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A "Descida do espírito" - parte 2

Matus

Cogumelo maduro
Membro Ativo
21/05/2016
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Boa tarde, pessoal!

Bem, 10 dias depois resolvi utilizar os outros 3g.

Resolvi utilizar Sábado (27/08), dia de folga. Quando era aproximadamente 14h eu ingeri os cogumelos secos (esse fornecedor seca bem...nem tem gosto ruim) com ajuda de biscoito Cereale de maçã, banana, passas e canela. Foi perfeito porque o biscoito não é doce demais, tornando enjoativo e também não deixa de ter sei gosto marcante. Ajudou a amenizar o gosto dos cogus (que não era muito forte...mas ainda não consigo comer puro) e ainda ajuda a triturar na mastigação.

Era ainda 14h e alguns minutos...resolvi ir logo na padaria comprar o pão, porque sabia que mais tarde seria improvável que eu fosse. Fui e ainda não estava saindo pão. Só a partir das 15h. Voltei para casa. Comecei a sentir meu corpo pesado. Deitei na cama. Fechei as cortinas da janela (estava um Sábado bonito e ensolarado). Fiquei na penumbra dentro do quarto porque meus olhos já estavam sensíveis. Fiquei bastante tempo prostrado na cama, aguardando e já sentindo os efeitos iniciais. Dessa vez eu estava descansado, mais atento. Teve um momento que eu realmente não conseguia levantar. Era uma falta total de ímpeto ou vontade. Era como se realmente estivesse bem ali, deitado. Estava largado igual uma estrela do mar, quase. Tive a ideia de levantar, mas pensei "se vou fazer isso, farei como um guerreiro. Vou levantar do zero, começando com posições de yoga no solo." Levantei da cama com dificuldade, já doido pra me largar no chão...abri o tapetinho de exercícios e deitei nele, de costas para o chão. Fiquei muito tempo ali, sentindo a energia inicial dos cogus, fazendo exercícios leves. Tinha em mente que levantaria fazendo posições de yoga (kkkk). Como se eu pudesse atingir a origem de como foram criadas as asanas, por exemplo. Teve um momento que ri disso... porque para realmente saber as asanas eu precisaria ter conhecimento...e não tenho. Fiz apenas exercícios leves mesmo. Até que resolvi sentar. Depois minha esposa precisou usar o quarto para dar uma aula por vídeo. Nesse momento eu já podia me manter em pé. Mas tudo estava só começando. Eu sempre penso que essa dificuldade inicial, a peia, é tudo... mas ela vem logo. Como diz Fernando Pessoa "Para ir além do Bojador é necessário ir além da dor...pois Deus ao mar o abismo deu, mas nele espelhou o céu...".

Levantei e fui pendurar as roupas na corda. Nunca foi tão difícil. Eu realmente estava meio privado de minhas funções usuais. Não sabia como pendurar as roupas no varal. Decidi que ia agir como se soubesse. Para que "não notassem". Com algum esforço, terminei de pendurar as roupas. Teve um momento que olhei pro alto...o céu estava estonteante. Um azul como nunca vi...havia linhas por toda parte, como se passassem por tudo. Eram linhas sem cor, mas que emanavam um brilho cristalino ou transparente. As nuvens mudavam de forma de um jeito fora do comum. Vi lá no alto, talvez um falcão passando. Depois outro... fiquei absorto olhando a amplitude do céu e aqueles dois seres aves. Até que voltei a mim e vi que estava segurando uma roupa na mão. Acabei de pendurar essa e fiquei encostado no batente da porta da cozinha, "pensando". Quando consumo cogumelos é inevitável pensar nos livros de Carlos Castaneda. Comecei a lê-los em 2013 e foi a mesma época em que conheci os cogus. E tudo encaixa na minha mente, porque ele utilizava um cogu Psilocybe, ao que tudo indica. Se lermos os relatos das experiências, percebemos coisas bastante comuns com o que relatamos aqui.. talvez sem o enfoque místico. Mas sobre não poder se mover, sobre depois dormir muito. Sobre a dor de cabeça de rachar que pode dar no dia seguinte. Entre outras coisas...
Então fiquei "pensando" ali, como algo em mim sentia falta de uma presença mágica, que eu na época em que lia os livros...acabava atribuindo a Don Juan. Se ele existiu mesmo, se foi invenção do Carlos, enfim... eu realmente não sei! Mas as histórias evocam um sentimento especial...que está ligado aos cogus. Um amor e uma gratidão. Lembrei do meu pai. Outro dia estávamos bebendo uma cerveja aqui em casa. Nos mudamos têm dois meses e ele veio nos visitar. Lembrei de como era quando eu era criança. Meu pai era mágico pra mim. Sentia um amor e admiração de uma qualidade que não sei explicar. Por outras vezes pensei... E se isso que sinto sou eu mesmo, projetado em meu pai? E se isso que é amor? É como se eu o amasse tanto que esse amor que eu sinto, eu dizia que esse era ele. Posso sentir algo assim por algumas pessoas que conheço. Hoje não consigo mais sentir tanto essa magia, esse brilho. Eu amo meus pais... mas não me sinto mais como antes. Pergunto se essa presença que eu digo ser fulano ou ciclano, se ela não está mais presente justamente porque eu não estou presente em mim, no dia a dia(?). Então o cogu provoca esses estados fugazes de lembrança profunda.

