- 24/11/2005
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Querido Osho.
O que eu estou procurando? (Jeva Parmita)
"Jeva Parmita, o homem é uma busca do self (*), não de um self, mas do self. O homem está constantemente procurando o paraíso perdido. Em algum lugar profundo nos nichos de seres humanos, a nostalgia persiste. Nós conhecemos alguma coisa que é apenas uma memória longínqua. A memória nem mesmo está consciente. Nós perdemos todas as trilhas dela, até onde ela está. Mas a fragrância continua surgindo.
Conseqüentemente, a religião não é um fenômeno acidental. Ela não vai desaparecer do mundo; nenhum comunismo e nenhum fascismo conseguem fazê-la desaparecer. A religião vai permanecer, porque ela é muito essencial. A não ser que o homem supere a humanidade, a não ser que o homem se torne um Buda, a religião permanece relevante. Somente para um Buda a religião é irrelevante. Ele já chegou; agora não há necessidade de qualquer busca.
Parmita, não há diferentes buscas por seres humanos diferentes. A busca é singular, ela é única, ela é universal. A busca é do self, o supremo self. A pessoa quer saber 'Quem eu sou?' porque tudo o mais é secundário. Sem conhecer a si mesmo, tudo o que for feito é sem sentido. A não ser que eu conheça exatamente quem eu sou, toda a minha vida vai permanecer inútil. Ela não irá trazer realização, florescimento e satisfação.
O primeiro passo tem que ser o auto-conhecimento. Mas o paradoxo é que se você começa buscando por um self, você irá perder o self. Por 'um' self eu quero dizer o ego, o processo do ego. Esse é o falso self. Para nos consolarmos, começamos a criar o falso, uma vez que não conseguimos encontrar o verdadeiro. Ele é um substituto. Mas o substituto nunca pode tornar-se a verdade, e o substituto torna-se uma escravidão.
A verdade liberta. Substitutos da verdade aprisionam. O ego é a maior prisão que o homem já inventou; todos vocês estão se sentindo sufocados, esmagados. Não é que alguém esteja fazendo isso com você. Você é quem está fazendo isso. Você deu um passo errado. Em vez de buscar por aquilo que é, você começou substituindo algo por um brinquedo, por uma coisa falsa. Isso pode ser um consolo para você, mas não trará celebração para a sua vida. E todo consolo é suicida, porque enquanto você permanece consolado, o tempo vai escapando de suas mãos.
O self não é um self. O self é exatamente um não-self. Não há qualquer idéia de 'Eu' nele, ele é universal. Todas as idéias surgem nele, mas ele não pode ser identificado com qualquer idéia que surja nele. Todas as idéias surgem nele, todas as idéias dissolvem-se nele. Ele é o céu, o contexto de todos os contextos, ele é o espaço no qual tudo acontece. Mas o espaço em si nunca acontece, ele habita, ele está sempre ali, e porque ele está sempre ali, é fácil perdê-lo. Porque ele está muito ali e sempre ali, você nunca se torna consciente de sua presença.
Ele é como o ar: você não se torna consciente de sua presença. Ele é como o oceano que circunda o peixe; o peixe nunca se torna consciente dele. É como a pressão do ar: a pressão é tanta, ela está sempre ali, mas você não é consciente dela. É como a terra apressada em grande velocidade ao redor do sol: a terra é uma nave espacial, mas ninguém está consciente disso. Nós estamos a bordo de uma nave espacial, e ela está indo em grande velocidade. E nós não estamos conscientes disso.
Consciência precisa de algumas falhas. Quando não há qualquer falha, você cai no sono; você não consegue permanecer consciente.
Se uma pessoa está sempre saudável, ela não estará consciente da saúde. Consciência precisa de falhas, algumas vezes você deve estar não saudável.Você deve adoecer, então você poderá ter a sensação de saúde. Se não existisse escuridão no mundo e existisse somente luz, ninguém jamais teria conhecido a luz, as pessoas nem a teriam percebido.
É assim que nós seguimos sem perceber o self original; você pode chamá-lo de Deus ou nirvana, isso não importa.Os sufis têm duas belas palavras. Uma é fana: fana significa dissolvendo o ego, dissolvendo o falso substituto. E a outra palavra é baqa: baqa significa a chegada, o surgimento do self verdadeiro.
