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Sexta Experiência 4g - Cubensis - PRIMEIRA EXP. "PESADA"

felipeleox

Esporo
Cadastrado
20/12/2021
41
3
29
Após as cinco experiências anteriores, senti que poderia experimentar uma dose mais alta. Visto que até então a maior tinha sido de 3g, decidi tomar 4g.

Foi num dos meus últimos dias de férias no início desse ano. Almocei uma comida leve e em pouca quantidade, e logo após minha esposa ir para o trabalho, comi os cogumelos e fui para o banho.

Confesso que estava um pouco receoso sobre como seriam os efeitos. Eu havia lido alguns relatos "ruins" nos dias que antecederam as experiências, e também foi uma semana que eu não estava "tão bem" internamente (algumas questões pessoas e outras de relacionamento).

Ainda estava no chuveiro quando os efeitos começaram. Para dar uma acalmada, sentei no chão para meditar por alguns minutos.
Acho que foi uma boa atitude para tirar da cabeça a possibilidade de ser uma experiência ruim. A água caindo na cabeça, e o som constante do chuveiro me trouxe uma boa sensação enquanto eu focava na respiração, e os efeitos foram aumentando aos poucos.
Quando abri os olhos, já pude perceber uma diferença na percepção de cores.

Saí do banho, peguei uma caixa de som JBL e fui para a área aberta no fundo de casa.
Coloquei para tocar o álbum Disraeli Gears do Cream, deitei na grama e comecei a relaxar.
O dia estava quente, mas o céu estava bastante nublado, com nuvens que cobriam quase tudo.

Fui curtindo o som, e fui sentindo um prazer muito grande em esfregar as mãos e os pés na grama. Lembro que comecei a mexer os braços e as pernas, arrastando na grama de acordo com o som.

Logo depois, comecei a enxergar padrões bastante fluidos nas nuvens, e quando decidi manter os olhos fechados por bastante tempo, tive visões com contornos bastante "ondulados e suaves" com tons entre rosa e roxo, totalmente sincronizados com a música.

Depois fiquei pensando sobre essas visões, acho que o padrão de cores acabou seguindo muito próximo da capa do álbum. Eu já tinha intenção de escutá-lo sob o efeito psicodélico a algum tempo, acho que a imagem da capa me vinha na mente e logo se distorcia de uma forma que não dava para reconhecer tão nitidamente.

Até aí, tudo muito bom.
O "problema" foi quando o disco terminou.

Eu estava deitado na grama com o celular do meu lado, era só eu escolher outro disco e apertar o play... Mas eu simplesmente não conseguia fazer nada.

Minha mente estava totalmente ativa, e praticamente todos os motivos que fizeram com que naquela semana eu não estivesse "tão bem" me vinham na mente, e eu refleti muito sobre eles.

Depois de um tempo eu consegui me levantar, mas continuei pensando nessas coisas em pé, olhando a paisagem (o fundo da minha casa tem um muro baixo, com uma vista bacana para as montanhas ao redor). Fui até a cozinha, bebi um pouco de água, depois deitei na sala e fiquei mais um bom tempo apenas pensando.

Me lembro que na hora, era como se eu sentisse uma preguiça extremamente forte. Eu sabia que conseguia me mover, não estava com nenhum tipo de desconforto físico, não estava com medo nem angustiado.
Simplesmente não tinha vontade de fazer nada. Isso foi bem doido, porque eu realmente não gosto de ficar "fazendo nada" dessa forma.
Lembro que na hora me vieram lembranças de infância, em situações onde não "tinha nada pra fazer" e eu ficava deitado "fazendo nada". Lembro que mesmo quando era criança eu não gostava de fazer isso.

Após ficar assim por muito tempo, senti um cansaço mental bastante grande, e essa "preguiça absurda" diminuiu um pouco.

Olhei no relógio e já estava perto da hora de minha esposa chegar em casa.

