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O fantasma da máquina

upGrade

Hifa
Cadastrado
28/08/2014
13
14
Paraná
Salve!

Irei relatar uma percepção que tive durante uma trip com psilocybe, e gostaria que compartilhassem caso já tenham vivenciado o que vem a seguir.

Durante uma ou duas experiências senti que o cogumelo é um ser que me dava superpoderes. De que tipo? Bom, tenho uma personalidade introspectiva, mas aprecio um bom convívio social, embora as vezes tenha dificuldade de estar entre conhecidos e desconhecidos. Mas sob efeito do psilocybe eu me sentia o cara. Eu deixava de ser o quieto/tímido do grupo para ser o que guiava, falava, sugeria, aconselhava. E as ideias super ágeis. Ou seja, são características que aprecio. Até que comecei a ter uma sensação diferente.

Essa sensação era de que um ser, superior ao humano em termos de experiências, estava contido nos cogumelos. E a intenção desse ser era realmente dar superpoderes aos humanos, ou habilidades extrahumanas. Um ente fraco em termos de corpo físico, mas gigante de conhecimento. Possivelmente viajou por distantes galáxias para encontrar uma forma de vida que pudesse apreciá-lo. Se materializou na Terra como um dos mais humildes seres, que se alimenta da matéria orgânica rejeitada por todos, um dos mais baixos da pirâmide alimentar. Mas ele veio para cá e sabe muito bem o que quer.

O que ele quer é que os humanos o apreciem, e sintam seus superpoderes. E que o venerem e fiquem de certa forma dependentes de seus poderes. Uma vez que nós humanos os considerem inofensivos, e passemos a consumí-los regularmente, eles se apossarão de nossos corpos e irão nos guiar de acordo com suas vontades, exatamente como um fantasma dentro da máquina. A vontade deles? Fica para a imaginação de cada um.

..........................................................

Durante uma trip tive a sensação acima, mas não quer dizer que essa é a percepção absoluta que tenho a respeito dos enteógenos. :contente:

..........................................................

LUZ
 
Superpoderes, você ganha mesmo, principalmente os dos sentidos, como a super-visão e audição. :deolho:

E o fantasma sai da máquina, dependendo da dose. Às vezes ele vai só passear, e em outras é praticamente um exorcismo :roflmao: Mas ele sempre volta, e continuamos assombrados. :mascara:
 
Durante uma ou duas experiências senti que o cogumelo é um ser que me dava superpoderes.



Cogumelos não dão superpoderes a ninguém. Mas se você quiser se enganar que dão ele pode até te ajudar (a se enganar).

Cuidado com essa trilhas fantasiosas. São uma das formas mais fáceis para mergulhar na ilusão.

E já que você, em decorrência disso, desenvolveu uma teoria da conspiração a respeito dos cogumelos, seria até bom considerar não tomá-los mais, se essa idéia for recorrente nas experiências.
 
sobre os "poderes' pós trip qie você citou eu também percebi,sou igual a você,meio timido (entre todos) e tudo mais,após o uso dos cogumelos eu percebi uma destreza impressionante em formar idéias,a timidez foi embora e quem dava as idéias eram eu(isso já acabou estou "anormal" denovo.)por quanto tempo isso permanece em vocês ?
 
Eu ainda não ingeri cogumelos (estou naquela fase de conhecer a teoria antes, porque gosto de ir primeiro para a prática e isso já me atrapalhou bastante. Não quero que com cogumelos seja assim), mas, pelo pouco que (acho) que sei, eu acredito que alucinógeno nenhum, seja ele enteógeno ou não, tem a capacidade de te DAR poderes; o que acontece é que, como você entra em um CRU contato consigo mesmo, sua consciência, agora expandida, consegue te fazer enxergar seus poderes, suas "potências", e aí você descobre que pode MUITO mais do que imagina, razão pela qual você acredita serem superpoderos o que são, na verdade, atos do seu potencial manifesto. Você pode MUITO mais do que a sua ilusão de realidade faz você acreditar que pode. Pare de criar teorias que justifiquem o seu medo de evoluir e progrida no seu próprio ritmo - com ou sem a ajuda dos cogumelos. ;)
 
pelo pouco que (acho) que sei, eu acredito que alucinógeno nenhum, seja ele enteógeno ou não, tem a capacidade de te DAR poderes; o que acontece é que, como você entra em um CRU contato consigo mesmo, sua consciência, agora expandida, consegue te fazer enxergar seus poderes, suas "potências", e aí você descobre que pode MUITO mais do que imagina, razão pela qual você acredita serem superpoderos o que são, na verdade, atos do seu potencial manifesto. Você pode MUITO mais do que a sua ilusão de realidade faz você acreditar que pode. Pare de criar teorias que justifiquem o seu medo de evoluir e progrida no seu próprio ritmo - com ou sem a ajuda dos cogumelos.


