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Primeira experiência - 4g cubensis

Manius

Primórdia
Cadastrado
01/02/2016
2
23
Dose ingerida: 4g
Experiência com outras drogas: Muito pequena. Apenas álcool casualmente.
Forma de consumo: Lemontek

Comprei 6g de cubensis para ingerir com minha namorada (cada um tomaria 3g). A ideia seria cada um usar em um dia, para tomarmos conta um do outro. Separaríamos o final de semana para isso, mas, quando o final de semana chegou, ela deu pra trás. Resolvi então usar sozinho 4g. Estavam desidratados.

A experiência como um todo foi razoável, apesar da badtrip. Percebi três fases distintas em termos de efeitos, por isso dividi o texto abaixo entre elas, apontando a duração aproximada. Ao todo a onda durou 4-5 horas.

1ª fase (30min-1hr) – Euforia

Os primeiros efeitos que me apareceram foram diversas luzes a piscar toda a vez que fechava os olhos. Como era algo muito semelhante à fotopsia, ignorei essas primeiras manifestações. Em seguida, as luzes se tornaram mais fortes e, no escuro das pálpebras, transformaram-se em padrões árabes coloridos que se moviam. Por um momento a sensação foi de andar por dentro da mesquita Nasir al-Mulk, no Irã, com seus cristais brilhantes e formas geométricas esquisitas. Fora das pálpebras, contudo, o mundo parecia normal e, por isso, ainda não acreditava que estava alucinando.

Após algum tempo, as cores dos objetos na realidade se tornaram mais vívidas e saturadas e algumas imagens, como pinturas, pareciam se mover lentamente dentro das molduras. Não demorou muito para que, mesmo de olhos abertos, vários fractais tomassem minha visão, enchendo minha vista de um poderoso efeito caleidoscópico. Já não conseguia controlar o que eu via, porque em cada lugar para onde olhasse algo acontecia. Uma sensação de “muita informação” tomou meu corpo. Até mesmo as paredes e o piso do apartamento oscilavam, como a face das águas.

Logo depois, uma euforia tremenda me tomou. Comecei a gargalhar como nunca antes, chegando até a ficar vermelho. Muitas histórias vinham à minha mente, com personagens e situações diferentes. O ato de gritar era algo muito bom na minha garganta. Nesse momento as experiências visuais começaram a dar lugar às experiências físicas. Com o ar condicionado ligado, me cobri com um edredom florido, velho e encardido, que, aos meus olhos, parecia resplandecente, cheio de cores. Debaixo dele, gritava o mais alto possível, como numa montanha russa. Ali também imitava outras pessoas, como se estivesse atuando; falava com trejeitos, modos que não eram meus, inventando nomes, cenários e contextos. Era muito engraçado e me sentia muito bem.

Havia um prazer absurdo em todas as partes do meu corpo e eu me sentia o centro do universo. Em algum momento balbuciei como era bom estar vivo e ser eu. Tudo parecia extremamente prazeroso. A água era um líquido mágico, que escorria pela boca como um fluido vivo, e as próprias almofadas do sofá, quando as mordia, pareciam como um alimento carnudo. O prazer era tão intenso que descobri que até mesmo o ato de morder meus próprios lábios podia ser muito gostoso.

Por causa do ar condicionado ligado, sentia o frio cobrindo o chão como uma espécie de nébula; isso contrastava com o calor que era expelido pelas pessoas e pelos animais. O calor em específico me surgira como o prazer supremo, e, por isso, me enroscava no edredom me deliciando profundamente de sua quentura. Ali dentro sentia-me protegido e muito bem guardado.

Em determinado momento, os sons também conversavam comigo. Uma entrevista na TV, por exemplo, era uma conversa pessoal, e eu podia muito bem dialogar com quem aparecia na tela. A experiência com a música, por outro lado, foi algo quase indescritível. Ouvi majoritariamente músicas clássicas e instrumentais. As melodias interagiam com o ambiente de uma forma muito mágica, de modo que, em certo momento, pensei que finalmente via o mundo pelos olhos dos compositores das grandes peças. Em todo lugar havia um som e cada um desses sons era muito agradável, como o amassar de um papel, por exemplo, ou o bater com a mão em uma almofada.

Então cada vez mais comecei a falar sozinho, respondendo a mim mesmo dentro da minha cabeça. Ao mesmo tempo, fui tendo maior dificuldade em me expressar, já que pensava em muitas coisas ao mesmo tempo. O próprio tempo começou a se distorcer e, algumas vezes, não sabia se já tinha visto algo que havia acabado de acontecer.

