O cogumelo funciona com cada um de uma forma diferente em relação a outras substâncias. Pode influir "negativamente" nos efeitos de outras substâncias como fruto das melhoras e curas que ela faz no seu cérebro. Eu mesmo fumei muito tempo sem maiores transtornos, na verdade os cogumelos de começo me ajudaram a levar na boa a onda da
cannabis. Mas isso com o tempo foi mudando e comecei a notar o aumento da perturbação mental no uso da erva por consequência da psilocibina quando fiz minhas primeiras microdosagens (
Diário de Microdoses da Família Cool Bensis #1), e começou a progredir quando eu mesmo decidi que seria bom ir deixando de fumar, a partir do começo do ano passado - mas me mantive no hábito até o começo deste, cada vez reduzindo mais e mais.
Não é algo necessariamente ruim, mas esse aspecto perturbador e mais reflexivo pode ser justamente seu cérebro se reajustando para perder os danos provocados pelo uso de
cannabis para entretenimento, e ela voltando a ser uma ferramenta de poder que, mal usada novamente, pode levar a efeitos indesejados mais profundos desta vez. A questão é que, se você como eu nunca teve enteogenia espontânea com erva, então é melhor não forçar o caminho de elevação por aí e assumir que era só entretenimento, mesmo que em algo lhe fosse bom.
Isso que você sente é consequência
não do cruzamento de cogumelos com erva, pois não tem a ver com usá-los ao mesmo tempo, mas sim com a
reestruturação iniciada na sua mente pelos cogumelos que gerará uma melhora geral na sua vida. Isso não ocorre com todo mundo, nem ocorre de começo com quem ocorre, pois os cogumelos vão trabalhar em cada pessoa individualmente. No seu caso em particular, do seu organismo e personalidade, os cogumelos resultaram que desde agora é melhor você começar a pensar em largar o hábito. Se também vai incluir usos esporádicos, só o tempo pode dizer.
Por coincidência, um trecho relativo a essa reflexão mais aprofundada de meu último relato (
Microdose na Boate):
"Até teve um momento de reflexão, iniciado por uma autoreflexão (SIC) sobre como sou paranóico (SIC) ego-centrado, já quase antes de ir embora, em que pensei minha relação com os cogumelos e como mudaram minha vida e o medo que tenho cada vez que vou tomar por conta da intensidade e de como "arranca" os males doendo mas curando. Pensei em como tudo que me altera a consciência tem tido seu efeito alterado pelas novas sinapses dos cogumelos, me levando a reduzir aos poucos até mesmo o álcool (que nem é psicodélico) e levando praticamente ao abandono da erva. Qualquer estado alterado de consciência aos poucos fica mais pertubador (SIC), como se fosse uma aceleração de cogumelo, mas sem os benefícios libertadores e curativos dos meninos sagrados".
O cogumelo, a depender da pessoa, poderá ter um momento que lhe fará decidir se prefere continuar com a antiga vida e hábitos, ou se aceita as mudanças que ele impõe (pode ser antes de desejadas ou após desejadas) e que se existem é porque são pra melhor - mesmo que você não saiba, ele lê sua genética, sua personalidade e o caminho pra onde você vai, tudo a partir das informações que estão no seu cérebro e das respectivas sinapses para curá-lo. O "bem" e o "bom" possuem uma base genética, orgânica propriamente, que tende a ser fortalecido pela psilocibina.
Acredito que parte da perturbação resultante de abuso de psicoativos após uso do cogumelo (prolongado ou às vezes até uma só vez) tem a ver com sua mente estar cada vez mais preparada para aproveitar da melhor forma a próxima experiência enteogênica, e com isso apagando as "qualidades" (ou defeitos) do uso de entretenimento. Faz parte do
reset mental que possibilita mudanças.
Eu particularmente não tenho dúvidas que vou volta e meia fumar unzinho, como fiz uma vez no carnaval, mas achei desagradável. Mas com absoluta certeza, sinto que como hábito a erva está erradicada da minha vida, mas nada garante até quando em face ao meu livre arbítrio pra desfazer as facilidades que já tive em deixar o hábito. E me sinto melhor assim. Posso vir a fumar numa festa, numa social, mas não estou mais com desejo de fumar quando vou embora, fico até averso. É estranho dizer, é uma progressão comigo.
Esse ano a última vez que comprei foi começo de Janeiro. Depois fumei numa reunião de amigos e até trouxe pra casa uma salva. Depois não comprei. Aí no carnaval dei literalmente 3-4 bolas, depois não mais. Eu me sinto tranquilo e feliz de pensar que a erva ficou no passado na minha vida, como hábito e como algo que desejo. Inclusive, toda vontade de fumar sumiu. Mas não vou ser arrogante de dizer que não posso tornar a usar, ou de que não terei futuros relatos louco de álcool e
back antes de tomar os cogumelos nos curtos períodos do ano que minha esposa viaja e fico sozinho em casa, ou em alguma viagem (viagem mesmo) curtindo com amigos. No entanto, talvez eu esteja fazendo mais esta transição de doidão irresponsável (como cheguei aqui) para o que seja lá que a enteogenia me tornará - e com certeza não tenho mais quase de dois anos atrás quando cheguei aqui.
Mas veja bem, o cogumelo não se opõe aos prazeres da vida, apenas trabalha o que possa estar te prejudicando, seja pelo abuso, seja por outra razão que você não saiba. Por isso tem gente que até para de tomar álcool, enquanto muitos não.
Pra terminar de responder, mas como já contei em relatos, o cogumelo me fez inicialmente parar com substâncias que são tóxicas, como o pó (
Viajando bem Acompanhado) e os nBomes (
Medo e Delírio a Sério), e fez isso porque passei a sentir na pele a toxicidade e envenenamento, devido à organicidade da onda do cogumelo. Daí em certo momento a voz do cogumelo conversou comigo ano passado (procurei mas não achei trecho de relato sobre isso, acho que comentei em outro tópico mas não achei) e me disse que a questão com a maconha que me faria deixar de usar era outra, pois eu de fato não ia sentir meramente a toxicidade, que seria mais um lance mental de eu querer valorizar a preservação da minha sanidade a partir de certo momento, o que só adveio com o aumento do meu desejo de querer melhor disciplinar a minha vida.
E foi finalmente quando eu comecei a me decidir parar de vez que os efeitos do
back foram ficando mais e mais não-atraentes. Mas esse sou eu, e os cogumelos conversaram antes comigo. Com você parece que vai ser desde o início. Quem sabe. Também pode ser que pare. Não quero impor a você nenhum futuro, mas apenas reflexões.
Dê uma chance, se com você eles agiram desde agora, é porque é uma mudança que precisa ser mais imediata. Não digo pra largar, mas a recomendação se quiser trabalhar com os cogumelos é ir aceitando se ele for te afastando da erva para dar aos meninos santos espaço para trabalharem.