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Respostas

Zeugeid

Cogumelo maduro
Cadastrado
28/01/2014
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Bom, depois de um tempo ausente, resolvi fazer o relato da minha 4º experiência com os cogumelos. Fazendo uma análise dos outros relatos e de toda minha vida durante esse período de tempo, consigo perceber as grandes mudanças que ocorreram na minha vida, consigo notar o crescimento e o meu desenvolvimento nessa jornada de vida.
Essa 4º experiência com o cogumelo veio para fechar um ciclo, veio para me dar algumas das respostas mais belas que poderia esperar. Veio para celebrar.
E mais uma vez eu digo, os cogumelos não são recreativos, são, para mim, uma chave mágica para o conhecimento e a iluminação que devem ser usadas com muita sabedoria. Com muita intenção e meditação, são guias que te levam onde você precisa chegar, nem mais nem menos. E por isso não se deve controlar os cogumelos, digo isso porque minha primeira vez e minha última foram na mesma dosagem, apenas duas gramas secas, e elas foram totalmente diferentes. Incrivelmente diferentes.
Comigo o processo desde o início de tomar os cogumelos foi suave, veio me acordando aos poucos, veio me mostrando uma coisa ou outra até a minha 3 experiência ( que até relatei aqui), essa outra experiência bateu de frente com o medo, com a morte, com todos esses sentimentos que fugimos e escondemos pela vida. Foi uma experiência que nunca vou considerar como bad trip, mas que foi difícil, que eu implorei pra que acabasse porque me sentia fraca, e no fim, ela me fez reconhecer minha força. Apesar da grande intensidade da 3º, essa última conseguiu ser uma das experiências mais incríveis da minha vida e que talvez nunca consiga explicar pra alguém como foi realmente. Por fim, sinto que , infelizmente ela vai se apagando pouco a pouco para ficar guardada lá no fundo do meu inconsciente e ser acessada quando necessário.

Bom, depois dessa enorme introdução, sinto vontade de relatar o que sobrou e o que é posso traduzir em palavras, sinto gratidão por escrever aqui para pessoas que possam entender o quão significante são essas experiências nas nossas vidas.
Dessa vez tomei os cogumelos na natureza e com um amigo ( o que acredito que foi o ponto chave da viagem, antes havia tomado em um apartamento fechado e sozinha).
Todas minhas outras experiências foram voltadas para meu eu, para curar minhas feridas, para me desculpar comigo mesma, e essa eu mentalizei uma força de contato com o outro, com o mundo, com o que vem de fora pra dentro e com a força que nos faz ser um.

