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Armando Torres: Encontros Com o Nagual

Alma

Cogumelo maduro
Membro Ativo
21/10/2005
130
73
Fala galera.

Segue um livro sobre o caminho do guerreiro, caminho difundido por Carlos Castaneda.
Armando Torres é o mensageiro do Nagual carlos.


Vou colocando capítulo a capítulo, um pouco por vez, assim teremos oportunidade para debater sobre alguns pontos. Isso pra quem tiver interesse, claro!

*Conversações com Carlos Castaneda.

Introdução


Escrevo este livro no cumprimento de uma tarefa que me foi encomendada anos atrás.
Em outubro de 1984 eu conheci Carlos Castaneda, um controvertido antropólogo e escritor sobre temas de bruxaria.
Nessa época eu era ainda bastante jovem. Em minha busca de respostas, havia me envolvido em diversas tradições espirituais e ansiava achar um guia. Mas, desde o início, Carlos foi muito claro a esse respeito.
"Eu não prometo nada - ele dizia-, não sou um guru. A liberdade é uma escolha individual e é responsabilidade de cada um lutar por ela".
Em uma das primeiras conferências em que o ouvi, criticou duramente a idolatria humana que nos induz a seguir outros e a esperar que nos dêem as coisas já mastigadas. Ele disse que isso era um vestígio de nossa fase de rebanho.
"Quem sinceramente deseja entrar nos ensinamentos dos bruxos, não precisa de guias. Basta um interesse genuíno e culhões de aço. E por si mesmo achará tudo o que for necessário por meio de um intento inflexível".
Sob tais premissas se desenvolveu nossa relação.
Assim sendo, quero deixar claro que não sou um discípulo de Carlos, no sentido formal da palavra. Eu só conversei com ele em algumas ocasiões, e isso foi suficiente para me convencer de que o verdadeiro caminho consiste em nossa determinação em sermos implacáveis.
A principal razão pela qual concordei em difundir parte de minha experiência ao seu lado é a gratidão. Carlos foi generoso com cada um dos que tiveram a sorte de conhecê-lo, já que é da natureza de um nagual dar presentes de poder. Estar perto dele era imbuir-se de seu estímulo e receber muitas histórias, conselhos e ensinamentos de todo tipo. Seria muito egoísta por parte daqueles que receberam esses presentes escondê-los, quando ele mesmo, como verdadeiro guerreiro da liberdade total, compartilhou tudo o que tinha com aqueles que estavam próximo dele.
Uma vez ele me contou que costumava anotar toda noite fragmentos da aprendizagem que recebia do nagual Juan Matus, um antigo bruxo que pertencia ao grupo étnico dos yaquis do norte do México, e de Don Genaro Flores, um poderoso índio mazateco que fazia parte do grupo de conhecimento liderado por DJ. Ele acrescentou que escrever era um aspecto importante de sua recapitulação pessoal e que eu deveria fazer a mesma coisa com tudo aquilo que ouvisse em nossas conversas.
"E se me esqueço?", perguntei a ele.
"Nesse caso o conhecimento não era para você. Concentre-se só naquilo que você possa se lembrar".
Ele me explicou que o verdadeiro sentido daquele conselho não era só para me ajudar a manter uma informação que poderia ser valiosa no futuro. O importante era que eu adquirisse um certo grau de disciplina, de forma que pudesse empreender verdadeiros exercícios de bruxos mais adiante.

Descreveu o propósito dos bruxos como "um empreendimento supremo: ajudar o homem moderno a sair da limitação perceptual, devolvendo-lhe o domínio de seus sentidos e permitindo-lhe entrar em um caminho de economia de energia".
Carlos insistia que tudo o que um guerreiro faz deve estar imbuído de um sentido de urgência em ser prático. Dito em outras palavras deveria estar inflexivelmente orientado para o verdadeiro propósito do ser humano: a liberdade.
"Um guerreiro não tem tempo a perder porque o desafio da consciência é total e exige vinte quatro horas diárias de alerta máximo".
Em meu relacionamento com ele e com outros homens de conhecimento, fui testemunha de eventos extraordinários quando vistos da perspectiva da razão. No entanto, para os bruxos, coisas como a visão remota, o conhecimento de eventos com antecedência ou a viagem para mundos paralelos ao nosso, são experiências normais no desempenho de suas tarefas. Enquanto nós não pudermos verificá-los por nós mesmos é inevitável que os tomemos como fantasias ou, no melhor dos casos, como metáforas típicas de sua linguagem.
O ensinamento de Carlos é assim: tome-o ou deixe-o. Você não pode racionalizá-lo. Não é possível verificá-lo intelectualmente. A única coisa que é possível fazer com eles é colocá-los em prática, explorando assim as extraordinárias possibilidades de nosso ser.

Armando Torres - autor

NOTAS DA TRADUTORA

Os livros de Carlos Castaneda usam algumas terminologias que na tradução para a língua portuguesa foram alterados por tradutores que não conhecem o tema com profundidade. Isso afeta de modo importante os significados de alguns conceitos da obra de Castaneda. Mas, por esses equívocos já terem se consagrado nas diversas edições dos livros de Carlos Castaneda, decidimos manter os termos com os quais os leitores já se habituaram. Entretanto, fazemos as seguintes observações:
1. Na versão em português, o termo "vontade" é usado em algumas ocasiões de forma incorreta. O mais preciso seria "intento".
2. Outro termo inadequado é o de "Ponto de Aglutinação". O correto seria "Ponto de Encaixe". Em espanhol, como em português, aglutinar não é o mesmo que encaixar.
3. Optamos por manter o termo original da língua espanhola "ensueño", criando a palavra "ensonho". Sonhar não é o mesmo que ensonhar. Como essa última palavra não existe na língua portuguesa e a diferença entre elas na língua espanhola é significativa, acreditamos que o leitor ganhará mais incorporando à bela língua portuguesa essa nova palavra: ensonhar.
4. E finalmente, a expressão usada em português "Pequenos Tiranos", procurando traduzir "Pinche Tiranos" não é adequada. O termo "pinche" originalmente significa algo entre "merda" e "maldito".


Prefácio


Conheci Armando na ocasião em que ambos nos encontramos em um lugar de poder nas montanhas do México Central. A espontaneidade da amizade que se deu entre nós, assim como o tema de nossa conversa, levaram-me a comentar que eu tivera o privilégio de conhecer Carlos Castaneda. Ele me falou que também o conhecera e que estava escrevendo um livro sobre seus ensinamentos.
Minha curiosidade cresceu e eu o questionei a respeito. Ele não pareceu interessado em responder minhas indagações; disse tão somente que ainda não era o tempo apropriado. Eu não insisti, pois mal havia acabado de conhece-lo.
Durante anos de relação, eu o ouvi mencionar o assunto poucas vezes, sempre como referência a algum outro tópico que estávamos discutindo. Ainda que tenha me tornado amigo "daqueles que andam por lá", foi só até agora que se deram os eventos e tive acesso ao seu trabalho.
Quando li o manuscrito pela primeira vez, eu me senti profundamente emocionado, já que este me permitiu entender uma das mais obscuras premissas de Carlos: o que ele chamava de "a porção da regra do nagual de três pontas" - um projeto para a renovação das linhagens de conhecimento que acontece em uma escala global.
Armando me assegurou que Carlos lhe tinha encomendado dar a conhecer essa informação na época apropriada, e me pediu que eu lhe ajudasse nessa tarefa. Porém, levando em consideração que se tratava de um manuscrito bastante curto - trinta páginas -, sugeri que ele o completasse com a descrição de algumas das numerosas conversações de Castaneda de que fora testemunha.
Aceitando minha proposta, ele selecionou um grupo de ensinamentos dados por Carlos em conferências públicas assim como em conversações privadas.
Para facilitar a leitura, ele me explicou que estruturou o conteúdo dos tópicos de acordo com os temas escolhidos e não por ordem cronológica.
Disse também que em algumas ocasiões fora forçado a sintetizar ou reconstruir as conversações, já que, no tratamento direto, Carlos era extremamente enfático, transmitia grande parte da informação por meio de gestos e expressões faciais; também lhe agradava misturar histórias pessoais e observações de todo tipo com os ensinamentos.
Como um presente extraordinário, Armando acrescentou no final uma breve história da sua própria experiência com um outro grupo de praticantes da bruxaria.
Devido à simplicidade e sinceridade de sua narrativa, este livro te uma força que eu não encontrei em nenhum outro trabalho relacionado com este assunto. Por isso é, para mim, um enorme prazer auxiliar o Armando na tarefa de publicar esta obra. Não tenho a menor dúvida de que os amantes do legado de Carlos Castaneda desfrutarão intensamente deste trabalho.

Juan Yoliliztli
 
Última edição por um moderador:
Cara, você me deu uma idéia muito boa. A gente poderia excolher 1 livro, esperar 1 mês e discutirmos o assunto, depois de todos que participaram do tópico terminarem de ler. Daria discursões muito boas. Aí a gente faria isso 1 vez por mês (ou outro período que acharem melhor). O que acham da idéia?

Ah, e o nome desse livro é "Conversações com Carlos Castaneda" ou "Encontros Com o Nagual" ?
 
O nome do livro é "Encontros com o nagual"

O livro é baseado nas conversações de Armando com o "lider" de seu grupo de guerreiros, o nagual Carlos.


Essa sua ideia foi muito legal, trabalhar em grupo por um fim em comum é uma boa ferramenta do conhecimento.