Depois resolvi que precisava de água, entrar na água. Entrei no chuveiro, água levemente morna. Fiquei ali um bom tempo (também bebi bastante água durante a experiência). Fiquei ali e senti que essa ação meio que restaurou meu corpo. Sai renovado. Era quase noite a essa altura...tomei banho sem acender a luz artificial porque doía nos meus olhos. Foi ótimo.. sai e aos poucos fui adquirindo uma acuidade mental e perceptiva. Uma presença. Era finalmente eu. Senti uma energia enorme crescendo em mim. Li um pouco de "Uma estranha realidade" do Castaneda. Uns poucos trechos... depois comecei a fazer exercícios e me sentia incomummente forte e energizado. A essa altura já era umas quase 20h. Talvez 19:30h. Ja conseguia me mover bem. Até que fui no mercado comprar pão, laranja e brócolis. Daqui pra lá tem uma distância de mais ou menos uns 800m. Andei de um jeito que não sentia tem muito tempo...como se eu usasse o corpo para andar e não o contrário...eu ser usado pelo corpo.. somos maiores que nossos corpos!! Andei com uma determinação nos olhos...como se eu tivesse uma missão "Preciso comprar brócolis" quase ri sozinho na rua... Kkkk mas me contive. Aquele tesão orgânico... uma coisa bem sexual que sinto com os cogus. Mas que não dá vontade de gastar de imediato (como acontece com a cannabis, na minha experiência com ela...). Algo que vc sente que deve manter...e como uma luz, ira atrair pessoas, coisas...eventos...etc. Cheguei no mercado, escolhi as laranjas ainda determinadamente. Peguei um brócolis e o pão de forma. Passei no caixa e voltei. A avenida principal aqui lotada...digo, bem movimentada. Geral bebendo nos bares, comendo nas kombis e carroças de hambúrguer e cachorro quente. Eu bebo também..cerveja, etc. Mas achei peculiar...eu indo pra casa fazer um suco de laranja e pasta de sardinha com maionese, depois de ter comido cogumelos...enquanto a maioria continua fazendo o que sempre fez fim de semana...beber e fumar e ouvir som alto. Nao me senti melhor que ninguém. Eu também participo de beber, festeja...etc. Mas me senti fora da rotina. Sensação muito boa. Cheguei em casa...espremi as laranjas, consciente. Com paciência. Fiz a pasta de sardinha com maionese. Ia pôr milho, mas aí tive uma ideia de usar a lata de milho pra fazer um bolo. Nesse ponto eu estava bem cansado mas não conseguia parar. Não era cansaço de dormir ainda. Quando era 22:20h o bolo estava pronto (não ficou ooooh, que maraviiiilha, mas ..). Bebia bastante água...até que comi pão com pasta de sardinha, queijo e ovos. Resolvi não comer muito ainda. Depois bebi laranja. Quando era mais tarde eu dormi. Levantei ontem as 7h, porque plantão de fim de semana pego de 7h as 19h. Levantei meio destruído, porque realmente precisava dormir mais. Ontem deitei meia noite...acordei hoje pra levar minha enteada na escola, as 7:30h. Depois voltei e dormi até às 11:30h. Hoje me sinto mais restaurado. E ainda consigo perceber coisas...interessante isso. A restauração é bem importante. Não só a integração no nível psicológico, mas a restauração fisiológica e energética. Talvez ainda precise dormir mais. Mas agora estou sem sono.

Sinto que seja isso, pessoal... precisava compartilhar. Relembrar pode ser reviver!
 
Última edição:
Uma coisa que me anima MUITO a ler uma experiência é o português bem escrito. Parabéns, você tem esse dom.


Lembrei do meu pai. Outro dia estávamos bebendo uma cerveja aqui em casa. Nos mudamos têm dois meses e ele veio nos visitar. Lembrei de como era quando eu era criança. Meu pai era mágico pra mim. Sentia um amor e admiração de uma qualidade que não sei explicar.

Essa parte doeu aqui, e olha que nem sou sentimental.
Há alguns anos já não posso brindar -tomar uma cerveja- com o meu pai porque ele já está do outro lado da vida.
Se aceita um conselho (ou sugestão), aproveite CADA minuto com o seu velho. Acredite em mim: quando ele se for, você vai desejar cada minuto com ele.
 
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