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1g de Geppetto

Matus

Cogumelo maduro
Membro Ativo
21/05/2016
190
41
53
Talvez escrever ajude a recordar. Vou relatar a medida que me recordar, me esforçando para seguir um tempo linear.
Há 12 anos que não via um amigo que conheci na faculdade em 2012. Nos falamos por mensagens, mas não tínhamos mais nos visto. Ele veio no Rio fim do ano para visitar a mãe e os familiares, pois atualmente está morando em São Paulo. Havíamos comentado de torrar um juntos e talvez beber uma cerveja, de leve. Planejando mais ou menos o que fazer, percebemos que não estávamos muito na vibe de beber (pessoalmente, já havia bebido o suficiente no Natal e Ano Novo, e nem foi muito ...). Pouco antes do Natal, encomendei 6g dessa strain/cepa Geppetto, de um fornecedor confiável. Decidindo onde nos encontraríamos, acabou que na praia foi a melhor escolha, onde poderíamos torrar um e ficar a vontade, pois estaria em um ambiente meio que onde todos fazem isso sem problemas. Escolhemos uma praia bem famosa no Rio: Ipanema. Eu moro no Estado do Rio, mas bem longe dos cartões postais.. De fato, esses cartões postais são outro mundo, mesmo para outros municípios do Rio. Parece que você está até em outro país, sei lá. Tudo isso ocorreu ontem, 02/01.
Saí do trabalho umas 15:30h e peguei o metrô. Saltei na estação mais próxima. Estava levando comigo 2g de Gepetto cracker dry. Na divisão, deu aproximadamente 1g pra cada, com aquele provável desvio padrão. A praia estava simplesmente lotada. Esqueci que é época de férias. Eu não sou praieiro. As vezes vou à praia. Assim que cheguei, nos falamos por mensagem e ele me disse as coordenadas de onde estava. Precisei entrar na areia. Aí já começou tudo... eu estava 'de cara' ainda, nem erva, nem nada. Tirei os tênis e as meias. Sacudi uma meia pra ela desembolar e...sumiu. A meia sumiu assim que sacudi. Ela deve ter voado pra algum lugar e não consegui achar. Não quis nem procurar muito. Foi uma coisa meio Chapolin Colorado. Deixei pra lá, enrolei as pernas da calça até os joelhos, segurei o par de tênis na mão, mochila nas costas e entrei na areia, naquele mar de gente e guarda-sóis. Depois de o que pareceu ser uns 10min, consegui encontra-lo. Primeira coisa que fizemos foi comer os cogus. Fizemos aquela divisão no olho mesmo e mandamos ver. Bebemos água. Estava bem sequinho e com gosto bem forte. Também torramos um fino, o que já não costumo fazer sozinho. Sempre torro no final, ou não torro nada no dia da experiência. Mas no ambiente da praia, mesmo a erva já veio diferente. Não deu noia. A impressão que tive foi que a onda "escoou pela vastidão da paisagem", comparado com usar dentro de casa, onde pode dar uma sensação subjetiva de aprisionamento e uma espécie de 'fritação'. Estava tudo bem.
De repente, comecei a sentir minhas pernas tremendo demais. Passava uma força, uma corrente pelas minhas pernas. Comecei a ficar com certa dificuldade de respirar, como se fosse um exercício meio estenuante ou como se estivesse meio imerso na água, que o pulmão se sente pressionado. Falei pra ele o que estava sentindo. Veio muito rápido. Comecei a sentir todo meu corpo tremendo. Minhas pálpebras tremiam incontrolável e involuntariamente. Não faço ideia de como devia estar meu rosto pra quem olha de fora. Senti tudo meu vibrando e tremendo. Sentia que ia desmaiar, dar o famoso P.T, o que nunca ocorreu até hoje. Sentia uma energia muito intensa nas pernas. A energia parecia que queria mesmo me dobrar. Parecia que era a energia do chão da praia passando por mim. Comecei a pensar na minha mãe. Ela é viva (amén), mas não nos damos muito bem. Ou diria que nos damos, sim, mas fim de ano é sempre um baixo astral pra ela. E ela faz questão de