Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

Medo de ir mais Fundo / Êxtase em Respirar (37 xp)

ExPoro

Enteogenista Apaixonado pela Vida
Cultivador confiável
14/04/2015
3,699
1
64
Gosto de variar a forma de narrar as experiências. Olhar como os outros membros fazem me dá ideias que não tenho problema de adotar também. Hoje, nesta experiência, tem uma forma que ainda não fiz que é esta: ainda não tomei o chá, vou tomar em no máximo uma hora, e volto aqui pra contar como foi, na postagem seguinte a este anúncio.

Muitos membros antes de suas viagens, em especial quando vão para a primeira, chegam aqui pra dizer que vão e depois voltam. Nem todos depois voltam pra contar como foi, mas a ideia até que é boa - e eu pretendo voltar pra contar. Pelo menos serve de mais estímulo...

O nome da viagem, por enquanto, é "Medo de ir mais Fundo", porque literalmente este ano evitei qualquer viagem muito profunda, porque são muito (in)tensas. A mais forte em 2016 foi a experiência nº 26 (relatada em O Jato da Verdade), que não passou do equivalente a pouco mais de 2 gramas frescas. Agora no entanto me preparo para encarar um chá de 47,8 gramas frescas de MDK in vitro (foto), feito com mel e gengibre em 12 de Julho de 2016 e armazenado no freezer desde então (praticamente 5 meses se passaram), descongelado e mantido na geladeira desde ontem.

Acredito que haverá alguma perda na potência, mas o problema é que fiz um "chá-rope" sem querer na hora de confeccionar o chá, o que pode ter ali enfraquecido a concentração de psilocibina, pois deixei quase secar a água na panela.

Enfim, a dosagem será dividida em duas metades - a primeira a ser tomada às 17:45 h (em 25 minutos), e a segunda às 18 horas.

Por que quero fazer uma viagem profunda? Porque há muita coisa a ser trabalhada na minha mente desses últimos meses. Quero novamente morrer e renascer melhor, mais apto a entender a mim mesmo e ao meu próximo. Quem sabe voltar a ver uma motivação para ajudar um mundo tão debilitado de amor.

Até.

Edit: adicionei uma segunda parte ao título do relato, em função da experiência, conforme narrado na mensagem abaixo.
 
Última edição:
Falta menos de meia-hora pro fim das 6 horas de viagem, então ainda estou sob influência, mas naquele ponto em que finalmente volto a ter fome - então definitivamente já devo estar quase aterrizando. A trip foi fantástica, e o ponto-chave dela foi uma superação em relação ao silêncio, que me parecia impossível a curto prazo. Ao fim do álbum Animals (que tocou depois de The Wall), eu parei o som e ouvi a cidade. Ela estava em silêncio, pela primeira vez em dois anos, eu finalmente estava em silêncio com a minha mente. Podia sentir tudo à volta conectado, as ruas... E ao mesmo tempo tudo parecia "aquático", como se ondas da realidade chegassem a mim e o ar se tornasse água, e numa espécie de radar eu podia sentir tudo que acontecia. E parecia que naquele momento o bairro simplesmente estava em silêncio, algo que naquele momento me soou como um sinal de reconhecimento aos eventos passados, um pouco de respeito a alguém que só quer seguir em frente e fazer do mundo um lugar melhor.

Esse silêncio pra mim foi a primeira parte da cura de um stress pós-traumático de certos eventos, que já não me cabe mais comentar. Quero apenas deixar registrado o começo da cura, e a curta citação do mal só serve como referência para o bem que veio depois. Em mais de um ano, foi a primeira vez que experimentei o silêncio, que sem um som alto nada ouvi, nada minha mente produziu, nem tampouco senti vibrações vindo de fora pra mim. Pude finalmente me jogar aliviado sobre a cama, enquanto aguardava a autorização pra continuar pro próximo álbum.

