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Saúde Mental

Clorofila

Cogumelo maduro
Membro Ativo
24/01/2007
844
76
'Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.

Eu me explico:

Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei.
Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.

Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas,obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.

Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.

Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa.
Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.

Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes.

Uma delas chama-se hardware, literalmente 'equipamento duro', e a outra denomina-se software, 'equipamento macio'.

Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades 'espirituais' - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória.

Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo 'espirituais', sendo que o programa mais importante é a linguagem. Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.

Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos; somente símbolos podem entrar dentro dele.

Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, 'saúde mental' até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler,Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar.

Tranquilize-se; há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E,em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos.

Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram...'

Rubem Alves
'Sobre o tempo e a eternidade'
Campinas: Ed. Papirus, 1996.
 
... Certo dia eu fui visitar minha avó, que havia caido destroncado o ombro, já de muita idade e toda enfaixada,sentia muitas dores e reclamava muito do "castigo" que a vida lhe deu. Fiquei com muita pena e tentei conforta-la, dizendo que não era nada grave, mas não adiantava muito a dor não deixava o raciocinio funcionar direito. Estava um dia nublado, mas não chovia, e com a conversa ela acabou adormecendo enquanto eu falava , muitos remedios pra dor deixaram ela "grog". Eu fiquei olhando o antigo retrato de quando ela tinha 15 anos e via o rosto dela 62 anos depois, minha avó é gordinha como a dona benta. o sol apareceu entre as nuvens e bateu no quarto, aquela uz me parecia especial e eu como não tinha nada pra faze r nem ngm para ver resolvi pintar o rosto de minha avó durmindo, quando estava quase terminando ela acordou tão derepente como quando durmiu olhou pra mim e deu um sorrisão, e ficou uns segundos sorrindo.

Sem falar nada nesses segundos nos olhamos nos olhos e ela adormeceu novamente e eu quase terminei o desenho, pois alguns minutos depois ela acordou, só que dessa vez não tinha sorriso, só fisgadas de dor no braço.

fiquei com esse momento na cabeça, o momento do sorriso, parecia que ela sabia oque eu estava fazendo enquanto estava dormindo e ficou feliz, porém não havia chance dela saber oque se passava.

O sorriso dela, é como a loucura dos homens, é uma mensagem em meio a toda essa triste razão humana, jogando na cara da gente que não sabemos nada do mundo e que enquanto ficarmos no nosso pedestal de razões aceitaveis à sociedade, podemos perder o momento de um simples sorriso.

Acabamos por não questionar a vida porque é mais facil mostrar que somos "felizes" para os outros do que para nos mesmos. seguindo o que é normal e socialmente bem visto e indo para o matadouro feito gado.
Abdicamos do nosso direito de sermos livres, sinceros e verdadeiramente felizes, enfim ... Loucos
 
... Certo dia eu fui visitar minha avó, que havia caido destroncado o ombro, já de muita idade e toda enfaixada,sentia muitas dores e reclamava muito do "castigo" que a vida lhe deu. Fiquei com muita pena e tentei conforta-la, dizendo que não era nada grave, mas não adiantava muito a dor não deixava o raciocinio funcionar direito. Estava um dia nublado, mas não chovia, e com a conversa ela acabou adormecendo enquanto eu falava , muitos remedios pra dor deixaram ela "grog". Eu fiquei olhando o antigo retrato de quando ela tinha 15 anos e via o rosto dela 62 anos depois, minha avó é gordinha como a dona benta. o sol apareceu entre as nuvens e bateu no quarto, aquela uz me parecia especial e eu como não tinha nada pra faze r nem ngm para ver resolvi pintar o rosto de minha avó durmindo, quando estava quase terminando ela acordou tão derepente como quando durmiu olhou pra mim e deu um sorrisão, e ficou uns segundos sorrindo.

Sem falar nada nesses segundos nos olhamos nos olhos e ela adormeceu novamente e eu quase terminei o desenho, pois alguns minutos depois ela acordou, só que dessa vez não tinha sorriso, só fisgadas de dor no braço.

fiquei com esse momento na cabeça, o momento do sorriso, parecia que ela sabia oque eu estava fazendo enquanto estava dormindo e ficou feliz, porém não havia chance dela saber oque se passava.

O sorriso dela, é como a loucura dos homens, é uma mensagem em meio a toda essa triste razão humana, jogando na cara da gente que não sabemos nada do mundo e que enquanto ficarmos no nosso pedestal de razões aceitaveis à sociedade, podemos perder o momento de um simples sorriso.