Logo posto os capítulos seguintes, até!
 
Esse livro parece ser muito bom. Lí o que vc postou. Só não vou le-lo todo agora porque estou lendo 3 livros. Lerei mês que vem, quando termina-los.
 
estarei acompanhando, perfeito...aemoticons4u.com_cool_717.gif
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Fala galera....

Então, como esta escrito no post anterior, Armando conheceu Castaneda, e foi dai que tirou material para seu livro.
JuanY, é um mexicano que conheceu Armando e o ajudou a difundir seu livro, eu conheço esse homem, mora em algum local do méxico.
 
Primeira Parte

Um Romance Com o Conhecimento

1 - A revolução dos bruxos
2 - A importância pessoal
3 - O caminho do guerreiro
4 - A consciência da morte
5 - A drenagem de energia
6 - Recapitulação
7 - O umbral do silêncio


Primeira Parte

Um Romance Com o Conhecimento

1 A Revolução Dos Bruxos


Havíamos nos reunido no segundo andar de uma casa elegante para ouvir um conferencista famoso. Éramos um grupo de mais ou menos doze pessoas das quais eu não conhecia nenhuma, com exceção do amigo que tinha me convidado. Enquanto esperávamos a chegada do orador, conversamos amigavelmente.

Passaram-se quase duas horas e nosso convidado não aparecia. Nas faces das pessoas começaram a surgir sinais de cansaço. Alguns se desesperaram e partiram. Em um certo momento, senti o impulso de ir olhar para fora da janela. Então eu o vi chegar e nossos olhos se encontraram.

Inesperadamente, um forte vento entrou na sala e fez com que voassem papéis para todos lados. Quando Carlos entrou, alguns dos presentes ainda lutavam para fechar as janelas.

Sua aparência era diferente da que eu esperava. Ele era um homem de baixa estatura, ainda que parecesse muito forte; sua pele era morena e começava a mostrar sinais de rugas, estava vestido de um modo informal que lhe diminuía uns dez anos. O seu rosto era divertido, vivaz e irradiava simpatia. Parecia muito contente de estar entre nós e era um verdadeiro prazer estar perto dele.

Cumprimentou a todos com apertos de mão. Logo disse que nós tínhamos que aproveitar o tempo, porque lhe esperavam naquela mesma noite em um outro lugar. Ele se sentou em uma poltrona e nos perguntou:

"Vocês querem falar sobre o quê?"

Antes que tivéssemos tempo de responder, ele mesmo tomou a iniciativa e nos inundou de histórias. A conversa dele era direta e absorvente, cheia de piadas que completava com gestos expressivos.

Nessa ocasião ele se referiu às etapas históricas do nagualismo como um conjunto de práticas e idéias, garantindo que ao homem moderno foi dada uma oportunidade incrível com as revelações dos bruxos. Então falou algo sobre o movimento do ponto de aglutinação, uma manobra complexa a qual os videntes se dedicam. O tema era bastante novo para mim, e por conseguinte me limitei a escutar e tomar notas. Felizmente, Carlos costumava repetir as idéias essenciais, por isso era fácil seguir seu ritmo.

No final aceitou algumas perguntas. Um dos presentes quis saber qual era a posição dos bruxos diante da guerra. Seu rosto refletiu aborrecimento.

"O que você quer que eu diga? - perguntou - Que são pacifistas? Pois não são! A eles não interessa nosso destino como homens comuns e normais! Entendam de uma vez por todas! Um guerreiro é feito para o combate, seu descanso é a guerra".

Certamente, a pergunta tocou em um ponto sensível de Carlos, pois ele explicou demoradamente que, ao contrário das contendas mesquinhas, nas quais os humanos se envolvem diariamente, por interesses sociais, religiosos ou econômicos, a guerra do bruxo não está dirigida contra os outros, mas contra suas próprias fraquezas. Sendo assim, sua paz não se encontra na condição submissa a qual foi reduzido o homem moderno, mas sim em um estado imperturbável de silêncio interior e disciplina.

A passividade - disse - é uma violação da nossa natureza porque na essência todos nós somos formidáveis combatentes. Cada ser humano é por direito um soldado que alcançou seu lugar no mundo numa batalha de vida ou morte. Vejam assim: pelo menos uma vez, como espermatozóides, todos disputamos uma corrida pela vida - uma guerra sem igual contra milhões de outros competidores - e ganhamos! Agora a batalha continua, já que estamos presos nas forças do mundo. Uma parte de nós luta para desintegrar-se e morrer, e a outra quer a todo custo manter a vida e a consciência. Não existe paz! Um guerreiro percebe isso e usa a seu favor. O seu interesse continua sendo o mesmo que animou aquela centelha de vida que lhe deu origem: o acesso a um novo nível de consciência".

Continuou dizendo que ao nos socializarmos, fomos domesticados da mesma maneira como é domesticado um animal, por meio de estímulos e castigos.

Nós fomos treinados para viver e morrer docilmente, seguindo códigos de comportamento antinaturais que nos abrandam, fazendo com que percamos o ímpeto inicial, até que o espírito do homem já não possa ser notado. Considerando que nós nascemos da disputa, ao negar nossa tendência básica, a sociedade em que vivemos extirpa a herança guerreira que nos transforma em seres mágicos".

Acrescentou que o único caminho aberto à mudança, é aquele em que nós nos aceitamos tal e qual somos para trabalharmos a partir daí.

O guerreiro sabe que vive em um universo predatório. Não pode baixar a guarda. Por onde quer que olhe, ele vê uma luta incessante, e sabe que é merecedora de respeito, porque é uma luta mortal. Dom Juan sempre estava se movimentando, indo ou vindo, apoiando ou rejeitando, provocando tensões ou descarregando-se como um raio, gritando seu intento ou permanecendo calado, enfim, fazendo algo. Estava vivo, e a vida dele refletia a expansão e contração do Universo.

"Ele disse que, desde o momento em que ocorreu a explosão que nos deu origem até o momento de nossa morte, vivemos em um fluxo. Esses dois episódios são únicos, pois nos preparam para enfrentar o que está adiante. E o que nos alinha com esse fluxo? Uma batalha incessante que somente um guerreiro intenta; por isso vive em harmonia com o todo.

"Para um guerreiro, ser harmônico é fluir, não deter-se no meio da corrente para tentar um espaço de paz artificial e impossível. Ele sabe que pode dar o melhor de si sob condições de máxima tensão. Por isso procura seu adversário como o galo de rinha, com avidez, com deleite, sabendo que o próximo passo é decisivo. Seu adversário não é seu semelhante, mas seus próprios apegos e fraquezas. E seu grande desafio é apertar as camadas de sua energia de forma que ela não se expanda quando cessar a vida e assim consiga manter a sua consciência.

"Questionem-se: o que eu estou fazendo com minha vida? Ela tem um propósito? Está suficientemente ajustada? Um guerreiro aceita seu destino seja qual for. Porém, luta para mudar as coisas e faz do seu passo pelo mundo algo primoroso. Tempera sua vontade de tal modo que nada pode tirá-lo de seu propósito".

Outro dos presentes ergueu a mão e lhe perguntou como os bruxos conseguem conciliar os princípios do caminho do guerreiro com seus deveres sociais.

Respondeu:

"Os bruxos são livres, eles não aceitam compromissos com as pessoas. A responsabilidade é com eles próprios, não com os outros. Sabe por que razão foi colocado em você o poder da percepção? Já descobriu o propósito de sua vida? Anulará seu destino animal? Essas são perguntas de bruxos, as únicas que verdadeiramente podem mudar algo. Se lhe interessa os demais, responda isso!”.

"Um guerreiro sabe que o que dá sentido à vida é o desafio da morte. E a morte é uma questão pessoal. É um desafio para cada um de nós que somente os guerreiros de coração aceitam. Desse ponto de vista, as inquietudes das pessoas são apenas egomania".

Carlos insistiu para que não perdêssemos de vista que o compromisso de um guerreiro é com o que chamou "o puro entendimento" - um estado de ser que surge do silêncio interior -, não com os apegos transitórios da modalidade da época em que foi destinado a viver. Sustentou que o interesse social é uma descrição que nos implantaram. Não faz parte de um desenvolvimento natural da consciência. Mas é produto da mente coletiva, do desajuste emocional, do medo e dos sentimentos de culpa, do desejo de dirigir os outros ou sermos dirigidos.

"O homem moderno não luta sua própria batalha, está envolvido em guerras que nada tem a ver com o espírito. É natural que um bruxo não se comova por isso!”.

"Meu mestre dizia que ele não honrava acordos feitos na sua ausência: 'Eu não estava lá quando decretaram que eu tinha que ser um imbecil!." Ele nasceu em circunstâncias particularmente difíceis, mas teve a grandeza de não se tornar um homem rancoroso. Afirmava que a situação da humanidade em geral é horrenda, e que enfatizar certos grupos é uma forma disfarçada de racismo.

Ele repetia que no mundo só há dois tipos de pessoas, os que têm energia e os que não têm. Ele vivia em uma luta permanente contra a cegueira de seus semelhantes. Mas, era impecável e não interferia com ninguém. Quando eu lhe expunha minha preocupação pelas pessoas, ele indicava minha incipiente papada e me dizia: 'não se engane, Carlitos, pois se você se interessasse de verdade pela condição humana, não trataria a si mesmo como a um porco'.