Deitado, pude então respirar, no silêncio, e finalmente tive a sensação de êxtase absoluto simplesmente por respirar! Aquela primeira inspiração no silêncio, totalmente focado em mim, foi vivenciar plenamente apenas o ato de respirar - e mais nada. A sensação orgásmica de estar vivo enquanto o ar passava pela minha garganta e chegava aos pulmões simplesmente ficou plasmada na minha cabeça, e não será esquecida.

Fiquei então um tempo, não sei quanto tempo, ali naquele silêncio, depois de autorizado pelas minhas entidades a seguir pro próximo álbum. Eu quis aproveitar finalmente minha mente calma, minha energia calma, pela primeira vez em um, dois anos?.. Havia silêncio, dentro e fora de mim. Isso pra quem conviveu com o que convivi nos últimos dois anos foi a maior das recompensas. Algo tão simples, quanto o silêncio, valia mais que ouro. E eu fiquei daquele jeito um tempo... Não tinha pensamento vindo de dentro, nem de fora... Não meditei sobre nada na minha vida... Não! Aquele momento era um êxtase e valioso por si mesmo: eu finalmente voltava a escutar o silêncio, e isso era a razão pra uma felicidade indizível.

Como resultado, quando voltei às músicas, o volume então abaixou, não precisava mais tapar o barulho lá fora. Isso me deu uma experiência mais tranquila de certa forma. Mais suave. E assim cantei Dark Side of The Moon, e finalizei na delícia de Wish you Were Here.

Agora, algumas considerações pontuais sobre a experiência...

Primeiro, enquanto eu estava deitado na cama por quase duas horas, correu tudo sem problemas. Mas, quando resolvi levantar... Enfim, o resultado foi que durante uns 15-20 minutos pareceu que estava com uma sudorese absurda, que o mundo ia cair, que me faltava ar, água, nutrientes... Tudo na verdade porque eu saí de uma postura física e fui pra outra. E acredito que isso explique alguns dos desmaios que vêm sendo relatados recentemente aqui no fórum. Em experiências mais profundas, essas mudanças súbitas na circulação (deitado pra em pé em especial) podem ter efeitos relativamente alongados, e só causar desmaios depois de alguns minutos após se levantar.

Segundo, estabeleci um novo princípio da psicodelia, pra mim: tome sempre as decisões mais simples sobre mudanças no setting (Princípio do Menor Esforço). Simples assim. No caso, eu estava no silêncio, desliguei tudo que fazia barulho, mas o computador ainda estava ali, com sua ventoinha, felizmente fazendo pouco barulho. Naquela hora a vontade era desligar tudo, mas a questão é que isso traria complicações demais: desligar pra curtir um silêncio e depois tornar a ligar, ia fazer uma quebra na cadeia do "aproveite o momento do silêncio" para executar as ações, em especial no retorno à música. Se eu ainda estivesse numa casa no meio do mato, em que de fato não houvesse carros, motos lá fora, aí teria chance de chegar num silêncio supremo. Mas naquele momento, era o melhor que podia, e a experiência seguiria depois com música, como programado. Enfim, mudar demais o setting do planejado costuma com frequência se transformar numa troca-troca de cenário sem fim, a ocupar a viagem mais que a viagem em si mesma. Só mexa no que seja fundamental, e de preferência que não dê problemas depois pra voltar ao planejado, em especial no pico. Ou vai ter que descer das estratosferas celestes para aguardar o login do Windows...

Terceiro, esse chá-rope (com mel) mantido no freezer por 5 meses me deu uma viagem digna de um chá feito no mesmo dia! Digo que demorou a bater, a ponto de eu começar a me questionar se a psilocibina não tinha ido embora quando a água tinha evaporado praticamente toda na panela. Mas, quando veio... veio com força, e eu me senti numa viagem muito profunda, com sentimentos sendo vazados e arrancados de mim, ódios e rancores, medos, e tudo mais... Era bem o que queria, praticamente eu esmagado pelo meu fluxo de sentimentos - cheguei a morrer algumas vezes. Lembro de um dos berros-grunhidos que dei em Dogs, que foi arrancado do âmago da minha alma.