E assim se deu, demoramos horas para decidir o lugar exato para tomar, tinha que ser um que os dois se sentissem á vontade, tinha que ser um em que o medo não pudesse atrapalhar a experiência. Mas eu estava com muito medo, eu sabia que seria algo difícil de lidar e não apenas uma viagem feliz e visual.
Conseguimos achar nossa sintonia e tomamos á tarde em um pequeno espaço com plantas na praia, o espaço quase se fechava em uma forma de caverna com galhos. Os efeitos começaram rápidos, umas leves distorções visuais, aumento da percepção e pensamento solto, leve. O medo fator presente e marcante me puxava de volta pra realidade o tempo inteiro e desesperada eu tentava voltar pra ela, tentava buscar fatores que me garantissem que a realidade ainda estaria alí presente.
Conseguia observar a viagem do meu amigo e era incrível ser apenas uma observadora e entender e admirar o processo que ele estava passando sem ter nenhum julgamento, sem precisar participar da mesma coisa, mas ao mesmo tempo sentindo uma enorme sintonia entre a gente.
As cores começaram a ressaltar do céu, os barulhos dos bichos antes imperceptíveis ressonavam na minha cabeça. Eu resolvi deitar e fechar os olhos, nessa hora posso dizer que eu entrei de vez na viagem, eu soltei qualquer rédea de controle e desse ponto em diante eu não sei se consigo dizer tudo que vi.
Oscilava entre momentos de visões psicodélicas , de cores, formas, á momentos em que via o campo magnético da terra e entendia a configuração das coisas do mundo que não eram reais, vivenciei conceitos de física quântica que talvez nem entenda muito bem, durante esse momento de olhos fechados me senti derreter e fundir com o todo, com o mundo , com tudo em minha volta.
Percebi no momento que tudo aquilo já tinha acontecido e que passado , presente e futuro e o tempo em si são apenas um conceito. Sentia um silêncio tão grande e com tanta paz ao mesmo tempo. Vi o divino, voltei. Repetia o tanto que era bom, parecia ter sentido o que todas minhas células sentiram desde o momento de sua criação, toda história que cada átomo nosso carrega.
Tive um momento em que entrei na parte da ''caverna de galhos'' e precisava me juntar ás plantas, pela primeira vez me senti de igual a igual, não tinha diferença eu, o galho, os fungos que estavam nos galhos. E pedi muito para que aquele sentimento não fosse apagado da minha vida aqui '' no mundo lá fora''. Agradeci muito, agradeci muito por toda dor, por toda dificuldade porque aquele momento foi a melhor recompensa disso tudo.
Começou a escurecer, e como toda simbologia, a noite trás consigo os medos, o desconhecido outra vez. A viagem parecia acabar e voltava mais forte, a consciência retornava aos poucos, sumia, voltava e como estávamos em uma praia mais afastada percebemos que tínhamos de voltar, poderia ser perigoso ficar alí. Só que eu não tinha condição de voltar, não naquele momento, e foi aí que meu amigo, com uma força que não sei de onde ele tirou nesse momento , conseguiu pegar todas nossas coisas, bolsa, celular, roupas e levantar, e aí começa a parte difícil da viagem, tudo escuro e entramos na trilha, tudo parecia igual e era um looping infinito que parecia que quanto mais eu andava menos eu saia do lugar, parecia que corria, e nessa hora eu apertei a mão desse meu amigo e tinha a certeza de enquanto estivéssemos ali juntos, tudo estaria bem, que as pessoas estão aqui para se ajudar, que nós precisamos dos outros, ninguém é uma ilha, e que saindo ou não da trilha, a gente estaria juntos. Depois de muito pânico, conseguimos sair e voltar pra vila em que estávamos, todos sujos de areia, tomamos um banho de mar.
E como da outra experiência, eu acho que nada é bad trip, até essa parte difícil da viagem me fez ver a importância de certas coisas, o valor da realidade, o valor do eu consciente, da consciência, o valor das relações. O valor de muitas coisas que eu sentia que eram falsas na nossa vida cotidiana, na vida que temos que encarar quase 24 horas por dia. Tudo faz parte e tudo é bom na sua dose correta. Tudo passa e tudo tem seu jeito e hora de acontecer. O tempo é um conceito criado por um motivo, mas é importante saber que não é real. O eu exterior, os personagens do dia-a-dia existem por um motivo, mas não podemos nos enganar por eles, não podemos deixar eles governarem. Não devemos nos relacionar com eus exteriores dos outros, devemos buscar as essências. ( pode parecer confuso para quem está lendo, porque esse texto não consegue trazer todo entendimento da viagem)
Os efeitos ainda demoraram pra passar, não sei mas para mim duraram de forma intensa mais de 7 horas.
Acho que ainda não passaram, depois de quase uma semana.
Definitivamente não sou a mesma pessoa de antes, e sinto muita gratidão por tudo isso, por todo esse ensinamento, por saber que não estamos sozinhos aqui, porque nós somos e estamos tudo .
De uma pessoa extremamente racional e que sempre acreditou na ciência, eu sinto o tão pequena que sou diante de tudo isso, o tão fechados que somos para a existência e o interior de nós mesmo, e o tanto que precisamos nos desenvolver espiritualmente para talvez um dia poder entender a complexidade e beleza do mundo que vivemos.

Bom, como disse, foi o fechamento de um ciclo, duro, árido. E uma semente foi plantada e há de ser uma bela árvore um dia.

Mais uma vez obrigada ao fórum, obrigada por compartilharem suas experiências. E que a nossa jornada continue.
 
Bom, primeiro quero parabenizá-la pela forma que você entendeu tudo isso... De verdade, parabéns! Você entendeu a proposta da vida, o real signicado. Essa maneira de ver o mundo, é a melhor possível. Se as pessoas vessem o mundo assim, seríamos muito mais felizes; seria um mundo onde não haveria ódio, violência, guerras, injustiça... Tudo coisas motivadas pela desigualde no geral, pela falta de empatia, falta de estender a mão ao próximo, a falta de valorizar as pequenas coisas que passam despercebidas, muitas vezes, mas que geram ótimos frutos. Eu entendo você perfeitamente, tive a mesma experiência hoje (a minha 2°). Muito disso deve-se ao que conceituam como "A Morte do Ego", a ruptura total das nossas vaidades, angústias, depessões... enfim, a morte dos sentimentos ruins, das coisas que nos prendem e nos atrasam, fazendo que com que fiquemos estagnados no tempo, sem VIVER DE VERDADE. Acredito que chegamos basicamente ao mesmos sentimentos bons (como você disse, todo sentimento tem sua importância, seja ele bom ou ruim, mas parece que vemos melhores maneiras de lidar com eles). Creio que seja algo gradativo, vamos aplicar esses conhecimentos pouco a pouco no nosso dia a dia, pois não podemos esquecer que aprendemos muito, mas temos muito a aprender. Acredito que estamos reformulando nosso caráter, nosso EU, nosso "Ego" - muitos conceitos foram quebrados, e isso resultará em uma bela reconstrução. Obrigado por compartilhar a experiência! Fico contente que existam pessoas que partilham dos mesmos pensamentos. E melhor, pensamentos bons. Sucesso a todos nós nessa NOVA JORNADA!
 
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