- 22/06/2005
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Andei passeando pela tarde bonita, com a expectativa de encontrar algo que eu tivesse interesse legítimo naqueles dias de amenidade e luz suave.
Quando o Sol deixava o lugar para o Céu estrelado, encontrei um colega que me informou de um tipo de festa com violões, álcool barato e fogueira. Sabendo do que se tratava, mas sem ter visto a tal festa, tomei um pedaço de Shiva. Antes do contato com a língua os efeitos já se anunciavam, ao primeiro contato fui tomado por uma euforia sem-limites! Caminhava a passos largos, observava o degrade do céu azul, as árvores já dançavam, o azul respingava a cada estrela que eu identificava. Num período de talvez uma hora apenas andei, um pouco sozinho, outra com colegas. Até que cheguei a tal festa. O local era gramado, meio urbano, havia uma fogueira no centro, muita gente se divertindo aos berros, já havia passado da metade da festa quando cheguei. Encontrei uns conhecidos e fiquei sabendo da possibilidade de alguns cubensis secos, continuava caminhando sem me fixar a alguém ou algo. Consegui 8 cogumelos de uns 15 centímetros cada, confirmei depois medindo com uma régua o tamanho que eles fizeram na minha mão, e mais uns 10 meio amassados. Todos já estavam bastante azulados, colhidos em pasto no dia anterior – era minha primeira experiência com cogumelos que não fossem de cultivo.
Comecei a comer os cogumelos, gosto bem forte, andando por entre as pessoas e logo via um conhecido. Estava eufórico, havia uma malha interligando todos os meus sentidos, se expressando na visão num tom prata-esbranquiçado que vibrava em múltiplas linhas verticais. Comecei a conversar mais, contente e deixando os efeitos fluírem sem pensar neles. Logo tudo tomou aspecto gelatinoso, em contraste com isto, comecei a ver uma luz azul projetada na face das pessoas que me expressavam algo de bom. Essa luz não tinha lugar de onde estivesse vindo e ainda sim estava projetada, seguia em tênues camadas formadas por areia, tinha o formato de um semi-círculo que centralizava o quadro da cabeça das pessoas. Me impressionei mais pela beleza do que pelo fato, mas entendi sem mediações de que se tratava de algo bom. As demais pessoas ganhavam aspecto obscuro, disforme e debilitado. Desviei minha atenção para estes últimos, me deram atenção e fui engraçado com eles. O céu ficava cada vez mais escuro, minha sensação de dimensão era total, estava envolto em Tudo. Eles descobriram pés de mostarda, queriam comer mas ficaram com receio, então fui até lá, o espaço era pequeno, mas parecia que eu havia entrado numa floresta, cada passo eu dava com cautela, cada piscada de olhar uma infinita seqüência de desenhos simples coloridos (azul, verde, vermelho, amarelo) se projetava, num infinito escuro, mas que dava sensação de lugar ao contrário do total preto que parecia de olhos abertos. Havia descoberto um lugar de cheiro puro, mágico mesmo. Lentamente peguei as folhas da planta, um colega se aproximou para afirmar aos descrentes que era uma simples folha comestível. Quando virei as folhas, olhando o lado de cima das minhas mãos, linhas de interconexão com Tudo se expandiram infinitamente traçando a excelsa participação no Todo, as linhas jorravam infinitamente sem movimento! Em absoluto não havia mais tempo, tudo estava parado e tinha existência Total, como a observação de uma imagem de galáxias mostra outro tipo de tempo, que não tem movimento – a eternidade.
Mastiguei uma folha, caindo rolando no chão, rindo de olhos fechados vendo a projeção infinita dos desenhos. Abri os olhos e vi a grama na minha roupa como fios dourados vibrando nesta mesma cor. Tudo vibrava cores específicas. Olhei para as pessoas disformes, o céu ficou vermelho, raios explodiam, a terra se abriu entre minhas pernas, num estrondo que dividiu o mundo em duas partes, até chegar à fogueira: de um lado as pessoas disformes riam tanto por assistir minha diversão, tanto pelo estado que foi projetado nelas, todos riam caídos no chão e um cheiro de vinho barato e notada grama suja por excesso de pisarem, tudo numa visão limpa de um cotidiano de visão saudável; do outro lado três índios sérios sentados, eu estava há uns 10 metros da fogueira, atrás da fogueira um homem careca pintado de vermelho com detalhes em preto batia forte num tambor me incitando. A cada passo que dava via mais perto e nitidamente os seres que lá estavam, a fogueira ganhou uma dimensão de cores sólidas, fluindo eternamente como as linhas azuis.
