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Além da razão

Matus

Cogumelo maduro
Membro Ativo
21/05/2016
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Boa noite!

Essa experiência ocorreu antes de ontem, dia 08/07/2024. Fornecedor confiável. Para essa experiência utilizei 6g, pensando inocentemente que seria semelhante a uma de 6g que tive 3 anos atrás, na qual 'vi' seres insetóides, etc. Pois bem, eram 15:30h quando ingeri os cogumelos secos com um copo de água para ajudar a descer. Estava em jejum por umas 6h mais ou menos. Fechei as cortinas do quarto e a porta para não entrar luz, já que ainda era dia. Estiquei o tapete de ginástica no chão e me deitei de barriga para cima. Escrever sobre essa experiência é também um exercício para organizar as ideias e tudo o que ocorreu, pois foi algo bastante diferente das experiências às quais estava acostumado.

Após talvez 30min comecei a sentir os primeiros efeitos e mais alguns momentos depois fui dominado por uma sensação avassaladora de pedir desculpas para as pessoas que prezo muito, mesmo que não tenha nada para ser desculpado. Um sentimento muito forte de querer ter certeza que não há nada mal resolvido entre nós. Comecei a falar sozinho, mas não conseguia raciocinar normalmente. Começava a falar "vamos lá..." mas perdia o ponto. Melhor, nem sabia qual era o ponto. Acho que eu queria fazer algum sentido daquilo tudo. A Força já estava bem forte e eu continuava tagarelando sozinho... comecei a ficar incomodado comigo mesmo. Percebi então que não era esse o ponto, falar. Tentei várias vezes formular questões sobre energia e respeito. Quando você tem energia demais isso não significa que você pode fazer o que quiser as custas dos outros, só porque você tem a energia para isso. "Não é assim que funciona" fiquei repetindo pra mim, falando sozinho no quarto escuro, já sentado no tapete de exercícios. Questões sobre certo e errado, a Força do cogumelo deixou livre essa parte. Não houve dogmas. Realmente cada um precisa desenvolver o discernimento e enxergar de dentro para fora. Fiquei em um looping como se eu, com minha razão, tivesse que dar conta de explicar tudo no mundo, tudo. Fiquei repetindo "Há 8 bilhoes de pessoas no mundo... claro! Você vai sair na rua e as pessoas estarão lá.. você não tem que responder por elas!". Lembro de falar para mim mesmo, quando não conseguia fazer o ponto, usando palavras "Nooossa...espera aí que está fazendo download...TÁ BAIXANDO TUDO AQUI, LEVA UM TEMPO...AGUARDE". Aí eu era irônico comigo mesmo, como se eu fosse dois. A parte ranzinza que quer falar de tudo e a parte que já sabe e usa de ironia para sobreviver ao incômodo da parte que fala demais. Em um dado momento, quando muitas coisas estavam me inundando, lembro de falar "Não da mais...acabou a memória RAM". Nesse loping eterno, senti que não podia deixar tudo assim, ali, sem me mexer. Precisava fazer a energia do cogu circular.

Em dado momento, ainda sentado no tapete, senti que precisava de uma referência. Eu precisava usar algo, fazer algo. Eu por mim estava perdido, literalmente. Estiquei as mãos e peguei o violão. O som estava extremamente cristalino, estava lindo demais. Arrisquei algumas músicas de leve, mas senti que deveria ter mais luz. Abri as cortinas do quarto. Mas ainda assim, não era o suficiente. Pensei que talvez eu devesse tocar fora do quarto, ou abrir a porta, pelo menos.

