- 06/12/2007
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Minha primeira experiência foi com um chá de 6 cogumelos grandes e secos, para duas pessoas. Eis o relato:
Depois que passou a fase das náuseas resolvemos ir a um barzinho perto de casa. Já estávamos no bar há algum tempo e o copo do meu amigo estava intacto. Perguntei por que ele não tomava a cerveja. Ele disse que o copo estava “interagindo” com ele. Comecei a observar o que se passava com o copo. Ele falou que o copo vibrava com a música. Realmente vibrava – ou achávamos que vibrava. Talvez o copo quisesse nos passar alguma mensagem. Nesse momento descobri que não falava a língua dos copos. Tudo bem. Tava tudo ótimo. Aliás, a música em inglês fazia mais sentido: parecia que minha antiga professora de inglês estava ao lado ditando a tradução.
Dois casais da mesa ao lado me ensinaram algo sobre a conduta devassa de nossa sociedade. Não pareciam namorados, no entanto os pares estavam claramente definidos. Em algum momento uma das moças sugere à outra uma visita ao toilette. Elas se levantam, ajeitam as calças apertadíssimas e desfilam até a porta do banheiro feminino. Segundos depois ouvíamos o discreto “Gostoooooooosas pra caraio!” dos dois amigos. Não discordei do comentário mas também não quis explanar minha opinião. Meu pai diz pra tomar cuidado com rabo-de-saia alheio. Pensei: esses não usam saia... Pensei melhor e resolvi voltar ao meu fiel copo.
Bebemos mais umas duas cervejas até que o bar começou a fechar. A atendente deixou uma pilha de cadeiras de plástico cair no chão. Oferecemos ajuda, ela aceitou. Colocamos todas as mesas e cadeiras empilhadas dentro do bar, morrendo de rir, claro. Nesse dia nós fechamos o bar, literalmente.
Com o bar fechado, restava a rua e a lua. A rua começou a se transformar na representação da interferência humana na natureza, já a lua a representação da natureza nela mesma. Ela olhava pra mim e eu também queria olhar pra ela, mas o poste da rua estourava a visão. Com a mão eu tapei a luz do poste e assim pude ver todo o céu da noite semi-nublada. Deitamos na calçada. A lua mais linda que já vi na vida se escondia de vez em quando entre as nuvens. Não é a lua que se mexe, são as nuvens, pensamos. Aliás, muitos pensamentos se passavam por nossas cabeças. Meu amigo filosofava. “Deus é um devasso que usa maconha e toma chá de cogumelo. Ele criou o universo pra fuder com ele”, disse ele. Em outro momento eu falava: “Sócrates disse: Sábio é aquele que nada sabe. Então interpelou o outro: Pois sou mais sábio que você, pois nem disso eu sabia.” Ele riu.
De repente, ao voltar os olhos pro chão percebi o quanto aquela rua asfaltada era artificial. As casas com suas grades, campainhas, calçadas, tudo era entulho. Senti real necessidade de um jardim, de um pomar, de vida. Ao voltar pra casa pedi licença a uma plantinha e urinei nela. Ela parecia gostar. Tive pena por ela ter sido podada. Uma planta quadrada é um planeta quadrado, pensei.
Nós somos quadrados, artificiais. As vezes é preciso tapar a luz do poste pra ver o quanto a lua é linda.
Psicodelicamente,
Frateto

Depois que passou a fase das náuseas resolvemos ir a um barzinho perto de casa. Já estávamos no bar há algum tempo e o copo do meu amigo estava intacto. Perguntei por que ele não tomava a cerveja. Ele disse que o copo estava “interagindo” com ele. Comecei a observar o que se passava com o copo. Ele falou que o copo vibrava com a música. Realmente vibrava – ou achávamos que vibrava. Talvez o copo quisesse nos passar alguma mensagem. Nesse momento descobri que não falava a língua dos copos. Tudo bem. Tava tudo ótimo. Aliás, a música em inglês fazia mais sentido: parecia que minha antiga professora de inglês estava ao lado ditando a tradução.
Dois casais da mesa ao lado me ensinaram algo sobre a conduta devassa de nossa sociedade. Não pareciam namorados, no entanto os pares estavam claramente definidos. Em algum momento uma das moças sugere à outra uma visita ao toilette. Elas se levantam, ajeitam as calças apertadíssimas e desfilam até a porta do banheiro feminino. Segundos depois ouvíamos o discreto “Gostoooooooosas pra caraio!” dos dois amigos. Não discordei do comentário mas também não quis explanar minha opinião. Meu pai diz pra tomar cuidado com rabo-de-saia alheio. Pensei: esses não usam saia... Pensei melhor e resolvi voltar ao meu fiel copo.
Bebemos mais umas duas cervejas até que o bar começou a fechar. A atendente deixou uma pilha de cadeiras de plástico cair no chão. Oferecemos ajuda, ela aceitou. Colocamos todas as mesas e cadeiras empilhadas dentro do bar, morrendo de rir, claro. Nesse dia nós fechamos o bar, literalmente.
Com o bar fechado, restava a rua e a lua. A rua começou a se transformar na representação da interferência humana na natureza, já a lua a representação da natureza nela mesma. Ela olhava pra mim e eu também queria olhar pra ela, mas o poste da rua estourava a visão. Com a mão eu tapei a luz do poste e assim pude ver todo o céu da noite semi-nublada. Deitamos na calçada. A lua mais linda que já vi na vida se escondia de vez em quando entre as nuvens. Não é a lua que se mexe, são as nuvens, pensamos. Aliás, muitos pensamentos se passavam por nossas cabeças. Meu amigo filosofava. “Deus é um devasso que usa maconha e toma chá de cogumelo. Ele criou o universo pra fuder com ele”, disse ele. Em outro momento eu falava: “Sócrates disse: Sábio é aquele que nada sabe. Então interpelou o outro: Pois sou mais sábio que você, pois nem disso eu sabia.” Ele riu.
De repente, ao voltar os olhos pro chão percebi o quanto aquela rua asfaltada era artificial. As casas com suas grades, campainhas, calçadas, tudo era entulho. Senti real necessidade de um jardim, de um pomar, de vida. Ao voltar pra casa pedi licença a uma plantinha e urinei nela. Ela parecia gostar. Tive pena por ela ter sido podada. Uma planta quadrada é um planeta quadrado, pensei.
Nós somos quadrados, artificiais. As vezes é preciso tapar a luz do poste pra ver o quanto a lua é linda.
Psicodelicamente,
Frateto