deixar isso bem explícito. Fica totalmente recolhida. Desejei feliz ano novo..ela disse "Feliz ano novo pra vc também." Enfim. Aqui não é o lugar...são outros 500. Mas precisei mencionar porque faz parte da experiência. Faz parte da vida. Tinha tempo que eu não sentia o que senti ontem. Eu senti que a vida estava no fim. Eu falei pro meu amigo, depois de muito tempo disfarçando, em pé..eu disse "Ficar em pé é uma arte". Ele compreendeu e riu. Estávamos quase sendo derrubados. Eu tremia e nele vinha em ondas que fazia ele cambalear as vezes. Depois de não sei quanto tempo, resolvemos sentar. Nossa, ajudou bastante. Eu tenho nervoso de areia. Especialmente se ficar de roupa na areia. Eu não quis me preparar para a praia...fui com a roupa do trabalho mesmo. Não entrei no mar nem nada assim. Mas resolvi que precisava contrapor essa sensação de morte e esse sentimento de fim iminente. Brinquei de desenhar qualquer coisa na areia, enfiei minhas mãos na areia, pra aterrar mesmo.. e deixar toda a preocupação e tristeza equalizar em contato com a terra. Lembro que nessa hora eu disse algo como "igual uma tomadinha, oh. Encaixou...ficou. A tv em casa, quando a gente liga ela lá e ela nos dá imagens, etc..nao pensamos nela, no que ela sente..passando aquela energia por ela (essa parte tem uma relação com a filosofia do ramo/vertente Realismo Especulativo, mais precisamente, Ontologia Orientada a Objeto*). Rimos. Em um momento, ainda sentados, ele virou, olhou pra mim e disse "É...não é pra qualquer um...estar vivo em 2025". O rosto dele estava muito nítido e eu vi seus lábios tremerem enquanto falava, como se ele fosse chorar, mas ele não chorou. Tinha muita gente em volta da gente. Ri muito...no início, principalmente de nervoso. Um desespero e um medo sem fundamentos sólidos. Só essa sensação de morte iminente. Não conseguia raciocinar. Durante um longo período de tempo só ficávamos repetindo "É....meu irmão...caraca".. "Meu amigo... que isso"... "Rapaz...".. e coisas do tipo. As tangas das pessoas, as vestimentas...tinham cores extremamente vívidas. Eram cores muito notáveis e brilhantes. Parecia que dava pra entrar nelas. Em um momento olhei o céu logo acima do horizonte. Tinha um helicóptero e umas aves, talvez gaivotas. O céu estava estonteante. Parecia que era feito de geleia translúcida. O helicóptero voava e parecia fazer um rastro no céu de geleia. Eu queria prestar atenção aos detalhes, mas o sentimento de morte e a atenção nos pensamentos que me fazem lembrar da minha mãe estavam me distraindo. Depois de mais um período de tempo sentados, ele levantou e eu acompanhei. Me sentia melhor. Ele também. Até puxou outro charuto de jah. Coisa boa esse. Dei só uns tapinhas. Até que ajudou a estabilizar. Ainda estava bem forte, mas já não estava desesperador. Aos poucos foi equalizando...ficamos conversando. Falamos sobre várias coisas.
Uma conversa que lembro foi sobre objetos sumirem em plena vista, na nossa frente. Contei da meia que sumiu antes de encontrar com ele. Ele me contou de uma caneca que desapareceu na frente dele, numa mesa que nem tinha muitos objetos. Claro que sabemos que a caneca não sumiu... objetivamente sumindo. Algo ocorre e nossa atenção deixa de captar o objeto. A impressão válida é a de sumiço. Conversamos sobre como um objeto pode mudar de dimensão e a gente achar que sumiu...mas não, só atravessou uma fina película para outra dimensão, a qual não temos contato direto. Enfim...na hora fez sentido! Podíamos sentir o que era dito e compreendido, como se a compreensão fosse parte da gente, do ser...e não só teoria ou algum tipo de lógica que faz sentido apenas com a mente. Essa capacidade de sentir e entrar nas coisas, seja o que for...já me é bem conhecida do cogumelo.