O verdadeiro self é universal. Como encontrá-lo? Ele não está longe, assim você não tem que fazer uma longa jornada até ele. Ele está tão próximo que nenhuma jornada é necessária, absolutamente. Em vez de jornada, você tem que aprender como sentar-se silenciosamente.
Isso é tudo a respeito de meditação: simplesmente sentar-se silenciosamente, nada fazendo. Os pensamentos surgem, você observa. Os desejos surgem, você observa. Mas você permanece o observador. Você não se torna uma vítima dos desejos e dos pensamentos que vão surgindo; você permanece o observador. Você permanece o contexto de todos os contextos, você permanece o espaço no qual tudo aparece. Mas o espaço nunca aparece nele mesmo, ele não consegue, é impossível.
O espelho não consegue refletir a si mesmo. Os olhos não conseguem ver a si mesmos. Você não consegue segurar uma mão com a mesma mão, é impossível.
Essa é a coisa mais fundamental a ser lembrada, Parmita. Você é o observador e nunca o observado; você é o vigilante e nunca o vigiado; você é a testemunha e nunca o testemunhado. Você é pura subjetividade. Você nunca aparece como um objeto. Como você pode aparecer como um objeto diante de si mesmo? Qualquer coisa que aparecer em frente a você não é você.
Continue eliminando os conteúdos. Continue dizendo 'neti neti, eu não sou isso, eu não sou isso.' Continue eliminando, e um momento chegará em que nada permanecerá para ser eliminado.Haverá puro silêncio, nenhum conteúdo se movendo diante de você, o espelho refletindo nada. Este é o momento em que o auto-conhecimento surge em você. Você se torna cheio de luz, você está iluminado.
Assim, esses poucos fundamentos devem ser lembrados: o self é um não-self. O self não é pessoal, ele é universal. O self é o espaço ou contexto no qual todos os 'posicionamentos' na vida aparecem, ocorrem, aparecem. Ele é a tela da vida, mas a tela em si mesma nunca aparece na tela, ela não consegue. Tudo mais aparece nela. Ela própria permanece escondida. Ela é pura subjetividade.
Essa pura subjetividade é o objetivo maior que todo mundo está buscando. Mas ele parece difícil. Nós somos tão propensos a nos identificarmos com os conteúdos. Em vez de buscarmos pelo verdadeiro, nós criamos alguma coisa não verdadeira, que é fácil. O artificial é sempre fácil, você pode manufaturá-lo.
O seu ego é um fenômeno manufaturado. E uma vez que você manufaturou o ego...Como o ego é manufaturado? 'Eu sou um hindu' agora você está a caminho de criar um ego. 'Eu sou bonito, eu sou inteligente, eu sou isso, eu sou aquilo' você está trazendo mais e mais tijolos para fazer a prisão chamada ego.
E isso é o que seguimos fazendo por toda a nossa vida. Ganhar mais dinheiro, ter uma grande conta bancária, e o seu ego se sentirá mais firme, mais apoiado, mais seguro. Torne-se famoso: quanto mais as pessoas souberem a seu respeito, mais você pensará que você é.
Daí a constante procura por atenção. Se ninguém prestar qualquer atenção em você, você estará reduzido a nada. Se você passar pela rua e ninguém disser 'olá', se as pessoas continuarem passando e nem mesmo notarem você, de repente você irá sentir como se a terra estivesse desaparecendo debaixo de seus pés.
O que aconteceu? Eles não estão alimentando o seu ego. Mas as pessoas alimentam os egos entre si, porque é assim que eles podem ser alimentados. Alguém diz: 'Como vai?'. Ele na verdade está dizendo: 'pergunte-me como eu vou'. Ele está simplesmente pedindo por uma gratificação mútua. E as pessoas gratificam umas às outras. Uns dão apoio ao ego dos outros: alguém elogia você e, em troca, você o elogia.
É a isso que nós damos o nome de sociedade. Ela depende da mútua satisfação e a maior das satisfações parece ser a gratificação do ego.
Daí as pessoas estarem muito interessadas em política, porque a política pode gratificar você como nada mais consegue.Se você tornar-se politicamente poderoso, todo o país estará agarrado em você; todo o país terá que prestar atenção em você. Você poderá impor a sua vontade sobre as pessoas, você terá poder.
O poder de um político é o poder de violência. Agora ele controla todo o mecanismo de violência; ele controla a polícia, o governo, os militares; ele controla tudo. Ele pode lhe impor a sua vontade. É por isso que os políticos, mais cedo ou mais tarde, tendem a se tornarem violentos. Políticos no fundo desejam guerras, porque somente na guerra um político se torna um grande político. Se você der um giro através da história irá ver isso.
