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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Arrebatado pela Luz (11ª exp.)

ExPoro

Enteogenista Apaixonado pela Vida
Cultivador confiável
14/04/2015
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No dia 22/10/2015, cerca de 2 semanas atrás, às 22:00h, tomei um chá com 6,86 g de cubensis secos (KC), mais 3,8 gramas frescos de pins e cogumelos in vitro acidentais :p do primeiro cultivo de mdk e que por acaso tinha colhido naquele dia, e que assim adicionariam um pouco da experiência de se fazer os chás frescos. Ah, sim, o preparo do chá envolveu usar o moedor de café para os secos; já os frescos foram colocados inteiros na panela e macerados um pouco enquanto ferviam. No fim do cozimento, foi coado e espremido em coador de pano.

Bem, o contexto da experiência se deu no fim de um período de férias de quase 1 mês, no que foram as semanas mais felizes da minha vida. Tinha inclusive vivenciado o poder regenerativo de usar os cogumelos em meio à natureza com a minha mulher e de mergulhar a cabeça debaixo da água da cachoeira, no começo do escurecer. Apesar de eu ter me adaptado ao uso de cogumelos na cidade e suas marés energéticas, foi realmente muito fortificador e purificador para minha mente, corpo e espírito. Tudo flui mais fácil no meio da mata...

Mas o fato é que durante todas as minhas férias eu ainda não tinha tido aquela experiência mais interiorizada que eu tinha imaginado que teria. E tinha que aproveitar as férias para que minha mente ainda estivesse bem relaxada e afastada do meu trabalho. Tendo em vista a possível tolerância devido ao uso 5 dias antes de cogumelos na cachoeira, coloquei essa dosagem alta de 6,86 g secos mais 3,8 frescos para assegurar uma viagem forte :D.

Como descrever o momento entre pegar o copo, tomar e voltar a colocá-la na mesa? Algo assim:
  1. Peguei o copo;
  2. Engoli o chá todo rapidamente mesmo com o gosto horrível, mas reclamei bastante e fiz muita careta :LOL:;
  3. Coloquei Hello, Hello, Hello o copo Is does anybody in there? de volta.

Quase poeticamente, no momento em que terminei de virar o chá foi como se a última golada ao invés de descer pela minha garganta fizesse meu corpo levitar para as nuvens. Não era a gota que descia, eu que me elevava, na inversão do expectador. Mas tudo numa sensação forte de obnubilação que nos primeiros 3 minutos ainda era contornável. Ah, sim, devo mencionar que anteriormente tinha consumido cerca de 2 latinhas de cerveja, e vinha fumando meu bom e velho back, pois essas substâncias apresentam efeitos cruzados com a psilocibina. E, em relação ao álcool, creio que acelere a absorção.

Depois das 4 ou 5 tragadas de cannabis que dei assim que terminei de engolir o chá, fiquei até o fim da experiência sem dar mais nenhum trago. Normalmente prefiro não fumar, nem beber, nem comer, nem nada. Sei que ao fim desses tragos, eu basicamente coloquei o computador pra tocar a trilha sonora que tinha preparado, baseado nos chill-out que postam aqui no CM. Ato contínuo, transacionei da cadeira em frente ao PC para a cama, pois tudo ficava muito árduo.

A inebriação potente realizada pelo chá foi de tal ordem arrebatadora que, apesar de poder descrever como aos poucos fui deitar na cama e fui parar rolando de um lado pro outro, é melhor dizer que, para fins do momento, eu subitamente estava sem chão, nem direção. Era tudo rápido demais pra eu entender direito o que ocorria, apesar de vivenciar tudo com tranquilidade.