Eu acho que repararam na gente. Devem ter visto que aquilo não é cerveja e nem beck... rimos muito, com uma gargalhada incomum, como vocês devem saber muito bem. E as pessoas estavam perto porque estava muito cheio. Em pouco tempo o sol se pôs e um bom número de pessoas foi embora. Mas ainda assim tinha muita gente.. acho que ajudou, porque ficamos mais soltos pra conversar (ou só eu senti isso, não sei). A essa altura do campeonato eu já me mexia melhor. Andei pela areia.. tínhamos brincado que com esse Geppetto a gente ia virar o Pinóquio, um boneco..e que seríamos controlados como uma marionete, andando de forma desengonçada. Rimos muito disso também. Teve um momento que rimos da dificuldade de fazer um ponto de alguma coisa...numa conversa. Brincando, dissemos que tinha que tirar habilitação. Kkkkkk
Rimos também, como se o cogumelo dissesse "ah, você tá achando que a vida é brincadeira...tá bom. Pode ser sim.. mas então você também vai virar um brinquedo: um boneco." Na hora fez sentido... Lembrei do Terence MacKenna falando que os seres/machine elves disseram pra ele "How do you like it Mackennyy??" "Is it enough for you?" (Algo assim..). Teve um momento que deu um nó...como se fossemos gente e tirássemos habilitação pra virar um boneco (depois de comer o cogu) ou nós éramos um boneco e após comer o cogu tirávamos habilitação pra virar gente? Teve um momento em que era as duas coisas. Estavam sobrepostas e não era possível raciocinar de forma linear. A essa altura já era umas 19:30h. Olhamos a hora, mas não conseguíamos calcular/pensar/refletir linearmente..que horas sair, que horas chegar em casa. Tentamos um pouco mas não deu certo. Decidimos marcar mais um 10. Ah, antes disso...um cara, provavelmente argentino, espanhol ou mexicano...falava espanhol e meio português, arriscando. Acho que ele reparou algo..porque olhava pra gente de uma maneira bem visível. Ficou bem perto da gente, com a bigola dele marcando na calça. Me senti meio constrangido. Ele perguntou se sabia onde comprar blusa sem manga de time. Meu amigo disse que nao sabia. Eu não sei falar espanhol. Falei em inglês que ali perto tinha umas lojas, mas que não sabia onde vendia. Ele meio que ficou ali, olhando pra gente. Eu olhei pro mar... meu amigo também, desconversou.
Quando era aproximadamente 20h, recolhemos acampamento e fomos andando pro calçadão ali da praia. Estávamos já muito melhores, sociáveis talvez...mas as pessoas acho que percebiam logo na gente..ou era só efeito holofote mesmo. Estava engraçado andar. Parecia algo novo. As cores estavam bem nítidas. Ficamos meio perdidos sobre a direção do metrô, mas logo nos encontramos. Nos despedimos...e cada um foi pra um sentido.
Na volta pra casa, no metrô e depois no trem, me senti quieto, relaxado. Fiquei a maior parte da trip em pé e me ajudou muito na postura. Foi um ótimo exercício. Estiquei bem as costas, fiquei todo leve e solto. Me senti mais ereto. Andava com certa jovialidade. Cheguei em casa, tomei banho, comi uns ovos...e fui dormir. Que sono maravilhoso. Não dormi muito porque hoje fui trabalhar. Melhor de tudo: não teve dor de cabeça!
Hoje acordei e senti as cores ainda nítidas. Ouvi música e me senti entrando na música ou a música virando eu..o vento, o trem, os morros a distância, as pessoas. Tudo um pouco diferente. Mais pro fim do dia senti uma espécie de melancolia. Inevitavelmente pensamentos intrusos sobre minha mãe me assombraram.. mas não me entreguei.

* (Triple O / OOO): Ontologia Orientada a Objeto fala sobre os objetos terem mundos próprios de relação, os quais desconhecemos...pois só conhecemos os objetos pelo uso que fazemos dele. Uma cadeira pra sentar, etc.. isso fica mais óbvio com pessoas. Sabemos que as pessoas não são o que achamos...e que elas têm seus próprios mundos, além da relação que temos com elas. Os pais devem reconhecer que os filhos não são apenas filhos..mas que têm suas vontades e seu mundo, além do mundo de 'ser um filho '. O mesmo para os filhos que pensam assim dos pais. É sobre pessoas..qualquer uma. Mas a filosofia em si fala de objetos do mundo.

Obs1: sei que muitos dizem que Cubensis é Cubensis... Mas por experimentação direta...nunca experimentei nenhum cogumelo que com 1g desse tudo isso. Mesmo que tenha sido 1,5g. E te falar....mesmo se fosse 2g (o que sei que não foi) ainda estaria intenso demais! Da mesma forma que criamos cannabis cada vez mais potentes, separando, cruzando genéticas, também estamos vendo uma potencialização dos cogus. Geppetto não é brinquedo. Ou é? Vai virar boneco...😅🤣

Obrigado por ler até aqui!
 
Talvez escrever ajude a recordar. Vou relatar a medida que me recordar, me esforçando para seguir um tempo linear.