Acabamos por não questionar a vida porque é mais facil mostrar que somos "felizes" para os outros do que para nos mesmos. seguindo o que é normal e socialmente bem visto e indo para o matadouro feito gado.
Abdicamos do nosso direito de sermos livres, sinceros e verdadeiramente felizes, enfim ... Loucos

Falou tudo!!
Um sorriso vale muito!!! Te salva a vida!!!!
ja viu quando um nenem te olha e da aquela risada mais gostosa
aquilo da uma paz.
Eles sao puros e sabem mais que agente !!!:D:D
paz
 
Isso mesmo!!!! DO CARALHO!

Até onde vai a sua "loucura"?

Eu não acredito em celular, orkut, roupas de marca e muito menos no governo Lula... hehehe

Sou meio encanado mas não o bastante para ser irracional e de esquerda >.<
 
Olá, Clorofila, tudo bem?
Cara, como Psicanalista, vc já devia saber que a sanidade não existe na humanidade! A Psicopatologia fala de uma maioria de neuróticos, outros tantos psicóticos, e mais um pouco de perversos! Eu discutia uma época com uma colega muito interessante, que num livro que estou escrevendo é chamada de Mãe Anima de Avalon, que quase metade da humanidade tem se tornado psicótica! Se formos analisar bem, boa parte de nossos governantes é na verdade um bando de seres perversos, e por aí vai!
Jung, grande descobridor do Inconsciente Coletivo e um dos caras mais fudidos da história do século XX, diz que a diferença entre sábios e loucos é que, enquanto os sábios navegam no mar do Inconsciente Pessoal e Coletivo, os loucos na verdade se afogam nele!
Na verdade, todos nós corremos esse risco, mas é isso que nos garante a volta ao paraíso! Em outras palavras, o problema não é ser louco, e sim a maneira como vc lida com sua loucura! Isso mostra a diferença entre um Ghandi e um Hitler, ou entre um Sílvio Santos e um Arnaldo Baptista, por exemplo!
Quanto aos caras que citou, alguns são bem mais resolvidos do que outros, caso de Cecília Meirelles e Fernando Pessoa, que tinham a sorte de conviver com seres menos frios do que Niestche ou Van Gogh, por exemplo!
Aliás, só para terminar, alguns de vcs já viram o filme Estamira? Lá mostra bem essa tênue linha entre os "jardins da razão" (para citar nosso saudoso Chico Science) e "os mares da loucura", uma vez que não é tão difícil se identificar com o personagem do filme, em certos aspectos! Muito bom, mesmo!
 
n considero loucos,considero genios...
alias

ter uma cadeira neuronal diferente da nossa faz achar isso algo inferio,quando na verdade uma nova forma de pensar e somente isso

esquizofrenicos,autistas,genios,nao funcionam como nos,mas fazem coisas que nenhuma pessoa "comun" faz

siga o que voce goste kara,seila prefiriia o ramo da biologia e etnobotanica mesmo conheco tambem bastnate de psiquiatria,mas nao gosto,remedios sao venenos ,no maximo estudaria por farmacologia,nao para receitar para as pessoas se viciarem, seila eh como eu penso

:pos::pos::pos::pos::pos::pos::pos:
 

Camarada Anjo Torto, excelente sua participação!

Porém não sou o autor do texto e infelismente não sou "psicanalista", apenas resolvi dividir com a comunidade essas idéias.

Tenho muito respeito pelo que vc escreveu aqui.

Boa sorte com o livro! :pos:
 
Genialidade e doença mental têm sido com freqüência correlacionadas a produções literárias ou artísticas de diversos autores, que tiveram suas obras e suas vidas enquadrinhadas. Assim o tentaram Lombroso, Nágeia, Freud, Leme Lopes, Carvalhal Ribas, Neves Manta etc, tendo como alvo Nietzsche, Ibsen, Dostoiewiski, Edgard Allan Poe, Baudelaire, Thomas de Quericey, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Paulo Barreto... Aliás, há certos segmentos da cultura popular que professam a falsa idéia da suposta sabedoria dos perturbados mentais que seriam lindeiros da genialidade, tese admitida de até por W. Shakespeare e outros pensadores do mesmo jaez.