"Ele me ensinou que sentir pena dos outros é impróprio de um guerreiro, porque a piedade sempre parte do auto-reflexo. Ele me perguntava, sinalizando aqueles que nós encontrávamos em nosso caminho: 'Por acaso você se acha melhor que eles?' Ele me ajudou a entender que a solidariedade dos bruxos com aqueles que os cercam parte de um comando supremo, não de um sentimento humano”.

"Espreitando minhas reações emocionais impiedosamente, ele me conduziu até a fonte de minhas preocupações e eu pude perceber que meu interesse pelas pessoas era uma farsa. Na verdade, eu queria escapar de mim mesmo transferindo aos outros meus problemas. Ele demonstrou que a compaixão, como a entendemos, é uma doença mental, uma psicose que nos aprisiona mais fortemente ao nosso ego".

Era evidente que a lembrança de Dom Juan comovia Carlos. Pude notar que ficava envolvido em uma onda de afeto.

Um dos assistentes ergueu a mão e comentou que, ao contrário de suas afirmações, a compaixão para com o próximo é a idéia essencial de todas as religiões.

Ele fez um gesto como se espantasse uma mosca.

"Sai dessa! Estas alegações baseadas na piedade são uma farsa! Por força de repetirmos as mesmas idéias, nós substituímos o interesse genuíno no espírito do homem por um sentimentalismo barato. Nós nos tornamos uns compassivos profissionais. E então? O que mudou?”.

"Quando sentir que a mente coletiva o pressiona, tentando convencê-lo de que se concentre nas aparências do mundo, repita para seu interior esta tremenda verdade: 'eu vou morrer, não sou importante, ninguém o é!' Saber isso é a única coisa que importa".

Apresentou como exemplo de um esforço mal aplicado, um burro encalhado no lodo. Quanto mais se move, mais difíceis ficam as coisas. A única saída para ele é agir com indiferença, tentar livrar-se de sua carga e concentrar-se na urgência de seu problema.

A mesma coisa acontece conosco. Somos um ser que vai morrer. Nós fomos programados para viver como bestas, carregando um fardo de costumes e crenças alheias até o fim. No entanto, podemos mudar isso! A liberdade que nos oferece o caminho do guerreiro está ao alcance das mãos, aproveitem!"

Nos contou que, quando ele era um aprendiz, tinha um problema: era viciado em cigarro. Já tinha tentado deixá-lo várias vezes, mas sem sucesso.

"Um dia, Dom Juan me disse que iríamos colher plantas em uma área desértica e que a viagem duraria vários dias. Avisou: 'Será melhor que você leve um pacote inteiro de cigarros! Mas você tem que embrulhar muito bem, pois o deserto está cheio de animais que poderiam roubá-lo”.

"Eu agradeci sua atenção e segui suas instruções cuidadosamente. Mas quando acordei no dia seguinte no meio do chaparral, eu descobri que o pacote havia desaparecido”.

"Me desesperei; pois sabia que sem cigarros logo ficaria deprimido. DJ colocou a culpa da perda no coiote e me ajudou a procurar o pacote. Finalmente, depois de horas de angústia, ele encontrou o rastro do animal e o seguimos pelo resto do dia, entrando mais e mais nas montanhas. Ao chegar a noite, ele confessou que nós estávamos completamente perdidos”.

"Sem cigarros e sem saber onde estava, eu me senti miserável. Para me consolar, ele me assegurou que perto dali tinha que haver algum povoado e que era questão de caminhar um pouco mais para chegar em algum lugar e estar a salvo. Mas perdemos o dia seguinte buscando um caminho, e então outro, e depois outro mais. Assim se passaram quase duas semanas”.

"Chegou um ponto em que, quase morto de cansaço, eu me deixei cair sobre a areia e me dispus a morrer. Ao me ver nesse estado, ele tentou me animar a continuar, perguntando-me: 'Por acaso já não te interessa fumar?”.

"Olhei para ele com raiva, lançando em sua cara a sua incrível irresponsabilidade, e lhe respondi entre dentes que tudo o que eu queria era morrer. 'Muito bem! - respondeu com indiferença - então nós já podemos voltar.' Todo esse tempo nós havíamos estado a poucos metros da estrada!".

A anedota despertou uma explosão de riso. Quando finalmente nós nos acalmamos, Carlos observou:

"A tragédia do homem atual não é sua condição social, senão a falta de vontade de mudar a si mesmo. É muito fácil planejar revoluções coletivas, mas, mudar genuinamente, acabar com a autocompaixão, eliminar o ego, abandonar nossos hábitos e caprichos... ah, isso sim é outra coisa! Os bruxos dizem que a verdadeira rebeldia e a única saída do ser humano como espécie, é fazer uma revolução contra sua própria estupidez. Como, compreenderão, trata-se de um trabalho solitário”.

"O objetivo dos bruxos é a revolução dos bruxos, o desdobramento irrestrito de nossas possibilidades perceptuais. Eu não conheci um revolucionário maior que DJ. Ele não propunha trocar as "tortillas" pelo pão, não! Ele foi fundo no assunto. Propôs o salto mortal do pensamento ao desconhecido, a liberação de todas as amarras. E demonstrou que é possível!”.

"Ele me sugeriu que eu completasse minha vida com decisões de poder, com estratégias que me levassem à consciência. Ele me ensinou que a ordem do mundo não tem que ser como nos dizem, que eu posso deixá-lo de lado quando eu quiser. Eu não estou obrigado a manter uma imagem para os outros, a viver um inventário que não me convém. Meu campo de batalha é o caminho do guerreiro!".

Terminada a reunião, todos os seus ouvintes formaram uma fila para trocar algumas palavras com ele e lhe dizer adeus. Quando chegou minha vez, Carlos me olhou de cima a baixo e me perguntou como me chamava e por quê estava ali.

Eu lhe disse meu nome e lhe expliquei que um amigo, conhecendo meu interesse pelo assunto, tinha me avisado sobre a oportunidade.

Só comentou:


"Com você eu quero falar em particular".


Um pouco confundido por essas palavras, esperei que terminasse de cumprimentar a todos e eu o segui a um canto da sala. Ali ele me convidou a tomar o café da manhã no seu hotel no dia seguinte.


Eu disse que seria um prazer para mim.


Então ele me deu o endereço e me falou:


"Nos vemos amanhã às nove horas".


Acrescentou que eu não deveria comentar a ninguém sobre nosso encontro e que deveria ser pontual.
 
Olá!
Segue o conteúdo do livro do Armando.


2 A Importância Pessoal


Cheguei ao átrio do hotel na hora combinada. Não esperei nem um minuto e o vi descendo as escadas que davam acesso aos quartos. Nós nos cumprimentamos e então nos dirigimos ao restaurante onde nos serviram um delicioso café da manhã. Em dado momento quis perguntar-lhe algo, mas ele me fez sinais para ficar calado. Comemos em silêncio.

Ao terminarmos, saímos para caminhar pela rua Donceles, rumo ao Zócalo.

Enquanto passeávamos pelos sebos, ele me confessou que, geralmente, não falava em particular com as pessoas, mas que no meu caso era diferente porque ele tinha recebido uma indicação a respeito. Como eu não sabia a que se referia, preferi permanecer calado, já que qualquer comentário meu nada mais faria que sublinhar minha ignorância.

Acrescentou que de forma alguma eu deveria confundir sua deferência com um interesse pessoal.

"Eu disse muitas vezes que minha condição energética me impede de receber discípulos. Por isso, as pessoas se desapontam comigo. Mas eu não posso fazer nada!"

Conversamos sobre diversos temas. E eles fez muitas perguntas sobre minha vida, pediu o número de meu telefone e me avisou que na noite seguinte ele daria uma palestra na casa de uma amiga. Eu estava convidado a assistir, mas que a nossa relação deveria permanecer em segredo. Eu lhe respondi que adoraria estar presente e então ele me deu o endereço e o horário.

Em um dos sebos que visitamos, encontramos um exemplar de um dos seus livros intitulado - "Uma estranha realidade". Estava na estante das obras de ficção, o qual lhe aborreceu muitíssimo. Comentou que as pessoas estão tão comprometidas com o cotidiano que nem sequer podem conceber o mistério que nos cerca. Quando algo sai do conhecido, automaticamente nós o classificamos em uma cômoda categoria e então nos esquecemos disso.

Percebi que folheava os livros com interesse e que, às vezes, passava a mão neles com carinho, com um sentimento de respeito. Ele disse que aqueles, mais que livros, eram depósitos de conhecimento não se importando com a forma em que este se apresentasse. Acrescentou que a informação de que precisamos para ampliarmos a consciência se esconde nos lugares mais improváveis; e que se não fôssemos tão rígidos como normalmente somos, tudo à nossa volta nos contaria segredos incríveis.

"Somente precisamos nos abrir ao conhecimento e este chegará a nós como uma avalanche".

Vendo uma mesa que exibia livros a um preço quase de graça, ficou admirado com o baixo custo que têm os livros já lidos comparados com os novos. Na opinião dele, isso provava que as pessoas não estão realmente procurando informação. O que procuram é o "status" do comprador.

Eu lhe perguntei que tipo de leitura ele preferia e me respondeu que gostava de saber sobre tudo. Porém, nessa ocasião, estava procurando um livro de poesia em particular; certa edição antiga que nunca havia sido re-impressa. Pediu-me que lhe ajudasse a encontrá-lo.