É por aí mesmo.

Os cogumelos são poderosos, mas não te dão nenhum poder. Assim como nenhum mestre ou guru pode te dar algum poder ou te modificar diretamente. No máximo eles mostram um caminho seguro para que você se trabalhe.

Como acesso ao subconsciente, para expor e trabalhar o emocional e mesmo para mostrar a sensação de transcendência que não pode ser posta em palavras os cogumelos são um portal de muitas qualidades.
 
A máquina é o fantasma e o fantasma é a máquina.
 
KKKKKKKKKKKKKKKKKK ta parecendo uma incorporação mediúnica lol
 
A expansão da consciência em si já é um super poder!
Uns usam meditação, outros transe, ioga, xamanismo, rituais, estudam gnosis...
Alguns usam cogumelos... acredito que este seja o caminho mais direto
 
sobre os "poderes' pós trip qie você citou eu também percebi,sou igual a você,meio timido (entre todos) e tudo mais,após o uso dos cogumelos eu percebi uma destreza impressionante em formar idéias,a timidez foi embora e quem dava as idéias eram eu(isso já acabou estou "anormal" denovo.)por quanto tempo isso permanece em vocês ?
Olá! Durou apenas durante os efeitos.
Abraços!

Eu ainda não ingeri cogumelos (estou naquela fase de conhecer a teoria antes, porque gosto de ir primeiro para a prática e isso já me atrapalhou bastante. Não quero que com cogumelos seja assim), mas, pelo pouco que (acho) que sei, eu acredito que alucinógeno nenhum, seja ele enteógeno ou não, tem a capacidade de te DAR poderes; o que acontece é que, como você entra em um CRU contato consigo mesmo, sua consciência, agora expandida, consegue te fazer enxergar seus poderes, suas "potências", e aí você descobre que pode MUITO mais do que imagina, razão pela qual você acredita serem superpoderos o que são, na verdade, atos do seu potencial manifesto. Você pode MUITO mais do que a sua ilusão de realidade faz você acreditar que pode. Pare de criar teorias que justifiquem o seu medo de evoluir e progrida no seu próprio ritmo - com ou sem a ajuda dos cogumelos. ;)
Olá! Faz bem dez conhecer a teoria antes. Tive experiências em uma fase conturbada da adolescência e talvez por isso acabei deixando de apreciar da forma que merece.
"D

É por aí mesmo.

Os cogumelos são poderosos, mas não te dão nenhum poder. Assim como nenhum mestre ou guru pode te dar algum poder ou te modificar diretamente. No máximo eles mostram um caminho seguro para que você se trabalhe.

Como acesso ao subconsciente, para expor e trabalhar o emocional e mesmo para mostrar a sensação de transcendência que não pode ser posta em palavras os cogumelos são um portal de muitas qualidades.
Sábias palavras, Ecuador. "D

A expansão da consciência em si já é um super poder!
Uns usam meditação, outros transe, ioga, xamanismo, rituais, estudam gnosis...
Alguns usam cogumelos... acredito que este seja o caminho mais direto
Olá! Recentemente tenho utilizado a yoga. Para mim tem sido um caminho lento para o autoconhecimento, porém eficaz.
Paz!
 
Última edição por um moderador:
Sobre o seu 1º parágrafo, upGrade, pode-se dizer que os cogumelos flexibilizam o nosso comportamento, nos tornando mais abertos, menos dogmáticos e mais criativos.

Sobre o 2º parágrafo dá uma olhada nesta fala do Terence Mckenna:

Já sobre o último parágrafo parece que há algum elemento pessoal inconsciente, algum elemento psicológico sobre o qual você deve estar atento e trabalhar em si mesmo, para que não caia em armadilhas criadas ou projetadas inconscientemente.