Winston Churchill não teria sido um tão grande líder, se não acontecesse a Segunda Guerra Mundial. Nem Adolf Hitler teria sido tão poderoso se não houvesse a Segunda Guerra, nem Mussolini. A guerra criou o contexto: eles foram capazes de serem tão violentos quanto possível. Eles foram capazes de abater milhões pessoas, de assassinar milhões pessoas.
As pessoas prestam atenção imediatamente quando você é violento.. Se você vive uma vida pacífica, nenhum jornal irá fazer reportagem a seu respeito, em toda a sua vida. Mas se você matar alguém ou cometer suicídio, você estará imediatamente nos jornais. (...)
Lembre-se, o verdadeiro self nada tem a ver com pessoas prestando atenção em você. Observe a diferença: o falso self precisa que os outros prestem atenção em você e o verdadeiro self só precisa de sua atenção, só a sua atenção é o quanto basta.
Se você voltar a sua atenção para dentro de si, você conhecerá o verdadeiro self. Se você continuar procurando pela atenção dos outros, você continuará vivendo numa falsa identidade que está sempre pronta para desaparecer se você não alimentá-la continuamente. Ela tem que ser apoiada.
O ego não é uma entidade. Ele não é um substantivo, ele é um verbo. Por isso eu digo que ele é um 'egoing' (**). Você não consegue ficar satisfeito com qualquer atenção prestada a você. Você tem que pedir e desejar mais. Você continua 'egoing'. É através do 'egoing' que o ego consegue existir. Ele é um processo e ele é tão falso, e suas cobranças são tão feias! Ele é uma mentira. Ele cobra mais e mais mentiras de você e para gratificá-lo você tem que tornar-se completamente falso. Você tem que tornar-se uma personalidade.
Uma personalidade significa um fenômeno falso, uma máscara. Você tem que tornar-se um ator. Você não é mais uma pessoa verdadeira, você não é mais autêntico. Você não tem qualquer substância, você é apenas uma sombra. E por causa dessa sombra, existe sempre o medo da morte, porque a qualquer momento essa sombra pode desaparecer.
O seu banco pode quebrar e você imediatamente se acaba, você será ninguém. O seu poder pode ser perdido porque existem outros competidores empurrando você. Toda essa vida é um constante empurra-empurra, daí existir tanta agonia.
Todo o mundo vive em angústia e agonia. Somente a pessoa que vem a conhecer o seu verdadeiro self vai além disso e entra no mundo do êxtase. E esses são os dois estados: agonia e êxtase.
Parmita, você está em agonia, como todo mundo está. E a busca é pelo êxtase. Lembre-se sempre: seus compromissos, suas ideologias, os seus chamados altos valores, suas teologias, filosofias e religiões fornecem contextos, muitas vezes contextos valiosos, para a existência individual. Mas eles não são o que você é.
Você nem mesmo é o seu corpo. Você não é a sua mente. Você não é branco nem negro; você não é indiano nem alemão. Você não pode ser definido de maneira alguma. Todas as definições são insuficientes.Você é indefinível; você é algo que supera todas as definições. Você é o vasto céu no qual os planetas aparecem, e a terra aparece, e o sol, a lua a as estrelas, e todos eles desaparecem, e o céu permanece como sempre permaneceu. O céu não conhece mudanças. Você é aquele céu imutável. As nuvens vêm e vão, e você permanece sempre ali. (...)
Se você quer buscar o verdadeiro self, não se apegue a qualquer compromisso, a qualquer programa ou a qualquer idéia. Permaneça desapegado, flexível, fluido. Não se torne estagnado. Permaneça sempre no estado de não-congelamento; não congele. No momento em que você congela, você tem alguma coisa falsa em suas mãos; uma nuvem surgiu. Permaneça no estado de derretimento, não se torne comprometido com qualquer forma ou nome. E então, alguma coisa tremenda começa a acontecer em você: pela primeira vez você começará a sentir quem você é. Esse sentir não vem de fora, ele surge da profundidade mais interna de seu ser. Ele inunda você. Ele é luz, completa luz; ele é êxtase, completo êxtase. Ele é divino. Ele é um outro nome de Deus.