Quarto, possibilitado pelo retorno ao silêncio... Sei que ao fim do quarto e último álbum, minha esposa tinha chegado a uma casa com um som ameno. Terminou o álbum, peguei meu violão, toquei também minha gaita. Então fui pro banho, onde me deixei lavar. Mas ainda com 5 horas após a ingestão, os efeitos visuais permaneciam. Fui pra fora da casa, pro fundo, onde vi a natureza, e desfrutei novamente do silêncio e da paz do silêncio. Fiquei ali meditando e olhando pra uma árvore que sempre lembro de uma noite há 16 anos atrás, nas primeiras vezes que fumei maconha, onde via formas humanas como espíritos vindo na minha direção - como miragem das folhas. Ali de certa forma retomei sentimentos de esperança, de significado. Foi quando olhei para um amontoado de elásticos que fiz para fechar o insulfilm de um balde terrário xuxa de meu último cultivo (diário a ser aberto)...

448.jpg --> elásticos metafóricos

Nessa hora adotei uma metáfora. Cada elástico separado é muito menor, e eles juntos eram capazes de algo muito maior. Mas em algum ponto haveria um nó diferente, ou algo que servisse pra fechar esse círculo de força - possibilitando que as condutas individuais se somassem numa conduta coletiva benéfica. E eu me vi ali como aquele "amarrador de pão de forma", responsável por unir, e que se eu me desfizesse, não haveria como as partes menores se somarem. Também observei como nunca fui capaz de ser um líder, porque simplesmente não consigo fazer as pessoas agirem junto, e agir eu sozinho é uma espécie de "até boa-ação", mas se não há uma mudança na postura coletiva, então não houve melhoria, eu falhei - então nunca liderei, pois não houve ganho consistente ao coletivo.

Foi também quando notei que não senti raiva ao fim desta viagem. Olhei para os elásticos e parece que ali tive um tipo de resposta para a minha pergunta a Deus: "por que ajudar as pessoas se elas parecem tão cheias de desamor umas pelas outras, e se elas até hoje jogam aqueles que as ajudam na fogueira, e salvam seus algozes, bem do mesmo jeito que fizeram com Jesus e Barrabás... Por quê?" E a resposta não veio de outra forma senão me apontando meu papel, aprendendo a superar as aparências das limitações dos elásticos, unindo-os em torno de algo maior, para que eles possam cumprir o melhor de si. Eu pude novamente sentir o amor e a esperança que há dentro de cada pessoa, o lado bom delas. E vi que se eu desistir de tentar fazer do mundo um lugar melhor, o anel de elásticos do amor que cabe a mim cuidar não se fechará. E aí não darei aos elásticos a chance de serem o melhor que podem - e ainda vou acusá-los de serem tão fracos individualmente.

Por fim, apenas entendi que devo de fato prosseguir para meu próximo concurso, e aprender o que é necessário para ser um líder pelo bem de todos, e não um chefe em nome de uma causa - com o perdão de adotar estes termos (líder/chefe) da ciência da Administração, que não é a minha área.
 
Fera, tem muita coisa pra gente melhorar a cada trip que temos.

Perfeito o seu relato!
 
Última edição por um moderador:
Realmente as experiências são para os estão abertos para extrair delas Vida e Sabedoria. Relato incrivelmente sensato e maduro. Parabéns e obrigado.
 
Cuidado, sudorese, tontura e fraqueza são sintomas de hipoglicemia, mel é um açúcar simples o que causa um pico de insulina....não me surpreenderia se o que vc teve foi um crash de glicose....

Psilocibina faz seu cérebro trabalhar a 300% e aumenta o consumo de glicose pelo mesmo, tenho uma teoria que isso pode até causar bad trips

Você comeu algo antes/durante a trip??
 
Última edição por um moderador:
Não costumo realizar as 4 h de jejum que muitos fazem e recomendam. Nesse dia tinha almoçado normalmente, poucas horas antes.

