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Socialmente na mata

Cebolo

Cogumelo maduro
Cultivador confiável
13/01/2015
308
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29
Shambalah
Fala galera, quis trazer este relato para vocês :)


Combinei com um casal de amigos para irmos tomar na cachoeira, fazer tipo uma consagração, todos em volta da fogueira, etc.
No dia 08/09/2020, fomos para casa de um amigo que mora na cachoeira, literalmente, tem que fazer uns 20-25m de trilha só pra chegar no terreno dele.
Antes da casa tem várias outras cachoeiras, porém nessa época de quarentena elas estão ficando muito cheias, irônico não? Então por privacidade, segurança, conforto e amizade, pedimos para tomar na casa dele, e sinceramente o local é maravilhoso, todo em coexistência com a natureza.

Eu levei 10g para dividirmos.
O nosso amigo da cachu optou por não tomar, ele só fez a gentileza de servir o espaço para nós ♥.

Meu amigo, foi a segunda experiencia dele (a primeira foi acompanhado por mim, onde ele tomou 1g sozinho lá mesmo nesse casa da cachu e curtiu bastante)
Então dessa vez ele quis tomar 2g.
A namorada dele nunca tinha tomado, estava um pouco nervosa mas muito afim, ela é estudante de psicologia e queria muito analisar seu próprio estado mental sob os efeitos.
Eu indiquei 1g, porém eu tinha levado alguns cogumelos frescos que tinha colhido na noite anterior (deixei num pote na geladeira), eu falei que os frescos são uma iguaria comparado aos secos por conter mais alcaloides, e ela quis comer somente eles.
IMG_20200908_115100807_HDR.jpg(5.4g - supostamente 0,54g)

Eu decidi que desde que eu colhi meu maior fruto>
Screenshot_20200803-182048.png
Iria comer ele inteiro e sozinho pra sentir se um fruto enorme difere de vários pequenos com o mesmo peso. (Apesar de nunca ter tomado a dosagem exata de 4.5g)
Eu odeio o gosto, amargo, então fiz como se fossem milhões de pilulas, eu mordia o cogumelo num pedaço do tamanho de um comprimido grande e dava uma golada com água, mordia mais um pedaço, golada de água.... Comi todo o caule, ok, cheguei na metade do chapéu e um pedaço bateu na minha goela, quase vomitei, respirei fundo pra não golfar... já tava naquela luta há uns 10m de pedacinho em pedacinho, então resolvi que não iria me forçar e ofertei o resto pra natureza, deixei a correnteza levar.
Acredito que pesava quase 1g, então consumi de 3,5 a 4g.

Eu estava de jejum desde a noite anterior, eles tinham almoçado entre 12-13h.

Era em torno de 14h quando comemos.

Primeiro nós fomos tomar um banho de cachoeira, foi muito bom entrar na água gelada, de inicio eu não queria pelo frio, mas depois que entrei só agradeci por ter entrado.
Nesse momento não estávamos conversando muito, cada um curtindo seu inicio de trip na água, deitados nas pedras, etc.
Após +/- 1h, decidimos ir para a clareira, no caminho eu já estava muito chapado, vendo tudo diferente, sentindo o corpo pesado mas com energias para continuar. passamos por uma plantação de mandioca, nessa hora eu fui tocar numa planta bonita que me chamou a atenção e eu toquei no ar, minha visão se confundiu na altura correta da planta, eu tomei um susto ao errar e achei muito engraçado, continuamos até o meio da plantação, meu corpo estava muito pesado e eu precisei sentar numa pedra, nessa hora eu fechei meus olhos e me senti conectado com o solo, escutando todos os insetos voando ao meu redor, escorreguei o corpo até deitar na terra com a cabeça apoiada na pedra, nesse momento uns mosquitos fdp começaram a zumbiar no meu ouvido e eu precisei levantar, falei para eles que não estava em condições de ficar em pé e queria deitar, porém ali tinha muito mosquito e ninguém levou repelente, então seguimos caminho para a clareira novamente. eu fui muito despreparado pra essa trip, não levei casaco, repelente, canga, nada, só umas frutas, beck, água e a roupa do corpo. Minha vontade era só de me jogar no meio do mato, mas era muita folha e bicho, já fui mordido por formiga de fogo lá e não queria que isso acontecesse no meio da trip.
Pedi a canga emprestada, não estava mais aguentando meu corpo e só me larguei no chão, nesse momento comecei a escutar uma vibração intensa na cabeça, o que acreditei ser o som da vibração do universo, estava embarcando na viagem quando os mosquitos voltaram com tudo, tanto nas picadas quanto no ouvido, tentei ignorar e aceitar eles mas foi impossível kkkkk, levantei motivado a fazer uma fogueira pra espantar eles, foi muito doido meter a mão no mato pra pegar galhos e folhas secas, em primeiro instante pensei em não pegar com medo de bicho, depois fiquei refletindo e me motivei "sobrevivência porra!", enfiei a mão com tudo e puxei logo 3 bambus enormes, sai andando com eles no colo como se não houvesse amanha, uma formiga me mordeu, lógico kkkkk, voltando pra clareira, quebrei eles e comecei a fogueira, tinha muita folha de bananeira em volta então foi fácil começar o fogo.
Fiquei viajando na dança do fogo, nos insetos que moravam em volta da fogueira correndo por suas vidas, na brasa queimando.