Os índios me olhavam de maneira severa, me direcionando ao que batia no tambor e faziam o contraste e me impunham uma decisão: ou o lado da vulgaridade, do vinho barato, do prazer licencioso-viciado, ou o lado da decência, dos sentidos límpidos, da verdade. Exigiam de mim uma decisão, cada movimento meu, eu o fazia devagar, mas não letargicamente, mas sim com cautela, ciente de mim mesmo. Dado o anúncio e a lição, os índios se foram com o mundo explodindo novamente em fitas de algum mineral azul-prata caindo, dançando na eternidade. Fui partido ao meio, meu lado esquerdo, que era o lado que estavam as pessoas disformes, ficou-me distante, o que me deixou apreensivo, a gritaria e o cheiro se tornaram imediatamente insuportáveis, saí cambaleando pisando com incerteza, seguindo um colega que entrava para um ambiente fechado, vi nele um ponto seguro. Mais gente ainda estava lá, barulho, muita luz...e daí? Todo o espaço que eu passava ganhava os mais variados tipos de madeira fina com pedras preciosas de todas as cores inscritas, como um balde de tinta jorrando, até que ela passou por debaixo dos meus pés e tomou o lugar todo num imenso rio correndo em madeira líquida e minerais perfeitos!
Meu colega não queria que o ficasse seguindo, então me guiou serenamente como um pastor até uns amigos meus. O ambiente era pequeno demais, minha alteração claro era nítida, mas não sei como eu tinha sido anunciado, todos ficavam me olhando esperando alguma reação estranha, perguntando se eu não queria alguma coisa e insistindo e insistindo, até que fiquei irritado e disse: água! Daí eles pararam de me dar uma atenção tão exagerada e até comemoram por estarem me “ajudando”. Mas logo começaram de novo, não faziam mais nada além de me observar e me perguntar alguma coisa sobre minha condição de saúde, então insisti: - estou bem. Podem ir fazer o que vocês quiserem, só vou ficar parado. Um ou outro se ressentiu com minha dispensa, mas o que eles estavam fazendo era totalmente sem nexo. Assim que consegui esse afastamento, todos eles se tornaram feitos de madeira reta, como tábuas e se moviam como empilhados ou bonecos de madeira. Um sujeito chegou até a porta, falava com voz fina e derrepente tornou-se um guardião egípcio de fala grossa e áspera vestindo uma túnica branca, curta, segurando na cintura um bastão curto. Então percebi o enjaulamento que são a maioria das construções pós-modernas, olhei para as pessoas e sua superfície de madeira e não entendia como elas conseguiam permanecer ali. Disse que precisava sair, mas ainda preocupados um ou dois me acompanhou até o lado de fora.
Daí então não consegui ficar mais sozinho, queria dar seguimento à experiência, mas algo sempre acabava atravessando na minha frente, não por opção, a sensação de duas dimensões opostas pesava em mim. Amanheceu num passo, o que foi um mudança brusca na minha condição, eu precisava me recolher, mas sentia um vazio do lado esquerdo, me perguntaram novamente sobre isto algumas vezes e acabei sendo convencido de que não estava bem. Tive que novamente tentar dissipar isto, o vazio se estendia, então disse vamos andando até o hospital, eu queria qualquer sedativo – na verdade eu queria é sair de lá, mas não queria ir sozinho – mas insistiram tanto que acabei achando que estava mal mesmo, eu disse: - chama a ambulância. Por acaso estava na rua ao lado e chegou em menos que cinco minutos, eu disse tudo que potencialmente poderia estar errado, mas não tinha nada e o sujeito que tinha dado uma risada sarcástica por pensar que eu estava numa debilidade de algum tipo, se surpreendeu com meu organismo mais regulado que o de uma pessoa dita saudável das dietas de corantes e estimulantes. Meus colegas insistiram na necessidade de hospital, então o sujeito disse: - quer um conselho? Vai para casa dormir. Fiquei mais um tempo observando a luz, tranqüilo...
Fui para casa, andando sozinho, livre das neuroses urbanas.
Essa experiência foi fabulosa, os problemas foram apenas um empecilho que impediu a continuação da seqüência, um efeito colateral. A lição que tive foi de extremo valor, a vi da forma mais perfeita. O tempo eterno, as conexões, os minerais e outras matérias...quanta cor na essência de Tudo. Desde esta experiência, as que seguiram diminuíram em quantidade e tem chegado cada uma delas num aumento de proporção que ainda não sei se e como deve servir para além de mim, que não sejam para os que fazem parte/conseguem acessar da minha vivência/dimensão e são influenciados pelas vibrações.