Durante um longo tempo, nós revolvemos muitos livros. Finalmente, saiu com um pacote deles, mas não com o qual procurava. Com um sorriso culpado, admitiu:

"Sempre me acontece a mesma coisa!"

Próximo ao meio-dia nos sentamos para descansar num banco de uma praça onde estavam os impressores oferecendo seus serviços. Aproveitei a oportunidade para lhe dizer que suas declarações da noite anterior tinham me deixado perplexo. Então lhe pedi que me explicasse com mais detalhes no que consistia a guerra dos bruxos.

Com muita cortesia, ele me explicou que era natural que esse tema me afetasse, já que eu, como o resto dos seres humanos, fui preparado desde meu nascimento para perceber o mundo do ponto de vista do bando das ovelhas. Ele me contou histórias de seus companheiros e como eles tinham conseguido, depois de muitos anos de luta tenaz contra suas fraquezas, superar à coerção coletiva. E me aconselhou a ser paciente, pois a seu devido tempo as coisas se explicariam.

Depois de um momento de conversa agradável, ele me deu a mão num gesto de adeus. Eu não pude conter minha curiosidade e lhe perguntei o que ele tinha desejado dizer com isso de que havia tido "uma indicação" sobre mim.

Em vez de me responder, ele olhou com atenção sobre meu ombro esquerdo. Imediatamente minha orelha ficou quente e começou a zumbir. Depois de um tempo, disse que ele mesmo não sabia, porque não pôde ler a natureza do sinal. Mas tinha sido algo tão claro, que tinha sido forçado a prestar atenção.

Acrescentou:

"Eu não posso guiá-lo, mas posso colocá-lo diante de um abismo que colocará à prova todas as suas habilidades. Dependerá de você se se lança ao vôo ou se corre para se esconder na segurança de suas rotinas".

Suas palavras despertaram minha curiosidade. Eu lhe perguntei a que abismo se referia.

Ele me disse que se referia ao meu próprio sonho.

Essa resposta me estremeceu. De alguma maneira, Carlos tinha notado meu dilema interior.

Faltando quinze para às sete, cheguei a uma bonita casinha em Coyoacán. Uma moça agradável, que parecia ser a dona da casa, veio me receber. Eu lhe expliquei que tinha sido convidado à conferência de Carlos e ela me convidou a entrar. Nós nos apresentamos e ela disse que se chamava Martha.

Na sala havia outras oito pessoas. Logo chegaram mais dois convidados e em seguida apareceu Carlos que, como sempre, saudou a todos efusivamente. Desta vez apareceu trajado de um modo muito formal, de terno e gravata, e trazia na mão uma pasta que lhe dava um ar intelectual. Começou a conversar sobre diversos assuntos e, quase sem que notássemos, entrou no tema: como apagar a importância pessoal.

Como preâmbulo, afirmou que o papel relevante que nos concedemos a nós mesmo em cada uma das coisas que fazemos, dizemos ou pensamos, consiste numa espécie de "dissonância cognitiva" que nubla nossos sentidos e nos impede de ver as coisas clara e objetivamente.

"Somos como pássaros atrofiados. Nascemos com todo o necessário para voar, porem, estamos permanentemente obrigados a dar voltas em torno de nosso ego. A corrente que nos aprisiona é a importância pessoal”.

"O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito árduo. Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos importantes. E quando a pessoa é importante, qualquer intento de mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso”.

"Esse sentimento nos segrega. Se não fosse por ele, todos nós fluiríamos no mar da consciência e saberíamos que nosso eu pessoal não existe para si mesmo: seu destino é alimentar a Águia”.

A importância cresce na criança à medida em que ela aperfeiçoa sua interpretação da realidade. Fomos forçados a aprender a construir um mundo de concordâncias ao qual nos referir, para que possamos nos comunicar. Mas esse dom incluiu uma embaraçosa seqüela: nossa idéia do 'eu'. O eu é uma construção mental, veio de fora e está na hora de nos desfazermos dele".

Carlos afirmou que as falhas em que nós incorremos ao nos comunicarmos são uma prova de que a concordância que nós recebemos é absolutamente artificial.

"Depois de experimentar durante milênios situações que alteram nossos modos de perceber o mundo, os bruxos do México antigo descobriram um fato prodigioso: que nós não estamos obrigados a viver em uma única realidade, porque o universo está construído com princípios muito maleáveis que podem se acomodar em formas quase infinitas, produzindo incontáveis gamas de percepção”.

"A partir desta constatação, eles deduziram que o que nós seres humanos recebemos de fora, foi a capacidade para fixar nossa atenção em um desses níveis para explorá-lo e reconhecê-lo, moldando-nos a ele e aprendendo a senti-lo como se fosse único. Assim surgiu a idéia de que nós vivemos em um mundo exclusivo e, conseqüentemente, gerou-se o sentimento de ser um 'eu' individual.

"Não há dúvidas de que a descrição que nos deram é uma possessão valiosa, semelhante a uma estaca à qual se amarra uma plantinha tenra para fortalecê-la e conduzi-la. E isso tem permitido que cresçamos como pessoas normais numa sociedade modelada para essa fixação. Para isso, nós tivemos que aprender a 'desnatar', quer dizer, fazer leituras seletivas do enorme volume de informações que chegam a nossos sentidos. Mas, uma vez que essas leituras se tornam 'a realidade', a fixação da atenção funciona como uma âncora, pois nos impede de tomar consciência de nossas incríveis possibilidades”.

"Don Juan sustentava que o limite da percepção humana é a timidez. Para poder manipular o mundo que nos cerca, nós tivemos que renunciar ao nosso patrimônio perceptivo que é a possibilidade para testemunhar tudo. Desse modo, nós sacrificamos o vôo da consciência pela segurança do conhecido. Nós podemos viver vidas fortes, audazes, saudáveis; podemos ser guerreiros impecáveis, mas não ousamos!

"Nossa herança é uma casa estável onde viver, mas nós a transformamos em uma fortaleza para a defesa do eu, melhor dizendo, em um cárcere onde condenamos nossa energia a consumir-se em prisão perpétua. Nossos melhores anos, sentimentos e forças se vão no conserto e na sustentação daquela casa porque nós acabamos nos identificando com ela”.

"Quando uma criança se torna um ser social, ela adquire uma falsa convicção de sua própria importância. E aquilo que no princípio era um sentimento saudável de autopreservação, acaba se transformando em uma exigência ególatra por atenção”.

"De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre diabo arrogante e sem graça".

Apontando para seus pés, falou que nos sentir importantes nos força a fazer coisas absurdas.

"Vejam eu! Uma vez eu comprei sapatos muito bons, que pesavam quase um quilo cada um. Gastei uns quinhentos dólares para andar arrastando meus sapatões por aí!

"Por causa de nossa importância, nós estamos cheios até as bordas de rancores, invejas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos da tarefa de nos conhecer a nós mesmos com pretextos como: 'me dá preguiça' ou 'que cansaço!'. Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural".

Neste ponto da conversa, Carlos fez um intervalo para responder algumas perguntas e aproveitou para nos contar diversas histórias exemplares sobre como a auto-importância deforma os seres humanos, transformando-os em couraças rígidas diante das quais um guerreiro não sabe se ri ou se chora.

"Depois de estudar durante alguns anos com don Juan, eu me senti tão perplexo com suas práticas que fui embora durante algum tempo. Não podia aceitar o que ele e meu benfeitor me faziam. Parecia desumano, desnecessário e ansiava por um tratamento mais doce. Eu aproveitei para visitar diversos guias espirituais do mundo inteiro a fim de achar nas doutrinas deles algum ensino que justificasse minha deserção”.

"Em certa ocasião conheci um guru californiano que se achava grande coisa. Ele me admitiu como seu discípulo e me deu a tarefa de pedir esmolas em uma praça pública. Considerando que era uma experiência nova para mim e que provavelmente tiraria uma lição importante de tudo isso, eu me encorajei e cumpri o proposto. Quando voltei para vê-lo, disse a ele: 'agora faça isso você!'. Ele ficou furioso comigo e me expulsou da turma”.

"Em outra de minhas viagens, fui ver um conhecido mestre hindu. Eu me apresentei em sua casa bem cedo e formei fila com outros curiosos. Mas o cavalheiro nos deixou esperando durante horas. Quando apareceu, no alto de uma escada, ele tinha um aspecto condescendente, como se nos estivesse fazendo um grande favor em nos admitir. Começou a descer os degraus muito meritoriamente, mas seus pés se emaranharam em sua grande túnica, caiu no chão e quebrou a cabeça. Morreu ali mesmo, diante de nós".

Em outra ocasião, Carlos nos falou que o demônio da auto-importância não afeta somente aqueles que se acreditam mestres, mas que é um problema geral. Um dos seus estandartes mais firmes é a aparência pessoal.

"Esse era um ponto pelo qual eu sempre me senti incomodado. Don Juan costumava atiçar meu ressentimento zombando de minha estatura. Ele me dizia: 'Quanto mais baixinho, mais egomaníaco! Você é pequeno e ruim como um percevejo; não pode fazer outra coisa senão ser famoso, porque do contrário você não existe!' Afirmava que o mero fato de me ver lhe dava vontade de vomitar, pelo que estava infinitamente agradecido comigo: 'cada vez que você vem eu me renovo!'