Não se pode esquecer ainda que a Psiquiatria e em particular a Psicanálise, devem muito dos seus postulados aos filósofos gregos Platão, Sócrates, Aristóteles e aos dramaturgos Sófocles, Esquilo e Eurípedes, que possuíam profundo conhecimento e compreensão de natureza humana. O próprio conhecimento é compreensão de natureza humana.

Kafka que viveu mais ou menos na mesma época e no mesmo país que Freud, mas que não se conheciam, empregam em suas produções literárias, técnicas de psicodinâmica como a fusão onírica, com o real e de catarse, ou seja, a ab-reação ou descarga de idéias ou emoções em sua forma original que se libertam do inconsciente para o consciente, técnicas essas que Freud havia desenvolvido na terapia psicanalítica.

Tido até algum tempo como um louco consciente, seus escritos foram recebidos como patogramônios de um alienado mental. Atualmente, porém, é reconhecido como um dos maiores escritores de todos os tempos, um gênio da estirpe de um Shakespeare, salientando o psicanalista Prof. Portela Nunes que ninguém aprendeu com maior acuidade do que Kafka a situação absurda, estranha e paranóica do mundo atual, tanto que surgiu em nossa língua um novo adjetivo: kafkiano, justamente, para expressar tudo que é estranho, incoerente, incomparável, fantasmagórico, selo do mundo em que vivemos.

Em suas obras, Kafka centraliza todas as coisas que tornam difícil viver em nossa época, onde as organizações e as estruturas em vez de atuarem em prol da pessoa humana, contra ela se colocam. E o faz de modo alegórico, imitando a linguagem onírica, como se tudo não passasse de um pesadelo, mas que é uma realidade, contendo, entretanto, um sentido simbólico, uma analogia e uma sintetude com situações reais, absurdas, incompreensíveis, que por vezes se antolham no curso de nossa vida cotidiana.

Nas suas composições as personalidades são representadas metaforicamente por animais e com eles assemelham-se, assim, no conto A metamorfose à personagem principal é uma barata, inseto em que um caixeiro-viajante se encontra transformado, ao acordar, depois de uma noite de sono. Mas, o importante é que não se trata de um pesadelo ou alucinação e sim de um fato social, de tal sorte que o cidadão Sanza deixou de ser gente e agora não passa de um mísero inseto. O que queria Kafka dizer com a possibilidade de um ser humano poder, de um momento para outro, virar uma barata?

O significado alegórico do fenômeno diz que o cidadão Sanza antes de ser transformado num mísero inseto era um respeitado pai de família, sustentáculo importante de sua gente, mas que devido a uma doença incapacitante tornou-se um peso morto para a família, um problema cuja solução seria o seu internamento num asilo de inválidos, valendo lembrar que no mundo moderno qualquer um pode se encontrar na mesma situação do cidadão Sanza.

Em outro livro, que se tornou famoso porque foi tema de um filme cinematográfico, dirigido por Orson Wells, chamado O Processo, Kafka relata a história de determinada pessoa o Sr. Joseph K que, ao acordar, após uma noite de sono, encontra sua residência cheia de gente a investigar com o objetivo de abrir contra ele um processo, apesar de não serem funcionários de Justiça, embora ninguém lhe diga qual a razão de semelhante processo.

Apesar de não ter sido preso, é obrigado a comparecer a várias reuniões no Tribunal de Justiça, sem culpa formada e sem saber qual a acusação de que é alvo. Inquieto, por desconhecer o que fez de errado, procura indagar, em vão, de pessoas estranhas qual o motivo da denúncia para que dela possa se defender. Enquanto isso, no próprio Tribunal acareiam fatos surpreendentes e um deles é que acaba tendo uma relação erótica com uma pessoa que não conhece!

A cada tentativa de defesa sente-se cada vez mais culpado, terminando por ser condenado a despeito de ignorar qual foi o seu crime. Um horrível pesadelo, interminável, esquisito, estranho e agressivo, mas, real, apesar de fantasmagórico.

Dizem os estudiosos do assunto que o crime do qual é acusado Sr. Joseph K. no conto O Processo, é uma alegoria ao pecado original segundo um mito religioso, que teria ocorrido há milhões de anos e que deu lugar ao sentimento de culpa fundamental e remorso, base da angústia humana. Teólogos, filósofos, antropólogos têm procurado explicar, sem êxito, o fator gerador desse pecado original, do qual toda pessoa humana é acusada sem saber por que e por quem foi condenado, numa extraordinária situação Kafkiana.