Nunca se torne cristalizado. Se você se torna cristalizado em alguma coisa, você está encarcerado. Permaneça livre, seja a liberdade. Toda identidade cria amarras; e toda amarra, toda identificação é um comprometimento. Quanto mais fixa é a identidade de alguém, menos ele é capaz de experienciar. O ponto não é não ter uma posição, o ponto é não ser identificado com a posição.
Eu não estou dizendo para ficar sem pensar. Permaneça inteligente e capaz de pensar, mas nunca fique identificado com qualquer pensamento. Use o pensamento como uma ferramenta, como um instrumento; lembre-se que você é o mestre. Não estar apegado a qualquer posição que se tenha em qualquer momento particular, é o começo do auto-conhecimento. A pessoa é, ela experiencia a vida numa extensão em que pode transcender posições particulares e consegue assumir outros pontos de vista.
Isso é o que eu quero dizer por permanecer fluido, fluindo. A pessoa deve permanecer disponível para o presente. Morra para o passado a cada momento, de modo que nada a seu respeito permaneça fixo. Não carregue um caráter junto consigo. Todo caráter é armadura, aprisionamento.
O verdadeiro homem de caráter é sem caráter. Ele tem consciência, mas nenhum caráter. Ele vive momento a momento. Ele é responsável, mas ele responde a partir do momento e não a partir de contextos passados. Ele não carrega qualquer programa pré-fabricado em seu ser. Quanto mais você tiver programas pré-fabricados, mais você será um ego. Quando você não tem qualquer programa, nada pré-fabricado em você, quando a cada momento você é tão fresco como se tivesse nascido novamente, para mim isso é liberdade. E somente uma consciência livre pode conhecer um verdadeiro self.
Essa é a busca, Parmita. Nada mais irá satisfazer, nada mais poderá satisfazer. Tudo são consolos e é melhor abandoná-los, é melhor estar consciente de que consolos não irão ajudar.
Isso é o que eu chamo sannyas: abandonar os consolos, renunciar aos consolos, não ao mundo mas aos consolos, renunciar a tudo o que é falso, tornando-se verdadeiro, tornando-se simples, natural e espontâneo. Essa é a minha visão de um sannyasin, a visão de liberdade total.
E em tais belos momentos de liberdade total, os primeiros raios de luz entram em você, os primeiros vislumbres de quem você é. E a grandeza disso é tanta, e o esplendor disso é tanto que você ficará surpreso ao descobrir que você estava carregando o reino de Deus dentro de você enquanto permanecia tão inconsciente, e por tanto tempo. Você ficará surpreso. Como foi possível não ter conhecido tal tesouro? Um tesouro inesgotável dentro de você.
Jesus seguia repetindo 'O Reino de Deus está dentro de você'. Chame-o de reino de Deus ou de supremo self, ou de nirvana, ou o que você quiser, essa é a nossa busca, a de todo mundo, não apenas dos seres humanos, mas a de todos os seres. Mesmo as árvores estão crescendo em direção a isso, mesmo os pássaros estão buscando isso, mesmo os rios estão correndo em direção a isso. Toda a existência é uma aventura.
E essa é a beleza dessa existência. Se ela não fosse uma aventura, a vida seria uma absoluta chatice. Vida é celebração porque ela é uma aventura.
OSHO - Unio Mystica - Discurso 2 - pergunta 1
tradução: Sw.Bodhi
Fonte:
http://www.oshobrasil.com.br/conexaotexto23.htm
(*) Preferimos manter a palavra 'self' em inglês, sem traduzi-la, devido à dificuldade em se encontrar um equivalente em português. Poderíamos traduzi-la por 'eu', e faria muito sentido, mas essa palavra traz em si uma conotação de ego, o que poderia comprometer o sentido do texto. Em muitas frases seria perfeito traduzi-la por 'ser', mas em outras frases, o sentido ficaria estranho. Uma tradução mais literal seria 'si mesmo', mas a leitura do texto também soaria estranho em vários parágrafos. Assim, preferimos manter a palavra 'self' em inglês sem traduzi-la. Pedimos apenas que não a confundam com a palavra self adotada na literatura de psicologia em geral, na língua portuguesa. Na ciência Psicologia, self tem outra conotação. (N.T.)
(**) 'egoing' é um neologismo criado por Osho para poder classificar a palavra 'ego' como sendo um verbo e não um substantivo. O sufixo 'ing' em inglês sugere que a palavra é um verbo e não um substantivo. Não encontramos uma palavra em português para traduzir 'egoing'. (N.T.)