Grato pelo relato, _/\_.
 
Eu também senti que ganhei superpoderes, mas não poderes de telecinese essas coisas, poder de olhar direito pra mim de uma forma diferente, poder de me aceitar e melhorar o que eu posso em mim, poder de respeitar e ser humilde, poder de me colocar no lugar dos outros, não me sinto o cara quando tomo cogumelos, me sinto apenas mais um, se você deixa de ser tímido só com os cogumelos trabalhe em você o que precisa pra deixar de ser tímido sem os cogumelos, medite, estude e descubra, não feche a experiência em uma só trip...
não acho o cogumelo um ser vivo frágil, nem senti que ele baixou em mim, nem fantasmas etc...
acho que os enteógenos em geral te ensinam se você se esforçar pra aprender, te ensinam a usar esses poderes de autoconhecimento que você já tem.
use com sabedoria pra não se prender na ilusão como o pessoal falou.
 
use com sabedoria pra não se prender na ilusão como o pessoal falou
Olá!
Com as respostas deste tópico, o item que mais refleti foi exatamente este acima, que diz respeito a distinguir ilusões.

E também, como o Átomo falou, existem valores que merecem destaque para amadurecer, como humildade e empatia.
Saudação!:D
 
Muito bom o relato @upGrade, me identifiquei com algumas partes de sua experiência. Inclusive, sinto-me compelido a dizer o que penso sobre os tais superpoderes.

Imagino que o fundamento geral das relações interpessoais esteja alçado na vontade (inerente) de domínio sobre os outros (viva Nietzsche!). Principalmente se levarmos em consideração o atual contexto (secularmente falando) socioeconômico, político e religioso em que vivemos.

Incessantemente, tentamos dominar as relações que envolvem outra pessoa que não sejamos nós mesmos. Às vezes, fazemos isso de forma tão esdrúxula que se torna perceptível. E os artifícios utilizados são deveras incontáveis, pois somos muito criativos.

Entretanto, imagino ser possível, através meios básicos (como p.ex.: agressão, sedução, sapiência, falsa modéstia, etc) com os quais costumamos tentar nos impor, exemplificar alguns desses momentos:
Quem nunca presenciou, por exemplo, uma situação onde um indivíduo qualquer, por motivos quase sempre desconhecidos, tenta se provar mais inteligente do que outro, ou exarceba arrogância, sem razão ou preocupação com o processo de produção do conhecimento (imprescindível para o aprendizado)? E aquelas situações onde nos deparamos com alguém que se insinua promiscuamente/vulgarmente para o outro? Ou até mesmo em outras, quando nos deparamos com um sujeito fisicamente mais forte que os demais, e que se regozija por ser assim – tirar a camisa mesmo estando frio, é típico – ou por levar vantagem sobre o franzino em alguma situação. Ninguém?

Esse processo, dentro dos padrões compreendidos como normais, pode ser imaginado como uma balança de equilíbrio para consigo mesmo. Pois, se fulano é mais forte que eu, alguma coisa eu tenho que fazer para não ficar por baixo. Uma piada talvez? E se ele é mais inteligente do que eu, vai sucumbir ao meu sorriso e à minha educação, ou humildade. Não importa, são muitas as armas com que lutamos.
Agora, imagine se misturarmos esses conceitos e tentarmos reduzí-los, a fim de que caibam em uma única situação. Conseguem conceber uma conversa de bar com os amigos? Uma reunião da empresa? Porque eu imagino ser bem por aí.

Ocorre que o cogumelo (não só ele, como também outros enteógenos) age em nossa mente de tal maneira, que tudo o que foi dito acima sofre uma profunda e brusca modificação.
A experiência enteógena parece fazer com que nossa capacidade autorreflexiva aumente tanto, que em certo momento, já não nos enxergamos mais como "nós mesmo", e se insistirmos, enxergaremos 'O culpado' – e quem não for, que atire a primeira pedra –. Simplesmente perdemos o fio da meada e deixamos de acompanhar o fluxo temporal contínuo que delimita nossa realidade, a fim de iniciar uma investigação interna sobre nós mesmos. Assim, regrediremos ou transgrediremos. Para relembrar, reinterpretar e reentender àquilo que ficou obscuro demais na nossa memória. Por não termos tido a capacidade de apreendê-lo de forma equitativa à concepção de mundo que sustentávamos naquele momento específico do primeiro contato. A intencionalidade à que somos estimulados pelo cogumelo, parece fazer isso.