Lembramos, apesar de que do mito da culpa original, conforme a cultura judaico-cristã, ninguém nasce isento dela e que não escapamos das idéias que nos acompanham durante toda a vida, de que fizemos algo no passado filosófico que não teríamos feito se fossemos melhores.

Segundo a antropologia psicanalítica o sentido da culpa essencial do homem foi o parricídio e a posse da mãe, que serviu de tema à tragédia Édipo, do dramático grego Sófocles e que S. Freud chamou de impulso de Édipo. O parricídio, ocorrido na horda selvagem primitiva, renasce depois, simbolicamente, no banquete totêmico (morte do pai e canibalismo) e cerimoniais eucarísticos de cultos religiosos judaíco-cristão.

Em O Castelo, outro conto de Kafka, relata-se a história absurda de um agrimessor que foi contratado para realizar certos serviços profissionais num Castelo, mas que nele nunca conseguiu penetrar por causa de inúmeros obstáculos e impedimento que não lhe deixaram realizar o seu trabalho. Singular e estranhamente, porém, dias depois recebe do dono do Castelo, uma absurda carta na qual, depois de muitos elogios, agradece o trabalho que nunca conseguiu realizar.

Neste conto, espécie de pesadelo onírico, existe uma situação dialética peculiar de Kafka, contraditória, onde ele pretende mostrar que na vida real nem sempre somos tomados pelo que fazemos, enquanto somos elogiados pelo que deixamos de fazer, ou seja, deixamos de ser tomados pelo bem que fazemos, em troca somos agraciados pelo mal que deixamos de praticar.

Na novela Diante da Lei, Kafka nos surpreende com mais uma situação dialética contraditória, inconsciente, em que determinada pessoa desejando informar-se sobre a Lei, dirige-se ao pórtico do Tribunal de Justiça e é impedido de entrar, por um guarda que lhe explica ser ele, o guarda, o menor de uma série de obstáculos para o seu acesso à Lei. E ele, então, se detém nessa situação durante anos e anos, sempre impedindo de ter acesso à Lei, apesar de inúmeras tentativas feitas, até que, já velho, e sentindo prestes a morrer, indaga do guardião a razão dessa situação absurda até porque todos esses anos jamais viram alguém transpor, a porta do Tribunal, ao que ele responde: realmente, ninguém pode entrar por essa porta uma vez que ela é só para você. Isto é, só você podia penetrar nela.

Estamos aqui diante de mais um paradoxo Kafkiano que muitas vezes ocorre na vida de uma pessoa que não obstante ter o direito constitucional ao estudo, a saúde, à prestação da lei, ao trabalho, etc, na prática nada disso acontece. Apesar da pauta da Lei ser nossa, ela nos é proibida por uma série de obstáculos, entre eles o guardião é o mais fraco de todos.

Tendo falecido muito tempo antes da fabricação da bomba atômica, Kafka mostra-se também um profeta, pois, no seu conto O Texugo, descreve as atribulações de um texugo (pequeno mamífero parecido com uma espécie de raposa que vive em toca) que se sentindo em perigo, resolve se defender cavando um túnel onde guarda alimentos e disfarça sua entrada de modo a se esconder do mundo externo, mas fica sempre inquieto, atento ao menor ruído denunciador de uma possível invasão, e por isso começou a viver permanentemente dentro do túnel, numa situação grandemente inquietadora e paranóica.

Percebe, então, ruídos originários não mais do exterior da toca, mas, dentro mesmo da terra, contra os quais sabe não poder se defender e assim vive continuamente inquieto e aterrorizado. Semelhante vicissitude de "se correr o bicho pega e se ficar o bicho come", significa mais uma representação alegórica do autor, uma metáfora significativa da permanente angústia humana no mundo, presente sob a forma de uma fábula que retrata o desejo de fugir de homens, a uma realidade agressiva e assaz periculosa.

Mas, afinal, quem foi esse profeta louco que por meio de um realismo onírico, fantasmagórico, conseguiu sacar e delinear tão bem a condição humana contemporânea?

Sabemos que só é possível descobrir a razão das idéias de uma pessoa através do conhecimento de sua personalidade e do seu meio. Franz Kafka foi um escritor judeu de língua alemã, nascido em Praga (Tchecoslováquia) a 3 de julho de 1833 e falecido de tuberculose pulmonar em 1924, filho de pais judeus mas que nunca professou os preceitos da religião judaica. Apesar de criado no seio da sua típica família judia, gloriava não ter nada com os judeus.