Há 12 anos que não via um amigo que conheci na faculdade em 2012. Nos falamos por mensagens, mas não tínhamos mais nos visto. Ele veio no Rio fim do ano para visitar a mãe e os familiares, pois atualmente está morando em São Paulo. Havíamos comentado de torrar um juntos e talvez beber uma cerveja, de leve. Planejando mais ou menos o que fazer, percebemos que não estávamos muito na vibe de beber (pessoalmente, já havia bebido o suficiente no Natal e Ano Novo, e nem foi muito ...). Pouco antes do Natal, encomendei 6g dessa strain/cepa Geppetto, de um fornecedor confiável. Decidindo onde nos encontraríamos, acabou que na praia foi a melhor escolha, onde poderíamos torrar um e ficar a vontade, pois estaria em um ambiente meio que onde todos fazem isso sem problemas. Escolhemos uma praia bem famosa no Rio: Ipanema. Eu moro no Estado do Rio, mas bem longe dos cartões postais.. De fato, esses cartões postais são outro mundo, mesmo para outros municípios do Rio. Parece que você está até em outro país, sei lá. Tudo isso ocorreu ontem, 02/01.
Saí do trabalho umas 15:30h e peguei o metrô. Saltei na estação mais próxima. Estava levando comigo 2g de Gepetto cracker dry. Na divisão, deu aproximadamente 1g pra cada, com aquele provável desvio padrão. A praia estava simplesmente lotada. Esqueci que é época de férias. Eu não sou praieiro. As vezes vou à praia. Assim que cheguei, nos falamos por mensagem e ele me disse as coordenadas de onde estava. Precisei entrar na areia. Aí já começou tudo... eu estava 'de cara' ainda, nem erva, nem nada. Tirei os tênis e as meias. Sacudi uma meia pra ela desembolar e...sumiu. A meia sumiu assim que sacudi. Ela deve ter voado pra algum lugar e não consegui achar. Não quis nem procurar muito. Foi uma coisa meio Chapolin Colorado. Deixei pra lá, enrolei as pernas da calça até os joelhos, segurei o par de tênis na mão, mochila nas costas e entrei na areia, naquele mar de gente e guarda-sóis. Depois de o que pareceu ser uns 10min, consegui encontra-lo. Primeira coisa que fizemos foi comer os cogus. Fizemos aquela divisão no olho mesmo e mandamos ver. Bebemos água. Estava bem sequinho e com gosto bem forte. Também torramos um fino, o que já não costumo fazer sozinho. Sempre torro no final, ou não torro nada no dia da experiência. Mas no ambiente da praia, mesmo a erva já veio diferente. Não deu noia. A impressão que tive foi que a onda "escoou pela vastidão da paisagem", comparado com usar dentro de casa, onde pode dar uma sensação subjetiva de aprisionamento e uma espécie de 'fritação'. Estava tudo bem.
De repente, comecei a sentir minhas pernas tremendo demais. Passava uma força, uma corrente pelas minhas pernas. Comecei a ficar com certa dificuldade de respirar, como se fosse um exercício meio estenuante ou como se estivesse meio imerso na água, que o pulmão se sente pressionado. Falei pra ele o que estava sentindo. Veio muito rápido. Comecei a sentir todo meu corpo tremendo. Minhas pálpebras tremiam incontrolável e involuntariamente. Não faço ideia de como devia estar meu rosto pra quem olha de fora. Senti tudo meu vibrando e tremendo. Sentia que ia desmaiar, dar o famoso P.T, o que nunca ocorreu até hoje. Sentia uma energia muito intensa nas pernas. A energia parecia que queria mesmo me dobrar. Parecia que era a energia do chão da praia passando por mim. Comecei a pensar na minha mãe. Ela é viva (amén), mas não nos damos muito bem. Ou diria que nos damos, sim, mas fim de ano é sempre um baixo astral pra ela. E ela faz questão de deixar isso bem explícito. Fica totalmente recolhida. Desejei feliz ano novo..ela disse "Feliz ano novo pra vc