O que eu estou procurando? (Jeva Parmita)
"Jeva Parmita, o homem é uma busca do self (*), não de um self, mas do self. O homem está constantemente procurando o paraíso perdido. Em algum lugar profundo nos nichos de seres humanos, a nostalgia persiste. Nós conhecemos alguma coisa que é apenas uma memória longínqua. A memória nem mesmo está consciente. Nós perdemos todas as trilhas dela, até onde ela está. Mas a fragrância continua surgindo.
Conseqüentemente, a religião não é um fenômeno acidental. Ela não vai desaparecer do mundo; nenhum comunismo e nenhum fascismo conseguem fazê-la desaparecer. A religião vai permanecer, porque ela é muito essencial. A não ser que o homem supere a humanidade, a não ser que o homem se torne um Buda, a religião permanece relevante. Somente para um Buda a religião é irrelevante. Ele já chegou; agora não há necessidade de qualquer busca.
Parmita, não há diferentes buscas por seres humanos diferentes. A busca é singular, ela é única, ela é universal. A busca é do self, o supremo self. A pessoa quer saber 'Quem eu sou?' porque tudo o mais é secundário. Sem conhecer a si mesmo, tudo o que for feito é sem sentido. A não ser que eu conheça exatamente quem eu sou, toda a minha vida vai permanecer inútil. Ela não irá trazer realização, florescimento e satisfação.
O primeiro passo tem que ser o auto-conhecimento. Mas o paradoxo é que se você começa buscando por um self, você irá perder o self. Por 'um' self eu quero dizer o ego, o processo do ego. Esse é o falso self. Para nos consolarmos, começamos a criar o falso, uma vez que não conseguimos encontrar o verdadeiro. Ele é um substituto. Mas o substituto nunca pode tornar-se a verdade, e o substituto torna-se uma escravidão.
A verdade liberta. Substitutos da verdade aprisionam. O ego é a maior prisão que o homem já inventou; todos vocês estão se sentindo sufocados, esmagados. Não é que alguém esteja fazendo isso com você. Você é quem está fazendo isso. Você deu um passo errado. Em vez de buscar por aquilo que é, você começou substituindo algo por um brinquedo, por uma coisa falsa. Isso pode ser um consolo para você, mas não trará celebração para a sua vida. E todo consolo é suicida, porque enquanto você permanece consolado, o tempo vai escapando de suas mãos.
O self não é um self. O self é exatamente um não-self. Não há qualquer idéia de 'Eu' nele, ele é universal. Todas as idéias surgem nele, mas ele não pode ser identificado com qualquer idéia que surja nele. Todas as idéias surgem nele, todas as idéias dissolvem-se nele. Ele é o céu, o contexto de todos os contextos, ele é o espaço no qual tudo acontece. Mas o espaço em si nunca acontece, ele habita, ele está sempre ali, e porque ele está sempre ali, é fácil perdê-lo. Porque ele está muito ali e sempre ali, você nunca se torna consciente de sua presença.
Ele é como o ar: você não se torna consciente de sua presença. Ele é como o oceano que circunda o peixe; o peixe nunca se torna consciente dele. É como a pressão do ar: a pressão é tanta, ela está sempre ali, mas você não é consciente dela. É como a terra apressada em grande velocidade ao redor do sol: a terra é uma nave espacial, mas ninguém está consciente disso. Nós estamos a bordo de uma nave espacial, e ela está indo em grande velocidade. E nós não estamos conscientes disso.
Consciência precisa de algumas falhas. Quando não há qualquer falha, você cai no sono; você não consegue permanecer consciente.
Se uma pessoa está sempre saudável, ela não estará consciente da saúde. Consciência precisa de falhas, algumas vezes você deve estar não saudável.Você deve adoecer, então você poderá ter a sensação de saúde. Se não existisse escuridão no mundo e existisse somente luz, ninguém jamais teria conhecido a luz, as pessoas nem a teriam percebido.
É assim que nós seguimos sem perceber o self original; você pode chamá-lo de Deus ou nirvana, isso não importa.Os sufis têm duas belas palavras. Uma é fana: fana significa dissolvendo o ego, dissolvendo o falso substituto. E a outra palavra é baqa: baqa significa a chegada, o surgimento do self verdadeiro.