L’esprit
Quando o Sol deixava o lugar para o Céu estrelado, encontrei um colega que me informou de um tipo de festa com violões, álcool barato e fogueira. Sabendo do que se tratava, mas sem ter visto a tal festa, tomei um pedaço de Shiva. Antes do contato com a língua os efeitos já se anunciavam, ao primeiro contato fui tomado por uma euforia sem-limites! Caminhava a passos largos, observava o degrade do céu azul, as árvores já dançavam, o azul respingava a cada estrela que eu identificava. Num período de talvez uma hora apenas andei, um pouco sozinho, outra com colegas. Até que cheguei a tal festa. O local era gramado, meio urbano, havia uma fogueira no centro, muita gente se divertindo aos berros, já havia passado da metade da festa quando cheguei. Encontrei uns conhecidos e fiquei sabendo da possibilidade de alguns cubensis secos, continuava caminhando sem me fixar a alguém ou algo. Consegui 8 cogumelos de uns 15 centímetros cada, confirmei depois medindo com uma régua o tamanho que eles fizeram na minha mão, e mais uns 10 meio amassados. Todos já estavam bastante azulados, colhidos em pasto no dia anterior – era minha primeira experiência com cogumelos que não fossem de cultivo.
Comecei a comer os cogumelos, gosto bem forte, andando por entre as pessoas e logo via um conhecido. Estava eufórico, havia uma malha interligando todos os meus sentidos, se expressando na visão num tom prata-esbranquiçado que vibrava em múltiplas linhas verticais. Comecei a conversar mais, contente e deixando os efeitos fluírem sem pensar neles. Logo tudo tomou aspecto gelatinoso, em contraste com isto, comecei a ver uma luz azul projetada na face das pessoas que me expressavam algo de bom. Essa luz não tinha lugar de onde estivesse vindo e ainda sim estava projetada, seguia em tênues camadas formadas por areia, tinha o formato de um semi-círculo que centralizava o quadro da cabeça das pessoas. Me impressionei mais pela beleza do que pelo fato, mas entendi sem mediações de que se tratava de algo bom. As demais pessoas ganhavam aspecto obscuro, disforme e debilitado. Desviei minha atenção para estes últimos, me deram atenção e fui engraçado com eles. O céu ficava cada vez mais escuro, minha sensação de dimensão era total, estava envolto em Tudo. Eles descobriram pés de mostarda, queriam comer mas ficaram com receio, então fui até lá, o espaço era pequeno, mas parecia que eu havia entrado numa floresta, cada passo eu dava com cautela, cada piscada de olhar uma infinita seqüência de desenhos simples coloridos (azul, verde, vermelho, amarelo) se projetava, num infinito escuro, mas que dava sensação de lugar ao contrário do total preto que parecia de olhos abertos. Havia descoberto um lugar de cheiro puro, mágico mesmo. Lentamente peguei as folhas da planta, um colega se aproximou para afirmar aos descrentes que era uma simples folha comestível. Quando virei as folhas, olhando o lado de cima das minhas mãos, linhas de interconexão com Tudo se expandiram infinitamente traçando a excelsa participação no Todo, as linhas jorravam infinitamente sem movimento! Em absoluto não havia mais tempo, tudo estava parado e tinha existência Total, como a observação de uma imagem de galáxias mostra outro tipo de tempo, que não tem movimento – a eternidade.
Mastiguei uma folha, caindo rolando no chão, rindo de olhos fechados vendo a projeção infinita dos desenhos. Abri os olhos e vi a grama na minha roupa como fios dourados vibrando nesta mesma cor. Tudo vibrava cores específicas. Olhei para as pessoas disformes, o céu ficou vermelho, raios explodiam, a terra se abriu entre minhas pernas, num estrondo que dividiu o mundo em duas partes, até chegar à fogueira: de um lado as pessoas disformes riam tanto por assistir minha diversão, tanto pelo estado que foi projetado nelas, todos riam caídos no chão e um cheiro de vinho barato e notada grama suja por excesso de pisarem, tudo numa visão limpa de um cotidiano de visão saudável; do outro lado três índios sérios sentados, eu estava há uns 10 metros da fogueira, atrás da fogueira um homem careca pintado de vermelho com detalhes em preto batia forte num tambor me incitando. A cada passo que dava via mais perto e nitidamente os seres que lá estavam, a fogueira ganhou uma dimensão de cores sólidas, fluindo eternamente como as linhas azuis.
