Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

Boom Festival 2014

sankhara

Artífice esporulante
Membro Ativo
10/03/2009
178
80
Lusitania
Olá a todos,
Queria relatar e partilhar com vocÊs, uma experiência que tive á dois anos. Foi a primeira experiência verdadeiramente intensa que tive com os cogumelos desde que os conheci. Foi também a mais assustadora, penso eu, por não estar de todo preparado. Talvez colocando aqui me ajudem também a reflectir. Também porque, sendo os cogumelos e a psilocibina uma substância proibida, nem sempre é fácil encontrar alguém para partilhar. Pelo menos acontece comigo.

Estava com o meu primo num Festival de Trance em Portugal e levei comigo cogumelos que tinha cultivado, era o segundo dia do Festival e andava um pouco desidratado e tinha-me alimentado pouco. Devo ter tido uma experiência por ano com cogumelos nos passados 4 ou 5 anos. E sempre experiências boas, positivas e sobretudo porque por acaso do destino sempre usei doses baixas.

Mastiguei uns cogumelos para curtir a musica no Main Floor e passado um pouco voltamos porque o meu primo precisava buscar umas coisas á tenda. Esperei um pouco por ele e senti os efeitos a surgirem. Tomei mais dois cogumelos e com alguma ansiedade a surgir e a ter a noção de perder a noção do tempo, enviei-lhe uma mensagem para o celular e avancei para o Dance Floor.

Com os efeitos dos cogumelos a surgirem, comecei a sentir péssimas vibrações do local onde estava, com pessoas com cicatrizes , estava mesmo numa zona onde vendiam cocaina, e era pessoal com pessimo aspecto... Resolvi sair e fui para um sitio calmo, já com o efeito dos cogumelos a subir.

Encontrei um sitio com água, molhei-me e fui sentar-me na areia junto á água onde coloquei a mochila do meu lado e fiquei em posição de lótus.
Com a luz do sol a entrar de frente, senti completamente a desaparecer em pensamentos e perder o contacto com o corpo. Fui transportado para uma espécie de catedral de luz em que todos os pilares tinham correntes de luz subir como se fosse água e tudo tinha movimento. Aí, uma figura masculina surgiu e disse-me de que maneira deveria fazer estas viagens e que á muito tempo que os homens fazem estas viagens porque foram ensinados a fazer desde os tempos mais remotos. Ensinou-me a colocar-me em posição de lotus e a colocação das mãos.

Surgiu depois uma entidade Feminina que disse que eu deveria nascer novamente. Que era uma necessidade qeu tinha. Pegou em mim, apertou-me muito bem e colocou-me dentro da vagina. Senti a ser esmagado e tentei sair lá de dentro, como se um nascimento se tratasse.

Podiam achar que tinha corrido tudo bem e que tinha sido uma viagem espectacular... hum... mas não foi sempre assim.

Eu tinha momentos em que estava a alucinar e outros em que regressava momentaneamente á consciência, abria os olhos e por vezes mastigava um pouco da comida que tinha no saco. Pensava por vezes que teria de alimentar o meu corpo... cuida do corpo pensava eu. E depois desaparecia outra vez (perdia a consciência).

Instalou-se depois uma grande confusão mental, porque tinha perdido a noção do tempo. Ás vezes quando regressava á consciência perguntava-me á quantos anos eu estava ali. Por vezes abria os olhos e via pessoas jovens, e quando abria novamente estavam todos velhos (era junto a água e estava muita gente a tomar banho na barragem). Comecei a pensar que tinha pegado no carro de forma inconsciente e que se calhar tinha já morrido. Ou que tinha ido nadar e me tinha afogado. Comecei a entrar um pouco em panico. Também comecei a pensar que talvez tivesse tido alguminstinto mais primitivo e que teria violado alguém e que a policia me tinha já posto na prisão. E aí o panico começou a surgir.

De repente tento lembrar-me de quem era, se tinha uma familia... não sabia já se tinha uma filha ou não. Não conseguia aceder a quase nada da minha memoria, pareciam fragmentos. Consegui num dos momemntos em que estava consciente (duravam 1 ou 2 minutos) e liguei para casa. Atendeu a minha namorada e consegui perguntar pela mminha filha. Ela respondeu qeu estava bem e eu desliguei o telefone, mal conseguia falar. Isso tranquilizou-me porque me agarrou á realidade. Foi aí que quis tentar telefonar ao meu primo e disse a ele para me procurar.

Quando ele apareceu foi extremamente importante porque ele era o único fio condutor da minha realidade. COmo não conhecia ninguem, eu não teinha qquer tipo de referencia ás minhas memorias naquele Festival senão ele. Foi um alivio, e nessa altura os efeitos estavam a desaparecer.

