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O Jardim de Infância do Inferno (21ª exp)

ExPoro

Enteogenista Apaixonado pela Vida
Cultivador confiável
14/04/2015
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Essa foi a experiência mística mais espiritual desde a Igreja do Chamamento do Capeta, e considero como uma continuação dos trabalhos iniciados lá, agora já estabelecido Pink Floyd como hino na minha liturgia pessoal.

Acordei já em torno de meio-dia, e tinha programado hoje para fazer minha viagem de cogumelo mais profunda, tendo em vista que as duas últimas foram apenas doses recreativas, apesar de terem sido místicas por terem estabilizado Pink Floyd como meu hino ritualístico. Ocorre que estava com uma leve ressaca, mas nada próximo da que já tive na última experiência do ano passado. Fui tomar meu Engov e acabei vomitando o próprio Engov, o que me fez ver que não teria como eu consumir os cogumelos secos in natura: teria que fazer chá.

Peguei 3,8 gramas de cogumelos secos, levei no moedor de café, virou um pó fininho que voava, e taquei na panela fervente. Depois, ajeitei um chá de gengibre bem forte pra tomar. Arrumei um Engov que não era efervescente e tomei, depois o chá de gengibre. Aliás, antes de iniciar o preparo do chá dos cogumelos, lembrei que os daimistas fazem seu chá "sob força" e resolvi também iniciar meu rito mesmo antes de tomar o cogumelo: coloquei Dark Side of The Moon pra tocar antes de começar o preparo do chá.

Aí acabou a brincadeira.

Terminei de fazer tudo na casa enquanto o chá era preparado, e de alguma forma poder sentar no meu quarto com a sensação de que tava tudo ajeitado, era só fazer a janta no fim das 6 horas do rito... Me deixou numa disposição especial. Essas foram minhas notas assim que terminei de tomar o chá, às 13:30h:

Hoje terei uma viagem maneira!
Já me sinto animado na decolagem.
Um mosquito maldito picou minha mãe esquerda e está coçando muito! Pra piorar não acho a pomada e não quero mais sair do quarto que tá fresquinho pra ir procurar de novo.

Enquanto isso, já tocava Meddle, cuja Echoes evoca tantos sentimentos mistos de sensualidade e morte...

Mas havia algo dentro de mim que dizia: "hoje eu vou ter minha primeira viagem relaxado sozinho de cogumelo em dose alta".

Me aguentei até terminar Meddle pra definir o restante das músicas. Pulei Dark Side porque já tinha ouvido enquanto preparava o chá, então sabia que ele tocaria na fase da viagem em que costumo "renascer", após o fim de toda a lista de músicas, quando começasse a repetir.

Bem, daí cada álbum do Pink Floyd teve um significado e um momento profundo na viagem:

I - A Negação do Prazer
Bem, começou a tocar o álbum Wish you Were Here, já com os efeitos do cogumelo decolando com tudo. E não tem como, a música Shine on Your Crazy Diamond é extremamente luxuriosa pra mim. Mas alguma coisa não ia pra frente na minha mente, eu simplesmente não conseguia entrar no êxtase do cogumelo ao som daquelas notas.

Me perguntei porque eu insisto tanto em rejeitar o prazer com psilocibina, quando com outras partículas psicodélicas eu consigo me deixar ir em êxtase divino... Eu sentia que meu corpo queria gozar, aquele som é muito luxurioso, mas minha mente não ia... Eu me dava conta como o cogumelo era diferente das outras substâncias, que ele não dá prazer pelo prazer, que minha mente é muito doentia pra conseguir abraçar o prazer puro, verdadeiro, renovador dos cogumelos. Eu estive andando por muitas drogas, muitas, desde meus 15 anos...

Muitas porque eu queria fugir da dor, e daí aprendi a abraçar o prazer doentio, repetitivo, não sei dizer...

Só sei que eu não consigo me sentir digno do prazer que não antevê mais prazer no futuro...

De alguma forma, as outras substâncias podem até ajudar a gente, mas o cogumelo é diferente. Quando ele vem com esse prazer todo, o que vem na minha cabeça são todas as vezes em que procurei prazer na vida gratuitamente de uma forma doentia, não sei... Como dizer... Não sei dizer... Na verdade, é mais uma coisa que eu não penso: minha mente não aprecia totalmente os simples prazeres da vida, não sei dizer... Pode ser que sim, por outro lado, que eu já tive êxtases religiosos espontâneos antes de conhecer os psicodélicos, pelo simples prazer de viver, e uma dessas situações foi há alguns anos em pé dentro de um ônibus lotado em fase de abstinência de tudo...

