilitar experiências transcendentes, justamente o que os enteógenos possibilitam de uma forma muito mais rápida.

O uso da ayahusca,mescalina,psilocibina e LSD, provocam o aumento das ondas alfa do cérebro um estado similar ao conseguido com meditação profunda ou hipnose.

Terence McKenna é etnobotânico ele crê que o uso da psilocibina encontrada em alguns cogumelos foi fundamental, por exemplo, no desenvolvimento da fala ampliando o conceito idealizado por Gordon Wasson.

A ingestão de cogumelos que contem psilocibina teria provocado um salto de criatividade no homem pré-histórico.

Um exemplo de como a psilocibina pode alterar para melhor as condições da mente e do corpo foi conseguido acidentalmente.
O Império Britânico na ânsia por controlar a África (séc XIX) travou varias batalhas com os povos nativos. Se seguirmos a teoria de Jared Diamond era claro que os Britânicos venceriam sem grande dificuldade. Por terem maior tecnologia bélica, estratégica e etc.

Mas ouve uma exceção a batalha de Isandlwana onde praticamente todos os ingleses foram massacrados. Especialistas atualmente se debruçaram nos motivos desta derrota. Foram levantadas varias hipóteses e uma das mais aceitas é que uma poção feita pelos xamãs zulus tenha sido o fiel da balança. Um dos componentes eram os cogumelos com psilocibina.

Para desvendar este mistério foi feita a seguinte experiência: dois lutadores de judô lutaram algumas vezes sem o uso da pscilocibina , as lutas foram equilibradas e com resultados iguais para ambos os lutadores. Ai os dois ingeriram uma substancia, para um deles foi dada psicilocibina e para o outro um placebo. O que tomou a psicilocibina ganhou todas as lutas, o combate que antes era equilibrado agora pendia para o lutador que havia ingerido o alcalóide.

A psilocibina produz um estado de tranqüilidade e ao mesmo acelera os reflexos. Ela cria um sentido de unidade onde a vida do individuo ganha uma dimensão muito maior, Timothy Leary a usou com sucesso na reabilitação de detentos. Os que ingeriram psilocibina tiveram uma reincidência ao crime muito menor que os que não ingeriram.

Hoje em dia nos EUA pesquisas usam os cogumelos alucinógenos na reabilitação de usuários de drogas pesadas, o que é feito no Brasil com a ayahuasca.
Há pouco tempo pesquisas foram levadas a cabo na universidade medicina Johns Hopkins.

Os participantes tiveram profundas experiências místicas, em sua maioria relataram ser está a vivencia mais significativa de suas vidas. Eles nunca haviam feito uso de qualquer alucinógeno.

Os pesquisadores não detectaram nenhum dano ao cérebro ou a saúde dos voluntários. Uma grande maioria, se não todas, as pessoas que usam enteógenos tem centenas de insight sobre suas vidas e o universo. Ao que parece o universo é informação.

Curiosamente os enteógenos e o mundo dos computadores têm alguma relação Terence McKenna em seu livro retorno a cultura arcaica diz “os dois conceitos drogas e computadores vêm se aproximando” algo como no livro neuromancer de William Gibson onde a consciência viajava pelo ciberespaço, só que neste caso a viagem é “neste espaço”.

Timothy Leary também ficou fascinado pelos computadores e a conectividade em entrevista a Cláudio Júlio Tognolli disse “ A Internet vai libertar-nos de padres, políticos e outras pragas semelhantes”.

De fato os estados alterados de consciência e a super conectividade tem algo incomum, a informação, o universo é recheado de informação, DNA, células, moléculas, partes que se combinam pra formar estruturas mais complexas, como letras que se combinam para formar palavras e estas frases, textos, paginas na web, livros e conseqüentemente transmitir idéias um universo a partir dos caracteres.

Não consigo deixar de pensar em poesia, uma poesia Sufi, por exemplo. Ela é feita com letras e palavras, mas a poesia não está nelas, mas é feita a partir delas, uma quinta essência que existe, mas de certa forma é intangível.