2ª fase (1 – 1:30h) – Calmaria

Se até então tudo estava muito engraçado e divertido, com muitas risadas, piadas e sorrisos, de repente meus pensamentos se tornaram mais profundos. Como o calor me surgia muito prazeroso, eu queria sentir o Sol na minha pele. Abri a janela e fiquei debaixo da luz, observando a mata que existe em frente ao meu apartamento.

A melhor maneira de explicar essa "fase" é a seguinte: Imagine-se de férias em um sítio. Você, com sua família e amigos em um dia de verão, está em um churrasco no domingo. Enquanto todos estão ou no gramado, jogando bola e praticando exercícios, ou próximos à churrasqueira, conversando, você está sozinho na piscina. Ao longe, você pode ouvir o murmúrio de todos se divertindo. Eis que você mergulha e, dentro d’água, tudo o que pode ouvir é o que está dentro de você. Submerso, o ruído do exterior é quase imperceptível.

Neste “fase”, não sei dizer exatamente no que estava pensando, pois, como disse anteriormente, muitas coisas me corriam pela cabeça ao mesmo tempo. Só o que eu conseguia balbuciar era “entendi tudo”, várias vezes, vagando que nem um maluco pela casa. Em outro momento, sentei em uma cadeira e chamei minha namorada para ficar comigo. Sentia que queria falar com ela. Quando nos sentamos, um de frente ao outro, não consegui dizer nada. Encarando-a por alguns minutos, ela me parecera muito bonita. Eu podia ver cada pinta e cada pequeno pelo do seu rosto. Somente pude dizer que ela me fazia muito bem. Pensei que poderia ficar ali sentado por dias sem abrir a boca, apenas pensando comigo mesmo.

Estava refletindo tanto e tirando tantas conclusões mirabolantes dos meus raciocínios que enfim decidi escrevê-los. Abri meu notebook e, com muito custo, consegui acessar o word. Diante do documento em branco e do teclado cheio de letras, não consegui fazer nada. Pensei apenas: “é impossível”. E realmente era naquele momento.

Passei a maior parte dessa “fase” murmurando frase desconexas. Senti vontade de ir ao banheiro e fui. Antes de ingerir o cogumelo, lembro de ter lido um relato sobre o perigo de se ver no espelho na onda. Pensei que estava pronto para isso.

3ª fase (1:30-2h) – Tempestade

Chegando no banheiro, urinei como de costume. Nenhuma surpresa até então. Quando me virei para o espelho vi que estava completamente descabelado, com as roupas amassadas. Por algum motivo, isso me assustou muito. Não havia considerado os efeitos do que eu fazia sobre minha aparência. Nesse momento as emoções ficaram à flor da pele. Sentei no vaso, em frente ao espelho, e enfiei minha cabeça dentro dos braços, apoiando-os nas coxas. Foi como se afundasse no vácuo sideral. Tudo estava escuro e me sentia sozinho. Comecei a puxar meus cabelos com força, e conseguia sentir cada fio quase se arrancando do meu couro cabeludo. Estranhamente, isso era bom.

Consegui me desprender desses pensamentos por um instante e saí do banheiro. Já estava exausto de toda a experiência e pensei que, dormindo, poderia simplesmente acordar mais tarde, enfim sóbrio, e seguir com a vida. Ledo engano, a partir daí tudo começou a dar errado.

Me joguei na cama e, assim que fechei meus olhos, comecei a ter as alucinações mais sinistras desde então. Uma miríade de formas geométricas pulsava diante dos meus olhos. Haviam formas tridimensionais, planos quadriculados como um tabuleiro de xadrex, espirais infinitas, barras, cones, e linhas que se movimentavam incessantemente, tudo em preto e branco.

Não sabia o que estava vendo. Nunca havia ouvido falar nisso até então. Depois desse episódio, descobri que essas alucinações são na verdade muito comuns com o uso de psicodélicos, como também em acessos de eplepsia e esquizofrenia. Naquele momento, contudo, pensei que a realidade estava se desmoronando e que eu contemplava o que estava por detrás, como se estivesse dentro do código de um computador. Pensando agora, era como no filme do Galinho Chiken Little, quando o céu começava a cair.

Diante dessas imagens, meu pensamento entrou em looping. Só pensava nas mesmas coisas: ficaria maluco para sempre, não saberia quem eu era, jamais teria nenhuma recordação do passado, viraria um fardo para meus familiares, etc. Acho que li muitos relatos de badtrip antes de ingerir o cogumelo e isso acabou me afetando. Na minha cabeça, vinham várias imagens do meu futuro terrível, no qual eu desenvolvera algum tipo de distúrbio mental. Ouvia vozes de pessoas próximas a mim se lamentando do meu fim, sem entender como terminei assim. Preso naquele momento, sentia uma aflição poderosa. Não, eu não queria isso! Eu gostava de quem era, da vida que levava. “Por que fui fazer isso?” me repetia. E tudo começava de novo.

