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Água: vida e morte

Clorofila

Cogumelo maduro
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24/01/2007
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Água: vida e morte


por Ari de Oliveira Zenha

A água é fonte e símbolo da existência do homem no mundo; sem ela não haveria condições de sobrevivência não só do ser humano como de todas as espécies de organismos, sejam eles vegetais ou animais. Sabe-se que a Terra dispõe de aproximadamente 1,39 bilhões de km3 de água, distribuídos em mares, lagoas, rios, nas áreas subterrâneas (aqüíferos), gelo, neve e vapor.
O sistema capitalista degenera, e leva às raias do absurdo, a utilização da água - uma situação de insustentabilidade -, pois, historicamente, o capitalismo, por meio da sua estrutura econômica e política, estabeleceu e estabelece para toda a sociedade civil uma concepção de uso das águas cuja configuração é de desperdício, de degeneração das fontes naturais.
É inevitável e evidente atribuirmos ao modo de produção capitalista a situação a que chegamos neste início de século – o uso de maneira não sustentável e segura da necessidade da água em todos os níveis da civilização humana.
Clark e King, escritores sobre o meio ambiente, colocam a questão da água nos seguintes termos: “(...) a literatura convencional dirá que a água se transformou numa questão global em decorrência de duas coisas; cada vez mais pessoas precisam dela e a necessidade cresce com o aumento dos padrões de vida. Na melhor das hipóteses, Isso é uma meia verdade, e as meias verdades escondem muitos equívocos, como o fato de o mundo das águas ter se tornado um negócio inserido no planeta, sob muitos aspectos. A sujeira que jogamos nas águas é o primeiro ponto. A agricultura não melhorou e ainda se baseia no princípio da diluição para, de alguma forma, se livrar de pesticidas, herbicidas e fertilizantes nocivos e do esterco de origem animal. Os administradores urbanos não fizeram nada de mais positivo; tendem a desviar o esgoto de suas cidades para cursos d’água afastados de seus domínios, onde não têm de se preocupar com ele, e enterram sorrateiramente os dejetos sólidos, esperando que seus componentes tóxicos nunca venham a contaminar os aqüíferos do subsolo”.
O volume disponível de água, elemento vital para o uso humano e outros tipos de espécies, tem sido reduzido. Grande parte da água usada é jogada sem tratamento no sistema hidrológico: um metro cúbico de água usada contaminada agrava e deteriora mais de dez metros cúbicos de água pura.
Estima-se que por volta de 2050 mais de quatro bilhões de pessoas – quase a metade da população mundial de então – estarão em países com necessidade efetiva e crônica de água. A indústria é dos maiores usuários de água, consumindo 21% do total disponível de água no planeta, enquanto o uso doméstico fica em torno de 10%.
O planeta Terra dispõe de 1,386 bilhão de km3 de água, sendo 97,5% salgada e só 2,5% de água doce, das quais 2/3 estão indisponíveis para uso humano, pois estão localizados em geleiras, neves, gelos e subsolos congelados. Hoje, cerca de 500 milhões de pessoas moram em países com escassez crônica de água, e aproximadamente 2,4 bilhões residem em países onde o sistema hídrico está ameaçado. Os povos que habitam as regiões mais secas estão na África e na Ásia.
Quase 4 mil km3 de água doce são consumidos a cada ano, dando uma média de 1 mil e setecentos litros por pessoa diariamente. O consumo doméstico está aproximadamente em 170 litros por pessoa todos os dias. O uso doméstico da água tem mostrado evidências de desperdício, pois boa parte dessa água se perde em vazamentos, chegando a 40% de perda. A água que pingam das torneiras pode implicar em maior desperdício do que a utilizada para beber e cozinhar, destacando que cerca de 30% das águas domésticas se perdem nas descargas dos vasos sanitários.