Começamos a conversar sobre muitas coisas, primeiro em como os cogumelos tiram a vontade de fumar cannabis, meu amigo até brincou "cogumelo é muito bom! vou tomar todo dia pra não fumar maconha" kkkk
Depois falamos sobre o sistema, sobre toda essa injustiça de que poucos tem muito e muitos tem pouco, sobre corona vírus, sobre faculdade, psicologia, sobre a viagem em si.
A fogueira foi o start pra conversarmos e não paramos mais.
Falamos também sobre como os problemas emocionais recorrentes de nossa época (depressão, ansiedade) são todos frutos da sociedade, problemas sempre gerados em volta da energia do dinheiro.

Durante todo o tempo, eu tinha visuais, fracos mas estavam lá.
Ao anoitecer, bem no pôr do sol, vários animais, no topo das árvores, começaram a cantar, mas era um som muito diferente de tudo que já ouvi vindo de um animal, pareciam ondas, um som feito em computador, puwowonnnn wowonn wowonnnn, sempre 3 e alto, sendo que o primeiro era mais agudo e os outros 2 últimos graves, uma parada muito louca, a gente gravou o som e é do mesmo jeito que eu ouvia lá, mesmo sóbrio eu escuto idêntico kkkk
O local que estávamos é composto por uma cadeia de morros, então o som ecoava pelas paredes de pedra, foi surreal.


Umas 20h descemos a trilha, fizemos outra fogueira perto da casa para tomar um cafézinho e fumar um, fazer um lanche.
Conversamos sobre a ideia de o que aconteceria com as pessoas se todos no mundo tomassem cogumelos, tivemos várias discussões saudáveis sobre o assunto, tanto defendendo como atacando a ideia, questões como religião e cultura... Lá pras 22h nos arrumamos e seguimos trilha para casa.

Estar naquele lugar me fez refletir sobre como nós deixamos a natureza de lado em nossas construções, como a cidade é um polo e a natureza é outro, as duas deveriam existir juntas, prédios/casas e arvores, alguma tecnologia que promovesse um tipo de simbiose entre nós e a mata... e não algumas arvores no meio das ruas lotadas de prédios e poluição.

Resumindo, foi bem diferente de tomar em casa, não tive nem perto de uma bad ou algum pensamento negativo, coisa que sempre me acontece em casa pelo menos por um instante, talvez por eu sempre tomar sozinho e dessa vez foi acompanhado e social ou por estar dentro da mata totalmente confortável

Já estou pra marcar uma próxima melhor preparada, com mais amigos para participar, iremos levar barraca e chegar cedo para deixar tudo no esquema, tipo lenha.

No final todos agradecemos pela oportunidade de tomar eles ali naquele lugar maravilhoso, me senti muito grato.

Chegando em casa pesquisei sobre algum animal com esse barulho e não consegui achar, olhei a lista de todos os primatas nativos do brasil, macaco não foi... Talvez um pássaro?