O verdadeiro self é universal. Como encontrá-lo? Ele não está longe, assim você não tem que fazer uma longa jornada até ele. Ele está tão próximo que nenhuma jornada é necessária, absolutamente. Em vez de jornada, você tem que aprender como sentar-se silenciosamente.
Isso é tudo a respeito de meditação: simplesmente sentar-se silenciosamente, nada fazendo. Os pensamentos surgem, você observa. Os desejos surgem, você observa. Mas você permanece o observador. Você não se torna uma vítima dos desejos e dos pensamentos que vão surgindo; você permanece o observador. Você permanece o contexto de todos os contextos, você permanece o espaço no qual tudo aparece. Mas o espaço nunca aparece nele mesmo, ele não consegue, é impossível.
O espelho não consegue refletir a si mesmo. Os olhos não conseguem ver a si mesmos. Você não consegue segurar uma mão com a mesma mão, é impossível.
Essa é a coisa mais fundamental a ser lembrada, Parmita. Você é o observador e nunca o observado; você é o vigilante e nunca o vigiado; você é a testemunha e nunca o testemunhado. Você é pura subjetividade. Você nunca aparece como um objeto. Como você pode aparecer como um objeto diante de si mesmo? Qualquer coisa que aparecer em frente a você não é você.
Continue eliminando os conteúdos. Continue dizendo 'neti neti, eu não sou isso, eu não sou isso.' Continue eliminando, e um momento chegará em que nada permanecerá para ser eliminado.Haverá puro silêncio, nenhum conteúdo se movendo diante de você, o espelho refletindo nada. Este é o momento em que o auto-conhecimento surge em você. Você se torna cheio de luz, você está iluminado.
Assim, esses poucos fundamentos devem ser lembrados: o self é um não-self. O self não é pessoal, ele é universal. O self é o espaço ou contexto no qual todos os 'posicionamentos' na vida aparecem, ocorrem, aparecem. Ele é a tela da vida, mas a tela em si mesma nunca aparece na tela, ela não consegue. Tudo mais aparece nela. Ela própria permanece escondida. Ela é pura subjetividade.
Essa pura subjetividade é o objetivo maior que todo mundo está buscando. Mas ele parece difícil. Nós somos tão propensos a nos identificarmos com os conteúdos. Em vez de buscarmos pelo verdadeiro, nós criamos alguma coisa não verdadeira, que é fácil. O artificial é sempre fácil, você pode manufaturá-lo.
O seu ego é um fenômeno manufaturado. E uma vez que você manufaturou o ego...Como o ego é manufaturado? 'Eu sou um hindu' agora você está a caminho de criar um ego. 'Eu sou bonito, eu sou inteligente, eu sou isso, eu sou aquilo' você está trazendo mais e mais tijolos para fazer a prisão chamada ego.
E isso é o que seguimos fazendo por toda a nossa vida. Ganhar mais dinheiro, ter uma grande conta bancária, e o seu ego se sentirá mais firme, mais apoiado, mais seguro. Torne-se famoso: quanto mais as pessoas souberem a seu respeito, mais você pensará que você é.
Daí a constante procura por atenção. Se ninguém prestar qualquer atenção em você, você estará reduzido a nada. Se você passar pela rua e ninguém disser 'olá', se as pessoas continuarem passando e nem mesmo notarem você, de repente você irá sentir como se a terra estivesse desaparecendo debaixo de seus pés.
O que aconteceu? Eles não estão alimentando o seu ego. Mas as pessoas alimentam os egos entre si, porque é assim que eles podem ser alimentados. Alguém diz: 'Como vai?'. Ele na verdade está dizendo: 'pergunte-me como eu vou'. Ele está simplesmente pedindo por uma gratificação mútua. E as pessoas gratificam umas às outras. Uns dão apoio ao ego dos outros: alguém elogia você e, em troca, você o elogia.
É a isso que nós damos o nome de sociedade. Ela depende da mútua satisfação e a maior das satisfações parece ser a gratificação do ego.
Daí as pessoas estarem muito interessadas em política, porque a política pode gratificar você como nada mais consegue.Se você tornar-se politicamente poderoso, todo o país estará agarrado em você; todo o país terá que prestar atenção em você. Você poderá impor a sua vontade sobre as pessoas, você terá poder.
O poder de um político é o poder de violência. Agora ele controla todo o mecanismo de violência; ele controla a polícia, o governo, os militares; ele controla tudo. Ele pode lhe impor a sua vontade. É por isso que os políticos, mais cedo ou mais tarde, tendem a se tornarem violentos. Políticos no fundo desejam guerras, porque somente na guerra um político se torna um grande político. Se você der um giro através da história irá ver isso.