"Eu me ofendia com seus comentários, porque tinha a certeza de que exagerava meus defeitos. Mas um dia eu entrei em uma loja de Los Angeles e pude entender que ele tinha toda a razão. Ouvi um indivíduo que dizia ao meu lado: 'Shorty!' (pequeno). Eu me senti tão irritado que, sem pensar duas vezes, virei e lhe dei um forte soco na cara. Depois eu soube que o homem não tinha dito isso para mim, mas porque tinha recebido um troco menor”.

"Um dos conselhos que nos deu Don Juan foi que durante nossa formação como guerreiros nos abstivéssemos de empregar o que ele chamava 'ferramentas para a perpetuação do eu.' Incluía nessa categoria objetos tais como os espelhos, exibição de títulos acadêmicos e os álbuns de fotos com história pessoal. Os bruxos do seu grupo tomavam esse conselho literalmente, mas os aprendizes não se importavam. Porém, por alguma razão, eu interpretei seu comando de forma extrema desde então eu nem permito ser fotografado”.

"Certa vez, enquanto eu proferia uma conferência, expliquei que as fotos são uma perpetuação do auto-reflexo e que minha relutância tinha como objetivo manter uma cômoda incógnita ao redor de minha pessoa. Depois eu descobri que certa senhora que estava entre os assistentes e que se dava ar de guia espiritual, havia comentado que, se ela tivesse a minha cara de garçom mexicano, ela tampouco se deixaria fotografar”.

"Ao observar as manhas da importância pessoal e o modo homogêneo com que contamina todo o mundo, os videntes dividiram aos seres humanos em três categorias, para as quais don Juan pôs os nomes mais ridículos que pôde achar: os mijos, os peidos e os vômitos. Todos nós nos ajustamos em um deles”.

"Os mijos se caracterizam por seu servilismo; eles são aduladores, pegajosos e enjoados. É o tipo de gente que sempre quer lhe fazer um favor; cuidam de você, o previnem, paparicam. Eles têm tanta compaixão na alma! Mas desse modo eles mascaram um fato real: eles não têm iniciativa própria e por si só nunca chegam a nada. Eles precisam de um comando alheio para sentir que estão fazendo algo. E, para sua desgraça, eles dão por certo que os outros são tão amáveis quanto eles; por isso sempre são feridos, decepcionados e chorosos.

"Os peidos, por outro lado, são o extremo oposto. Irritantes, mesquinhos e auto-suficientes, constantemente se impõem e interferem. Uma vez que agarram você, não o deixam em paz. Eles são as pessoas mais desagradáveis com quem você pode se encontrar. Se você está tranqüilo, chega o peido e o enrola em seus jogos, usando-o de toda forma possível. Eles têm um dom natural para serem os manda-chuvas e os líderes da humanidade. São os que chegam a matar para conservarem o poder.

"Entre essas categorias estão os vômitos. Neutros, nem se impõem nem se deixam guiar. São presunçosos, ostentosos e exibicionistas. Dão a impressão de que são grande coisa, mas não são nada. Tudo é alarde. São caricaturas de pessoas que pensam ser muito, mas, se você não lhes presta atenção, eles se desfazem em sua insignificância".

Alguém da platéia lhe perguntou se pertencer a uma dessas categorias é uma característica obrigatória, quer dizer, uma formação concreta em nossa luminosidade.

Respondeu:

"Ninguém nasce assim, nós nos fazemos assim! Caímos em um ou outra dessas classificações por causa de algum incidente mínimo que nos marcou quando éramos crianças, como pode ser a pressão de nossos pais ou outros fatores imponderáveis. A partir daí, e conforme crescemos, vamos nos envolvendo de tal modo na defesa do eu, que chega um momento em que nós já não nos lembramos do dia em que deixamos de ser autênticos e começamos a atuar. Assim, quando um aprendiz entra no mundo dos bruxos, sua personalidade básica está tão formada que já nada pode fazer para desfazê-la e só lhe resta rir de tudo isso”.

"Mas, apesar de não ser nossa condição congênita, os bruxos podem perceber o tipo de importância que nós nos concedemos através de seu ver. E isso é possível porque modelar nosso caráter durante anos produz deformações permanentes no campo energético que nos cerca".

Carlos continuou explicando que a auto-importância se alimenta da mesma classe de energia que nos permite "ensonhar". Portanto, perdê-la é a condição básica do nagualismo, porque libera para nosso uso um excedente de energia; porque sem essa precaução, o caminho do guerreiro poderia nos converter em umas aberrações.

"Isso é o que aconteceu a muitos aprendizes. Eles começaram bem, acumulando sua energia e desenvolvendo suas potencialidades. Mas eles não perceberam que, à medida em que conseguiam poder, eles também nutriam em seu interior um parasita. Se nós vamos ceder às pressões do ego, é preferível que o façamos como homens comuns e normais, porque um bruxo que se considera importante é a coisa mais triste que há.

"Considerem que a importância pessoal é traiçoeira; pode se disfarçar debaixo de uma fachada de humildade quase impecável porque não tem pressa. Depois de uma vida inteira de práticas, basta um mínimo descuido, um pequeno deslize e ali está ela, novamente, como um vírus que foi incubado em silêncio ou como essas rãs que esperam durante anos debaixo da areia do deserto e com as primeiras gotas de chuva despertam de sua letargia e se reproduzem”.

"Tendo em conta sua natureza, é o dever de um benfeitor esporear a importância do aprendiz até que esta exploda. Não pode ter piedade. O guerreiro deve aprender a ser humilde pelo caminho mais árduo ou não terá a menor oportunidade frente aos dardos do desconhecido”.

"Dom Juan fustigava seus discípulos até a crueldade. Ele nos recomendava uma vigilância de vinte e quatro horas diárias para manter distância dos tentáculos do eu. Claro que não lhe dávamos a devida atenção! Salvo Eligio, o mais adiantado dos aprendizes, todos os outros se entregavam de um modo vergonhoso às nossas tendências. No caso da Gorda isso foi fatal".

Contou a história de Maria Helena, uma discípula adiantada de don Juan que havia desenvolvido um grande poder como guerreira, mas que não soubera controlar os maus hábitos de sua etapa humana.

"Ela pensou que tinha tudo sob controle e não era assim. Ainda lhe restava um interesse muito egoísta, um apego pessoal; esperava coisas do grupo de guerreiros e isso acabou com ela”.

"A Gorda se sentia ofendida comigo porque me considerava incapaz de dirigir os aprendizes até a liberdade e nunca me aceitou como o novo nagual. Uma vez que a força diretiva de DJ desaparecera, ela começou a reprovar minha insuficiência, ou melhor, minha anomalia energética, sem levar em consideração que isso era um comando do espírito. Pouco depois, ela se aliou com os genaros e as irmãzinhas e começou a se comportar como se ela fosse a líder do grupo. Mas o que terminou de exasperá-la foi o sucesso público de meus livros”.

"Certo dia, em uma explosão de auto-suficiência, reuniu a todos, prostrou-se diante de nós e gritou: 'Bando de idiotas! Eu me vou!”.

"Ela conhecia o exercício do fogo interior, por meio do qual podia mover seu ponto de aglutinação até o mundo do nagual para se reunir com don Juan e don Genaro. Mas naquela tarde ela estava muito agitada. Alguns dos aprendizes tentaram acalmá-la e isso a enfureceu ainda mais. Eu não podia fazer nada. A situação havia sobrepujado meu poder. Depois de um esforço brutal e nada impecável, acometeu-a uma embolia cerebral e caiu morta. O que a matou foi sua egomania".

Como moral desta história estranha, Carlos acrescentou que um guerreiro nunca se deixa levar até a loucura, porque morrer de um ataque de ego é o modo mais estúpido para se morrer.

"A importância pessoal é homicida, trunca o livre fluxo da energia e isso é fatal. Ela é a responsável pelo nosso fim como indivíduos e chegará o dia em que nos elimine como espécie. Quando um guerreiro aprende a deixar sua auto-importância de lado, seu espírito se abre, jubiloso, como um animal selvagem que é liberado de sua jaula e posto em liberdade”.

"A importância pessoal se pode combater de diversos modos, mas primeiro é necessário saber que está aí. Se você tem um defeito e o reconhece, já é meio caminho andado!”.

"Assim, antes de mais nada, dêem-se conta disso. Peguem uma cartolina e escrevam nela: 'A importância pessoal mata', e pendurem-na no lugar mais visível da casa. Leia essa frase diariamente, tente se lembrar dela no seu trabalho, medite sobre ela. Talvez chegue o momento em que seu significado penetre em seu interior e você decida fazer algo. O dar-se conta é por si mesmo uma grande ajuda porque a luta contra o eu gera seu próprio impulso.

"Ordinariamente, a importância pessoal se alimenta de nossos sentimentos, que podem ir do desejo de estar bem e ser aceito pelos outros, até a arrogância e o sarcasmo. Mas sua área de ação favorita é a compaixão por si mesmo e pelos demais. De forma que para espreitá-la, temos, acima de tudo, que decompor nossos sentimentos em suas mínimas partículas, descobrindo as fontes das quais se nutrem”.

"Os sentimentos raramente se apresentam em uma forma pura. Eles se disfarçam. Para os caçar como coelhos, nós temos que proceder sutilmente, com estratégias, porque eles são rápidos e não se pode entrar em acordo com eles”.

"Podemos começar com as coisas mais evidentes, como por exemplo: por que me levo tão a sério? Quão apegado estou? A que dedico meu tempo? Estas são coisas que nós podemos começar a mudar, acumulando energia suficiente para liberar um pouquinho de atenção. E isso, por sua vez, permitirá que entremos mais no exercício”.