De temperamento introvertido (esquizotímico), grandemente inquieto e desastroso com as condições do mundo onde vivia, e que achou muito estranho, sempre foi uma pessoa deslocada de sua ambiência. Desde criança, sempre teve problemas com o pai, uma figura autoritária e ao qual escreveu uma missiva tornada célebre (e que nunca chegou a ser entregue), sob o nome de "Carta ao pai", onde com patética penetração, expõe o conflituoso relacionamento pai-filho, afirmando que tal falta de compreensão e entendimento era de responsabilidade de ambos.

Na sua vida funcional foi empregado da Companhia Estatal de Seguros da Tchecoslováquia, onde se angustiava ao presenciar filas de pessoas que entregavam requerimentos que sabia jamais seria despachado e, por isso, sentia-se deslocado do serviço. Esses traços caracterológicos e temperamentais assimilam e distinguem, de modo permanente, toda a obra do autor que gira em torno de um mundo predominantemente absurdo, insensato, paradoxal, inconseqüente que fá-lo difícil de ser vivido. Mas o específico e residual nela é a aparência de onirismo que contém, o onírico confundindo-se com o real, assumindo uma feição fantasmagórica, porém, sem perder o seu fundo de realidade.

Apesar de não ser um escritor político no sentido estrito da palavra, os seus trabalhos continham sempre um teor de denúncia contra a feição autoritária e brutal com que se verificam as relações das pessoas com aqueles que são autoridades, daí porque ele foi um escritor proibido tanto nos países comunistas como nos nazistas, tendo seus livros queimados pelo Estado mesmo depois de sua morte, em 1924.

Também foi condenado na Tchecoslováquia como responsável pela revolta chamada de "Primavera de Praga", ocorrida em 1968, em um processo autenticamente kafkiano. Até pouco tempo antes do seu falecimento só tinha publicado retalhos de suas produções, tendo mesmo recorrido, textualmente, ao seu grande amigo Max Brade para que destruísse todos os seus manuscritos e evitasse a reedição dos já publicados.

Aliás, Kafka quando vivo não teve a menor repercussão literária, sendo tido e havido como um maluco e seus escritos só depois da 2ª Grande Guerra, é que as pessoas começaram a sentir, por experiência própria, as contradições de um medo eminentemente kafkiano onde as grandes potências gastam enormes fortunas visando a acumular potentíssimos armamentos para a defesa e ataque contra possíveis inimigos hipotéticos.

Por essa razão, não é de admirar que neste mundo louco em que moramos, um mundo absurdo como que egresso da imaginação (catártica de Kafka). Suas obras, antes interpretadas como simples delírios de uma mente patológica passou a ser vistas como uma realidade.

Thomas Carlyle no seu admirável "Os heróis e o culto dos heróis", onde estuda a forma pela qual os grandes homens apareceram nos negócios do mundo, diz que o característico mais significativo da história de uma época é a maneira como ela acolhe um "grande homem". No tempo do paganismo todo o grande homem era tido como um Deus, a forma mais antiga do heroísmo. As mitologias atestam isso.

Depois o "grande homem", aquele que se destacou entre os demais, passou a ser considerado pelos habitantes de sua época, não mais como um Deus e sim como um inspirado por Ele, ou seja, um Profeta (segunda fase do culto dos heróis). Em seguida, veio o herói-rei ou ditador. v.g. Napoleão, Lenine, etc (terceira fase do culto dos heróis).

Atualmente, "o grande homem", aquele que se destacou como político ou administrador (quarta fase de cultos dos heróis) passou a ser encarado como "estadista".

Para terminar chegou o momento de decidir se Kafka foi um louco, um gênio, um profeta. Se ele tivesse vivido nos tempos bíblicos certamente seria classificado como um profeta, na competência de Isaias, Jeremias, Ezequiel, Zacarias, Daniel, por outro lado, se os profetas bíblicos tivessem vivido nos tempos atuais, dificilmente escapariam de ser internados como pacientes psiquiátricos.

O papel cumprido por Kafka, no seu tempo foi, sobretudo o de um profeta anunciando o que ainda não estava sendo percebido e sentido. Por isso, foi considerado um louco e visionário, mas um louco de gênio! Os acontecimentos do mundo atual vieram mostrar a razão de sua aparente desrazão!