Todas as alterações mais fortes de percepção voltaram a ficar nítidas. Como encostar em alguma coisa sem ver, e me sentir ínfimo, e ao olhar voltar a ver que é normal; ou então tocar sem ver e achar minha mão é gigante em relação à minha perna, e então olhar e tornar a ver que são da mesma proporção. As noções de maior e menor, perto longe, conceitos tão abstratos pareciam tão flexíveis... E isso porque eu sequer tinha ido deitar ainda?.. Acho que foi quando decidi que começaria com o álbum A Singularity Encoded, de Entheogenic.

Deitado, a cor azul me acalmava bem, e a televisão que estaria tão longe então parecia ir ficando mais perto quando eu olhava pra ela. Mas eu não olhava só pra ela, ali deitado. Agitado, olhada pra um lado, pro outro. Sempre sensações, visões rápidas que costumam ser de pessoas vindo. E eu olhava a tela de vez em quando, ao lembrar que estava deitado, ao lembrar que havia aquela música. E o azul da tela, e as formas do azul, tudo ia me absorvendo... Apesar de tão, tão longe da tela, era como se eu estivesse com a cara afundada nela, de tão próxima e tridimensional que me parecia...

Aquilo tudo me intrigava!..

Me fascinava!..

Fazia com que eu quisesse me questionar!..


E então tornava a entrar em um redemoinho interno...

A música passava tranquilamente por mim, essa primeira música...

Direita...

Esquerda...

Me jogo pra direita...

Me jogo pra esquerda...

"O que é isso?"

Me jogam pra cima...

Me jogam pra baixo...

Me jogam pro lado...

Pro outro...

Pro lado...

Pro ou...

Pro la...

Cá...

Lá...

Sol...

Me sinto jogado como uma bola de pinball de um lado pro outro nas molinhas, e a cada batida um brilho e a porrada pro outro lado...

Ao chegar do outro lado, outra porrada pra trás e mais um brilho...

Mas não era um pinball, era algo querendo me arrebatar, me jogar pra fora dos limites do meu corpo...

Eu podia dizer que havia um desespero, não estivesse eu calmo. Essa agonia de não conseguir mais identificar o que é tempo, o que é direita, esquerda, ou o que estava acontecendo, se algo acontecia, enfim, de tentar compreender algo... Quando eu desisti de tentar compreender... Mas eu não desisti por sabedoria, desisti porque não tinha como! Eu simplesmente pensei: "agora então vai, que seja o que Deus quiser". E foi nesse momento, quando parei de tentar entender o que ocorria e me entreguei, em que simplesmente parei de ser jogado de um lado pro outro e a luz branca finalmente brilhou com toda uma intensidade na minha frente e dentro de mim, com uma energia avassaladora que poderia chegar a doer tamanha a pressão interna. Foi um momento em que me senti pela primeira vez na vida como um Ser que simplesmente existia.

E como todo relâmpago, o brilho é rápido e vai embora...

Mas a maré intensa de pensamentos...

O fluxo...

Prossegue por horas...

Percebo agora que o que me fazia ir de um lado pro outro, igual pinball, era não aceitar essa luz... E devo dizer que, a partir desse momento, a experiência se tornou algo um tanto quanto impressionante :huh::idea::eek:h:. Não digo em questão de efeitos psicodélicos, mas de um sentimento de que as sensações que ele me provocava eram impressionantes, que o mundo era impressionante, que o cogumelo (a psilocibina) me mostrava como as coisas eram impressionantes.

Bem, de volta à trip, esta foi caminhando muito intensa com a música, e cheguei então até mesmo a parecer que ia passar mal. A novidade é que eu supunha que bastava eu não gritar, não surtar, etc., que não teria como fazer barulho alto, já que me controlo quando quero. Ocorre que comecei a ter uma ânsias de vômitos que nunca vinham, e que me faziam dar um soluços cabulosamente altos como se eu estivesse me afogando, algo assim. Eu acreditava que dava pra me ouvir passando mal até na esquina, e não que fosse problema muito grave, mas queria silêncio nesse dia.

Cheguei a pegar a sacola plástica dessa primeira vez, mas não fiz menção de vomitar. Deixei-o no chão e vim a pegá-lo depois.