Um outro exemplo é o da criança que entra no quarto dos pais e encontra ambos na cama, fazendo sexo selvagem. O que ela irá pensar dessa situação, se seu cérebro ainda não tiver desenvolvido a estrutura responsável por enteder a sexualidade da forma devida? Vai dar "pane", uai. Como não? A dissonância cognitiva é uma característica inerente à raça humana. Será necessário uma reeleitura dessa situação no futuro, para que a criança possa corrigir esse mal entendido. Uma situação assim, representaria para a criança uma agressão do pai à mãe.
Porém, isso é só um exemplo simplista das coisas. Pois não chegará a dar bad no futuro. Nem precisamos sair da infância para começar a entender a vida sexual. Imagine, entretanto, uma criança que é estuprada...

E sobre essa regressão/transgressão, o papel ocupado pelo cogumelo, será o de reacender a fagulha da inocência dentro nós (a criança interior dentro de cada psiconauta), mesmo que seja somente enquanto os efeitos do cogumelo durarem – o que não imagino se restringir somente à trip em si –.

Nesse sentido, a inocência, por se apresentar como o inverso da maldade (característica egoica), acaba impulsionado a força para que nos sintamos estimulados a formar uma nova concepção do mundo e dos objetos nele existentes; uma 'nova ideia' (mais humilde e aberta a novas possibilidades do que a anterior) de sobre como as coisas funcionam ou devem funcionar. E é partir daí que imagino a origem do despertar espiritual.
Quantos eram ateus e abriram o coração para a espiritualidade, ou no mínimo se tornaram abertos à possibilidade de teorias e hipóteses que transcendam a razão? Não soa comum para a realidade experimentada aqui no fórum?

Estamos perdendo nossa inocência desde o momento que nascemos. Nascemos puros (embora alguns possam discordar, o fato é que o nascimento representa o marco 0 de nossa vida, ou nova vida), e a pureza choca o mundo.

As pessoas se sentem demasiado pequenas quando defrontam o "númeno crescido" (inventei agora, hehe). Ora, um bebê humano ainda pode ser, pois é compreensível que o inocente seja frágil e irracional – é aceitável congnitivamente. Agora, um adulto com a capacidade de exprimir seus pensamentos, racionalmente, para a análise e resolução de problemas alheios, isento das dores e da contingencia que compõem a vida cotidiana (o que é "impossível"), e que intenta com seu comportamento, somente ajudar (sendo um "espelho" e não um idealista) e não levar vantagem. Isso as pessoas não suportam, não, ao menos, sem perder a compostura.

Estamos tão emaranhados nessa realidade contingencial e já bastante conhecida nossa, que pressupomos conhecê-la de "cabo a rabo". Fulano é "assim e assado", e a partir disso eu posso depreender 'n' coisas sobre ele – observem que o preconceito nasce aqui.

Já o psiconauta, acostumado que é com suas viajens metafísicas, já se assemelhou, intuitivamente, à ideia de uma conduta que lhe permita ir fundo em suas viajens, sem que para isso ele tenha de sofrer uma PEIA ou bad toda vez que decidir ingerir os cogumelos. Essa conduta, por sinal, também é outorgada pelas religões que conhecemos, embora os métodos sejam ortodoxos, retrógradas e não eficazes, como podemos perceber na maioria das vezes.
Sem contar que a falta de clarezae atenção devida à subjetividade de cada um, nos ensinamentos, acaba tornando a religião, de fato, em religião – na acepção pejorativa do termo.