A questão é que esse sintoma de fraqueza apareceu após mudar de deitado pra levantado/sentado, numa viagem bem profunda de cogumelo. Realmente me parece mais coisa de circulação.

Mas vou passar a deixar algo doce e algo salgado à mão para as próximas experiências, a fim de colocar algo na boca se ocorrer de novo. :)
 
uma sudorese absurda, que o mundo ia cair, que me faltava ar, água, nutrientes... Tudo na verdade porque eu saí de uma postura física e fui pra outra. E acredito que isso explique alguns dos desmaios que vêm sendo relatados recentemente aqui no fórum. Em experiências mais profundas, essas mudanças súbitas na circulação (deitado pra em pé em especial) podem ter efeitos relativamente alongados, e só causar desmaios depois de alguns minutos após se levantar.
Pressão baixa ou, como acima, glicemia. Ou as duas coisas. Açúcar faz o fígado trabalhar, e a psilocibina, também.

Mas vou passar a deixar algo doce e algo salgado à mão para as próximas experiências, a fim de colocar algo na boca se ocorrer de novo. :)
Num caso de glicemia a solução não é comer mais doce, e sim comer coisas que não aumentem o pico de insulina. A chave é não consumir alimentos de alto índice glicêmico, antes, durante e depois da trip. Com ou sem jejum. Por exemplo, na última refeição antes do jejum, e na próxima ao final da trip, eu prefiro comer só coisas integrais.

minha esposa tinha chegado a uma casa com um som ameno. Terminou o álbum, peguei meu violão, toquei também minha gaita. Então fui pro banho, onde me deixei lavar.
Ela deu banho em você? :D Ou foi só uma metáfora para a água do chuveiro?

Ou vai ter que descer das estratosferas celestes para aguardar o login do Windows...
Nem queira ouvir o som do Windows iniciando, sob efeito... É um som infernal, pior que disco da xuxa ao contrário :devil: :D
 
Valeu pelas orientações, @Salaam`aleik. :)

Normalmente eu deixo um biscoito do tipo club social pras trips. Nas 3-4 primeiras horas da viagem sequer bebo água direito, só dou gole. E esse biscoito é caso me dê vontade de comer, mas também não passa de uma mordida de formiga no máximo. Esse tipo de biscoito estaria adequado pro caso de uma glicemia?

Ela deu banho em você? :D Ou foi só uma metáfora para a água do chuveiro?

Eu reli e reli pra entender onde estaria a confusão... :lol: é, "me deixei lavar" foi uma forma de destacar que o banho foi um ato de limpeza por si mesmo, que eu deixei a água me lavar, com a mente quase vazia, olhos fechados, cara contra o chuveiro, uma sensação de pureza. :)
 
Em geral tudo que é feito de trigo, arroz, milho, batata ou farinhas refinadas é altamente glicêmico, além de praticamente tudo o que é doce ou adoçado, com exceção de frutas que tem pouco açúcar e batata doce, que tem açúcar mas é um açúcar mais pesado, que o corpo demora mais para processar. Centeio, aveia, feijão, lentilhas, e alguns outros cereais são menos glicêmicos, a menos que sejam processados.

Club social é de farinha então provavelmente bastante glicêmico, além de ser bastante industrializado.

Quando a trip bate o corpo já não processa os alimentos muito bem, então o melhor acho que é não ingerir alimentos glicêmicos antes da trip, mas estar bem alimentado de carboidratos com baixo índice glicêmico, mesmo que esteja de jejum por algumas horas.
Eu também não bebo nem água no começo para não ficar soluçando ou indo ao banheiro toda hora, mas numa "emergência" é melhor apostar em líquidos, acho que um copo de leite (integral ou de soja, sem açúcar) ajuda.

A melhor coisa para um pós-trip (ou durante / da metade em diante) acho que são frutas, especialmente banana, que tem carboidratos, e não é fibrosa nem muito glicêmica. Sem falar que morder uma pêra durante a trip, é quase um ato sexual :roflmao:
 
Back
Top