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1ª Jornada: meio perceptiva/interativa e mística

Picta

Cogumelo maduro
Cadastrado
02/02/2009
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Eu gostaria de relatar minha primeira e única experiência (até o momento) com os cogumelos e que ocorreu a cerca de 4 anos atrás.

Fui com um grupo grande (devíamos ser cerca de 10 pessoas) até uma área mais rural nas imediações de Cotia – em São Paulo. Fomos bem cedo, de manhã mesmo. Nosso intuito era realizar um trabalho xamânico com o espírito do cogumelo.
Tínhamos urgência em realizar o trabalho pois o que nos foi dito é que a “vida útil’ da beberagem era muito pequena e tínhamos de fazer uso logo ou ela estragaria.

Era um “vinho de cogumelos” e eu infelizmente não sei qual foi o tipo usado. Havia sido feito por um amigo nosso que usava e lidava com os cogus havia bastante tempo mesmo e tb era de São Paulo. Sendo assim, por essa confiança e por minha falta de conhecimento sobre o universo dos cogumelos, eu fui, cheia de respeito, claro, e tb ansiosa, pois os cogus sempre exerceram um certo fascínio em mim. Por reverência, até me causava um certo temor, então eu fui a essa jornada cheia de humildade e um certo receio.

Creio que começamos nossa jornada deviam ser umas 10 da manhã. Cada qual escolheu um local para se sentar mas onde todos pudessem se avistar. O local era alto, como no topo de um morro onde havia uma vegetação mais baixa e poucas árvores. Começamos devagar, a dose deve ter sido meio copo americano. Era uma bebida muito, mas muito gostosa (doce) e que não provocava vômito ou nada do gênero. Todos do grupo estavam para realizar a jornada. Como praticantes de xamanismo, todos queríamos comungar dos cogumelos então não havia nenhuma pessoa em estado mais normal conosco, mas não estávamos receosos. Não sei dizer ao certo quanto tomamos (alguns mais, outros menos)... eu penso que tomei seguramente de 4 a 5 copos americanos desse vinho.

Eu sou uma pessoa meio quieta e um tanto introspectiva por natureza mesmo, com um humor meio ácido e um tanto negro por assim dizer... sarcástica como muita gente q me conhece diz q sou, mas naquela fase eu estava um pouco mais introspectiva, pois haviam muitas coisas acontecendo em minha vida e eu precisava tomar algumas decisões, então, eu vivia um período de amadurecer idéias e agir sobre elas.

Logo no início, fui sentindo que meu humor começou a mudar. Me sentia mais mal-humorada e com uma imensa vontade de me deitar sobre a terra...uma pessoa mais experiente que estava conosco comentou que não seria muito interessante que nos deitássemos pois isso influiria em nossa viagem, q a terra nos puxaria para baixo. Mas eu me deitei mesmo assim pois o apelo era muito forte. Comecei a sentir como um buraco profundo na região do coração...primeiro houve um silêncio e depois essa sensação que vinha de baixo de mim...era como se eu sentisse o que a terra vinha sentindo...um pesar por suas agruras na mão do homem. E como era forte a sensação! O apelo emocional era tão forte que eu me senti meio desnorteada. Então, me sentei.

Olhava ao redor e não queria que ninguém viesse perto de mim. Repentinamente queria ficar sozinha e até fora do alcance de visão das pessoas. Logo próximo de onde eu estava, começava a descida do morro, como uma ribanceira sabem? Então, eu me sentei de costas para essa ribanceira, tendo ao meu lado uma árvore e a minha frente todos os meus companheiros, cada qual em suas viagens. Eu comecei a sentir que aquela era uma cena fora do ambiente onde eu estava, como se eu não estivesse ali mas em qlqr outro lugar. Algumas pessoas tentavam se aproximar de mim, ao que eu olhava e dizia: “O q vc quer? Vá embora”... eu simplesmente não queria interagir com ninguém. Em flashes, eu percebi que algumas outras pessoas tiveram comportamento semelhante ao meu, se isolando mais dos outros.

A cor do céu começou a mudar para mim e toda a paisagem que estava na minha frente tb... as pessoas eu não as via mais. De repente eu estava em um local meio desértico, com um céu meio escuro mas com luz (???) e até meio vermelho....uma areia muito amarela... era algo muito diferente. Comecei a ver muitos escorpiões negros andando por essa areia e tb como que ao meu redor – bem próximo a mim - mas eu não me sentia ameçada por eles, ao contrário, eles eram lindos, brilhavam....fiquei olhando longos minutos, meio enfeitiçada. Não sei precisar qto durou essa visão, mas retornei ao local onde estavam meus amigos. Então, senti vontade de ficar próxima a árvore e fui, me apoiei nela e ali como q me tornei um animal...eu não era mais humana. Estava descansando na copa daquela árvore e só observava as pessoas, como q num cochilo. Algum tempo depois (cerca q umas 4 da tarde) , começou a chamada de todos nós para nos organizarmos e retornarmos para SP.