A ideia de transcendência (espiritual) evidenciada acima, nos remete ao desconhecido, ao Nada. O Nada que causa fascínio, já que é indeterminação pura. E nesse sentido, o psiconauta carrega consigo parte dessa Nada. E as pessoas ao tomarem ciência disso, tendo contato com alguém que já tenha se aventurado no mundo dos psicoativos, vislumbram, "ao vivo e a cores", a ferramenta que lhes só é acessível por meio dos sonhos e devaneios mais profundos, cujo elas são fortemente desencorajadas a terem, em razão do juízo sintético a priori (vontades determinadas).
Essa ideia constitui para mim o cenário perfeito em que alcunho o "psiconauta engajado" (viva Sartre!), e que não passa de um mediador "competente" da realidade, consciente de si e do mundo e psicólogo involuntário por atração (cármica?). Alguém que confrontou os limites da razão e que já não a encara como finalidade, mas ferramenta. Alguém que vive lembrando as pessoas "normais" desse detalhe.

Lembremo-nos de OSHO, o Guru dos Ricos, por exemplo. Ele, quando discursa eloquentemente seus sermões – muito personalizados, diga-se de passagem – parece distorcer o fluxo normal do tempo com seus trejeitos, seu conhecimento, sua capacidade oratória, retórica e por fim, sua maneira extremamente lenta de se comunicar. Chego a me recordar do filme O Mágico de Oz (1939), quando Dorothy encontra o Mágico e o "desmascara".

O Mágico em questão, nada mais é do que um intelectual (um acadêmico, quiçá?) que gira a manivela da realidade. Que dita o que ela deve ser. E é parte desse poder que o psiconauta apresenta para o mundo quando sua "pira" termina e ele volta a interagir com os outros – se seguidos os insights tidos durante sua trip.
O "conhecimento" (entenda consciência ou contemplação) do Mistério, sua "cogumelística" capacidade de "surfar na crista da realidade", mesmo sendo um sujeito sem conhecimento de causa.

A noção de que não existe Verdade é profunda (assim como a trip), e esse conceito, a Verdade, só existe por ser insuportavelmente angustiante, para nós, seres mortais que não detém o conhecimento post-mortem, o fato de que o "pau tá quebrando e é isso aí"; de que as coisas simplesmente São, e de que em determinado momento deixarão de ser.


EDIT: Peço desculpas pela densidade do texto, pelos axiomas, pelo excesso de romantizações (quando me falta razão, sobra poesia), pelos erros, pela série de pressuposições de conhecimento filosófico que fiz à quem se dispôs a lê-lo, e também pelos incontáveis edit's.

É tudo só um "vômito" de ideias que ainda tento entender e organizar em minha cabeça, para assim conseguir explicar aos outros.
 
Última edição:
Olá Cantaro!

Ótima interpretação essa sua, que remete a uma ótica das ciências sociais com citações de ricas fontes. Seu empenho deve ser reconhecido! :)

Assim como é possível olhar para as experiências psicodélicas sob diferentes óticas - religioso, científico, emocional, filosófico, ficcionista, ponto de vista pessoal - o que já é suficiente para gerar valor e conhecimento ao tema, também é interessante incluir neste grupo o próprio ponto de vista do Olhar sob a perspectiva psicodélica, que está mais intimamente relacionado ao olhar pessoal, individual. Descrever uma experiência é tarefa difícil, pois faltam palavras que façam jus às suas nuances, e acredito que uma maneira de expô-la é deixar-se guiar pelas palavras que o coração dita, de forma sincera. Provavelmente assim a mensagem atingirá de maneira certeira aqueles que buscam conhecer esses relatos.

Saudações, e reforço: continue enriquecendo os diálogos com seus colocamentos. :geek:
 
Muito bom o relato @upGrade, me identifiquei com algumas partes de sua experiência. Inclusive, sinto-me compelido a dizer o que penso sobre os tais superpoderes.

Imagino que o fundamento geral das relações interpessoais esteja alçado na vontade (inerente) de domínio sobre os outros (viva Nietzsche!). Principalmente se levarmos em consideração o atual contexto (secularmente falando) socioeconômico, político e religioso em que vivemos.

Incessantemente, tentamos dominar as relações que envolvem outra pessoa que não sejamos nós mesmos. Às vezes, fazemos isso de forma tão esdrúxula que se torna perceptível. E os artifícios utilizados são deveras incontáveis, pois somos muito criativos.