" O mundo está fundado na imaginação. Tu pensas que este mundo é real porque o vês e o tocas, chamas todas as realidades profundas (mani), às quais este mundo está subordinado, de imaginação. É o contrário (que é correto).

A imaginação é este mundo e a realidade pode criar cem mundos parecidos, que apodrecem, deterioram-se e se destroem; ela pode ainda criar um mundo melhor que não envelhece, que está longe de ser novo ou velho; tem a qualidade de ser velho ou novo o que decorre disso.

Um arquiteto projeta em seu pensamento uma casa e cria imagens: ele imagina seu comprimento, sua largura, o piso, o pátio. Essas imagens não são a imaginação: a realidade sai dessa imaginação e depende dela. O homem que não é arquiteto e que elabora formas e imagens em pensamento, usa a imaginação; normalmente, as pessoas dizem a esse homem que não é arquiteto e não conhece esta arte: "Estás imaginando coisas". ...

Se esse conhecimento pudesse ser obtido simplesmente pelo que dizem outros homens, não seria necessário entregar-se a tanto trabalho e esforço, e ninguém se sacrificaria tanto nessa busca. Alguém vai à beira do mar e só vê água salgada, tubarões e peixes. Ele diz: "onde está essa pérola de que falam? Talvez não haja pérola alguma". Como seria possível obter a pérola simplesmente olhando o mar? Mesmo que tivesse de esvaziar o mar cem mil vezes com uma taça, a pérola jamais seria encontrada.

É preciso um mergulhador para encontrá-la."

"Procurai não dizer que entendestes... A compreensão reside em não compreender... Para ti, essa compreensão é um obstáculo. É preciso escapar dela. Para alcançar o sentido profundo (mani) dissimulado "sob o véu das palavras", somente disponibilidade, ou receptividade não bastam: é necessário um esforço, uma atitude, primeiro passo que faz daquele que questiona - ou se questiona - um peregrino, no Caminho.

A utilidade da palavra será portanto a de fazer-te procurar e a de iniciar-te; o que não quer dizer que a coisa que se busca seja obtida pela palavra: se fosse assim, não terias que fazer tanto esforço... A palavra é como algo que vês mover-se de longe: vais à sua procura para vê-la, mas não é por causa de seu movimento que a vês. A palavra do homem, sob seu aspecto oculto, é algo como: ela te faz buscar o sentido, embora na realidade não o vejas".

*Rumi. Século XIII. Fihi Ma Fihi. Tradução do original persa por Eva de Vtray-Meyerovich. Rio de Janeiro, Edições Dervish, 1993.


O LSD foi criado acidentalmente pelo químico Albert Hofmann suas propriedades foram usadas na terapia psicológica. Por Timothy Leary e Stanislav Grof e muitos outros.

Um ponto importante é a similitude entre as experiências de quase morte e as viagens psicodélicas. Por outro lado o LSD foi usado em pacientes terminais, dando-lhes “calma” e um sentido maior para vida, e conseqüentemente para a morte.Em todo caso a terapia psicodélica ajudou muito a ampliar os horizontes da tanatologia.

As experiências de quase morte tem uma similitude entre si muito grande, descartando a hipótese de mero acaso .
Alguns pontos em comum são a atividade mental se intensifica com um grande fluxo de pensamentos e lembranças de momentos marcantes e os pontos principais da vida são analisados, o conhecimento antecipado do desenrolar dos fatos, distorção do tempo, atemporalidade, sensação de paz e transcendência e visões de rara beleza.

Leary entendeu esta relação e usou o Bardo Todol, o livro dos mortos Tibetano, como roteiro para viagens psicodélicas.

Esquizofrênicos em momentos de crises fortes podem passar por vivencias iguais. O psiquiatra Stanislav Grof analisou que os psicodélicos causam visões e experiências similares a pessoas escolhidas ao acaso, independente de sua origem e formação, por sua vez mantendo relação estreita com as experiências de quase morte, isso só é possível se os componentes destas visões forem partes naturais da mente e psique humanas.

O parapsicólogo Karlis Osis estudou inúmeros relatos de pacientes na hora da morte e notou em vários deles a presença de visões incríveis, atemporais, lugares mágicos e fabulosos, estas visões de acordo com Osis se assemelhavam as de pessoas que ingeriram mescalina ou LSD.