Mas, acho que no dia em que eu finalmente explodir em orgasmo psilocibino será aquele em que eu estarei muito mais tranquilo da vida, com menos busca por prazer no meu dia a dia tão já hedonista. Afinal, ainda estou muito preso no prazer mundano pra conhecer o gozo da divindade do cogumelo.

Bem, sei que daí começou a tocar Welcome to the Machine e minha postura na cama mudou totalmente. Normalmente, eu deixo meu ar-condicionado ligado, boto uma bermuda leve e deixo na cama, com um cobertor do lado. Sei que nessa hora eu fiquei pensando que de fato eu nunca tive que superar uma bad trip enrolado em um cobertor... Mas aqui agora não, enquanto eu olhava pro cobertor e me questionava da utilidade que teria em uma bad cabulosa de cogumelo apesar de me ser útil em experiências introspectivas intensas (12ª exp.), alguma coisa me inflou por dentro: a imagem de um espírito demoníaco se apossou de meu corpo e eu saí debaixo do cobertor pra ir pra beira da cama, me apoiar como entre quatro patas, e daí comecei a dar vazão a um monstro de dentro de mim, um bicho...

Era um forma de urrar louca, enquanto a máquina da música continuava a tocar. Ao longo de Welcome to the Machine, esse serzinho que era quase idêntico ao Smeagol e que naquele momento era eu, ficava urrando com fúria, urros de raiva, do que fosse. A cama tremia com meus tremores, até que terminou a música e começou a tocar Have a Cigar, que me deu um alívio pra respirar e descansar. Bem, entre esta e Wish you Were Here o serzinho infernal meio que se afastou e me senti dominado por uma energia felina. Me senti um grande felino, como um leão, e às vezes eu rugia e me lambia os próprios braços, como os felinos fazem pra se limpar, quando batia um alívio da vontade de rugir.

Quando voltou a tocar Shine on you Crazy Diamond (parte dois) e de novo a luxúria ficou bem clara - mais do que na hora em que o espírito de felino bateu em mim, menos do que na primeira parte. Minha mente a essa altura começava a se adaptar ao pico, não sei. Depois de ter dado vazão ao Smeagol e ter deixado o leão dentro de mim sair, simplesmente curti um pouco, respirei, enquanto olhava pro cobertor e ria.

E foi então que decidi que sairia de cima da cama, aquele meu santuário onde até então tinha ficado e fui pra frente dela. Meu objetivo era ficar então de pé até o fim da viagem, já que finalmente a onda do cogumelo tinha me deixado ficar de pé ainda durante o pico! Foi o fato de olhar pro cobertor e me imaginar sem ele que me fez tomar esse caminho, junto com aquela sensação lá no começo da viagem que dessa vez ia ser diferente, que ia ser feliz, que ia ser uma experiência mais fluída em algum sentido.

Por fim, antes de levantar um pouco, eu lembrei da imagem do capetinha estilo Smeagol que eu tinha incorporado, e me perguntei pra onde ele tinha ido. Mas não pensei mais nisso até agora. Ele, e mais alguns amiguinhos dele, tão lindinhos, voltariam mais tarde no primeiro fôlego antes de reencarnarem.

E daí começou o próximo álbum...

II - Cachorrinhos? Crianças? Smeagols?
Bem, quando começou a tocar Animals eu me pus de pé imediatamente e terminei de aumentar o que faltava do volume.

Escolhi meu quadrado no quarto e fiquei parado sobre ele pelas 5 horas seguintes, ora dançando, ora... enfim, vocês vão ler. Mas o ato de levantar e passar a estar em contato descalço com o chão me conectou a alguma faixa vibracional espiritual, como esperado da dosagem tomada.

O que tenho pra destacar deste momento foi que durante a música Dogs, eu que já estava num pandemônio dentro do quarto enquanto meu corpo expressava todas as energias de vida, sexo e morte que circulavam em uma dança sem controle...

Foi quando eu vi, do nada, um monte de sombras correrem de onde eu tava e se escondendo por todos os cantos do quarto, no chão. Eu sabia que o chão naquele momento não era apenas o chão, mas continuei dançando e dando catarse à toda hipocrisia humana tratada pelo Animals enquanto ouvia Pigs (Three Diferent Ones) e Sheep.