Sem duvida o problema foi realmente de estava a fazer aquilo sozinho e ter sido apanhado desprevenido.
Estava extremamente fraco por não ter me alimentado bem nesses dois dias, foi mais qeu jejum.
Perder o controlo faz-nos perceber quão inseguros nós somos em relação a nós e ao mundo. Eu percebi o quão mal preparado estava para uma viagem assim. Percebi que é necessário ter muita aceitação de nós próprios, daquilo que somos e que fazemos na nossa vida e aos outros porque caso contrário, na viagem tudo nos será devolvido a dobrar. As nossas inseguranças voltam a nós como alguem que Mija (Urina) contra o vento.

Quando acabou, eu nunca tinha saido da mesma posição de lotus. Foi uma viagem dificil de segurar. Mas ainda bem que correu bem. Teve uma parte de muita aprendizagem e com mundos lindos mas uma outra parte de muito terror... que eram as minhas inseguranças. Compreendi o quâo impreparado estava ainda para a vida.
 
Ótimo relato, em especial para uma bad trip. :)

Suas reações foram todas adequadas às situações, e isso considerando a relativa pouca prática que tinha em dosagens altas.

Certa vez, com pouco mais de o equivalente a 8 gramas secas (Arrebatado pela Luz), tive um sentimento de desespero agudo que queria me fazer tentar entender e lembrar do que estava acontecendo, o que só serviria pra aumentar a angústia pela impossibilidade de fazê-lo. Felizmente eu já estava com prática o suficiente para simplesmente abrir mão de saber o que tinha feito ou o que estava acontecendo, mas com a certeza interna de que ia passar em algum momento. Isso me acalmava quase que imediatamente, nas 3 vezes que ocorreu na trip.

E em relação a não saber se o que está na sua frente é real ou não, eu tive essa dúvida com LSA na primeira vez que tive uma viagem de nível 5, por precaução com meu corpo. Depois dessa vez, aprendi que "sim, essa parede na sua frente existe, não dê de cara com ela", algo assim, como dizem em inglês sobre psicodélicos. Então essa coisa do mundo paralelo alucinatório possui certas regras, pelas quais o alucinado ou não lembra de ou não precisa verificar a realidade. No primeiro caso, há uma impossibilidade de a pessoa verificar a realidade e então desfazer a viagem; no segundo, há plena consciência(-expandida) do psiconauta de que está em um mundo paralelo e daí ele deixa fluir a viagem ou não. Em outras palavras, se você questiona a realidade onde está e consegue elaborar o pensamento sobre isso, bem como sentir a pedra sobre a qual estava sentado, a planta do lado, o pé que toca na água, então todas essas coisas existem e é a realidade consensual, com a qual naquele momento da trip você consegue novamente se conectar. Como conclusão, seu corpo físico está ali, onde você se percebe.

Claro que isso não se relaciona com o sentimento de tranquilidade de depois ver seu amigo, que lhe deu mais paz por referi-lo à sua vida após todos os sentimentos que vieram.

Novamente, parabéns pelo relato, pela forma de narrar e pela experiência em si. :coffee:
 
Ótimo relato, em especial para uma bad trip. :)

Suas reações foram todas adequadas às situações, e isso considerando a relativa pouca prática que tinha em dosagens altas.

Novamente, parabéns pelo relato, pela forma de narrar e pela experiência em si. :coffee:

Obrigado pelo feedback. É bom poder partilhar estas experiências porque não conheço ninguém que tome cogumelos (a não ser no forum) para poder trocar ideias.
Se á coisa que peercebi, e tiro o exemplo também de esbarrar na parede, é o da aceitação. Tal como na vida e na Trip, chego á conclusão qeu a acietação do que nos acontece é fundamental, porque faz com que tenhamos muito mas memso muito menos crises de ansiedade. E se calhar o meu problema foi o de estar a tentar sempre racionalizar o que estava a acontecer e simplesmente não deixar fluir.

8gr secos... Meu Deus... em que lado do Universo viajas-te :D ? Abraço
 
é o da aceitação. Tal como na vida e na Trip, chego á conclusão qeu a acietação do que nos acontece é fundamental, porque faz com que tenhamos muito mas memso muito menos crises de ansiedade.

Excelente. :)

8gr secos... Meu Deus... em que lado do Universo viajas-te :D ? Abraço

Te digo que o mais intenso dessa trip de 8 gramas foi a sensação de arrebatamento por uma luz.

A única viagem cosmológica(-espiritual) foi uma com cerca de 6 gramas (4ª exp):

Esse momento da minha experiência que chamei de morte de ego foi quando entrei em contato com todas as esferas do mundo espiritual de uma só vez, toda a roda de reencarnação, num fluxo pelo Universo, entre big bangs. Só depois de quase uma semana que eu consegui recuperar primeiro a memória da viagem espiritual, depois da viagem cosmológica, que se juntaram. Nesse momento, foi quando me veio a imagem de um Deus da Morte

:grealien: :D :coffee:
 
Bom relato. Obrigado pela partilha.

Na parte do renascer e entrar na vagina pareceu um pouco com as experiências relatadas pelo Stanislav Grof com LSD e respiração holotrópica.
 
Back
Top