Entretanto, imagino ser possível, através meios básicos (como p.ex.: agressão, sedução, sapiência, falsa modéstia, etc) com os quais costumamos tentar nos impor, exemplificar alguns desses momentos:
Quem nunca presenciou, por exemplo, uma situação onde um indivíduo qualquer, por motivos quase sempre desconhecidos, tenta se provar mais inteligente do que outro, ou exarceba arrogância, sem razão ou preocupação com o processo de produção do conhecimento (imprescindível para o aprendizado)? E aquelas situações onde nos deparamos com alguém que se insinua promiscuamente/vulgarmente para o outro? Ou até mesmo em outras, quando nos deparamos com um sujeito fisicamente mais forte que os demais, e que se regozija por ser assim – tirar a camisa mesmo estando frio, é típico – ou por levar vantagem sobre o franzino em alguma situação. Ninguém?

Esse processo, dentro dos padrões compreendidos como normais, pode ser imaginado como uma balança de equilíbrio para consigo mesmo. Pois, se fulano é mais forte que eu, alguma coisa eu tenho que fazer para não ficar por baixo. Uma piada talvez? E se ele é mais inteligente do que eu, vai sucumbir ao meu sorriso e à minha educação, ou humildade. Não importa, são muitas as armas com que lutamos.
Agora, imagine se misturarmos esses conceitos e tentarmos reduzí-los, a fim de que caibam em uma única situação. Conseguem conceber uma conversa de bar com os amigos? Uma reunião da empresa? Porque eu imagino ser bem por aí.

Ocorre que o cogumelo (não só ele, como também outros enteógenos) age em nossa mente de tal maneira, que tudo o que foi dito acima sofre uma profunda e brusca modificação.
A experiência enteógena parece fazer com que nossa capacidade autorreflexiva aumente tanto, que em certo momento, já não nos enxergamos mais como "nós mesmo", e se insistirmos, enxergaremos 'O culpado' – e quem não for, que atire a primeira pedra –. Simplesmente perdemos o fio da meada e deixamos de acompanhar o fluxo temporal contínuo que delimita nossa realidade, a fim de iniciar uma investigação interna sobre nós mesmos. Assim, regrediremos ou transgrediremos. Para relembrar, reinterpretar e reentender àquilo que ficou obscuro demais na nossa memória. Por não termos tido a capacidade de apreendê-lo de forma equitativa à concepção de mundo que sustentávamos naquele momento específico do primeiro contato. A intencionalidade à que somos estimulados pelo cogumelo, parece fazer isso.

Um outro exemplo é o da criança que entra no quarto dos pais e encontra ambos na cama, fazendo sexo selvagem. O que ela irá pensar dessa situação, se seu cérebro ainda não tiver desenvolvido a estrutura responsável por enteder a sexualidade da forma devida? Vai dar "pane", uai. Como não? A dissonância cognitiva é uma característica inerente à raça humana. Será necessário uma reeleitura dessa situação no futuro, para que a criança possa corrigir esse mal entendido. Uma situação assim, representaria para a criança uma agressão do pai à mãe.
Porém, isso é só um exemplo simplista das coisas. Pois não chegará a dar bad no futuro. Nem precisamos sair da infância para começar a entender a vida sexual. Imagine, entretanto, uma criança que é estuprada...

E sobre essa regressão/transgressão, o papel ocupado pelo cogumelo, será o de reacender a fagulha da inocência dentro nós (a criança interior dentro de cada psiconauta), mesmo que seja somente enquanto os efeitos do cogumelo durarem – o que não imagino se restringir somente à trip em si –.

Nesse sentido, a inocência, por se apresentar como o inverso da maldade (característica egoica), acaba impulsionado a força para que nos sintamos estimulados a formar uma nova concepção do mundo e dos objetos nele existentes; uma 'nova ideia' (mais humilde e aberta a novas possibilidades do que a anterior) de sobre como as coisas funcionam ou devem funcionar. E é partir daí que imagino a origem do despertar espiritual.
Quantos eram ateus e abriram o coração para a espiritualidade, ou no mínimo se tornaram abertos à possibilidade de teorias e hipóteses que transcendam a razão? Não soa comum para a realidade experimentada aqui no fórum?

Estamos perdendo nossa inocência desde o momento que nascemos. Nascemos puros (embora alguns possam discordar, o fato é que o nascimento representa o marco 0 de nossa vida, ou nova vida), e a pureza choca o mundo.