"Por exemplo, em vez de passar horas a fio vendo televisão, indo fazer compras ou conversando com nossos amigos sobre coisas transcendentais, nós poderíamos dedicar uma pequena parte desse tempo para fazermos exercícios físicos, recapitular nossa história ou então ir sozinhos a um parque, tirar os sapatos e caminhar descalços na grama. Parece algo simples, mas com essas práticas nosso panorama sensorial se redimensiona. Recuperamos algo que sempre esteve aí e que tínhamos dado por perdido”.

"A partir dessas pequenas mudanças, podemos analisar elementos mais difíceis de detectar, nos quais nossa vaidade se projeta até a demência. Por exemplo: quais são minhas convicções? Eu me considero imortal? Sou especial? Mereço que me considerem? Este tipo de análise entra no campo das crenças, a mera fortaleza dos sentimentos. Assim devem empreender essa análise através do silêncio interno, estabelecendo um fervoroso compromisso com a honestidade. Caso contrário, a mente fará uso de todo tipo de justificativas".

Carlos acrescentou que estes exercícios devem ser feitos com um sentido de alarme, porque, verdadeiramente, trata-se de sobreviver a um poderoso ataque.

"Percebam que a importância pessoal é um veneno implacável. Nós não temos tempo e o antídoto é a urgência. É agora ou nunca!”.

"Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racionalidade. Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas”.

"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido”.

"O problema da compaixão é que nos obriga a ver o mundo através da auto-indulgência. Um guerreiro sem compaixão é uma pessoa que conseguiu se colocar no centro da frieza e ele já não se compadece no "pobrezinho de mim". É um indivíduo normal, só que, como não tem piedade por suas fraquezas nem pelas das demais pessoas, conseguiu aprender a rir de si mesmo.

"Um modo de definir a importância pessoal, é entendendo-a como a projeção de nossas fraquezas através da interação social. É como os gritos e atitudes prepotentes que adotam alguns animais pequenos para dissimular o fato de que na realidade eles não têm defesas. Somos importantes porque nós temos medo, e quanto mais medo, mais ego.

"Porém, e afortunadamente para os guerreiros, a importância pessoal tem um ponto fraco: ela depende do reconhecimento para subsistir. Como a pipa, ela precisa de uma corrente de ar para ascender e ficar no alto; caso contrário, cai feito pedra e se quebra. Se nós não damos importância à importância, esta se acaba.

"Sabendo isto, um aprendiz renova suas relações. Aprende a escapar daqueles que o consentem e freqüenta a esses a que nada humano lhes importa. Busca a crítica, não a lisonja. De vez em quando começa uma vida nova, apaga sua história, muda nome, explora novas personalidades, anula a sufocante persistência de seu ego e leva a si mesmo a situações limite nas quais o autêntico é forçado a assumir o controle. Um caçador de poder não tem piedade, não busca o reconhecimento ante os olhos de ninguém”.

"A não compaixão chega de surpresa. A ela se intenta pouco a pouco, durante anos de pressão contínua. Mas acontece de repente, como uma vibração instantânea que quebra nosso molde e nos permite olhar para o mundo a partir de um sorriso sereno. E pela primeira vez em muitos anos, sentimo-nos livres do terrível peso de sermos nós mesmos e vemos a realidade que nos cerca. Uma vez aí já não estamos sozinhos; um incrível empurrão nos espera, uma ajuda que vem das entranhas da águia e nos transporta por um milissegundo a universos de sobriedade e sensatez”.

"Ao não termos compaixão, podemos enfrentar com elegância o impacto de nossa extinção pessoal. A morte é a força que dá ao guerreiro valor e moderação. Só olhando através de seus olhos nos damos conta de que nós não somos importantes. Então ela vem viver ao nosso lado e começa a nos transmitir seus segredos”.

"O contato com sua transcendência deixa uma marca indelével no caráter do aprendiz. Este entende de uma vez por todas que toda energia do Universo está conectada. Não há um mundo de objetos que se relacionam entre si através de leis físicas. O que existe é um panorama de emanações luminosas inextricavelmente ligadas, no qual nós podemos fazer interpretações na medida em que o poder de nossa percepção o permita. Todas as nossas ações contam, porque elas desencadeiam avalanches no infinito. Por isso nenhuma vale mais que outra, nenhuma é mais importante que outra”.

"Essa visão corta de uma vez só a tendência que nós temos de ser indulgentes com a gente mesmo. Ao ser testemunha do vínculo universal, o guerreiro cai presa de sentimentos desencontrados. Por um lado, júbilo indescritível e uma reverência suprema e impessoal por tudo que existe. Por outro, um sentido de fim inevitável e tristeza profunda que nada tem que a ver com a auto-compaixão; uma tristeza que vem do seio do infinito, uma rajada de solidão que nunca desaparece”.

"Esse sentimento depurado dá para o guerreiro a sobriedade, a fineza, o silêncio de que ele precisa para intentar aí onde todas as razões humanas fracassam. Em tais condições, a importância pessoal fenece por si mesma".
 
3 O Caminho Do Guerreiro


Certa manhã eu recebi um telefonema e, para minha surpresa, era o Carlos. Ele me disse que chegaria ao aeroporto da cidade do México em umas quatro horas e perguntou se eu poderia recebê-lo. Respondi que me daria muito prazer. Então ele me deu o número do vôo. Calculei que ele estava me ligando do aeroporto de Los Angeles, já que esse é o tempo necessário para a viagem.

Quando chegou, eu o acompanhei para resolver alguns assuntos relacionados com a impressão do livro dele. Depois nós fomos conversar em um café. Antes de nos despedir, combinamos que nos veríamos na conferência que ele daria nessa noite.

O clima estava terrível; talvez por isso, quando eu cheguei à casa onde nós tínhamos o compromisso, notei que só haviam chegado uns poucos convidados. Coloquei meu casaco encharcado de água na parte de trás de uma cadeira e me sentei em um canto, perto de Carlos.

A essência de suas afirmações dessa noite foi que o universo em sua grande totalidade é feminino e de natureza predatória, e que nele se dá uma tenaz batalha pela consciência onde, como sempre, o mais forte absorve o mais fraco.

"Só que, numa escala cósmica, a força de um ser não se mede por seus alcances físicos, mas por sua capacidade de manipular a consciência. Por conseguinte, se havemos de dar o seguinte passo evolutivo, haverá de ser por meio de disciplina, determinação e estratégia. Essas são nossas armas”.

"Através do VER deles, os bruxos testemunham esse enfrentamento e tomam seu devido lugar nele, preparados para o pior e sem se queixar pelos resultados. Por sua pronta disposição para o combate, eles ganham o título de 'guerreiros”.

"Um guerreiro considera que o mundo em que vivemos é um grande mistério, e esse mistério está aí para ser revelado por aqueles que o buscam com deliberação. Essa atitude de ousadia comove em algumas ocasiões os tentáculos do desconhecido, fazendo com que o espírito se manifeste".

Explicou que a ousadia do guerreiro nasce do contato com sua morte iminente.

Narrou a história de uma moça que chegou um dia no escritório de seu editor, pôs uma esteira no chão, sentou-se sobre ela e disse: "Daqui eu não saio até falar com Carlos Castaneda!" Todas as tentativas com o fim de desencorajá-la desse propósito foram inúteis, pois ela permaneceu inflexível. Então o editor chamou a Carlos pelo telefone e o avisou que uma louca exigia sua presença.

"O que eu podia fazer? Fui para lá e me coloquei diante dela. Quando eu lhe perguntei a razão de seu estranho comportamento, ela me falou que, estando mortalmente doente, tinha ido ao deserto para morrer. Mas, enquanto meditava em solidão, entendeu que ainda não tinha esgotado tudo e decidiu jogar sua última carta. Que, para ela, significava conhecer pessoalmente o nagual”.

"Impressionado por sua história eu lhe fiz uma proposta sem igual: 'Deixe tudo e venha para o mundo dos bruxos. E ela respondeu imediatamente: 'Jogo!' Quando eu escutei sua resposta me eriçaram os pelos, porque isso mesmo era o que me falava don Juan: 'Se vamos jogar, ora, joguemos! Mas joguemos a morte”.

"Assim é o sentimento do bruxo diante do seu destino: 'Aposto minha vida neste intento, nada menos. Eu sei que o meu fim me espera em qualquer parte e não há nada que eu possa fazer para evitá-lo. Portanto, estando definido o meu caminho, aceito a responsabilidade de viver plenamente e arriscar tudo numa única jogada”.

"Um guerreiro sabe que não existe nenhuma garantia de vitória diante da morte. Mesmo assim, libera sua batalha, não porque acredite que vá ganhar, mas pela emoção da guerra por si mesma. Para ele, efetivar sua guerra já é uma vitória. E enquanto luta se regozija, porque, para quem já morreu, cada segundo de vida é um presente".

Continuou dizendo que o que faz possível que o mundo exista tal qual nós o vemos, é a atenção de si mesmo e a de todos os nossos semelhantes, vertida ao mesmo tempo e enlaçada em uma apertada rede de interpretações cuja fortaleza é o estar de acordo.

Um dos presentes lhe pediu que esclarecesse esse assunto.

Explicou:

"Você verá, o domínio da atenção é de suma importância no caminho dos bruxos, porque é a matéria-prima da criação. Em todos os mundos, os graus de evolução são medidos pela capacidade de dar-se conta”.