Mas, bem, de volta à cama, já melhor, fui fluindo com o êxtase, até que começaram os pensamentos sobre a vida. E me falava sobre fama, e o oposto do que eu esperava ouvir. O que eu esperava ouvir? Isso: "desista de seus planos de fama". Mas o conselho foi o oposto: "você nasceu pra ser em algum sentido famoso na sua vida". Tipo... Nunca vi os cogumelos serem bonzinhos ao me dizer alguma coisa. A forma como falava através dos meus pensamentos era calma...

Creio que fui ao banheiro umas 3 vezes e voltava pra ficar delirando na cama. Fato é que em certo momento fui pra sacola de vômito de novo, e agora eu parecia que via que tava vomitando alguma coisa ali dentro, na penumbra da tela da TV que passava as músicas. Nesse momento até minha mulher veio acudir. Mas novamente nada saiu e eu voltei a deitar, mas agora resolvi tirar o som. Sem música, me parecia mais fácil lidar com a náusea.

Nesse momento, me acorreu uma questão que veio muitas vezes: "o que estou fazendo? O que está acontecendo?", porque tudo era extremamente confuso de se vivenciar. Ao que eu de pronto para mim respondia: "não importa, depois você vai ser capaz de entender tudo que está ocorrendo", e então eu relaxava de tentar lembrar de que eu estava doido, há quanto tempo, se estava, se estava o quê?, quê o quê hem quê?, melhor deixar pra mais tarde... :greyalien: Posso dizer que dessa vez finalmente entendi porque tem gente que pede arrego, e digo que houve momentos em que me senti testado ao limite da resistência de me manter na viagem.

Por fim, a trip foi indo, acalmando, pensamentos mais mansos, menos rápidos... Quando vi que estava mais tranquilo, cerca de 2 horas da manhã (4 horas desde a dosagem), chamei minha mulher pra voltar ao quarto.

Fui então pro banho e tive de novo a sensação de que meu corpo é anfíbio (me sinto "sapomorfizado", mas dessa vez sem vislumbre alteração de cor ou textura, até porque estava pra terminar a aterrizagem) e de que a água é algo vivo, mas de uma forma meio como se eu estivesse tomando banho de um líquido gosmento, meio desagradável para mim ver e de pensar sobre, como costuma ser quando ocorre tal efeito. As extremidades do meu corpo pareciam mais arredondadas e inchadas também! Então, o banho não demorou muito, porque não curti isso :roflmao:.

Ainda fiquei um longo tempo até ir deitar ao lado da minha mulher, e depois de deitado ainda um bom período até que eu parasse de tomar sustos com meus próprios pensamentos (alucinações súbitas de histórias desconexas) no pré-sono.

Dormi e no dia seguinte estava me sentindo excelente :contente:.
 
Última edição:
O relato é bem antigo mas eu queria passar pra dizer que esse conhecimento aqui é ouro puro ^^

Eu podia dizer que havia um desespero, não estivesse eu calmo. Essa agonia de não conseguir mais identificar o que é tempo, o que é direita, esquerda, ou o que estava acontecendo, se algo acontecia, enfim, de tentar compreender algo... Quando eu desisti de tentar compreender... Mas eu não desisti por sabedoria, desisti porque não tinha como! Eu simplesmente pensei: "agora então vai, que seja o que Deus quiser". E foi nesse momento, quando parei de tentar entender o que ocorria e me entreguei, em que simplesmente parei de ser jogado de um lado pro outro e a luz branca finalmente brilhou com toda uma intensidade na minha frente e dentro de mim, com uma energia avassaladora que poderia chegar a doer tamanha a pressão interna. Foi um momento em que me senti pela primeira vez na vida como um Ser que simplesmente existia.

Espero que outras como essa tenham vindo ao longos dos anos :D

Paz e boas viagens! 🍃 🍄
 
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