Winston Churchill não teria sido um tão grande líder, se não acontecesse a Segunda Guerra Mundial. Nem Adolf Hitler teria sido tão poderoso se não houvesse a Segunda Guerra, nem Mussolini. A guerra criou o contexto: eles foram capazes de serem tão violentos quanto possível. Eles foram capazes de abater milhões pessoas, de assassinar milhões pessoas.
As pessoas prestam atenção imediatamente quando você é violento.. Se você vive uma vida pacífica, nenhum jornal irá fazer reportagem a seu respeito, em toda a sua vida. Mas se você matar alguém ou cometer suicídio, você estará imediatamente nos jornais. (...)
Lembre-se, o verdadeiro self nada tem a ver com pessoas prestando atenção em você. Observe a diferença: o falso self precisa que os outros prestem atenção em você e o verdadeiro self só precisa de sua atenção, só a sua atenção é o quanto basta.
Se você voltar a sua atenção para dentro de si, você conhecerá o verdadeiro self. Se você continuar procurando pela atenção dos outros, você continuará vivendo numa falsa identidade que está sempre pronta para desaparecer se você não alimentá-la continuamente. Ela tem que ser apoiada.
O ego não é uma entidade. Ele não é um substantivo, ele é um verbo. Por isso eu digo que ele é um 'egoing' (**). Você não consegue ficar satisfeito com qualquer atenção prestada a você. Você tem que pedir e desejar mais. Você continua 'egoing'. É através do 'egoing' que o ego consegue existir. Ele é um processo e ele é tão falso, e suas cobranças são tão feias! Ele é uma mentira. Ele cobra mais e mais mentiras de você e para gratificá-lo você tem que tornar-se completamente falso. Você tem que tornar-se uma personalidade.
Uma personalidade significa um fenômeno falso, uma máscara. Você tem que tornar-se um ator. Você não é mais uma pessoa verdadeira, você não é mais autêntico. Você não tem qualquer substância, você é apenas uma sombra. E por causa dessa sombra, existe sempre o medo da morte, porque a qualquer momento essa sombra pode desaparecer.
O seu banco pode quebrar e você imediatamente se acaba, você será ninguém. O seu poder pode ser perdido porque existem outros competidores empurrando você. Toda essa vida é um constante empurra-empurra, daí existir tanta agonia.
Todo o mundo vive em angústia e agonia. Somente a pessoa que vem a conhecer o seu verdadeiro self vai além disso e entra no mundo do êxtase. E esses são os dois estados: agonia e êxtase.
Parmita, você está em agonia, como todo mundo está. E a busca é pelo êxtase. Lembre-se sempre: seus compromissos, suas ideologias, os seus chamados altos valores, suas teologias, filosofias e religiões fornecem contextos, muitas vezes contextos valiosos, para a existência individual. Mas eles não são o que você é.
Você nem mesmo é o seu corpo. Você não é a sua mente. Você não é branco nem negro; você não é indiano nem alemão. Você não pode ser definido de maneira alguma. Todas as definições são insuficientes.Você é indefinível; você é algo que supera todas as definições. Você é o vasto céu no qual os planetas aparecem, e a terra aparece, e o sol, a lua a as estrelas, e todos eles desaparecem, e o céu permanece como sempre permaneceu. O céu não conhece mudanças. Você é aquele céu imutável. As nuvens vêm e vão, e você permanece sempre ali. (...)
Se você quer buscar o verdadeiro self, não se apegue a qualquer compromisso, a qualquer programa ou a qualquer idéia. Permaneça desapegado, flexível, fluido. Não se torne estagnado. Permaneça sempre no estado de não-congelamento; não congele. No momento em que você congela, você tem alguma coisa falsa em suas mãos; uma nuvem surgiu. Permaneça no estado de derretimento, não se torne comprometido com qualquer forma ou nome. E então, alguma coisa tremenda começa a acontecer em você: pela primeira vez você começará a sentir quem você é. Esse sentir não vem de fora, ele surge da profundidade mais interna de seu ser. Ele inunda você. Ele é luz, completa luz; ele é êxtase, completo êxtase. Ele é divino. Ele é um outro nome de Deus.