Meu corpo estava totalmente encharcado de suor a certa altura. E sei que a imagem daquelas nuvens fugindo de mim ficou na minha mente. Eu achei graça porque lembrei do medo que os demônios tem de serem amarrados ou encaminhados a algum lugar para relucidação. Achei que eles estavam com medo que eu fizesse isso de novo e não dei muita bola pra isso. Mas não era o que estava guardado pra eles...

Juro que esqueci completamente disso quando começou a tocar The Wall. E a forma como depois isso fechou me deixou de cara.

III - Abaixo a Muralha, nova Vida
Bem, o álbum The Wall ia muito bem, eu dava uns pisões sinistros na casa, ora em catarse, ora sentindo fluídos malignos sendo filtrados pelo meu corpo e absorvidos em tremores intensos, incontroláveis, que eu não consigo imitar. Creio que se tivesse alguém filmando, ia falar tranquilamente que o capeta - tadinho - tava no meu corpo. Mas um olhar mais detalhado ia ver que era Exu mesmo, das mais diversas matizes. A dança às vezes era sensual, às vezes era macumbística.

Teve uma hora que os pisões no chão começaram a ficar tão altos, e a casa toda parecia tremer, que eu senti que meus dedinhos do pé iam estourar. E falei: "calma aí com o corpo do cavalo de vocês". E me vinha: "acha lindo, é seu rito, né?" e outro pisão. Mas logo parou.

Até que chegou no Exu que tinha vergonha de trabalhar quando ia em macumba, tadinha... Minha Cigana. É, pela primeira vez girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei, girei e na última nota antes de Comfortably Numb estanquei em uma só vez sem nem titubear ou balançar, com uma mão ao punho fechado atrás na força da Cigana e outra na frente, com a palma aberta em frente aos meus olhos... Me sentia entre a Cigana na mão direita e algum espírito da Linha Oriental na mão esquerda.

Nessa hora me veio na cabeça de ir fumar cannabis. Eu arregalei o olho e falei com as entidades: "p****, fala sério, não quero fumar não, tá maluca? Olha como é que já estão as coisas!". Mas ela insistiu e eu fui sentar. Ela me disse: "você vai pegar a quantidade pra encher seu cachimbo uma só vez e vai fumar só, nenhuma vez a mais até acabar totalmente seu ritual". Eu pensei: "cacete, você vai me jogar de volta lá no olho do furacão que eu tava antes". E ela: "fuma logo e deixa que a gente trabalha".

Fiz... E foi tocando Confortbly Numb enquanto isso... Eu começava a perder noção de novo de onde tava... Até que começou a música seguinte, e aí tudo começou a fazer sentido...

Subitamente eu estava de novo no meu quadrado onde fiquei por toda a viagem, em pé, e de novo eu vi o chão se confundir com alguma dimensão espiritual. E ao som da música, sem que eu me desse conta, de forma automática, comecei a abaixar do nada e a catar aqueles demônios que tinham corrido de mim durante a música Dogs!

Não fiz por querer. Foi assim, no ritmo das músicas que vem depois de Confortbly Numb, que narram na minha liturgia os momentos finais antes de um renascimento, do nada eu agachava e pegava uma energia densa em minhas mãos e jogava ela na cama, onde eu costumava ficar deitado durante as viagens. Aí eu sentia que tinha outro ali no canto, onde tinham corrido antes, ia andando e dançando e, sem que ele se desse conta do que eu ia fazer, subitamente eu me movia na música e arrancava ele de onde estava, e jogava em cima na cama, onde eles caíam e ficavam, como nenéns que não podiam andar.

Quando me dei conta, minha cama tinha uns 4 ou 5 daqueles serzinhos lindos que queriam sair da danação não-eterna. Eu reconhecia aqueles espíritos como de pessoas que foram assassinos, estupradores, em outras vidas, nada ligado à minha vida. E na medida em que eu pescava eles do chão, eu gargalhava e falava-lhes alto, com enorme ternura: "calma, gente, vocês vão renascer, finalmente, é só isso, calma", e ria como um pai que ri de um medo pueril do filho.