A nossa sociedade é repleta de neuroses já as sociedades “primitivas” xamanicas estas neuroses são muitas vezes um caminho para a sabedoria, a doença como caminho. A vocação do xamã surge em vários casos destas enfermidades, curandeiro cura a ti mesmo.

Estes aparentes surtos psicóticos dos xamãs são a forma deles se relacionarem com o mundo invisível a diferença tremenda é que o xamã entra e sai deste estado por vontade própria, bem diferente das patologias encontradas no “mundo moderno”.
Aproveitando o ensejo na experiência psicodélica é narrado o encontro com um estado (ou local) que é o grande vazio, mas um vazio cheio de potencia, de vir a ser, o caos origem e fim de todas as coisas. No xamanismo norte americano Wakan Tanka

Falarei agora de uma das experiências que tive com enteógenos,” esta com o uso de ayahuasca, estas vivencias são subjetivas e extrapolam completamente, ou em grande parte, o senso comum, deixo a cargo dos leitores as conclusões, o que atesto veementemente é a veracidade da narrativa, ou seja, os fenômenos foram vivenciados e entendidos da maneira que serão narrados, quanto a objetividade “material” é difícil tecer conclusões. Os sentimentos em todas elas foram de uma beleza transcendente, amor incondicional, força e poder, atemporalidade, mistério e mesmo assim estas palavras são apenas sombras.


A primeira experiência psicodélica de minha vida foi com a ayahuasca. A principio a viagem veio tranqüila via bolas coloridas ao meu redor, o tempo distorcia e minutos pareciam horas, em um dado momento eu ouvia o crepitar de uma fogueira que estava a vários metros de distancia, o vento e o som do fogo criavam uma sensação profunda,indescritível, neste momento seres como demônios saíram da fogueira e vieram em minha direção, tive medo, mas concentrei minha mente no fato que eu era um com o universo, neste momento eles desapareceram.

Olhava as plantas e via seres que lembravam elementais, algo entre um elfo e um gnomo.. Sentia os batimentos cardíacos disparados e tinha a necessidade de lembrar de respirar, na verdade eu apenas não estava acostumado com o estado incomum que a ayahuasca possibilita, tudo estava normal, mas o meu ego não sabia disso.

Tive na seqüência uma “visão” fortíssima eu saia do meu corpo e ia até um “lugar” repleto de mandalas, mas elas eram tridimensionais e giravam, conseguia vê-las em toda minha volta. Uma beleza que era quase impossível de sentir, em um instante elas foram se unindo e formaram o dragão do criativo do I Ching.

Estabeleci um dialogo com ele ao mesmo tempo em que senti uma das coisas mais estanhas da minha vida, sentia saudade de mim mesmo, do corpo ou personalidade que estava lá “em baixo” era outra instancia de mim que dialogava com o dragão. Ele me disse que eu poderia ficar ali, mas o meu eu “mais terrestre” pereceria. Via a vida como infinita e os fatos encadeados e ritmados formando todas as coisas, resolvi voltar.Não resisti e vomitei muito, fiz um pranayama para controlar minha mente e o corpo.

Caminhei e me sentia desassociado do meu corpo, olhando-o de uma outra perspectiva, conseguia uma comunhão profunda com as plantas e a vida como um todo. Via civilizações antigas, ou o assim me pareciam, animais e formas geométricas. Aos poucos o efeito foi passando, mas minha vida estava mudada para sempre, via as coisas como disse Blake “If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite”

"Se as portas da percepção se abrissem, o ser humano veria as coisas como elas são, infinitas “.
esta dimensão é feita dessa dualidade mesmo, dentre psicodélicos que podem ser usados parar desbravar o paraíso ou o inferno kkk, "as portas da percepção estão abertas", sim, é verdade, e percebe quem quer, desde que o livro foi lançado né kkk, "as portas da percepção", mas enfim, por fim, se vc se sentiu dissociado com um psicodélico clássico, imagina só por drogas dissociativas propriamente ditas kkk, de uma pesquisada sobre isso para entender, se quiser
 
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