"Com o intuito de manipular e entender as emanações que chegam a nossos sentidos, os bruxos desenvolvem o poder de sua atenção, aguçando-a por meio da disciplina até níveis primorosos que lhes permitem transcender as limitações humanas e consumar todas as possibilidades da percepção. Sua concentração é tão intensa, que eles podem perfurar a grossa couraça das aparências, expondo a verdadeira essência das coisas. A esse grau de consciência acrescentada os videntes chamam 'ver'”.

"Ainda que aos olhos alheios à fixação da atenção possa se manifestar como teimosia, obsessão ou fanatismo, para o praticante não é mais que disciplina".

Nos advertiu para que não confundíssemos a disciplina dos bruxos com os esquemas repetitivos das pessoas.

"A disciplina, tal como a entende um guerreiro, é criativa, aberta e produz liberdade. É a capacidade de encarar o desconhecido, transformando a sensação de saber em assombro reverente; de traçarmos objetivos que excedam o alcance de nossos hábitos e nos atrevermos a enfrentar a única guerra que vale a pena: a do conhecimento. É o valor para aceitar as conseqüências de nossas ações, sejam quais forem, sem sentimentos de auto-compaixão ou culpa.

"Ter disciplina é a chave na manipulação da atenção, porque nos leva à VONTADE. E esta nos permite modificar o mundo até que fique tal e como nós queremos, e não como nos foi imposto. Por essa razão, para os guerreiros, a vontade é a antesala do intento. Seu poder é tão grande que, ao focalizá-la em um objetivo, eles podem produzir os mais assombrosos efeitos".

Como exemplo, nos contou diversas histórias sobre eventos extraordinários dos quais afirmou haver sido testemunha. Sustentou que, no fundo de cada uma das prodigiosas ações dos bruxos, há uma vida inteira de disciplina, sobriedade, desapego e capacidade de análise. Tais atributos, os mais apreciados de um guerreiro, constituem em seu conjunto o estado de ser que eles chamam impecabilidade.

Continuou nos explicando que a impecabilidade não tem nada a ver com uma posição mental, uma crença ou algo pelo estilo. É conseqüência da economia da energia.

"Um guerreiro aceita com humildade aquilo que ele é, e não perde seu poder lamentando que as coisas não tenham sido de outro modo. Se uma porta está fechada, o guerreiro não a esmurra ou lhe dá pontapés, mas examina com atenção a fechadura e procura uma maneira de abri-la. Da mesma forma, se sua vida não é satisfatória, o guerreiro não se ofende nem se queixa. Pelo contrário, desenha estratégias para alterar o curso de seu destino”.

"Se nós aprendemos a eliminar nossa auto-compaixão, e ao mesmo tempo sitiamos a fortaleza do eu, nós nos tornaremos condutores do intento cósmico e canalizaremos a nosso favor torrentes de energia.

“Para fluir dessa maneira, devemos aprender a confiar em nossos recursos e compreender que nascemos com tudo o que necessitamos para a extravagante aventura que é nossa vida. Como guerreiro, cada homem ou mulher que entra nos caminhos da bruxaria sabe que é responsável por si mesmo. Não olha para os lados procurando aprovação ou descarregando nos outros suas frustrações”.

"Don Juan me dizia: 'O que você busca está em si mesmo. Lute de forma que suas ações sejam finais e seu brilho próprio. Comprometa-se interiormente antes que seja muito tarde!”.

"O aspecto da impecabilidade que mais concerne à nossa vida diária, é saber até onde o exercício de nossa liberdade afeta a outros e evitar os esbarrões a todo custo. Ocasionalmente, nossas relações com os demais geram fricções e expectativas. Um bruxo em pé de guerra se previne contra tais esbarrões e se converte em um caçador de sinais. Se não há sinais, ele não interage com as pessoas; limita-se a esperar, porque, assim como não tem tempo, tem toda a paciência do mundo. Sabe que há muito em jogo e não está disposto a arruinar tudo por um passo em falso”.

"Como não se desespera por relacionar-se com ninguém, o guerreiro pode escolher seus afetos com sobriedade e desprendimento, tomando cuidado a todo momento para que as pessoas com as quais consente em ter relações sejam compatíveis com sua energia. O segredo para ter tal claridade de visão consiste em se identificar e não se identificar. O bruxo se identifica com o abstrato, não com o mundo. Isso lhe permite ser independente e cuidar-se sozinho".

Logo nos contou uma história sobre um tipo que se considerava um grande guerreiro, mas cada vez que tinha problemas em sua casa e sua esposa não lhe fazia algo para comer ou ela não lhe lavava e passava as roupas, ele se desmoronava no caos. Depois de muito lutar com essa situação, o homem decidiu introduzir uma mudança radical na vida dele; mas, em vez de reformar seu caráter, como era devido, ele mudou de esposa.

"Percebam que, diante do destino, cada um de nós está sozinho. Assim, que tomem o comando da sua própria vida. Um guerreiro lapida os detalhes, desenvolve sua imaginação e põe à prova seu engenho para resolver as situações. É inconcebível que se sinta inválido, porque tem auto-domínio e não necessita nada de ninguém. Ao se concentrar nos detalhes, aprende a cultivar a fineza, a sutileza e a elegância.

"Don Vicente Medrano dizia que a beleza desta guerra reside nos pontos que não se vêem. Essa é a marca registrada do bruxo, os arremates do intento”.
 
4 A Consciência Da Morte


Durante anos, a necessidade de entender o mundo tinha me levado a armazenar grande quantidade de explicações científicas ou religiosas sobre quase tudo, cujo denominador comum era uma grande confiança na continuidade do homem. Ao me ajudar a focalizar o universo com os olhos de bruxo, Carlos destruiu em mim essa sensação. Ele me fez ver que a morte é uma realidade inapelável e que ignorá-la com crenças de segunda mão é vergonhoso.

Em um certo momento, alguém lhe perguntou:

"Carlos, que expectativas você tem para o futuro?".

Saltou:

"Não há expectativas! Os bruxos não têm amanhã!".

Nessa noite havíamos reunido, no auditório de uma residência privada, pela região de San Jerônimo, um grupo bastante grande de interessados. Quando eu cheguei, Carlos já tinha feito seu ato de presença e se dedicava, muito sorridente, a responder algumas perguntas.

O tópico inicial foi o que definiu como "não fazer", uma atividade especialmente projetada para banir de nossas vidas todo o vestígio de cotidianidade. Afirmou que o não fazer é o exercício favorito dos aprendizes, porque os introduzem em um ambiente de maravilha e desconcerto muito refrescante para a energia, cujo efeito sobre a consciência eles chamam de "parar o mundo".

Respondendo a algumas questões, explicou que o não fazer não pode ser racionalizado. Qualquer esforço para tentar entendê-lo, é na realidade uma interpretação do ensino e cai automaticamente no campo de fazer.

"A premissa dos bruxos para tratar com este tipo de prática é o silêncio mental. E a qualidade de silêncio requerido para algo tão descomunal quanto parar o mundo, só pode vir de um contato direto com a grande verdade de nossa existência: que todos nós vamos morrer".

Ele nos aconselhou:

"Se vocês querem conhecer a si mesmos, sejam conscientes de sua morte pessoal. Ela não é negociável e é a única coisa que vocês realmente têm. Todo o resto poderá falhar, mas a morte não, a ela podem dar por certo. Aprendam a usá-la para produzir efeitos verdadeiros em suas vidas.

"Também, parem de acreditar em contos da carochinha, ninguém os quer lá fora. Nenhum de nós é tão importante para que hajam inventado algo tão fantástico como a imortalidade. Um bruxo que tem humildade sabe que o destino dele é o de qualquer outro ser vivo desta terra. Assim, em vez de se iludir com falsas esperanças, ele trabalha concreta e duramente para sair de sua condição humana e tomar a única saída que nós temos: a quebra de nossa barreira perceptual”.

"Ao mesmo tempo em que escutam o conselho da morte, façam-se responsáveis por suas vidas, da totalidade das suas ações. Explorem-se, reconheçam-se e vivam intensamente, como vivem os bruxos. A intensidade é a única coisa que pode nos salvar do aborrecimento”.

"Uma vez alinhados com a morte, estarão em condições de dar o seguinte passo: reduzir ao mínimo a bagagem. Este é um mundo prisão e é necessário sair como fugitivos, sem levar nada”.

“Os seres humanos são viajantes por natureza. Voar e conhecer outros horizontes é nosso destino. Por acaso você sai de viagem com sua cama ou com a mesa em que come? Sintetiza sua vida!".

Comentou que a humanidade de nosso tempo adquiriu um hábito estranho que é sintomático do estado mental em que vive. Quando viajamos, compramos todo o tipo de artefatos inúteis em outros países, coisas que, certamente, não adquiriríamos em nossa própria terra. Uma vez que voltamos para casa, os amontoamos em um canto e terminamos esquecendo da sua existência até que um dia os descobrimos, por casualidade, e os atiramos ao lixo.

"Assim acontece com nossa viagem pela vida. Nós somos como asnos carregando um fardo de porcarias. Não há nada valioso ali. Tudo o que fizemos só serve para que, no fim, quando a velhice nos assalta, repitamos alguma frase, como um disco riscado”.