Naquele momento, em que eu olhava praqueles espíritos sobre a cama, me dei conta de como meu pequeno rito é de fato útil, é de fato funcional, é de fato divino. Cheguei a querer duvidar do que ocorria, mas imediatamente me veio à memória a época em que eu era de Umbanda e que quando meu Malandro encostava em mim - e ninguém tinha como saber disso - o defumador quase engasgava todo mundo no terreiro de tanta fumaça que fazia, sendo que eu mesmo tinha preparado o defumador: não tinha truque, ou é coisa do espírito, ou minha mente é sobre-humana. A quem quiser tirar a prova, faça assim: prepare um defumador, acenda e fique do lado dele e use sua mente até que ele saia tanta fumava, como uma panela de pressão, apitando, que não te deixe nem ver onde está o defumador. Se você conseguir fazer isso com a força da sua mente, então eu vou acreditar que isso ocorria por conta da força da minha mente. Por enquanto, isso ocorria por conta da espiritualidade. Porque uma vez era coincidência, duas também, três, quatro... Quando foram mais de 10 vezes e mais de 10 rodas diferentes, e só comigo, e só na hora que eu sentia ele, eu passei a acreditar que realmente tinha Malandro encostado.

E foi a mesma coisa hoje. No meu rito, The Wall marca o nascimento, o isolamento pelo ego, a busca da fuga, a morte, a derrubada da muralha que nos separa dos outros, a reconexão com quem amamos e o renascimento. Então, até que chegasse The Trial, eu sabia que aqueles pequenos espíritos que transitavam nos infernos pelos erros cometidos em vidas passadas mas que queriam voltar à luz e tentar novamente o caminho do Amor iam ficar "sobre a cama" até que a muralha fosse derrubada. Eu os olhei com muito carinho, eles perdiam cada vez seus aspectos demoníacos e começavam a se aproximar cada vez mais de um aspecto mais humano, mais fofo, mais meigo.

Eu os olhei com amor e rezei a Deus compreendendo o ciclo de amor que existe entre todas as Criaturas.

E deitei na cama antes de derrubarem a muralha. Deixei as crianças me envolverem, tão bonitinhas... Elas deitaram sobre meus braços, minha barriga... Tudo espiritualmente, tudo que eu via com olhos que não tenho no dia a dia. E finalmente elas sumiram, ao fim da última nota, e foram seguir seus caminhos pra uma nova vida.

Onde vão nascer? Quem são? Não sei. Não importa.

E de alguma forma isso me deu uma sensação de amor tão grande! Porque ir até as faixas infernais e retirar de lá espíritos com aspecto infantil foi tão... meigo! Sei lá, eu estava acostumado a lidar com outro tipo de situação neste tipo de trabalho. Foi muito inesperado e me deixou especialmente feliz não ficar usando de superioridade moral pra colocar nenhum espírito no devido lugar, mas simplesmente usar o poder da ternura do meu amor para aqueles que estão prontos para ver a luz novamente.

E aí, cheio de amor e esperança de que todos um dia encontrarão a luz e me dando conta de que aqueles que se arrependem nos infernos ficam com aspecto frágil justamente por simbolizar a oposição que seu mundo interior começa a apresentar em relação ao que lhe levou àquele sofrimento, eu escrevi isso:

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As crianças que correm no inferno são as almas prontas para a luz.

... na esperança de que a Humanidade tenha mais espaço pro amor, e menos pro ódio. Que pra plantar ódio já tem muita gente. Pra plantar preconceito tem muita gente. Pra suprimir os sonhos alheios tem muita gente. Mas e pra simplesmente dar colo a quem errou e pagou por todos seus erros, sem julgar, apenas amar? Então, também tem muita gente, e cada vez mais.

IV - Um Louco Sóbrio dá à Luz a uma Pedra
Fato é que tudo isso ocorreu e eu estava levando muito a sério todos os eventos. Finalmente chegou a hora de Dark Side of The Moon. Sabe, Pink Floyd no meu rito perturbador e deliciosamente profano-macumbístico-enteogênico-dominical de 6 horas de domingo a todo volume, tudo que eu quero é que isso seja levado a sério!

Dei alguma risadas após lembrar dos eventos que começaram com o Smeagol, depois os capetinhas correndo de mim, e depois eu do nada os pescando pelo quarto, e agradeci a Deus por isso tudo ter se dado como se deu, porque eu estava começando a achar que era só coisa de efeito da psilocibina. Mas, a forma como se deu... Eu tinha esquecido dos capetinhas que correram de mim, e quando eu me dei conta mais de uma hora depois (alguns séculos na cabeça) eu tinha pescado eles todos sem nem me dar conta. Isso, pela forma como se deu e do jeito como foi, não tinha como ser uma criação minha e passei a ter essa certeza bem sedimentada em meu coração.