Nos países em desenvolvimento, 20 litros de água por pessoa são considerados um luxo. No entanto, os habitantes dos países desenvolvidos consomem esses 20 litros de água só para regar seus jardins...
O sistema capitalista vem tentando, e em alguns países com sucesso, transformar a utilização da água em uma mercadoria qualquer negociada no mercado. Isso pode agravar ainda mais o acesso à água, pois em alguns países que realizaram essa experiência o preço do m3 da água mais que duplicou: é a privatização do Estado pelo neoliberalismo, que entrega a gestão estatal para ao setor privado, em nome da “eficiência privada”, transferindo para este suas incumbências para com a sociedade civil.
Alguns números da utilização da água no mundo merecem ser citados:
· Para cultivar um quilo de arroz são necessários 1.900 litros de água.
· As carnes de boi e de carneiro também têm um volume alto de utilização da água: um kg de carne consome 15.000 litros de água.
· Um quilo de batata consome 500 litros de água.
· Um quilo de trigo consome 900 litros de água.
· Um quilo de soja consome 1.650 litros de água.

A possível solução seria cultivar e criar animais com menor uso de água, o que consistiria numa medida eficaz para não só prover de alimentos a população mundial, como para utilizar eficaz e racionalmente o uso da água.

Entretanto, a agricultura está cada vez mais industrializada. Em relação ao processo industrial propriamente dito, a água consumida na indústria pesada, - entre as quais podemos citar a química e petroquímica, as de metal, as de madeira, as de papel e celulose, as de processamento de alimentos e as de máquinas -, consomem cerca de 20% de toda água doce do planeta, o que representa 130 m3 por pessoa anualmente. Nos países desenvolvidos, 59% de toda a água é utilizada no processo industrial. Nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, o problema da poluição das águas é mais agudo e grave, pois os rios se tornam verdadeiros esgotos a céu aberto, cujo lixo industrial sem tratamento é o principal responsável – cerca de 70% do esgoto é lixo industrial -, e os 30% restantes sendo esgotos urbanos.
Frederico Engels, no início do século dezenove, já assinalava tal situação na Inglaterra, berço da revolução industrial. Em seu livro Anti-Duhring, aponta o problema da poluição dos rios, principalmente pelas indústrias que estavam matando os peixes e poluindo as águas, tornando-as inadequadas para o consumo humano, animal e vegetal.
Temos muitos problemas com relação ao uso e usufruto das águas no sistema capitalista desde os seus primórdios. Esses problemas são assustadores e devem levar todos nós, seres humanos, e todos os sistemas produtivos, agrário e industrial, a repensar o futuro e o presente, pois a humanidade se encontra numa situação inadmissível e insuportável, como também para as futuras gerações.
A permanecer essa situação, o capitalismo, na sua luta desbragada e sem limites para prosseguir e alavancar seu processo de acumulação e reprodução, está levando todo o planeta e, com isso, toda a natureza e seus habitantes, a uma situação de barbárie da existência do homem e da natureza, de forma não harmônica e destrutiva.
É preciso repensar e transformar a realidade, ou seja, realidade essa que se caracteriza pelo sistema produtivo capitalista que este texto tentou expor, pois é inadmissível que fiquemos impassíveis diante de tamanha barbárie que esse sistema vem impondo a todas as partes do mundo.
O clima da terra está passando por profundas transformações, levando a intempéries violentas, como chuvas de monções mais intensas, além de ciclones e furacões mais fortes e constantes. O efeito estufa, tão propalado, faz com que a evaporação da água seja mais intensa, alterando o clima da terra, o que já vem ocorrendo no momento.
Logo, falar e agir com perseverança, consciência crítica e transformadora da realidade mundial é imprescindível para todos nós, seres humanos, se é que pretendemos redirecionar e transformar o mundo no qual o capitalismo, com todo o seu arsenal mortífero, vem impondo ao nosso planeta como um todo.
Falar de vida e morte é agir diante da realidade que se apresenta de forma transformadora, responsável e crítica frente à estrutura de produção capitalista, que vem realizando, há séculos, seu imperativo destruidor e desumanizador, não só para com a sociedade humana como, também para com toda a natureza, de forma implacável. A busca de lucro, de acumulação e de reprodução de seu sistema produtivo, por meio do crescimento sem limites de suas forças produtivas, custe o que custar, é o que impera, queiramos ou não admiti-lo.

Ari de Oliveira Zenha é economista e membro do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais.
 
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