Nunca se torne cristalizado. Se você se torna cristalizado em alguma coisa, você está encarcerado. Permaneça livre, seja a liberdade. Toda identidade cria amarras; e toda amarra, toda identificação é um comprometimento. Quanto mais fixa é a identidade de alguém, menos ele é capaz de experienciar. O ponto não é não ter uma posição, o ponto é não ser identificado com a posição.
Eu não estou dizendo para ficar sem pensar. Permaneça inteligente e capaz de pensar, mas nunca fique identificado com qualquer pensamento. Use o pensamento como uma ferramenta, como um instrumento; lembre-se que você é o mestre. Não estar apegado a qualquer posição que se tenha em qualquer momento particular, é o começo do auto-conhecimento. A pessoa é, ela experiencia a vida numa extensão em que pode transcender posições particulares e consegue assumir outros pontos de vista.
Isso é o que eu quero dizer por permanecer fluido, fluindo. A pessoa deve permanecer disponível para o presente. Morra para o passado a cada momento, de modo que nada a seu respeito permaneça fixo. Não carregue um caráter junto consigo. Todo caráter é armadura, aprisionamento.
O verdadeiro homem de caráter é sem caráter. Ele tem consciência, mas nenhum caráter. Ele vive momento a momento. Ele é responsável, mas ele responde a partir do momento e não a partir de contextos passados. Ele não carrega qualquer programa pré-fabricado em seu ser. Quanto mais você tiver programas pré-fabricados, mais você será um ego. Quando você não tem qualquer programa, nada pré-fabricado em você, quando a cada momento você é tão fresco como se tivesse nascido novamente, para mim isso é liberdade. E somente uma consciência livre pode conhecer um verdadeiro self.
Essa é a busca, Parmita. Nada mais irá satisfazer, nada mais poderá satisfazer. Tudo são consolos e é melhor abandoná-los, é melhor estar consciente de que consolos não irão ajudar.
Isso é o que eu chamo sannyas: abandonar os consolos, renunciar aos consolos, não ao mundo mas aos consolos, renunciar a tudo o que é falso, tornando-se verdadeiro, tornando-se simples, natural e espontâneo. Essa é a minha visão de um sannyasin, a visão de liberdade total.
E em tais belos momentos de liberdade total, os primeiros raios de luz entram em você, os primeiros vislumbres de quem você é. E a grandeza disso é tanta, e o esplendor disso é tanto que você ficará surpreso ao descobrir que você estava carregando o reino de Deus dentro de você enquanto permanecia tão inconsciente, e por tanto tempo. Você ficará surpreso. Como foi possível não ter conhecido tal tesouro? Um tesouro inesgotável dentro de você.
Jesus seguia repetindo 'O Reino de Deus está dentro de você'. Chame-o de reino de Deus ou de supremo self, ou de nirvana, ou o que você quiser, essa é a nossa busca, a de todo mundo, não apenas dos seres humanos, mas a de todos os seres. Mesmo as árvores estão crescendo em direção a isso, mesmo os pássaros estão buscando isso, mesmo os rios estão correndo em direção a isso. Toda a existência é uma aventura.
E essa é a beleza dessa existência. Se ela não fosse uma aventura, a vida seria uma absoluta chatice. Vida é celebração porque ela é uma aventura.
OSHO - Unio Mystica - Discurso 2 - pergunta 1
tradução: Sw.Bodhi
Fonte:
http://www.oshobrasil.com.br/conexaotexto23.htm
(*) Preferimos manter a palavra 'self' em inglês, sem traduzi-la, devido à dificuldade em se encontrar um equivalente em português. Poderíamos traduzi-la por 'eu', e faria muito sentido, mas essa palavra traz em si uma conotação de ego, o que poderia comprometer o sentido do texto. Em muitas frases seria perfeito traduzi-la por 'ser', mas em outras frases, o sentido ficaria estranho. Uma tradução mais literal seria 'si mesmo', mas a leitura do texto também soaria estranho em vários parágrafos. Assim, preferimos manter a palavra 'self' em inglês sem traduzi-la. Pedimos apenas que não a confundam com a palavra self adotada na literatura de psicologia em geral, na língua portuguesa. Na ciência Psicologia, self tem outra conotação. (N.T.)
(**) 'egoing' é um neologismo criado por Osho para poder classificar a palavra 'ego' como sendo um verbo e não um substantivo. O sufixo 'ing' em inglês sugere que a palavra é um verbo e não um substantivo. Não encontramos uma palavra em português para traduzir 'egoing'. (N.T.)