também." Enfim. Aqui não é o lugar...são outros 500. Mas precisei mencionar porque faz parte da experiência. Faz parte da vida. Tinha tempo que eu não sentia o que senti ontem. Eu senti que a vida estava no fim. Eu falei pro meu amigo, depois de muito tempo disfarçando, em pé..eu disse "Ficar em pé é uma arte". Ele compreendeu e riu. Estávamos quase sendo derrubados. Eu tremia e nele vinha em ondas que fazia ele cambalear as vezes. Depois de não sei quanto tempo, resolvemos sentar. Nossa, ajudou bastante. Eu tenho nervoso de areia. Especialmente se ficar de roupa na areia. Eu não quis me preparar para a praia...fui com a roupa do trabalho mesmo. Não entrei no mar nem nada assim. Mas resolvi que precisava contrapor essa sensação de morte e esse sentimento de fim iminente. Brinquei de desenhar qualquer coisa na areia, enfiei minhas mãos na areia, pra aterrar mesmo.. e deixar toda a preocupação e tristeza equalizar em contato com a terra. Lembro que nessa hora eu disse algo como "igual uma tomadinha, oh. Encaixou...ficou. A tv em casa, quando a gente liga ela lá e ela nos dá imagens, etc..nao pensamos nela, no que ela sente..passando aquela energia por ela (essa parte tem uma relação com a filosofia do ramo/vertente Realismo Especulativo, mais precisamente, Ontologia Orientada a Objeto*). Rimos. Em um momento, ainda sentados, ele virou, olhou pra mim e disse "É...não é pra qualquer um...estar vivo em 2025". O rosto dele estava muito nítido e eu vi seus lábios tremerem enquanto falava, como se ele fosse chorar, mas ele não chorou. Tinha muita gente em volta da gente. Ri muito...no início, principalmente de nervoso. Um desespero e um medo sem fundamentos sólidos. Só essa sensação de morte iminente. Não conseguia raciocinar. Durante um longo período de tempo só ficávamos repetindo "É....meu irmão...caraca".. "Meu amigo... que isso"... "Rapaz...".. e coisas do tipo. As tangas das pessoas, as vestimentas...tinham cores extremamente vívidas. Eram cores muito notáveis e brilhantes. Parecia que dava pra entrar nelas. Em um momento olhei o céu logo acima do horizonte. Tinha um helicóptero e umas aves, talvez gaivotas. O céu estava estonteante. Parecia que era feito de geleia translúcida. O helicóptero voava e parecia fazer um rastro no céu de geleia. Eu queria prestar atenção aos detalhes, mas o sentimento de morte e a atenção nos pensamentos que me fazem lembrar da minha mãe estavam me distraindo. Depois de mais um período de tempo sentados, ele levantou e eu acompanhei. Me sentia melhor. Ele também. Até puxou outro charuto de jah. Coisa boa esse. Dei só uns tapinhas. Até que ajudou a estabilizar. Ainda estava bem forte, mas já não estava desesperador. Aos poucos foi equalizando...ficamos conversando. Falamos sobre várias coisas.
Uma conversa que lembro foi sobre objetos sumirem em plena vista, na nossa frente. Contei da meia que sumiu antes de encontrar com ele. Ele me contou de uma caneca que desapareceu na frente dele, numa mesa que nem tinha muitos objetos. Claro que sabemos que a caneca não sumiu... objetivamente sumindo. Algo ocorre e nossa atenção deixa de captar o objeto. A impressão válida é a de sumiço. Conversamos sobre como um objeto pode mudar de dimensão e a gente achar que sumiu...mas não, só atravessou uma fina película para outra dimensão, a qual não temos contato direto. Enfim...na hora fez sentido! Podíamos sentir o que era dito e compreendido, como se a compreensão fosse parte da gente, do ser...e não só teoria ou algum tipo de lógica que faz sentido apenas com a mente. Essa capacidade de sentir e entrar nas coisas, seja o que for...já me é bem conhecida do cogumelo.