Os índios me olhavam de maneira severa, me direcionando ao que batia no tambor e faziam o contraste e me impunham uma decisão: ou o lado da vulgaridade, do vinho barato, do prazer licencioso-viciado, ou o lado da decência, dos sentidos límpidos, da verdade. Exigiam de mim uma decisão, cada movimento meu, eu o fazia devagar, mas não letargicamente, mas sim com cautela, ciente de mim mesmo. Dado o anúncio e a lição, os índios se foram com o mundo explodindo novamente em fitas de algum mineral azul-prata caindo, dançando na eternidade. Fui partido ao meio, meu lado esquerdo, que era o lado que estavam as pessoas disformes, ficou-me distante, o que me deixou apreensivo, a gritaria e o cheiro se tornaram imediatamente insuportáveis, saí cambaleando pisando com incerteza, seguindo um colega que entrava para um ambiente fechado, vi nele um ponto seguro. Mais gente ainda estava lá, barulho, muita luz...e daí? Todo o espaço que eu passava ganhava os mais variados tipos de madeira fina com pedras preciosas de todas as cores inscritas, como um balde de tinta jorrando, até que ela passou por debaixo dos meus pés e tomou o lugar todo num imenso rio correndo em madeira líquida e minerais perfeitos!
Meu colega não queria que o ficasse seguindo, então me guiou serenamente como um pastor até uns amigos meus. O ambiente era pequeno demais, minha alteração claro era nítida, mas não sei como eu tinha sido anunciado, todos ficavam me olhando esperando alguma reação estranha, perguntando se eu não queria alguma coisa e insistindo e insistindo, até que fiquei irritado e disse: água! Daí eles pararam de me dar uma atenção tão exagerada e até comemoram por estarem me “ajudando”. Mas logo começaram de novo, não faziam mais nada além de me observar e me perguntar alguma coisa sobre minha condição de saúde, então insisti: - estou bem. Podem ir fazer o que vocês quiserem, só vou ficar parado. Um ou outro se ressentiu com minha dispensa, mas o que eles estavam fazendo era totalmente sem nexo. Assim que consegui esse afastamento, todos eles se tornaram feitos de madeira reta, como tábuas e se moviam como empilhados ou bonecos de madeira. Um sujeito chegou até a porta, falava com voz fina e derrepente tornou-se um guardião egípcio de fala grossa e áspera vestindo uma túnica branca, curta, segurando na cintura um bastão curto. Então percebi o enjaulamento que são a maioria das construções pós-modernas, olhei para as pessoas e sua superfície de madeira e não entendia como elas conseguiam permanecer ali. Disse que precisava sair, mas ainda preocupados um ou dois me acompanhou até o lado de fora.
Daí então não consegui ficar mais sozinho, queria dar seguimento à experiência, mas algo sempre acabava atravessando na minha frente, não por opção, a sensação de duas dimensões opostas pesava em mim. Amanheceu num passo, o que foi um mudança brusca na minha condição, eu precisava me recolher, mas sentia um vazio do lado esquerdo, me perguntaram novamente sobre isto algumas vezes e acabei sendo convencido de que não estava bem. Tive que novamente tentar dissipar isto, o vazio se estendia, então disse vamos andando até o hospital, eu queria qualquer sedativo – na verdade eu queria é sair de lá, mas não queria ir sozinho – mas insistiram tanto que acabei achando que estava mal mesmo, eu disse: - chama a ambulância. Por acaso estava na rua ao lado e chegou em menos que cinco minutos, eu disse tudo que potencialmente poderia estar errado, mas não tinha nada e o sujeito que tinha dado uma risada sarcástica por pensar que eu estava numa debilidade de algum tipo, se surpreendeu com meu organismo mais regulado que o de uma pessoa dita saudável das dietas de corantes e estimulantes. Meus colegas insistiram na necessidade de hospital, então o sujeito disse: - quer um conselho? Vai para casa dormir. Fiquei mais um tempo observando a luz, tranqüilo...
Fui para casa, andando sozinho, livre das neuroses urbanas.
Essa experiência foi fabulosa, os problemas foram apenas um empecilho que impediu a continuação da seqüência, um efeito colateral. A lição que tive foi de extremo valor, a vi da forma mais perfeita. O tempo eterno, as conexões, os minerais e outras matérias...quanta cor na essência de Tudo. Desde esta experiência, as que seguiram diminuíram em quantidade e tem chegado cada uma delas num aumento de proporção que ainda não sei se e como deve servir para além de mim, que não sejam para os que fazem parte/conseguem acessar da minha vivência/dimensão e são influenciados pelas vibrações.
L’esprit