Deitei num colhão inflável no escritório e coloquei pra tocar o disco The Garden do Silver Apples - Para quem não conhece, Silver Apples foi uma dupla que tocava música eletrônica psicodélica, o som é realmente muito louco, tem uma vibe de me fazer entrar num tipo de "transe". Curto bastante.
Ali deitado, senti que o som fez uma espécie de "massagem na mente". Não no nível de me revigorar, mas em me prender no som e não focar tão intensamente nas questões que passei praticamente a tarde toda pensando.

Até tentei dormir, estava me sentindo cansado, mas simplesmente não foi possível (nunca consegui dormir sob efeito de psicodélico). Minha esposa chegou, veio conversar comigo e expliquei que estava bastante cansado e que explicava melhor depois de o efeito passar por completo.

Terminado o disco, já havia anoitecido e fui tomar outro banho. Ali os efeitos já praticamente haviam passado, mas o cansaço mental permaneceu.



Refletindo no fim do dia e nos dias seguintes, considero que não tive uma "bad trip", mas sim uma experiência mais pesada.
Acredito que a dose mais alta me obrigou a olhar para questões que eu estava tentando evitar a semana toda, mas que realmente precisavam ser pensadas. E pensar nelas por tanto tempo e com tanto foco, olhando pra elas pelas diversas perspectivas que os psicodélicos nos fazem olhar, pude tomar decisões importantes naquele momento sobre como lidar melhor com aquelas coisas.

Apesar de não "curtir" tanto como nas outras vezes, era o que eu estava precisando naquele momento. Isso me fez repensar minha forma de lidar com alguns problemas no dia a dia, e tem sido melhor lidar com eles logo do cara, e não evitá-los, mesmo sóbrio.
 
Algo semelhante aconteceu comigo em uma trip de 5 g. Estava meditando e bastante calmo, ouvindo Boards of Canada. Tudo beleza até que parei de ouvir a música por nenhum motivo em particular, o que me afundou nem uma espiral descendente de pensamentos bizarros e profundos. Chamaria então aquele dia de bad trip, mas, lendo você, passo a achar que foi uma trip com mais força psicodélica, somente. O erro, como sempre, está em querer controlar em excesso.
 
Muito legal o relato. Esse disco do Silver Apples é "pesado" psicologicamente né. Lá nos 20:50, é facinho entrar numa "bad" porque é muita mistura.
Tenta uma de 4/5g com essa:

Não é pink né, é um "cover inspirado" digamos.

São diveeeersos fatores né, mas o ambiente contribui muito.

Paz, Rapaziada!
 
Algo semelhante aconteceu comigo em uma trip de 5 g. Estava meditando e bastante calmo, ouvindo Boards of Canada. Tudo beleza até que parei de ouvir a música por nenhum motivo em particular, o que me afundou nem uma espiral descendente de pensamentos bizarros e profundos. Chamaria então aquele dia de bad trip, mas, lendo você, passo a achar que foi uma trip com mais força psicodélica, somente. O erro, como sempre, está em querer controlar em excesso.

Verdade.
É importante planejar e direcionar o ambiente para um objetivo, mas impossível controlar totalmente.

(E não conhecia Boards of Canada. Escutei um pouco, achei bacana.)


Muito legal o relato. Esse disco do Silver Apples é "pesado" psicologicamente né. Lá nos 20:50, é facinho entrar numa "bad" porque é muita mistura.
Tenta uma de 4/5g com essa:

Não é pink né, é um "cover inspirado" digamos.

São diveeeersos fatores né, mas o ambiente contribui muito.

Paz, Rapaziada!


Sim, os álbuns do Silver Apples tem uns momentos "meio estranhos", mas acho que é justamente essas partes que fazem as partes seguintes serem tão relaxantes, ou estimulantes...

O bom dessa sua recomendação é que é só dar o play e não se preocupar mais com escolha de música. Valeu.


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Estou planejando uma experiência de 5g par ao fim de semana, em breve retorno com o relato.
 