As pessoas se sentem demasiado pequenas quando defrontam o "númeno crescido" (inventei agora, hehe). Ora, um bebê humano ainda pode ser, pois é compreensível que o inocente seja frágil e irracional – é aceitável congnitivamente. Agora, um adulto com a capacidade de exprimir seus pensamentos, racionalmente, para a análise e resolução de problemas alheios, isento das dores e da contingencia que compõem a vida cotidiana (o que é "impossível"), e que intenta com seu comportamento, somente ajudar (sendo um "espelho" e não um idealista) e não levar vantagem. Isso as pessoas não suportam, não, ao menos, sem perder a compostura.

Estamos tão emaranhados nessa realidade contingencial e já bastante conhecida nossa, que pressupomos conhecê-la de "cabo a rabo". Fulano é "assim e assado", e a partir disso eu posso depreender 'n' coisas sobre ele – observem que o preconceito nasce aqui.

Já o psiconauta, acostumado que é com suas viajens metafísicas, já se assemelhou, intuitivamente, à ideia de uma conduta que lhe permita ir fundo em suas viajens, sem que para isso ele tenha de sofrer uma PEIA ou bad toda vez que decidir ingerir os cogumelos. Essa conduta, por sinal, também é outorgada pelas religões que conhecemos, embora os métodos sejam ortodoxos, retrógradas e não eficazes, como podemos perceber na maioria das vezes.
Sem contar que a falta de clarezae atenção devida à subjetividade de cada um, nos ensinamentos, acaba tornando a religião, de fato, em religião – na acepção pejorativa do termo.

A ideia de transcendência (espiritual) evidenciada acima, nos remete ao desconhecido, ao Nada. O Nada que causa fascínio, já que é indeterminação pura. E nesse sentido, o psiconauta carrega consigo parte dessa Nada. E as pessoas ao tomarem ciência disso, tendo contato com alguém que já tenha se aventurado no mundo dos psicoativos, vislumbram, "ao vivo e a cores", a ferramenta que lhes só é acessível por meio dos sonhos e devaneios mais profundos, cujo elas são fortemente desencorajadas a terem, em razão do juízo sintético a priori (vontades determinadas).
Essa ideia constitui para mim o cenário perfeito em que alcunho o "psiconauta engajado" (viva Sartre!), e que não passa de um mediador "competente" da realidade, consciente de si e do mundo e psicólogo involuntário por atração (cármica?). Alguém que confrontou os limites da razão e que já não a encara como finalidade, mas ferramenta. Alguém que vive lembrando as pessoas "normais" desse detalhe.

Lembremo-nos de OSHO, o Guru dos Ricos, por exemplo. Ele, quando discursa eloquentemente seus sermões – muito personalizados, diga-se de passagem – parece distorcer o fluxo normal do tempo com seus trejeitos, seu conhecimento, sua capacidade oratória, retórica e por fim, sua maneira extremamente lenta de se comunicar. Chego a me recordar do filme O Mágico de Oz (1939), quando Dorothy encontra o Mágico e o "desmascara".

O Mágico em questão, nada mais é do que um intelectual (um acadêmico, quiçá?) que gira a manivela da realidade. Que dita o que ela deve ser. E é parte desse poder que o psiconauta apresenta para o mundo quando sua "pira" termina e ele volta a interagir com os outros – se seguidos os insights tidos durante sua trip.
O "conhecimento" (entenda consciência ou contemplação) do Mistério, sua "cogumelística" capacidade de "surfar na crista da realidade", mesmo sendo um sujeito sem conhecimento de causa.

A noção de que não existe Verdade é profunda (assim como a trip), e esse conceito, a Verdade, só existe por ser insuportavelmente angustiante, para nós, seres mortais que não detém o conhecimento post-mortem, o fato de que o "pau tá quebrando e é isso aí"; de que as coisas simplesmente São, e de que em determinado momento deixarão de ser.


EDIT: Peço desculpas pela densidade do texto, pelos axiomas, pelo excesso de romantizações (quando me falta razão, sobra poesia), pelos erros, pela série de pressuposições de conhecimento filosófico que fiz à quem se dispôs a lê-lo, e também pelos incontáveis edit's.

É tudo só um "vômito" de ideias que ainda tento entender e organizar em minha cabeça, para assim conseguir explicar aos outros.
Seria interessante bater um papo com você. Gostei do que expressou.
 
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