Autor
Gerardo da Frota Pinto

Médico psiquiatra, Titular da Academia Cearense de Medicina Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
 
A arte de ser louco é nunca tentar ser um sujeito normal!
Autor desconhecido
 
Neste conto, espécie de pesadelo onírico, existe uma situação dialética peculiar de Kafka, contraditória, onde ele pretende mostrar que na vida real nem sempre somos tomados pelo que fazemos, enquanto somos elogiados pelo que deixamos de fazer, ou seja, deixamos de ser tomados pelo bem que fazemos, em troca somos agraciados pelo mal que deixamos de praticar.
Grande Kafka! :pos:


 
A arte de ser louco é nunca tentar ser um sujeito normal!
Autor desconhecido

Quando eu era adolescente, eu tentava ser normal, mas era tão nerd e tão certinho, que na verdade, isso não dava certo! Até que eu comecei a conviver com uns Pjoteiros, depois me mudei de cidade, conheci outros malucos, e aí eu desencanei! Minha vida se tornou mais complexa e indefinida, mais perigosa e mal vista, mas em compensação me tornei bem mais satisfeito e feliz! Minha arte agradeceu, minha filosofia tbm!:D
 
Isso E Uma Metafora, Intrigante O Texto...
 
Vou ao psicólogo e psiquiatra (sem nunca receber alta) desde os meus 18 (estou com 30).. Já nessa época fazia uso da cannabis associada à ansiolíticos fitoterápicos e antidepressivos. Essa associação de fármacos com não só cogumelos como com outros enteógenos creio que deixou a situação crítica.. Daí meu arrependimento e esse querer voltar no tempo, pra não fazer errado..
E olha que não foi por falta de aviso que meu coroa tomou mto cogumelo e desenvolveu uma neurose das brabas! Mas ele não tomava nenhum fármaco, apenas bebia álcool..
Chego à conclusão que, se a pessoa já sofre de algum distúrbio de ordem psíquica, este se agrava com o uso de substâncias como o cogumelo e outros enteógenos, somado à interação com os fármacos (remédios controlados) agrava ainda mais.. O que dirá de todas essas substâncias misturadas com drogas ilícitas mais fortes!

Oi, meu discordar foi porque eu sou um caso de muitas melhoras. Inclusive alucinações auditivas psicóticas, que sumiram.

Não recomendo, nem desrecomendo. Eu quando entrei li os avisos que não seria recomendável. Mas pra mim deu certo, ajudou e está ajudando.

Creio que varie de pessoa a pessoa, não dá pra avaliar se vai fazer algo em dado sentido ou em outro previamente.

Penso que os cogumelos podem tanto surtar uma pessoa sã que os use (com abuso ou não) quanto podem ajudar pessoas "com problemas" que se direcionem a tal se a mente e o corpo dela tiverem espaço e condições pra melhora.

Mas acho mais fácil morrer andando de carro do que surtar de vez com cogumelos.
 
Última edição:
Mas acho mais fácil morrer andando de carro do que surtar de vez com cogumelos.

Assim falou o rapaz que toma cogumelos há ... quanto tempo mesmo?
 
Assim falou o rapaz que toma cogumelos há ... quanto tempo mesmo?


Seis meses.

Então se eu voltar aqui no tópico daqui a... Quanto tempo seria necessário? Um ano? Dois anos? Dez anos? Se eu repetir a mesma coisa que eu disse, bastará você somar aos seis meses o tempo de hoje até então.

Pode ser também que eu mude de opinião e ache mais fácil surtar que morrer atropelado.

Mas sabe a minha experiência pessoal? Pois é... Em 6 meses, curei, ao invés de surtar. Em 20 anos de vida louca nunca conheci ninguém que surtasse, só ouvi falar histórias. Sei que há surtos, mas tem algo que me diz que são fruto de uma mente não preparada pra experiência.

O cogumelo ainda não me deu nenhuma viagem em que eu tenha visto minha sanidade fora de mim e compreendido como as pessoas podem surtar, mas acredito que o surto é fruto da conduta mental do sujeito sob a viagem, e que assim como efeitos ruins permanentes de bad trip, pode ser evitado.

Creio que haja exceções a isso, mas a maioria podia evitar ter surtado seguindo sugestôes como "aumentar a dose devagar", " dar um tempo ou não ficar muito tempo seguido com doses altas", etc.