Muito bom o relato, amigo.

Após as cinco experiências anteriores, senti que poderia experimentar uma dose mais alta

Muito bom, isso ae. Progressividade das dosagens para conhecer sua mente e seu corpo sob efeito, e aprender a ir navegando melhor reduzindo as chances de ter problemas.

Eu havia lido alguns relatos "ruins" nos dias que antecederam as experiências, e também foi uma semana que eu não estava "tão bem" internamente

Hmmm... set num tava dos melhores, neh...

Acho que foi uma boa atitude para tirar da cabeça a possibilidade de ser uma experiência ruim. A água caindo na cabeça, e o som constante do chuveiro me trouxe uma boa sensação enquanto eu focava na respiração

Ótima atitude.

O "problema" foi quando o disco terminou.

Pois é, uma das importâncias de se estabelecer um setting que funcione independente de intervenção durante os efeitos é não sair do condicionamento da música, que tende a direcionar a onda para mares mais navegáveis, ainda que profundos.

Quando tento ter uma experiência em casa sem meu Pink Floyd, é sofrido. Tem que ter o Pink. Fica toda a playlist pré-pronta.

Caso eu queira adicionar uma sonoridade nova, ela também fica ali, pré-pronta na playlist.

Preparo playlists de pelo menos 4 horas, mas pode ser de 6 horas também.

Na natureza que, por ter muito estímulo novo de fora pra dentro, não sinto falta de música pra reger uma experiência mais navegável em mares profundos.

Então, passe a fazer uma playlist longa o suficiente pra durar a trip toda e terá mais tranquilidade quanto a este ponto. Pois a ausência de som é uma mudança profunda no setting, que é melhor ocorrer de forma planejada. Porque ter que botar um novo som é, ao mesmo tempo, uma mudança de setting e de set, desfocando de onde estava antes na trip.

refleti muito sobre eles

Que bão. :D

Ali deitado, senti que o som fez uma espécie de "massagem na mente". Não no nível de me revigorar, mas em me prender no som e não focar tão intensamente nas questões que passei praticamente a tarde toda pensando.

É o que eu disse acima.

E quanto mais você repetir as mesmas sonoridades, mais confortável tendem a ser as experiências. Cria-se um rito, fixando mecanismos, que podem ser direcionados desde cura, a reflexões, ou a só relaxar.

Refletindo no fim do dia e nos dias seguintes, considero que não tive uma "bad trip", mas sim uma experiência mais pesada.
Acredito que a dose mais alta me obrigou a olhar para questões que eu estava tentando evitar a semana toda, mas que realmente precisavam ser pensadas. E pensar nelas por tanto tempo e com tanto foco, olhando pra elas pelas diversas perspectivas que os psicodélicos nos fazem olhar, pude tomar decisões importantes naquele momento sobre como lidar melhor com aquelas coisas.

Isso mesmo. Muito bom.

Apesar de não "curtir" tanto como nas outras vezes, era o que eu estava precisando naquele momento.

É... talvez você comece a entrar na fase mais séria dos efeitos. Não se sabe o que os cogumelos guardam pra você. E esse processo pode ser irreversível, como foi comigo. Hoje em dia, "diversão" só com doses bem, mas bem baixas.
 
Preparo playlists de pelo menos 4 horas, mas pode ser de 6 horas também.

Então, passe a fazer uma playlist longa o suficiente pra durar a trip toda e terá mais tranquilidade quanto a este ponto. Pois a ausência de som é uma mudança profunda no setting, que é melhor ocorrer de forma planejada. Porque ter que botar um novo som é, ao mesmo tempo, uma mudança de setting e de set, desfocando de onde estava antes na trip.

Sim, nesse dia aprendi essa lição.
Quando tive minha experiência com 5g (em breve devo terminar de escrever o relato), foi totalmente decisivo já ter deixado uma playlist de 6 horas prontinha rolando...




Muito obrigado por todos os seus comentários. :positivo:
 
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