No dia seguinte da viagem me senti motivado a mexer no quintal aqui de casa, tem uma boa parte de terra na entrada da casa com "plantas ornamentais" plantinha pra enfeitar.... Replantei várias num cantinho e abri espaço pra uma horta, já plantei alguns temperos como orégano, salsa, manjericão, cebolinha, tomate, pimenta, e estou germinando outros como mandioca, batata e alface.
Tem espaço já ocupado de ornamentais, em breve quero tirar tudo e plantar comida.

Incrível como uma reflexão de viagem consegue mudar suas atitudes posteriores.
 
Última edição:
Obrigado por nos trazer essa experiência. Muito leve e divertida de se ler. :)

Alguns comentários:

Antes da casa tem várias outras cachoeiras, porém nessa época de quarentena elas estão ficando muito cheias, irônico não?

É que se amontoar na praia leva spray de pimenta kkkkkk

Aí no mato ficam de boas.

Primeiro nós fomos tomar um banho de cachoeira, foi muito bom entrar na água gelada, de inicio eu não queria pelo frio, mas depois que entrei só agradeci por ter entrado.

É, acostumado com o frio, é como estar no paraíso. A praia tem maré pra lá e pra cá, já na cachoeira dá pra literalmente ficar estático em certos pontos. Faze estrelinha e curtir a vibe olhando pras árvores ou pro céu... Muito gostoso.

estava embarcando na viagem quando os mosquitos voltaram com tudo, tanto nas picadas quanto no ouvido, tentei ignorar e aceitar eles mas foi impossível kkkkk,

Kkkkkk mosquitinhos tão se lixando pras nossas elevações espirituais

"sobrevivência porra!"

Isso ae caralhowww!!! É muita xuxa no sangue - pra quem não sabe, "xuxa" no fórum quer dizer "raiz" em inglês, que r o o t z é coisa de Nutella. Aqui a parada é xuxa na veia.

Fiquei viajando na dança do fogo

Deve ser delicioso ver o fogo sob efeito...

A fogueira foi o start pra conversarmos e não paramos mais.

Quando uma trip coletiva encaixa numa conversa, flui de uma forma única mesmo.

Resumindo, foi bem diferente de tomar em casa, não tive nem perto de uma bad ou algum pensamento negativo, coisa que sempre me acontece em casa pelo menos por um instante, talvez por eu sempre tomar sozinho e dessa vez foi acompanhado e social ou por estar dentro da mata totalmente confortável

Ambas coisas podem influenciar.

Na natureza também não entro em processos mentais difíceis. E as companhias podem também ajudar a tornar nossa trip mais leve - ou mais pesada, se não forem boas companhias de psicodelia. Minha esposa sempre faz meus efeitos ficarem mais leves de se levar.
 
Show de bola o relato!
Curiosamente tambem fui pro mato este final de semana, ainda estou digerindo a experiência para fazer um relatório de viagem porém tive percepções muito similares as que você teve(e efeitos também), eu estava aqui: 1600135508363.png
Espero criar coragem amanhã para falar um pouco da viagem e da discussão que tive comigo mesmo mentalmente durante a maior parte dela.
 
Não da mais tempo de editar o tópico, eu gostaria de dizer que descobri o nome do animal! Realmente era um pássaro, uma coruja.
Murucutu.
Escutem esse som... Imagina como deveria estar chapado kkk


Já que estou comentando, gostaria de agradecer ao @ExPoro e @krust pelos comentários :)
E krust, me amarrei lendo teu relato.
 
Não da mais tempo de editar o tópico, eu gostaria de dizer que descobri o nome do animal! Realmente era um pássaro, uma coruja.
Murucutu.
Escutem esse som... Imagina como deveria estar chapado kkk


Já que estou comentando, gostaria de agradecer ao @ExPoro e @krust pelos comentários :)
E krust, me amarrei lendo teu relato.


Rapaaaa essa coruja dá onda sem usar nada, imagina sob efeito. Tá loko! Kkkk
 
Estar naquele lugar me fez refletir sobre como nós deixamos a natureza de lado em nossas construções, como a cidade é um polo e a natureza é outro, as duas deveriam existir juntas, prédios/casas e arvores, alguma tecnologia que promovesse um tipo de simbiose entre nós e a mata... e não algumas arvores no meio das ruas lotadas de prédios e poluição.
Eu penso a mesma coisa

Também to planejando uma trip em acampamento com amigos confiáveis
 
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