- 14/04/2015
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*Relato de uma crise psicodélica vivida por uma amiga de que eu estava próximo, sem eu ter usado nada, e dos benefícios que vieram ao ajuda-la a superar.
Agora pouco, minha amiga que veio morar aqui em casa até conseguir reestruturar a própria vida após uma separação, tomou cogumelos que ela mesma cultivara em sua antiga casa. Foi às 18h a dosagem dela, de 5,8 gramas secas. Ela já possui experiência e é micoenteogenista. Me veio a intuição de não tomar, em consonância com meu desejo de ficar sem tomar cogumelos até depois da próxima consulta com o psiquiatra, esse mês, já que por razões diversas há mais de 2 meses que não pratico a minha enteogenia de 15 em 15 dias. Afinal, se a situação não for ideal em termos de setting e set, não tome cogumelos (item 18 dos Fundamentos do Uso Responsável de Psicoativos com Anotações para o Cogumeleiro).
Bem, a bad trip que ela entrou não se originou de dentro dela. Ocorre que o cachorrinho dela, com o qual ela foi interagir sob efeito, teve uma paralisia nas pernas traseiras naquela hora do nada! Parece que ele tem um problema em que isso ocorre e tem que ser medicado rapidamente. Eu tava lá, no videogame na sala, e ela me aparece cheia de lágrimas, no pico dos efeitos (pouco mais de 21h), com a informação que acabei de dizer. (Ela estava em imersão no quarto dela que possui um banheiro próprio na varanda de trás da residência, que virou o cantinho dela enquanto estiver aqui na nova casa dela).
Claro que fui verificar se era verdade, afinal, estava sob efeito. E, realmente, o cachorro estava paralisado, pra minha surpresa! Ela conseguiu encontrar o medicamento no celular, eu tirei foto e fui voando pra uma loja de veterinária ainda aberta (que sincronicidade ainda não serem 22h!) na maior pressa. Após finalmente comprar, liguei pra ela e tratei de iniciar o processo de acalmá-la. Eu mesmo estava tenso, mas é importante transmitir calma a quem está numa crise psicodélica - não se trata de impor calma, porque isso só gera mais aflição, mas sim de transmitir e acalmar (FAQ da Crise Psicodélica).
Cheguei em casa de volta. O medicamento foi dado às 21:40. Tive uma rápida conversa com ela sem envolver qualquer tema tenso, para transmitir calma, e então entrei de volta na casa a fim de não prejudicar a experiência dela com a interação comigo sóbrio. Ela já estava em condições de voltar a navegar nas correntes profundas dos Meninos Santos.
E nisso, me bateu pela primeira vez a lembrança de uma recomendação que li no item 7 dos Fundamentos do Uso Responsável de Psicoativos com Anotações para o Cogumeleiro. Ocorre que eu não sabia que o cachorrinho dela tinha esse tipo de problema. Isso significa que jamais poderemos eu e ela, sem mais ninguém sóbrio em casa, viajarmos juntos de nada - pois pode ocorrer uma emergência de novo. Assim, eu tenho que ser dela não o cuidador/sitter, porque ela não precisa; mas apenas o plantonista: aquele que sóbrio assume as emergências e responsabilidades que venham a acontecer enquanto alguém estiver sob efeito, caso não seja possível ao psiconauta se desfazer de todas as responsabilidades no local de uso.
Fiquei feliz de então conseguir resolver a questão objetiva do cachorrinho com a compra do remédio que imediatamente foi dado, e também com a questão subjetiva dela com o nervosismo criado ao então acalmá-la também com transmissão de amor e calma. Ouvi muitas palavras de amor e gratidão sinceras da minha amiga sob efeito. E ela precisa nesse período difícil se sentir tão querida e acolhida. E fico feliz que assim ela sinta que esteja sendo.
E isso tudo me causou algo por dentro que gerou uma catarse digna de uma trip de cogumelo: liguei pra minha mãe, disse que a amo, e chorei a agradecendo por tudo que me ensinou, a ajudar as pessoas, a amar, o quanto ela era especial, forte, como sempre tinha vencido todas as dores da vida sem pestanejar e nem chorar por leite derramado - jamais! Disse isso e mais ainda com lágrimas a ela, que também se emocionou. É que, sem perder o amor, costumamos discutir muito - eu mais que ela, que em sua sabedoria apenas ignora meus rompantes. E eu, sem nem mesmo prever que o faria, manifestei pra ela um sentimento profundo de gratidão que, sei lá, parece ter sido efeito de cogumelo por transmissão de pensamento.
Em outras palavras, eu tive uma catarse fantástica, por ajudar alguém sob crise psicodélica no que envolvia impedir que seu cachorrinho ficasse com as pernas paralisadas talvez... pra sempre? Não sei dizer. Mas isso me fez agir melhor com minha mãe. Decerto que a conexão de todas as coisas que vivenciamos com os cogumelos existe de uma forma muito mais objetiva e palpável e que suas emanações de amor podem contagiar as almas daqueles que estão por perto.
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Por fim, eu queria em um dos meus relatos narrar algo que não envolvesse eu estar sob efeito, e essa situação foi muito perfeita pra trazer até vocês. Não fui guia dela, fui plantonista. E isso me deu uma recompensa emocional digna de uma experiência profunda ao ter a catarse de gratidão com a minha mãe no telefone. Inicialmente não contaria como experiência mas só como relato; só que, devido à "transmissão da abertura emocional dos cogumelos" que eu tive, será contabilizada como minha 74ª experiência. Fiquei muito feliz. Minha mãe e minha amiga também.
Ela, aliás, nesse tempo que digitei e revisei o relato, já está super de boa, sorridente, enquanto entra na última hora das 6 horas de efeitos.
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