No meio da tarde... mais começo de final de tarde (todos ainda estávamos em trabalho....ninguém tinha “voltado”) começamos a descida do morro para voltarmos para São Paulo... naquele momento eu soube q se estivesse sozinha, não teria retornado aquele dia...me perderia na mata. A cada passo q eu dava, cada pedra que eu pulava, a paisagem à minha frente se alterava...eu sempre estava em qlqr outro lugar, numa estrada, numa trilha... mas nunca naquele lugar de fato. Estava como que perdida no tempo, nas dimensões... os locais se mesclaram, se alteravam...e eu não tinha senso de direção algum. Confesso que quis começar a ficar preocupada mas nesse ponto, eu já havia entrado em contato com o
“espírito do cogumelo” – como chamamos - e como para mim ele se mostrou como que um “menino” muito brincalhão e até meio zombeteiro, eu comecei a rir com ele, vendo que ele estava “brincando” comigo, me mostrando que quem mandava na brincadeira no mundo dele era ele, e não eu...me ensinou a lição de que não controlo nada... como muitas vezes eu chego a pensar q controlo. Então, aos poucos, sem nos deixarmos seduzir por essas novas realidades que se descortinavam, fomos retomando o caminho de volta à estrada que nos levaria a rodovia onde havia o ponto de ônibus para regressarmos. Isso levou muito tempo pois ao menos para mim parecia q andávamos mas não saíamos do lugar... era como um filme com defeito...o trecho da estrada era sempre o mesmo... então, uma amiga q estava conosco começou a surtar. Que estávamos perdidos, q nunca íamos conseguir voltar, q ela estava com medo e que queria q aquilo passasse naquela hora... q ela ia morrer e q o filho dela (ela tinha um garoto de uns 3 anos que havia ficado com o pai) ia ficar sem mãe. Nesse momento paramos todos, para que ela pudesse se sentar e ficar mais calma. Pois estava quase colocando pânico em todos os demais... eu mesma comecei a pensar mais seriamente naquilo q ela dizia e quase começava a partilhar da agonia dela. Mas então, respirei fundo e voltei à minha viagem mesmo.
Começamos a conversar com ela, q nada havia a temer, que ela estaria de volta dentro de poucas horas, que precisava vivenciar o que estava passando pois se entrasse naquela má vibração, seria pior e traumático...ficamos sentados esperando q ela melhorasse (cerca de meia hora) e então retomamos a estrada de retorno. Nesse ponto tudo era engraçado e ríamos o tempo todo de todos.Pegamos o ônibus de volta e penso q as pessoas que nos viam, pensavam q éramos todos malucos. Descemos em SP e fomos a um shopping. Nesse ponto, eu já não andava mais e sim saltitava, rindo e achando tudo muito engraçado e divertido... em especial uma colega nossa bem baixinha q estava com uma mochila enorme nas costas e na minha concepção, tinha a cara de mais louca de todos... eu ria demais sempre q olhava pra ela saltitando na minha frente.

O clima do shopping mais o monte de pessoas circulando meio que nos aterrou mais, comemos algo e fomos embora de novo, de onde cada qual ia para sua casa. O que eu posso dizer é q eu percebi q havia realmente “voltado” deviam ser 8 horas da noite já. Os efeitos duraram seguramente mais de 6 horas.

Essa jornada me marcou muito... as sensações foram fortíssimas então, quando poucos meses depois me chamaram para novamente comungar do vinho dos cogumelos mas eu teria de fazer sozinha e em minha casa (eu realmente creio q devemos comungar dos enteógenos em meio a natureza ou num ambiente mais rural mesmo ) eu recusei pois eu acreditei que como oscilei muito entre opostos de mau humor a riso descontrolado, ainda não estava pronta para isso. Depois, nunca mais a oportunidade surgiu e eu segui com minhas jornadas junto a ayahuasca.

Agora, parece que tenho novamente a chance de ter uma jornada com os cogumelos (se tudo correr bem, dentro de meses)...e tenho algumas questões sobre mas que vou postar em outro tópico para não misturar os assuntos.

Bem, essa foi minha experiência. Quem quiser dar um palpite ou comentar...afinal, aqui muita gente tem diploma no universo dos cogus... será muito legal. :)

Besos,
Picta
 
:pos::D

Muito legal tua experiência!