"Um bruxo se pergunta: que sentido tem tudo isso? Porque investir meus recursos no que não me ajuda em nada? O compromisso de um bruxo é com o desconhecido, não pode comprometer sua energia em nulidades. Em sua passagem pela terra, tire algo verdadeiramente valioso, caso contrário, não valeu a pena”.

"O poder que nos rege nos deu escolhas. Ou nós passamos a vida dando voltas ao redor de nossos hábitos, ou nos animamos a conhecer outros mundos. Só a consciência da morte pode nos dar a sacudidela necessária”.

"A pessoa comum passa a existência inteira sem parar para meditar, porque ela pensa que a morte está ao término da vida; afinal de contas, nós sempre teremos tempo para ela! Mas um guerreiro sabe que isso não é certo. A morte vive a seu lado, a um braço de distância, permanentemente alerta, olhando-nos disposta a saltar à menor provocação. O guerreiro transforma seu medo animal à extinção em uma oportunidade de prazer, porque ele sabe que tudo aquilo que ele tem é este momento. Pensem como guerreiros, todos vamos morrer!"

Um dos presentes lhe perguntou:

"Carlos, em uma conferência passada você nos falou que possuir o ânimo de um guerreiro consiste em ver a morte como um privilégio. O que significa isso?"

Respondeu:

"Significa sair de nossos hábitos mentais”.

"Estamos tão acostumados à coexistência que, até mesmo diante da morte nós continuamos pensando em termos de grupo. As religiões não falam do indivíduo em contato com o absoluto, mas de rebanhos de ovelhas e de cabras que vão para o céu ou para o inferno, de acordo com seu merecimento. Até mesmo se nós somos ateus e não acreditamos que aconteça nada depois da morte, esse 'nada' é genérico, é o mesmo para todos. Nós não podemos conceber que o poder de uma vida impecável possa mudar as coisas”.

"Com tal ignorância, é normal que o homem comum tenha pânico de seu fim e tente conjurá-lo com orações e medicamentos ou se atordoando com o ruído do mundo”.

"Os humanos têm uma visão egocêntrica e extremamente simplista do universo. Jamais paramos para considerar nosso destino como seres transitórios. Porém, a obsessão pelo futuro nos delata”.

"Não importa a sinceridade ou o cinismo de nossas convicções, no fundo, todos sabemos o que acontecerá. Por isso, todos deixamos sinais. Nós construímos pirâmides, arranha-céus, fazemos filhos, escrevemos livros ou, no mínimo, desenhamos nossas iniciais no tronco de uma árvore. Atrás desse impulso subconsciente está o medo ancestral, a convicção calada da morte”.

"Mas existe um grupo humano que pôde enfrentar esse medo. Ao contrário do homem comum, os bruxos estão ávidos de qualquer situação que os leve além da interpretação social. Que melhor oportunidade que a própria extinção? Graças às suas freqüentes incursões pelo desconhecido, eles sabem que a morte não é natural, é mágica. As coisas naturais estão sujeitas a leis, a morte não. Morrer é sempre um evento pessoal, e por essa única causa, é um ato de poder”.

"A morte é o pórtico do infinito. Uma porta feita sob medida a cada um de nós que a cruzaremos um dia para voltarmos à nossa origem. Nossa falta de compreensão nos impele a vê-la como o redutor comum. Mas não, não há nada de comum nela; tudo ao seu alcance se torna extraordinário. Sua presença dá poder à vida, concentra os sentidos”.

"Nossas existências estão repletas de hábitos. Ao nascermos, já estamos programados como espécie e nossos pais se encarregam de estreitar ainda mais esse programa ao nos conduzir àquilo que a sociedade espera de nós. Mas ninguém pode morrer como rotina, porque a morte é mágica. Ela faz você saber que é sua inseparável conselheira e lhe diz: 'seja impecável; a única opção é ser impecável'".

Uma mocinha que participava da reunião, visivelmente emocionada pelas palavras dele, comentou que a presença obsessiva da morte em suas lições era um detalhe que contribuía para obscurecê-las. Ela teria gostado de uma posição mais otimista, mais focalizada na vida e suas realizações.

Carlos sorriu e replicou:

“Ah coração de melão!, em suas palavras se nota uma profunda falta de experiência com a vida. Os bruxos não são negativos, eles não procuram o fim. Mas eles sabem que o que lhes dá valor à vida é ter um objetivo pelo qual morrer”.

"O futuro é imprevisível e inevitável. Algum dia você já não estará aqui, assim já se foi. Você sabe que a árvore de seu caixão provavelmente já foi cortada?”.

"Tanto para o guerreiro como para o homem comum a urgência de viver é a mesma, porque nenhum dos dois sabe quando seus passos terminarão. Por isso é necessário estar atento ante à morte; pode nos surpreender de qualquer canto. Eu soube de um tipo que subiu numa ponte e urinou sobre um trem elétrico que ia passando. A urina tocou os cabos de alta tensão, lhe deu uma descarga e o queimou ali mesmo.

"A morte não é brincadeira não, é de verdade! Se não fosse por ela não haveria força alguma no que os bruxos fazem. Ela o envolve pessoalmente, queira ou não. Você pode ser tão cínico a ponto de descartar outros tópicos dos ensinamentos, mas você não pode debochar de seu fim, porque está além de sua decisão e é implacável”.

"A carroça do destino nos levará a todos igualmente. Mas há dois tipos de viajantes: os guerreiros que podem partir com sua totalidade, porque eles afinaram cada detalhe de suas vidas; e as pessoas comuns, com existências enfadonhas, sem criatividade, cuja única espera é a repetição de seus estereótipos de agora até o final; pessoas cujo fim não encontrará diferença alguma, aconteça hoje ou em trinta anos. Todos estamos ali, esperando na plataforma da eternidade, mas nem todos sabem disso. A consciência da morte é uma arte maior”.

"Quando um guerreiro põe em cheque suas rotinas, quando já não lhe importa estar acompanhado ou estar só, porque tem escutado o sussurro silencioso do espírito, então a pessoa pode dizer que, verdadeiramente, está morto. A partir dali, as coisas mais simples da vida se tornam para ele extraordinárias”.

"Por isso um bruxo aprende uma nova maneira de viver. Saboreia cada momento como se fosse o último. Não se consome em desgostos nem joga fora sua energia. Não espera ficar velho para meditar sobre os mistérios do mundo. Se adianta, explora, conhece e se maravilha”.

"Se vocês querem dar espaço ao desconhecido, dêem entrada à sua extinção pessoal. Aceitem seu destino como o fato inevitável que é. Purifiquem esse sentimento, fazendo-se responsáveis pelo incrível evento de estarem vivos. Não implorem à morte; ela não é condescendente com os que hesitam. Invoquem-na conscientes de que vieram à este mundo para conhecê-la. Desafiem-na, ainda sabendo que, façamos o que façamos, não temos a menor possibilidade de vencê-la. Ela é tão gentil com o guerreiro como é impiedosa com o homem comum".

Depois desta conferência, Carlos nos deu um exercício.

"É inventariar seus entes queridos e todo mundo que lhes interesse. Uma vez que os classifiquem, de acordo com o grau de sentimentos que vocês têm por eles, vão pegar um por um e passá-los pela morte".

Eu pude notar um murmúrio de consternação que sacudiu seus ouvintes.

Fazendo um gesto tranqüilizador, Carlos acrescentou:

“Não se assustem! A morte não tem nada de macabro. O macabro é que não possamos enfrentá-la com deliberação”.

"Vocês devem levar a cabo o exercício à meia noite, quando a fixação de nosso ponto de aglutinação se move e estamos dispostos a acreditar em fantasmas. É muito fácil, vocês evocarão os seus entes queridos através de seu fim inevitável. Não pensem em como ou quando eles morrerão. Simplesmente, tomem consciência de que algum dia eles já não estarão aqui. Um por um eles partirão, só Deus sabe em que ordem, e não importará o que você possa fazer para evitá-lo”.

"Ao evocá-los assim, vocês não os prejudicarão, pelo contrário!, estarão os colocando na perspectiva apropriada. O ponto de enfoque da morte é prodigioso, restabelece os verdadeiros valores da vida".
 
Dois ou três conceitos interessantes (a maioria parece roubado de outras filosofias). De resto... Mórbido demais, tipo "junte-se ao caminho ou morra miseravelmente!". E sempre os mesmos termos/marcas registradas: intento inflexível :)confused:), ponto de aglutinação... è uma repetição que chega a exaustão, beirando o hipnotismo. Não é a toa que teve gente que se suicidou... Outras viraram sapatas ou robôs. è uma filosofia de moribundos, que só vêem morte, morte em tudo...

Aliás, nem sei pra que fiz esse comentário... Enfim: BULLSHIT!:mad:
 
PSYLOSCOP, para não ficarmos tão repetitivos, como vc mesmo disse, a respeito das obras de CC, proponho a vc uma coisa bastante simples : quero que, enquanto vc estiver dormindo, olhe para seu pau.Parece grosseiria mas não é.
Mas se vc se sentiu ofendido, não tem problema pode olhar para suas mãos.
Quando vc obtiver sucesso me reporte por favor...isto é se conseguir.
 
Eu to lendo os livros de CC pela sequencia... Só não li " Erva do Diabo" Mas " Estranha Realidade" em diante to lendo.. TO agora no "Presente da Aguia"
Gostei dos ensinamentos e se tiver um mundo desse eu quero ir lá ^^ HUIHIUHIHIUHIUH
 
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