O surto é, pra mim, tal qual a bad com resultados ruins permanentes, consequência da mente sob psicodelia que não soube navegar.

Uma pena que no cogumelo ainda não compreendi dentro da viagem como alguém pode surtar, mas no dia em que eu enxergar minha sanidade à deriva ou como for o equivalente da psilocibina pra isso, farei o devido relato de como não surtei, caso eu não surte.

Se eu surtar, surtei. Senão eu volto :LOL:.

Edit: você reparou que eu concordei com a sua resposta anterior, não? Pra fins práticos é o que basta. O resto (ou seja, tudo mais que escrevi) é teoria.
 
Última edição:
Mas sabe a minha experiência pessoal? Pois é... Em 6 meses, curei, ao invés de surtar.
Há controvérsias...

O cogumelo ainda não me deu nenhuma viagem em que eu tenha visto minha sanidade fora de mim
Se você vendo entidades, chamando o capeta e catando pequenos demônios pelo chão, não é sua sanidade fora de você :hilario:... Basta ler as suas experiências, principalmente as últimas, para concluir.
 
Há controvérsias...

Então, o resto da loucura na minha personalidade é funcional :roflmao:.

Se você vendo entidades, chamando o capeta e catando pequenos demônios pelo chão, não é sua sanidade fora de você :hilario:... Basta ler as suas experiências, principalmente as últimas, para concluir.

Pois é, minhas viagens estão em total sintonia com outras em que o pessoal vai pra outras dimensões, ou que pensa que a realidade como vemos não existe, ou que fala com deuses e deusas, ou tem a própria alma dilacerada em milhares de pedaços :)...

Houve uma experiência com outra partícula em que eu literalmente vi minha sanidade como um balão na minha frente, e naquela hora eu compreendi como as pessoas podiam surtar com psicodelia. Se eu corresse atrás dela (da sanidade) que eu surtaria, uma vez que tentaria englobar em autoconsciência algo que supõe, da forma como eu temia a loucura naquele instante, a falta justamente de qualquer autoconsciência. Foi uma situação em que eu senti claramente que teria surtado, bastava ter dado um passo a frente ou me desesperar. Alguns psiconautas teriam ido ou direto pra clínica psiquiátrica, ou então iam ter uma bela de uma bad trip em que se achariam loucos. O que eu fiz? Deixei minha consciência flutuando como um balão na dela e fui curtir o local onde eu estava na minha mente...

Fora isso...

Até sou curioso de saber como seria esse tipo de experiência com cogumelos, em que o aspecto do ego caracterizado como "sanidade" se destaque em algo "tangível" para a mente... Se seria possível... Mas, enfim, só o tempo dirá. De fato, não tenho o menor interesse em lidar numa viagem com o tema da sanidade sob psicodelia de cogumelos, já que isso não contribui em nada pra minha melhoria pessoal... Na melhor das hipóteses, continuo são; na pior, eu surto :LOL:. Deixa como tá.

P.S.: reparei que 90% dos ratings que te dei até hoje são de "engraçado". Tava fazendo falta um emoticon de risada nas suas mensagens, achei que tava começando a perder o bom humor, @Salaam`aleik ;).
 
Última edição:
Em 20 anos de vida louca nunca conheci ninguém que surtasse, só ouvi falar histórias.

Pois eu já vi alguns casos ao vivo e a cores.


Sei que há surtos, mas tem algo que me diz que são fruto de uma mente não preparada pra experiência.

A questão é que ainda não construíram um "preparâmetro" eficaz em medir a preparação de cada mente :whistle:
 
Sanidade é um conceito tão elástico.
Seria legal a gente dispor de ajuda especializada as vezes.
Matamos os xamãs agora guenta o Dr. Pacheco.

A questão é que ainda não construíram um "preparâmetro" eficaz em medir a preparação de cada mente :whistle:
Talvez não demore para algo assim surgir, tendo em vista estudos genéticos recentes que apontam relação entre respostas psicóticas e genes. Aqui um com usuários de canabis:
http://www.nature.com/articles/npjschz201525
 
Talvez não demore para algo assim surgir, tendo em vista estudos genéticos recentes que apontam relação entre respostas psicóticas e genes.


Mesmo isso é probabilístico.

Quer dizer, pessoas com certos genes ou combinações genéticas vão ter probabilidade maior de desenvolver esse ou aquele quadro ou sintoma, mas não é garantido.
 
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