Eu acho que repararam na gente. Devem ter visto que aquilo não é cerveja e nem beck... rimos muito, com uma gargalhada incomum, como vocês devem saber muito bem. E as pessoas estavam perto porque estava muito cheio. Em pouco tempo o sol se pôs e um bom número de pessoas foi embora. Mas ainda assim tinha muita gente.. acho que ajudou, porque ficamos mais soltos pra conversar (ou só eu senti isso, não sei). A essa altura do campeonato eu já me mexia melhor. Andei pela areia.. tínhamos brincado que com esse Geppetto a gente ia virar o Pinóquio, um boneco..e que seríamos controlados como uma marionete, andando de forma desengonçada. Rimos muito disso também. Teve um momento que rimos da dificuldade de fazer um ponto de alguma coisa...numa conversa. Brincando, dissemos que tinha que tirar habilitação. Kkkkkk
Rimos também, como se o cogumelo dissesse "ah, você tá achando que a vida é brincadeira...tá bom. Pode ser sim.. mas então você também vai virar um brinquedo: um boneco." Na hora fez sentido... Lembrei do Terence MacKenna falando que os seres/machine elves disseram pra ele "How do you like it Mackennyy??" "Is it enough for you?" (Algo assim..). Teve um momento que deu um nó...como se fossemos gente e tirássemos habilitação pra virar um boneco (depois de comer o cogu) ou nós éramos um boneco e após comer o cogu tirávamos habilitação pra virar gente? Teve um momento em que era as duas coisas. Estavam sobrepostas e não era possível raciocinar de forma linear. A essa altura já era umas 19:30h. Olhamos a hora, mas não conseguíamos calcular/pensar/refletir linearmente..que horas sair, que horas chegar em casa. Tentamos um pouco mas não deu certo. Decidimos marcar mais um 10. Ah, antes disso...um cara, provavelmente argentino, espanhol ou mexicano...falava espanhol e meio português, arriscando. Acho que ele reparou algo..porque olhava pra gente de uma maneira bem visível. Ficou bem perto da gente, com a bigola dele marcando na calça. Me senti meio constrangido. Ele perguntou se sabia onde comprar blusa sem manga de time. Meu amigo disse que nao sabia. Eu não sei falar espanhol. Falei em inglês que ali perto tinha umas lojas, mas que não sabia onde vendia. Ele meio que ficou ali, olhando pra gente. Eu olhei pro mar... meu amigo também, desconversou.
Quando era aproximadamente 20h, recolhemos acampamento e fomos andando pro calçadão ali da praia. Estávamos já muito melhores, sociáveis talvez...mas as pessoas acho que percebiam logo na gente..ou era só efeito holofote mesmo. Estava engraçado andar. Parecia algo novo. As cores estavam bem nítidas. Ficamos meio perdidos sobre a direção do metrô, mas logo nos encontramos. Nos despedimos...e cada um foi pra um sentido.
Na volta pra casa, no metrô e depois no trem, me senti quieto, relaxado. Fiquei a maior parte da trip em pé e me ajudou muito na postura. Foi um ótimo exercício. Estiquei bem as costas, fiquei todo leve e solto. Me senti mais ereto. Andava com certa jovialidade. Cheguei em casa, tomei banho, comi uns ovos...e fui dormir. Que sono maravilhoso. Não dormi muito porque hoje fui trabalhar. Melhor de tudo: não teve dor de cabeça!
Hoje acordei e senti as cores ainda nítidas. Ouvi música e me senti entrando na música ou a música virando eu..o vento, o trem, os morros a distância, as pessoas. Tudo um pouco diferente. Mais pro fim do dia senti uma espécie de melancolia. Inevitavelmente pensamentos intrusos sobre minha mãe me assombraram.. mas não me entreguei.

* (Triple O / OOO): Ontologia Orientada a Objeto fala sobre os objetos terem mundos próprios de relação, os quais desconhecemos...pois só conhecemos os objetos pelo uso que fazemos dele. Uma cadeira pra sentar, etc.. isso fica mais óbvio com pessoas. Sabemos que as pessoas não são o que achamos...e que elas têm seus próprios mundos, além da relação que temos com elas. Os pais devem reconhecer que os filhos não são apenas filhos..mas que têm suas vontades e seu mundo, além do mundo de 'ser um filho '. O mesmo para os filhos que pensam assim dos pais. É sobre pessoas..qualquer uma. Mas a filosofia em si fala de objetos do mundo.

Obs1: sei que muitos dizem que Cubensis é Cubensis... Mas por experimentação direta...nunca experimentei nenhum cogumelo que com 1g desse tudo isso. Mesmo que tenha sido 1,5g. E te falar....mesmo se fosse 2g (o que sei que não foi) ainda estaria intenso demais! Da mesma forma que criamos cannabis cada vez mais potentes, separando, cruzando genéticas, também estamos vendo uma potencialização dos cogus. Geppetto não é brinquedo. Ou é? Vai virar boneco...😅🤣

Obrigado por ler até aqui!
já tive experiências muito intensas com doses que considerava baixas, mas tem uma em particular que reservei até um tópico para discussão em que eu tive realmente uma MUITO intensa com 1g aproximadamente, e eu fico pensando até hoje se isso teve relação com meu uso medicamentoso
 
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