Obrigado por compartilhar.

Até mais
 
Nossa tipo eu nem ia comentar pra não estragar a pureza do seu relato, realmente deve ter sido uma experiencia que vai te marcar para o resto da vida, fico muito feliz quando leio um relato como o seu......o uso sabio dos cogus com propositos espirituais me alegra muito!

Parabens.......e não tenha medo de uma bad o de sentir o seu lado obscuro pois ele existe em todos nós e só podemos combate-lo se o conhecermos bem......então deixe esse papo de bad de lado que tudo é aprendizado!

Só num vá exagerar ao ponto de se traumatiza né...rs!

Paz e luz para a tua vida!
 
Maravilha Picta :pos:
Ter alguém junto conosco que de repente "surta" é sempre difícil.
Valeu por compartilhar teu relato! Láaaa do fundo do baú :)
 
:pos::D

Muito legal tua experiência!

Obrigado por compartilhar.

Até mais

Valeu! Obrigada por comentar tb!! :)
Besos,
Picta

Nossa tipo eu nem ia comentar pra não estragar a pureza do seu relato, realmente deve ter sido uma experiencia que vai te marcar para o resto da vida, fico muito feliz quando leio um relato como o seu......o uso sabio dos cogus com propositos espirituais me alegra muito!

Parabens.......e não tenha medo de uma bad o de sentir o seu lado obscuro pois ele existe em todos nós e só podemos combate-lo se o conhecermos bem......então deixe esse papo de bad de lado que tudo é aprendizado!

Só num vá exagerar ao ponto de se traumatiza né...rs!

Paz e luz para a tua vida!

Oi Marca!
Obrigada! Foi uma experiência única... o contato com o espírito do cogumelo é algo muito diferente mesmo! Eu tinha respeito e agora eu continuo tendo mais ainda! Qdo for haver a próxima experiência para mim, que seja sempre no momento certo, ou seja, qdo eu estiver preparada. Não por receio de uma bad (por mais q a gente não goste, às vezes a bad vai te ensinar mais do que uma baita trip cheia de luz e altas viagens...pois muitas vezes foi o que me aconteceu em outras jornadas...levar uma “surra” pode ser um baita aprendizado) mas sim pq tudo tem um momento certo né? Não faço idéia de qual foi o cogumelo que eu tive contato. Eu sinceramente gostaria de conhecer o espírito do Amanita... me fascina a beleza dele... cada foto que eu vejo, mais lindo eu acho! Ou eu sou kamikaze, ou mais pessoas sorriem qdo o vêem? É involuntário! Risos... eu vejo uma foto dele e nasce um sorriso :D ... lindo demais né.
Besos,
Picta


Picta, gostei do seu relato. Ler relatos assim trás de volta o estado de espírito e a beleza da experiência enteógena por alguns instantes.

Oi NeuroFX,

Obrigada...a beleza do mundo dos espíritos das plantas Mestras e do Mestre Cogumelo tb é algo assim que não pertence ao mundo das palavras né? Muitas vezes é algo simplesmente contemplativo e perceptivo... falar sobre empobrece a experiência como um todo.
Eu sou iniciante com a jornadas com o cogumelo e espero ter mais relatos para postar se assim me for permitido pois antes de querermos, muitas vezes o cogumelo precisa "nos querer" tb. :)

Besos,
Picta



Maravilha Picta :pos:
Ter alguém junto conosco que de repente "surta" é sempre difícil.
Valeu por compartilhar teu relato! Láaaa do fundo do baú :)

Oi Tupynambá,
Realmente a parte do surto foi delicada... estávamos todos em altas viagens e qdo ela surtou, foi algo traumático...pois nossa percepção estava totalmente expandida.
O relato foi do fundão do baú mesmo e fui esquecendo de outras coisas q me vêem à mente agora: ao olhar para o sol, tb via símbolos e imagens que chegavam até mim na forma de raios que eram emitidos do sol... enfim, muitos detalhes que acabam ficando de fora pq a memória falha. :)
Besos,
Picta.
 
Olá Pctia...

Apesar da pausa, acredito que quem teve experiências sinceras como esta, sempre volta!!!

Mesmo depois de muito tempo...:)

e lembre-se:


VC NUNCA FICARÁ SÓ!!! ;)


Abç!
 
Adoro ler relatos assim, profundos e cheios de detalhes, realmente quase pude sentir-me como você.

Parabéns pela trip maravilhosa!
 
Lindo relato. o frio na barriga que deu quando você relata sobre a "estrada sem fim" bahh de mais!
 
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