Mas enfim, depois de ter terminado todo esse lado de pescar e mandar de volta pra renascer...

Eu já me sentia no começo da desaceleração e achei graça de Dark Side vir justamente na hora que chamo de "renascimento". Sei que lá no começo da viagem, quando bateu o Smeagol, eu desejava de todo coração que fosse Dark Side, dado este álbum rir de toda a loucura que a psicodelia pode provocar. Não sei dizer, mas Dark Side é algo sem precedentes na História da Humanidade...

Enfim, chegava na hora do renascimento. E adorei. Gritei com Time como o sol morre e renasce atrás da gente, me deliciei no orgasmo celestial de The Great Gig in the Sky, ri junto com Money...

Mas volta e meia eu olhava pra minha erva ali. Eu tinha fumado só um único cachimbo como a cigana tinha dito. A viagem já tava bem mais fraca, mas ainda tava bem. Tinha passado 3-4 horas de viagem, e ainda faltavam mais 2 pra eu poder terminar meu rito. Até o fim das 6 horas de viagem, nada de maconha nem de álcool pra você! E também nada de filmes, nada de seriado, nada que passe o tempo... Vai repetir Pink Floyd pelo tempo que for até terminar as 6 horas de viagem, vai ficar no quarto pensando e refletindo...

Eu sei que isso foi me dando uma certa irritação, e nesse momento eu comecei a lidar sob efeito dos cogumelos com meu hábito com maconha. Reparei em como é forte. Mas, francamente, não queria manchar meu rito com drogas! Não! Meu rito tem seus momentos, e esse de hoje é pra ser o mais sóbrio quanto possível diante dos efeitos dos cogumelos.

Aí fui no banheiro urinar, acho que pela primeira vez. Bem... Uma bendita pedra renal, que tinha me torturado semana passada antes de chegar na bexiga comigo sozinho com meu filho sem ninguém pra me ajudar literalmente rastejando de dor, resolveu que era hora de sair. Eu senti, me assustei, os efeitos estavam fortes. "P****, que azar! Mijar pedra dos rins no meio da viagem". E isso me deixou meio mal por um tempo, porque não conseguia saber se a pedra ainda estava ali pra sair ou não. Fui bebendo mais água, esqueci do tema e quando fui no banheiro de novo "plimp" fez a pedra na louça do vaso: "nasceu!!!".

E eu ri. Afinal, tudo nessa trip teve a ver com nascimento...

Mas, bem, permaneci sóbrio, enquanto a psilocibina ia embora. Repeti Pink Floyd o suficiente até que, na segunda vez de Dark Side (terceira se contar quando fiz o chá), ao terminar, faltavam 10 minutos pro fim da minha liturgia: eram 19:20 horas. Mais 10 minutos e eu podia finalmente ir fazer o arroz pra comer alguma coisa que eu tava morrendo de fome!

Bem, esses 10 minutos foram difíceis, esse silêncio, era eu e eu, mas não conseguia parar, não dava pra ficar quieto. Até que eu fui começando a me aquietar, a me aquietar. Olhei pra minha erva, pro meu cachimbo e fiquei muito feliz de não ter fumado, de ter respeitado meu próprio rito, de que eu realmente fumei quando era pra ter fumado, na música certa da minha liturgia, antes do momento certo do hino The Wall, referente ao renascimento...

Ajoelhei e beijei o chão onde fiquei durante as 5 últimas horas.

No último minuto eu rezei "Pai Nosso, que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome, seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no Céu, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos, Senhor, de todos os males, amém".

E ao término, olhei pro relógio, eram 19:30h, e os trabalhos do dia tinham terminado.

Fui finalmente fazer meu arroz, liguei pra minha amada esposa que logo chegará de viagem, jantei e vim aqui relatar pra vocês antes de voltar ao meu caminho de pecador, em direção à luz.

Muito amor para todos.

Amem, acima de tudo, amem.
 
Última edição:
Que beleza de relato @ExPoro !!
Nasci e cresci em terreiro de umbanda. Hoje em dia não frequento mais pois meu pai fechou o terreiro. Gosto muito de espiritismo também que eu acho que tem tudo a ver com umbanda.
E pra mim a trip de cogumelos tem muito esse lance espiritual, mistico como um pequeno contato com Deus!!
Parabéns
Abraço
 
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