Pois bem, depois de umas 3h no quarto escuro, levantei e olhei a hora... 18:30h (aí que vi que havia passado 3h). Abri a cortina e estava escuro já e nublado. Levantei porque pensei que eu não poderia ficar ali, esperando que a experiência fosse igual às outras, esperando ver louva-deus gigante ou um alien, ou qualquer coisa. Não é sobre isso. Levantei porque senti que eu precisava ser forte com essa Força e não me entregar. Levantei, abri as cortinas, abri a porta. Estava tonto demais em pé. Fui andando até a sala, abracei a prateleira de livros, rindo demais...rindo, rindo. Me joguei no sofá, rindo ainda, do nada... um riso de dentro da alma e das entranhas do meu ser. Comecei a tossir e daqui a pouco eu estava igual o Gollum de O Senhor dos Anéis. Quase vomitei. Acho que saiu só muco mesmo. Isso nunca ocorreu antes. Me controlei, respirei. Levei uns 10min ou mais pra limpar, porque quando pegava papel, esquecia o saco plástico. Voltava, pegava pouco papel..fiquei nesse looping novamente. Eu não podia raciocinar claramente, porque minha atenção não estava focada nos elementos necessários para raciocinar como temos o costume de fazer ordinariamente. Minha atenção estava sobre outros elementos e eu teria que aprender a raciocinar de outra maneira. Eu precisava fazer algo. Depois de limpar minhas porcarias, voltei para o quarto e toquei violão. Cantei, toquei...como nunca na vida. Nossa, minha voz parecia outra pessoa. Eu cantei em inglês com uma liberdade que parecia que eu era nativo, de verdade... e não alguém que 'aprendeu inglês'. Soou muito, muito natural. Estava impressionado. Minha voz saía exatamente no tom do violão. Foi muito mágico. Para tocar foi necessário utilizar uma espécie diferente de esforço. Várias vezes eu começava e perdia o ímpeto, como se eu não pudesse fazer aquilo. Eu precisava reorganizar minha atenção e realmente cantar e tocar de um jeito diferente do jeito que faço quando estou no 'modo cotidiano'. Isso não foi nada cotidiano. Já ocorreu uma vez antes, mas dessa parece que foi mais nítido ainda a simbiose e hamonia com a música. Toquei Nando Reis e Pink Floyd, depois de algumas vezes tentando. Lembrei de várias pessoas da minha infância e de alguns 'traumas' como quando eu estava no ensino médio e fui tocar guitarra num festival da escola, mas de nervoso no palco eu errei as notas e travei. Geral riu...somado com o contraste da galerinha que tinha banda, que eram conhecidos mesmo por tocar violão, bateria, etc. Fiquei com bastante vergonha... geral rindo, as meninas rindo. Acho que isso ficou no meu subcnsciente. Lembrei de várias pessoas. Esse tipo de lembrança possui uma qualidade diferente. Eu agora posso lembrar delas e sei que elas existem, mas no dia da experiência parecia que eu 'ia até elas' e era como se elas não existissem antes e agora tivessem voltado à vida na minha consciência. Não é exatamente como lembrar de algo que você esqueceu...porque não estava procurando nada. É como encontrar itens esquecidos, sem querer. Enfim, numa das vezes em que não conseguia tocar e cantar e perdia o ímpeto, resolvi deitar de novo no tapete. Senti todo o meu corpo como se fosse um enorme neurônio, não sei... tudo meu era um orgão dos sentidos. Para sentir vibrações eu encostava o pé nos móveis. Estava tudo muito sensível. Parecia que eu via as coisas sem filtro algum. Estava sem filtro, sem freio...mas ao mesmo tempo, delicado, não violento.

Depois levantei de novo e toquei mais um pouco até minha esposa chegar (ela sabia que eu ia fazer essa experiencia). Já estava menos tenso, mas ainda na Força. Quis arriscar levar o totó ali nas esquina para fazer as necessidades dele. Até que foi tranquilo... mas tudo se mexia, claro. As pessoas pareciam existir dentro de uma goma, ou uma bolha. Voltei para casa e comecei a entrar numa espécie de letargia. Conseguia ficar parado, simplesmente...sem sentir nada, nem pensar nada. Mas algo em mim lutava contra isso e queria logo se mexer, fazer, fazer, fazer...seja lá o que for. Mais pro final decidi acender um beck para baixar o farol. Estava encostado no batente da porta da cozinha. Quando acabei, fiquei reto, pois estava encostado de lado. Quando fiquei reto e dei uns dois passos na cozinha, a minha visão começou a escurecer...perdi as forças na perna e vi meu corpo caindo. Tentei me segurar na pia, mas não deu. Caí sentado. Fiquei ali, até recobrar a cosnciencia completamente. Acho que abaixou rápido demais a pressão. Depois fiquei bem... levantei, fiquei no quarto, quieto. Um pouco depois já estava dormindo.

DIA SEGUINTE - 09/07/2024

No dia seguinte eu sentia como se houvesse um vácuo na minha cabeça. Não podia pensar ainda normalmente, como de costume. Parecia até que eu estava triste ou melancólico, mas também sabia que era um efeito deles mesmo, relacionado a DMN, etc (pensando em termos mais neurológicos/científicos rs). Nesse dia (ontem) eu sequer falava comigo! Nem em pensamento! Geralmente, ao fazer as coisas, sempre tem uma voz narrando. Mesmo coisas conhecidas, como fazer um café: "isso, pega coador...agora pega o filtro de papel. Isso, agora abre a gaveta e pega a colherzinha de plástico azul. Isso, agora..." Isso estava desligado!! mas estava muito forte para ser prazeroso... porque querendo ou não, é um silêncio forçado pelo uso dos cogumelos.

HOJE - 10/07/2024

Hoje já me sinto bem melhor. Revigorado, com energia, libido e um silencio 'menos bruto'. Comi bastante desde o dia da experiência. Uma fome sinistra. Bom que não houve dor de cabeça! Agora relatando tudo, já me sinto com um sono que sei que não é meu sono normal.... em breve irei mimir.

O que aprendi nessa experiência... que meu eu verdadeiro é aquele que fala bem, sem medo do que estão pensando e sem medo do que eu próprio (a parte tagarela de mim) acha de mim mesmo. Percebi que eu todo sou um receptor e percebedor. Percebi que a razão, não no sentido de inteligencia ou raciocínio, mas no sentido de 'mundo do bom senso' ou 'atenção às coisas ordinárias' não pode explicar tudo, muito menos uma experiência dessas. Percebo isso ainda agora, em contraste, quando muitos dos filtros já foram restaurados e estou novamente mais inibido. Experimentei tocar violão hoje (ontem sequer consegui....) e nem passa perto de como eu estava no dia que ingeri os cogumelos. Parece que libertei eu mesmo de mim... mas foi tão rápido, tão forte, tão louco... que sequer pude entender muito bem no momento em que ocorria.

Bem, acho que é isso! Obrigado por ler até aqui e até a próxima!
 
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