Adentrando mais a fundo nessas alucinações, ouvia muitas vozes na minha cabeça. Minhas memórias estavam completamente desalinhadas; muitas lembranças me acometiam de súbito, tudo muito misturado, em contextos estranhos. Me via mais velho, triste e arrependido. Nestas ilusões, eu era um homem atormentado por jamais conseguir distinguir a realidade da fantasia, me adaptando a fingir que não sou maluco, criando uma nova personalidade do zero.

Em alguns momentos, esta ideia me acalmava. Pensava que pelo menos poderia fingir que não era louco. Sim, teria uns acessos uma vez ou outra, mas, no geral, ainda poderia trabalhar, ter alguns hobbies, etc., sem dar na telha. Alguns segundos depois, contudo, isso me aterrorizava tremendamente. Não... Jamais poderia fingir. Queria ser quem eu era!

Estava agitado, ansioso e extremamente paranoico. Balbuciava palavras ininteligíveis. Desconfiava de tudo. Houve um momento em que olhei para minha namorada a usar o celular e pensei que ela tramava algo contra mim. Pedi para ver o que ela lia e era apenas um livro que ela havia baixado para ler. Ter desconfiado dela me deixou envergonhado; tudo isso enquanto os malditos quadrados em preto e branco tomavam toda a minha vista!

Por fim, deitei no sofá e percebi que mais e mais conseguia focar nos objetos do entorno. Todos pareciam meio opaco, sem cor e sem graça, mas estava feliz de vê-los como eram de verdade. Me apeguei ao tempo, a que horas eram e quanto tempo tinha transpassado desde que tinha ingerido o cogumelo. Isso me acalmou, pois pude saber que os efeitos de fato já deveriam estar terminando.

Tomei um banho, ainda meio confuso e horrorizado. Não fiquei com nenhuma sequela além dessas lembranças perturbadoras.

O que tirei disso tudo? Os visuais, sem dúvida. Ficarão gravados na minha mente. Também me sinto mais empático com esquizofrênicos e psicóticos, porque realmente imagino ter me sentido como eles por um momento.
 
Rapaz a primeira dose 4+ é realmente uma coisa né? :p
A questão de ficar louco pra sempre e em seguida tentar aceitar que aquela seria sua nova realidade e ficar de boa com isso acho que é uma coisa bem louvável de se conseguir fazer e eu tal hora me senti da forma que tu descreveu ai quase como que reconstruindo uma nova personalidade base pra levar a vida... e no fim, quando voltei pro mundo fora do cogu, meio que voltei como uma nova pessoa mesmo :)
Além das imagens eu guardei também um profundo respeito e temor pelas experiências com psicodélicos. Acho que antes desse primeiro tapão que tomei eu olhava pra eles como se fossem algo que poderiam simplesmente ser domados haha
Acho que no meu caso ainda foi mais tenso pois tomei isso sozinho e a sensação de estar perdido no tempo foi grande ao ponto de eu questionar até hoje se não me desloquei alguns anos pro passado e pro futuro durante a experiência quando eu achei que tinha simplesmente quebrado o tempo kkkk
Mas que bom que você conseguiu lidar com o lado "feio", ou selvagem, da coisa. Acho que iso vai te estruturar cada vez mais no núcleo do que tu é e te deixar mais preparado pra quando vierem aquelas experiências completamente imersas naquele mundo. Se tu for lendo os relatos, vão ter alguns que são tão além que não dá nem pra descrever se foi uma experiência de puro pavor ou prazer xD
E assim né, a parte mais interessante eu acredito que seja sempre a integração da experiência que rola nas semanas seguintes conforme tu vai lembrando mais e absorvendo melhor ela como um todo :)
 
E assim né, a parte mais interessante eu acredito que seja sempre a integração da experiência que rola nas semanas seguintes conforme tu vai lembrando mais e absorvendo melhor ela como um todo :)
Com certeza. Há mais de um mês tive essa experiência e somente agora pude analisá-la de forma completa. Foram muitos dias pensando sobre tudo o que vi e senti.
 
4g para uma primeira vez é uma dose bem alta. Eu começaria com 1,5 ou 2,5 gramas, aí se sentir confortável vai aumentando e ganhando experiência com as viagens.
 
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